sábado, abril 07, 2007

Ciência, jornalismo, política e a construção de mitos

Antes de mais uma declaração de interesses: sou um dos autores que contribuíram para um dos capítulos do relatório do IPCC (Grupo de Trabalho II, Capítulo 4). Estou convicto que as alterações globais comportam riscos para a biodiversidade. Riscos que não são devidamente acautelados pelas políticas de conservação actuais. Porém, estou igualmente convicto que o tratamento ligeiro destes assuntos, pela comunicação social, tem efeitos perversos e mina a credibilidade da ciência climática. Infelizmente a comunicação social não está sozinha e mãos invisíveis encarregam-se de ajudar a falsificação de informação científica.

Falsificação jornalística:
O público de ontem, num artigo assinado por Ricardo Garcia (um jornalista cujo trabalho respeito e admiro) diz: “E o cenário não é brilhante. Uma versão preliminar do relatório obtida pelo PÚBLICO diz, por exemplo, que nada menos do que 20 a 30 por cento de todas as espécies da Terra correm o risco de se extinguir, se a temperatura média global subir 1,5ºC a 2,5ºC, em relação a 1990.”

O texto do relatório que o jornalista terá usado será o seguinte: “Approximately 20-30% of plant and animal species assessed so far are likely to be at increased risk of extinction if increases in global average temperature exceed 1.5-2.5 ºC.” (página 11).

Portanto, o que se diz é que 20 a 30% das espécies estudadas apresentam valores elevados de risco. O que é diferente de dizer que 20 a 30% das espécies do planeta estão em risco. Isto é particularmente importante quando a frase do IPCC se baseia num estudo publicado em 2004 na revista Nature onde se inferem impactes climáticos sobre 1,103 espécies, ou seja, 0.02% das mais de 4,000.000 de espécies que se estimam existirem no planeta.

Mãos invisíveis:
O estudo que foi usado para justificar a frase do relatório é o estudo que mais foi criticado na literatura científica, na última década, na área das ciências ambientais. As críticas são sérias e comprometem as conclusões do trabalho [curiosamente essas críticas não se vêm reflectidas no relatório agora divulgado; esperemos pela versão alargada].

No entanto, existe um aspecto que não se prende directamente com a qualidade do estudo mas que também é criticável e que consiste na deturpação voluntária das suas conclusões na hora de as divulgar à comunicação social. Os autores do estudo, através das agências de notícias das suas organizações, difundiram em Janeiro de 2004 um comunicado de imprensa em que extrapolavam os riscos climáticos da sua amostra não aleatória de 0.02% da biodiversidade global para a totalidade da biodiversidade existente no planeta concluindo, assim, que cerca de 1/4 da biodiversidade do planeta estaria em risco. Obviamente que tal disparate não consta do artigo original (o artigo nunca teria sido aceite se tal exptrapolação tivesse sido feita) mas foram estas frases que ressoaram na imprensa e fóruns políticos após a publicação do artigo.

Sobre este assunto fui, na altura, co-autor de um artigo de resposta, publicado na revista Nature, e intitulado “Dangers of crying wolf over risk of extinctions” (texto alargado).

É, assim, com algum pesar, que vejo repetir-se o ciclo de falsificação científica anteriormente denúnciada e criticada, agora, por ocasião da publicação de um importante relatório do IPCC. Este tipo de falsificações gratuítas da informação científica só servem os interesses dos que pretendem minar a credibilidade da ciência climática. Alguns media agradecem. Alguns políticos também. O ambiente? Tenho algumas dúvidas.

PS. Reparei que o erro detectado no artigo do Ricardo Garcia está a ser repetido por muita da comunicação social nacional e internacional. A mensagem errada terá partido do próprio IPCC que na comunicação que fez aos jornalistas no dia 6 de Abril referiu os tais 20-30% de espécies do planeta em risco. A tabela SPM1 do relatório do IPCC também induz a uma interpretação errónea do texto do próprio relatório. Os jornalistas preferiram usar essa frase “off record” do que a frase original do relatório que é mais cautelosa. Afinal de contas dizer que 20-30% de 1,103 espécies podem estar em risco não tem o mesmo peso mediático que dizer que 20-30% das espécies do planeta estão em risco. O problema é que a segunda frase não tem suporte em qualquer estudo científico realizado até à data; é puro “sound byte”.

10 comentários:

Anónimo disse...

Artigo do público citado pelo post:

Relatório global confirma efeitos das alterações climáticas

06.04.2007, Ricardo Garcia


Documento divulgado hoje pela ONU traça cenários mais seguros
do que acontecerá a Terra
num futuro mais quente


Mesmo sem nova interferência humana, a temperatura aumentará 0,6ºC, provocando impactos ao longo do século
a Há um mês, o mundo viu confirmado que não só a Terra está de facto a aquecer rapidamente, como há 90 por cento de certeza de que a culpa é do ser humano. Hoje, fica-se a saber que também se pode concluir, com 90 por cento de segurança, que o planeta já está a mudar, em função da subida dos termómetros.
Salvo emendas de última hora, este deverá um dos principais resultados de mais um relatório sobre o aquecimento global, divulgado hoje pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) - um organismo criado em 1988 pela ONU.
É o segundo volume da quarta avaliação que o IPCC faz, desde 1990, sobre o que a ciência sabe acerca do aumento da temperatura do planeta.
O documento - uma síntese de um trabalho maior, que será dispobilizado mais tarde - resume quais os impactos das alterações climáticas no presente e no futuro.
E o cenário não é brilhante. Uma versão preliminar do relatório obtida pelo PÚBLICO diz, por exemplo, que nada menos do que 20 a 30 por cento de todas as espécies da Terra correm o risco de se extinguir, se a temperatura média global subir 1,5ºC a 2,5ºC, em relação a 1990.
Com 3ºC suplementares nos termómetros, mais 15 milhões de pessoas passam a estar sob risco de cheias no litoral. Entre 3ºC e 4ºC de aumento na temperatura, as cheias, sobretudo as dos rios, atingem um quinto da população mundial, há alterações profundas nas florestas, perde-se quase um terço das zonas húmidas, o gelo dos pólos derrete em grandes quantidades e zonas populosas enfrentam mais ondas de calor.
Também é longa a lista dos efeitos que já se observam no presente. Os lagos glaciares estão a aumentar em número e tamanho. Há mais avalanches de pedras e gelo em zonas montanhosas. A fauna e a flora do Árctico e da Antárctida está-se a modificar. Rios e lagos estão mais quentes. Plantas, em geral, ficam verdes antes da Primavera. Aves reproduzem-se e migram mais cedo.
O IPCC reconhece que é difícil estabelecer uma relação a cem por cento entre as transformações no planeta e a parte do aquecimento global causada pelo ser humano - sobretudo através da queima de derivados de petróleo e da destruição das florestas. Mas o relatório preliminar conclui, com "elevada confiança", que "a componente antropogénica [humana] do aquecimento nas últimas três décadas teve uma influência discernível em muitos sistemas físicos e biológicos".
Graus de certeza
O relatório especificará o grau de certeza sobre cada uma das suas conclusões. E é neste aspecto que, até ontem, não havia consenso em Bruxelas, onde cientistas e representantes governamentais dão os toques finais no chamado "sumário para decisores políticos", a ser hoje apresentado.
"Alguns estão a questionar a base científica (...) de certas afirmações do sumário, o que está a obrigar os autores a reverem os documentos originais", disse ontem Hans Verolme, da organização ambientalista WWF, citado pela agência Reuters. As discussões, segundo Verolme, centram-se na terminologia - se algum resultado é, por exemplo, "provável" ou "muito provável".
O mesmo tipo de debate ocorreu há um mês, quando o IPCC acabou um primeiro relatório sobre o aquecimento global em si e sobre as razões que estão na sua origem. A análise dos impactos, porém, é mais complexa e politicamente mais sensível.
É ela que poderá servir de base para definir o que é uma "interferência humana perigosa" no clima - algo que a comunidade internacional se comprometeu a evitar, com a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, de 1992. Mas até hoje não está definido quais são os limites do perigo.
Na versão preliminar do novo relatório, vários impactos são previstos com "confiança muito elevada" ou "confiança elevada". Muitos são novos em relação à última série de relatórios globais do IPCC, de 2001. Por exemplo, as perspectivas de degelo nos Himalaias, conduzindo a aluimentos de pedras e perturbações na disponibilidade de água. Ou os impactos nas florestas da América do Norte, vítimas de mais pragas, doenças e incêndios.
Boas notícias
Mas há também boas notícias. Uma delas: os impactos são positivos na produção de alimentos e na produção hidroeléctrica no Norte da Europa e em partes da Austrália e Nova Zelândia.
Alguns efeitos surgem com um sinal misto. A malária pode expandir-se em algumas zonas, mas contrair-se em outras. O mesmo ocorre com as alterações previstas na geografia da fome.
As conclusões do IPCC baseiam-se num cenário pessimista, no qual ninguém faria nada para minimizar as alterações climáticas. Mas mesmo no cenário oposto, em que não houvesse mais interferência humana no clima a partir de agora, ainda assim a temperatura subiria 0,6ºC até 2100, causando impactos importantes.
O IPCC estima, porém, que a temperatura média global poderá aumentar entre 1,1 e 6,4 graus.
De um modo ou de outro, a adaptação a um futuro mundo mais quente é, segundo o IPCC, inevitável.
0,6º

Anónimo disse...

Clap, Clap, Clap
a Miguel B. Araújo

Infelizmente, só conheço uma maneira de alguns jornalistas executarem correctamente a sua função (informar e FORMAR): voltarem ao Secundário para (re)aprenderem temas técnicos como fícica, química, biologia, matemática, etc.

Osvaldo Lucas

Anónimo disse...

Parece-me que a dificuldade de tradução dos discursos cientícos já é histórica. Na impossibilidade logística de analisar todo o universo, onde tudo actua e interactua, a ciência selecciona amostras, isola parâmetros e assume pressupostos. Daqui resulta uma sopa de incerteza que normalmente é albergada para segundo plano, na transmissão dos resultados finais, mas cuja relevância não a deveria fazer esquecer. Incutir esta sensibilidade do rigor na sociedade torna-se difícil, porque se espera que a ciência dê respostas concretas a tudo. Assim, em cada elo da cadeia de transmissão noticiosa o rigor deveria imperar, para que no final a mensagem seja interpretada de forma completa por cada cidadão. Evidentemente, aqui reside a importância da comunicação social.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Apenas uma pequena achega: as questões levantadas por Miguel Araújo vão muito para além do trabalho dos jornalistas.
Veja-se que Miguel fala das responsabilidades dos autores dos estudos na divulgação das suas conclusões.
Seria pena que Ricardo Garcia, que é dos melhores, mais bem informados e mais rigorosos jornalistas de ambiente fosse o bombo da festa desta história.
Sem, prejuízo de eu próprio já ter tido as minhas turras com Ricardo Garcia sobre coisas que me pareciam menos correctas.
Um jornalista é um generalista e não se pode esperar que tenha a capacidade crítica do relatório de Miguel Araújo.
O problema não é o erro de Ricardo Garcia, que é bom que seja corrigido, claro, mas sim o ambiente geral propício e favorável à distorção dos dados a favor da agenda mediática e política do movimento ambientalista.
E da agenda comunicacional dos investigadores.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Concordo com o Henrique e por isso ressalvei que muito aprecio o trabalho de Ricardo Garcia que também estimo ser um dos nossos melhores jornalistas de ambiente em Portugal. Além do mais é pessoa que muito estimo.

Tal não obsta, porém, que, neste caso concreto, tenha havido precipitação pois um jornalista experiente, como o Ricardo, sabe ler nas entrelinhas e discernir o que é facto e o que é "sound byte"... mesmo quando promovido por cientistas encartados.

Estamos numa arena extremamente politizada e é necessário ser crítico com o que lê e ouve.

No caso vertente é obvio que o IPCC tem as suas culpas. O relatório diz o que eu transcrevi e o Ricardo refere o relatório para afirmar o que afirma. Portanto incorre num erro de imprecisão. Mas na conferência de imprensa o relator esticou a corda e disse o que o Ricardo diz no seu artigo. Portanto, houve, da parte do relator uma intenção de criar uma estória mediática que o jornalista quer comprar. É uma simbiose perfeita.

Portanto a primeira crítica recai sobre o IPCC e essa será feita no seu devido lugar e momento. Mas para que um erro seja reproduzido nos jornais é porque há participação activa dos jornalistas. Com o poder que estes possuem é justo exigir que estes não assumam o simples papel de correia de transmissão do que é dito em conferências de imprensa, sobretudo quando se torna óbvio que o que nelas se diz transcende em muito o que está escrito nos relatórios que supostamente referem.

Anónimo disse...

Não me referia especificamente ao jornalista Ricardo Garcia, nem ao Público.
Não tenho uma noção da gravidade, em termos de generalização, do que a seguir afirmo:
- Os jornais e respectivos jornalistas, principalmente quando recebem notícias das agências não (re)lêem o que lhes é “oferecido”.
- Alguns artigos científicos por vezes apresentam conclusões que não são consubstanciadas pelos dados que, supostamente, as suportam, embora alguns vezes usem termos como “possivelmente”, “eventualmente”, “são precisos mais estudos”, etc. Mas se forem decisores (ou jornalistas) a usar a informação lá existente, se estes a lerem na diagonal ou não tiverem espírito crítico…
- O que não faltam são imprecisões técnicas. Só um pormenor “ilustrativo”: excepção feita ao Público!, na maioria das notícias sobre gastos e ou produção de energia usam como unidade o MW/hora !!!

Osvaldo Lucas

Miguel B. Araujo disse...

Sobre esta matéria há pelo menos 3 problemas:

1. Qualidade da ciência produzida

2. Qualidade dos comunicados de imprensa produzidos

3. Qualidade do trabalho jornalístico

Relativamente à qualidade da ciência existem mecanismos de controlo: o mecanismo de "peer review", ou revisão entre pares. O sistema, como qualquer outro, não é perfeito mas é melhor do que a sua ausência. Quando um mau artigo é publicado acontece uma de duas opções: o artigo é mau e não tem impacte, logo é ignorado; o artigo é mau e tem impacte. Quando o último cenário se verifica, é quase certo que outros cientistas publicarão artigos demonstrando os pontos fracos do artigo original.

Foi o que se passou com o artigo Thomas et al 2004 que, como o próprio autor reconhece, tem sido muito citado mas frequentemente pela negativa (devo dizer que não nutro nenhuma adversidade contra o autor deste artigo com o qual, aliás, colaboro em projectos e artigos).

A imprensa pouco pode fazer no que diz respeito à qualidade dos artigos científicos e não cabe ao jornalista avaliar o trabalho cientifico feito por profissionais da ciência.

A tradução entre o que está no artigo científico e o que sairá na imprensa faz-se frequentemente através de um comunicado de imprensa preparado pelos autores do artigo em colaboração com os responsáveis de comunicação e "marketing" das instituições onde trabalham. Noutros casos, menos frequentes, o artigo científico é sujeito a um tratamento jornalístico por um jornalista (frequentemente um "free lancer", especializado em ciência).

Portanto os cientistas têm uma responsabilidade importante pois são eles que muitas vezes seleccionam o conteúdo e forma com que pretendem "vender" o seu trabalho. O dilema com que se confrontam é apresentarem o seu trabalho com excessivo rigor, tendo dificuldade em fornecer uma estória que o jornalista queira publicar, ou apimentar os factos do seu trabalho com liberdades literárias que melhor encaixam no estilo jornalístico. É na gestão deste dilema que as opiniões se dividem. Uns pensam que vale a pena ceder às liberdades literárias, eventualmente deturpando a correcção da mensagem, outros pensam que mais vale educar o leitor para que se esforce e entenda a ciência tal e qual ela é, i.e., como um processo dialéctico de aquisição de conhecimento.

Num mundo dominado pelo mercado, e pela cultura do "big brother", os jornalistas e cientistas que seguirem a ultima via terão mais dificuldade em divulgar o seu trabalho a menos que tenham um dom de escrita pedagógica que é um dom raro.

Soma-se ao meu razoado o que o Osvaldo diz: que muitos jornalistas têm uma preparação científica pobre; ou têm demasiado trabalho e adoptam "short-cuts" evitando ler as fontes originais e optando por traduções directas de comunicados de imprensa; ou, pura e simplesmente, não têm qualidades para ser jornalista e deveriam apostar noutra profissão.

Tenho em crer que os nossos jornalistas na área do ambiente se situam acima da média e não entram nesta última categoria.

No caso vertente do relatório do IPCC existem nuances ao que disse acima. O relatório que foi notícia este fim de semana não é um artigo científico, nem sequer um volume técnico com muitas páginas. É um resumo com escassas 22 páginas de texto que assume o papel do comunicado de imprensa. além deste resumo houve uma conferencia de imprensa e foram distribuídos vídeos da mesma e apresentações em "power point".

Como deve imaginar, a escrita do resumo não técnico do relatório do IPCC resulta de um processo fortemente politizado onde intervêm cientistas mas também políticos profissionais, funcionários das administrações públicas e representantes de diversos "lobbies" corporativos. As palavras sao medidas ao milímetro pelo que frequentemente a linguagem é mais cautelosa do que desejariam alguns.

Por isso, o texto publicado pelo IPCC é parcimonioso. Porque era difícil fazer passar uma frase sem qualquer fundamento científico no texto central do relatório do IPCC. No entanto uma figura no relatório já aponta para o "hype" dos 20-30% da biodiversidade em risco, e na conferência de imprensa alguém terá capitalizado na ambiguidade gerada entre o texto e a figura para apresentar os números aos jornalistas como de forma a assegurar a reprodução de um "hype" em grande escala.

É a política meu caro. São agendas que transcendem e que, ao contrário do que se pretende fazer crer, não servem a causa do ambiente.

Não me surpreenderei se esta frase der origem a críticas musculadas a este relatório. A desonestidade intelectual é como a mentira: apanha-se mais facilmente que aos coxos.

Anónimo disse...

Caros bloguistas,

Alertado para esta discussão na Ambio, gostaria de esclarecer que o artigo que publiquei na sexta-feira foi baseado, como está expresso no texto, numa versão preliminar do relatório do IPCC. O artigo era, por isso, uma antecipação das linhas gerais do relatório que seria divulgado naquele dia – com a salvaguarda de que poderia ainda haver alterações, o que também estava expresso no texto.

Naquela versão preliminar, o parágrafo sobre as extinções era o seguinte:

“Roughly 20-30% of species are likely to be at high risk of irreversible extinction if global average temperature exceeds 1,5 – 2,5ºC”

A versão preliminar do relatório foi bastante alterada na reunião de Bruxelas. A frase acima teve uma redacção diferente – divulgada apenas na sexta-feira, quando o meu artigo já estava publicado – o que induziu o Miguel Araújo à ideia de que eu fizera uma interpretação errada do texto.

De qualquer forma, obrigado pelos comentários e críticas, no que me dizem respeito. O tema é interessante e pertinente, sobretudo porque o que está em causa aqui – além de questões jornalísticas – é como o IPCC produz os seus relatórios e como os divulga. Reitero o conselho do Miguel Araújo, para a consulta da síntese do que se passou em Bruxelas, produzida pelo Earth Negotiations Bulletin.

Ricardo Garcia

Miguel B. Araujo disse...

Obrigado, Ricardo, pela explicaçao e parabéns por, mais uma vez, dar mostras de grande profissionalismo.

Aos poucos vao-se juntando as peças do puzzle.

Anónimo disse...

Queria só repescar a questão do Pedro e do Lobo (ou dos "Dangers of crying wolf").
Há uns tempos veio-me parar às mãos um mapa de "Portugal em 2100", em que o mar chegava a Santarém! Quem desenhou o mapa fez só o pequeno erro de multiplicar por cerca de 100, os cerca de 90 cm previstos (com várias ressalvas) no relatório do IPCC (aquela representação parece-me a mim que anda por alturas da cota 100 m).
E não vi em lado nenhum explicar que não era bem assim.
O que é que isto tem de mal? É as pessoas deixarem de acreditar nestes relatórios por causa dos exageros (muitas vezes nem sequer desmentidos) que depois não se confirmam.
E é os 90 cm que são graves! serem transformados em "afinal são SÓ! 90 cm".