Dei uma vista de olhos pelo jornal de hoje (público, passe a propaganda).
Retive a discussão sobre o orçamento de estado, que vinha já de ontem. Visão do movimento ambientalista (ou se quisermos, visões) sobre o assunto, nem sequer a habitual visão do "ministério tal, ou serviço tal tem menos dinheiro e portanto o governo está a desvalorizar este ou aquele sector" (como se o valor dos montantes globais, muitas vezes disfarçados por fundos comunitários existentes mas inantigíveis, fossem um grande critério), mas dizia eu, não vi nada sobre uma visão ambiental do orçamento de estado.
Retive a discussão das SCUTs com a posição inacreditável num partido dito verde, de se opor à existência de portagens, lembrando uma velha posição do núcleo de Lisboa da QUERCUS contras as portagens na CREL, como se o movimento ambientalista não defendesse o princípio de que o uso dos recursos nunca é gratuito. Mais nada de voz ambientalista (excepção ao partido os verdes que para dizer asneiras destas mais valia estar calado) nesta discussão que é central na questão da mobilidade e do desperdício de recursos.
Retive a discussão sobre o aumento da electricidade, com a inacreditável posição do Ministério da Economia (não me lembro de ver uma visão tão pequena e de curto prazo na relação economia e ambiente como a que actualmente existe neste ministério), e a associação do produtores de energias renováveis a fazer um papel que competiria também ao movimento ambientalista, o de dizer que é absurda a forma como são contabilizados os custos ambientais da electricidade e, sobretudo, a forma tacanha como este governo pretendeu poupar dinheiro das empresas à custa do utilizadores particulares (mais uma lógica scut: uns usam e outros pagam) no cálculo dos preços de electricidade, em vez de assumir a única posição defensável do ponto de vista ambiental: o uso de recursos deve ser pago e internalizado, incluindo os seus custos ambientais.
E retive por fim uma posição ambiental, num movimento conjunto de várias associações: é imperioso exigir um parecer do jardim botânico de Lisboa para uma reconversão de um edifício em hotel de charme (o que implica mais construção, no logradouro, pelo que percebi), porque há um problema ambiental grave que pode afectar o jardim botânico de Lisboa.
E não consigo reter a pergunta que me sobra: é isto o nosso movimento ambientalista, ou era um dia mau para olhar para o jornal?
henrique pereira dos santos
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3 comentários:
Da parte da Quercus, no que respeita às SCUT e tirando o célebre caso da CREL, não há realmente uma posição discutida (e portanto nem sequer menciono
a palavra consensual) da nossa parte.
No que respeita, ao aumento do preço da electricidade, trata-se de uma questão de mercearia e de política do "dá-se o benefício agora (ou gasta-se agora) e logo se vê quando e como se paga" (na linha aliás das SCUT). Em minha opinião o erro é não se ter passado de forma transparente o custo mais cedo, beneficiando a indústria e desmistificar o pequeníssimo peso do apoio
às renováveis dado pela tarifa.
Realmente tem havido uma falha de resposta rápida nesta área da parte das associações de ambiente, em particular da Quercus mas circunstancial, nomeadamente ontem quando a questão foi levantada mas asseguro-vos que vamos nos próximos tempos dedicar recursos humanos que seguirão de forma mais
interventiva esta área da energia.
Lembro porém que antecipadamente a Quercus levantou todas estas questões quando da discussão sobre alterações climáticas, comércio de emissões e foram publicadas notícias e sairam várias reportagens na rádio e televisão.
Portanto, também é um azar no dia escolhido....
Francisco Ferreira
parabéns pelo post e pelo blogue não conhecia mas gostei bastante de conhecer.
Caro Francisco,
Ainda que reconheça que a QUERCUS tem tido posições constantes e consistentes em matéria de alterações climáticas, acho que a tua redução da questão do preço da electricidade a uma questão de mercearia é muito significativa.
Os desenvolvimentos dos últimos dias são a este respeito muito claros e cito do público de hoje: "O ministro justifica que o aumento proposto pela ERSE era "inaceitável", por - acrescentou - "comprometer a recuperação da economia, baixar injustificadamente o poder de compra dos consumidores, reduzir a competitividade das empresas portuguesas e tornar Portugal um destino menos atractivo para o investimento estrangeiro". A sustentar a medida, invocou a previsão de construção de oito novos grupos de ciclo combinado a gás natural que darão mais capacidade de produção eléctrica, o que "terá efeitos positivos no mercado".
Como vês é tudo menos uma questão de mercearia, é mesmo uma visão de economia muito clara: aumentar o preço da energia é reduzir a competitividade.
Ora o que o movimento ambientalista devia dizer, por não ser uma questão de mercearia, é que o que reduz a copmpetitividade é o desperdício de recursos, e os preços altos são uma das mais eficientes armas de indução de eficiência.
Ou seja, o que era preciso dizer, por impopular que seja, é que só quando a economia internalizar os custos ambientais (que são basicamente medidas de eliminação de desperdício no uso de recursos) é que se tornará competitiva no longo prazo.
É duro dizer isto e aparecer ao público como uma organização sem coração face às dificuldades concretas das pessoas? Pois é, mas é o único caminho de reganhar a longa credibilidade perdida pelo discursos mediaticamente demagógico que hoje se associa ao movimento ambientalista.
henrique pereira dos santos
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