Não tenho opinião formada sobre o assunto mas as opiniões de Jorge Gaspar merecem-me a maior atenção.
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Artigo publicado no Público por Paulo Madeira: Jorge Gaspar critica condução do processo da localização do Aeroporto: "O aeroporto em Alcochete é pior para o desenvolvimento do país"
Jorge Gaspar critica condução do processo da localização do Aeroporto: "O aeroporto em Alcochete é pior para o desenvolvimento do país"
Um menor efeito positivo sobre o tecido socioeconómico ao nível nacional e um mais difícil acesso ferroviário serão os principais inconvenientes de uma eventual opção pela localização do novo aeroporto da região de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete, segundo o geógrafo Jorge Gaspar, que coordenou a equipa técnica do Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território (PNPOT), enviado há meses pelo Governo para aprovação pela Assembleia da República.
Este geógrafo, professor catedrático aposentado e actualmente consultor, considera mesmo que "todo o processo é vergonhoso", pois "nunca foi feito um estudo de custos/benefícios para a Ota". Questiona mesmo quem é que introduziu a Ota no processo de decisão: "Quem o fez devia vir justificar porque é que o fez."
A Ota foi a opção consagrada no PNPOT para o novo aeroporto por lhe ter sido fornecida como um dado, decorrente da escolha de João Cravinho, quando era ministro do Planeamento de António Guterres. E os estudos de exploração da viabilidade da Ota levaram Jorge Gaspar a concluir que se tratava da localização que servia melhor os interesses do país do ponto de vista do ordenamento do território, pois é a que "melhor se integra" no sistema nacional de acessibilidades e "a melhor para potenciar" o desenvolvimento nacional.
As objecções técnicas à localização na Ota, como a de não se poder tirar pleno partido das duas pistas devido à orografia, não foram apreciadas na altura. Mas Jorge Gaspar lembra que muitos aeroportos por todo o mundo têm problemas de orografia e considera que as cheias são também resolúveis sem grande dificuldade – dá mesmo o exemplo de Barcelona, cujo aeroporto está sobre o pequeno delta de um rio de 170 quilómetros que nasce nos Pirenéus e é da ordem de grandeza do Cávado.
As grandes dúvidas que considera existir ainda em relação à Ota é a da relação custos/benefícios, que nunca foi estudada, bem como a possibilidade de expansão – que diz ser possível mas comportar custos mais elevados do que as outras opções.
Por outro lado, a localização na Ota serve "muito bem" a área metropolitana de Lisboa, mesmo "melhor do que Alcochete" (mais exactamente, Canha, no extremo leste do Campo de Tiro, já nos concelhos de Benavente e Montijo), e serve de "grande alavanca" para as áreas que "têm maior potencial de crescimento no país", que Gaspar diz serem as do Oeste, Centro Litoral e Lezíria e Médio Tejo. Acrescenta ainda que o crescimento desta área é importante para reforçar a competitividade das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
A ideia é ajudar as cidades médias do centro do país a funcionar como uma área metropolitana polinucleada, considerando que Leiria, Coimbra ou Aveiro têm cerca de 250 mil habitantes contando as pessoas a menos de 15 minutos destes centros. Com um PIB em cerca de 70 por cento da média da UE, "facilmente podem ir para os 80 por cento a 90 por cento".
Dúvidas sobre dados de acessibilidades a Alcochete
Na localização agora proposta pelo estudo promovido pela CIP (Confederação da Indústria Portuguesa), há ainda que considerar a desvantagem do maior número de quilómetros por carro que terão de ser feitos por muitos utilizadores e ainda "a quase inacessibilidade ferroviária".
Quanto a este último aspecto, explica que "ou o TGV Porto-Lisboa vai primeiro a Canha e só depois entra em Lisboa, ou então quem vier do Centro tem de ir primeiro a Lisboa e depois noutro comboio até Canha".
Um aspecto que Jorge Gaspar considera é importante, se a hipótese de Canha avançar, é que esta freguesia do Montijo (mas que não tem contiguidade territorial com este concelho) saia da área metropolitana e, devido às suas históricas relações funcionais com Vendas Novas, integre este concelho e a região do Alentejo, passando a ter assim acesso a mais fundos comunitários.
O estudo promovido pela CIP é elogiado pelo geógrafo no que respeita ao capítulo ambiental, mas "o capítulo sobre acessibilidades levanta muitas dúvidas por falta de informação".
Começa por apontar um erro no que respeita à distância entre a Ota e a Gare do Oriente (em Lisboa) em linha recta: na página 19 deste estudo estão 45 quilómetros, mas são 36 quilómetros.
Critica também que não seja apresentada uma matriz de distâncias, "indispensável para perceber a origem/destino" dos utilizadores. E aponta também o dedo a que a atracção de utilizadores do aeroporto é ponderada apenas pela capacidade económica da população, faltando outras variáveis, como o nível de instrução.
Outro aspecto que lhe levanta dúvidas é se os 650 mil habitantes da região de Badajoz (a quase uma hora de distância por TGV) não estão a entrar neste estudo com um peso maior do que o do conjunto do Oeste-Lezíria-Coimbra. Aliás, alguns dos mapas apresentados mostram uma maior influência do aeroporto em Alcochete do que na Ota sobre toda a província da Extremadura espanhola.
Devem ser consideradas outras opções
Jorge Gaspar defende ainda que agora a situação é radicalmente nova, pois os estudos da Naer (a empresa que tem a seu cargo o processo do novo aeroporto) não consideraram o Campo de Tiro de Alcochete porque ele sempre foi visto como uma restrição.
Quanto aos interesses que diz que terão promovido agora a opção de Alcochete, diz que serão legítimos, como todos os outros, mas acha que se é para considerar novas opções por uma questão de custos, então há que olhar para outras localizações viáveis no eixo do Tejo, mesmo em terrenos do Estado.
Dá o exemplo da companhia das Lezírias, que tem 25 mil hectares, dos quais "muitos não têm interesse ecológico e reduzido interesse agrícola". E também da lezíria do Tejo na margem direita, entre Vila Nova da Rainha (onde houve uma das primeiras bases aéreas do país) e a estação do Cartaxo, entre a Linha do Norte e o Tejo, próximo do ramal ferroviário de Setil, que dá acesso ao Sul do país.
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7 comentários:
Quem não defende a realização do estudo da Portela+1 ou a alternativa ZERO não pode ser sério ou é ingénuo ao ponto de acreditar que os pressupostos de segurança que servem para contestar a primeira opção não se irão repetir em qualquer das alternativas OTA ou Alcochete. É óbvio que os interesses especulativos, imobiliários e industriais só lhes interessam estas duas opções ou outra com as mesmas características, pois significam começar de raiz uma nova rede viária e um sem fim de urbanizações, seja para particulares ou turismo e, por essa razão, mais tarde mais cedo as cidades emergentes irão rodear o novo aeroporto, apresentando os riscos de segurança e outros na mesma medida da Portela.
As duas primeiras opções são seriamente de ponderar à luz dos novos conhecimentos, como a previsão de 30 anos para o fim dos materiais electrónicos, a escassez de petróleo e o poder económico crescente da China e Índia que concorrem para um alarmante preço dos combustíveis fósseis nas próximas décadas, do lado do consumo e, por conseguinte, poucos serão aqueles que poderão suportar as despesas de voar, no futuro.
Quem, com elevado sentido patriótico considera esta questão da máxima importância não deve recusar ou temer que se analisem as duas propostas acima pois são precisamente aquelas que menos alimentam bairrismos e interesses mais obscuros.
O Prof. Jorge Gaspar é geógrafo e parece só considerar o aspecto geográfico. De um ponto de vista económico os custos da construção e falta de opção de expansão na Ota levariam imediatamente a taxas aeroportuárias tão elevadas que cancelariam os eventuais efeitos positivos da localização.
Já tencionava fazer um post sobre o aeroporto e menteno a intenção.
Agora o que me espanta nestas opiniões (se bem percebo as opiniões de Jorge Gaspar que me parecem confusas) é que se considere normal que o coordenador do PNPOT assuma que este programa nem tenha discutido a questão do aeroporto por ter sido introduzida no estudo como um dado adquirido (apesar de eu já ter visto a OTA ser defendida com base no PONPOT).
O que me levanta mais que legítimas dúvidas sobre tudo o que estiver escrito no PNPOT (quem em diz que resulta de estudo e ponderação ou meramente de uma ordem de alguém?).
henrique pereira dos santos
Nunca digas nunca...
Artigo de Miguel sousa Tavares no Expresso de dia 16 de Junho 2007
“Um aeroporto na margem sul, jamais, jamais!”: Mário Lino, 29/05/07
Vai fazer um ano que aqui exprimi pela primeira vez as minhas dúvidas sobre a súbita febre de Ota que atacou o Governo (“Foi você que pediu um aeroporto?”). Passado um ano, em que tudo li, ouvi e consultei sobre o assunto, as minhas dúvidas de então transformaram-se todas em certezas ou quase certezas. E, as que restam, passaram de dúvidas a desconfianças.
Tenho hoje a quase certeza de que a Portela não está saturada, ao contrário do que dizem, inocentemente ou não. Não está saturada hoje e não estará se e quando houver TGV e ele vier retirar à Portela uma grossa fatia de passageiros com origem ou destino no Porto e Madrid. E tenho a certeza de que as dificuldades de estacionamento na Portela se resolveriam com a anexação dos terrenos de Figo Maduro.
Tenho a certeza de que a melhor solução para Lisboa, no caso de saturação a prazo da Portela, seria a sua manutenção a par de um aeroporto alternativo, modesto e fácil de pôr em funcionamento, como sucede em todas as cidades europeias com grande movimento aéreo. A “Portela+1” seria a solução mais fácil, mais rápida de executar, que melhor servia os interesses da cidade e dos seus habitantes e de longe a mais barata para os contribuintes.
Tenho a quase certeza de que, se a solução “Portela+1” não foi contemplada no estudo da CIP nem no período de reflexão concedido pelo Governo, tal se ficou a dever a um acordo entre a CIP e José Sócrates. E tenho a certeza de que essa solução, justamente porque sairia infinitamente mais barata, é a que menos interessa ao sector financeiro, às sociedades de advocacia de negócios e de influências e ao sector empresarial que está habituado a só fazer grandes negócios quando eles envolvem grandes obras públicas. Não custa a perceber que o Governo do PS tenha aceite este compromisso com a CIP, desde que de fora ficasse a solução mais simples, e que o PSD não tenha esboçado um protesto por não se falar na hipótese da terceira solução. Estão em jogo os interesses dos grandes financiadores do “Bloco Central” - essa eterna tratação entre dinheiros públicos e interesses privados, que traz cativa, de há muito, a capacidade de desenvolvimento do país. Não percam tempo a tentar perceber se há mais “interesses” envolvidos na Ota ou em Alcochete: bilião a mais ou a menos, o que os interesses querem é um novo aeroporto, megalómano, de raiz e tão caro quanto possível.
Tenho a certeza, obviamente, de que entre a Ota e Alcochete - (e confirmando-se a inexistência de danos ambientais incomportáveis em Alcochete) - só mesmo um inimputável é que escolheria a Ota para um aeroporto internacional de Lisboa. Basta um olhar ao mapa para perceber que Alcochete fica mais perto, tem acessibilidades mais fáceis e está alinhado com o TGV para Madrid. Deve custar um terço da Ota e tem a inestimável vantagem de apenas envolver terrenos públicos - ao contrário da Ota, que tem alimentado intermináveis boatos e especulações sobre as jogadas com a propriedade dos terrenos. É ainda mais seguro em termos de navegação aérea, mais fácil e mais rápido de fazer e sem prazo de vida.
Mas também tenho enormes desconfianças sobre o fundamento sério desta súbita decisão governamental de ir estudar agora a alternativa Alcochete. É óbvio que, para já, ela salva do descalabro a campanha autárquica de António Costa, que vegeta sem nenhuma ideia nem projecto dignos desse nome. É óbvio também que a ‘pausa’ serve para não abrir um conflito com o Presidente e visa demonstrar que a célebre teimosia de Sócrates não é insensível à opinião da sociedade civil e à busca da melhor solução para o ‘interesse público’. Pois... mas, se assim fosse, se ambas as soluções estivessem afinal em aberto, não se percebe que continue em funções o ministro que há quinze dias jurava que na margem sul «jamais, jamais» (em francês), e que passou o último ano a pregar a política do facto consumado e do capricho pessoal. Em vez disso, e como vimos, logo no dia seguinte, Mário Lino recebeu, com o maior dos à-vontades, o lóbi autárquico da Ota, para lhe dizer que continuava com eles e que contassem com ele.
Há um ano, Mário Lino e José Sócrates diziam que tinham feito todos os estudos e que não havia dúvida alguma de que Lisboa precisava urgentemente de um novo aeroporto e que isso só podia ser na Ota. Depois, foi-se descobrindo que, afinal, os estudos não estavam feitos mas no início (o de impacto ambiental só agora começou), e que alguns deles, como o de engenharia, desmentiam a excelência da Ota. Descobre-se que nenhuma alternativa tinha sido seriamente estudada e algumas, como Alcochete, nem sequer tinham sido consideradas. Descobre-se que a “certeza” do esgotamento iminente da Portela não levava em consideração factores como a entrada em funcionamento do TGV e baseava-se em previsões de crescimento do número de turistas verdadeiramente mirabolantes. Descobre-se que a solução que o Governo quis impor à força é a mais cara, a mais incómoda para os passageiros, a mais insegura, a mais difícil de executar, a que menos interessa a Lisboa e a de menos futuro. E foi assim que foi tratada a obra pública mais importante das últimas e próximas décadas.
Tal como sucedeu com a regionalização, também agora os socialistas quiseram impor ao país um facto consumado, com “estudos” feitos e sem necessidade de discussão pública. Eu só espero que, como então sucedeu, também agora o país lhes dê a resposta que merecem. E que ninguém se deixe iludir por esta possível manobra de “pedimos desculpa por esta interrupção, a Ota segue dentro de momentos”.
Novas oportunidades
Expresso de 16 de Junho 2007
JP Coutinho
Basta viajar para qualquer cidade da Europa, ou do mundo, para entender este facto simplório: é possível que uma mesma cidade seja servida por vários aeroportos. Do Rio a S. Paulo, de Nova Iorque a Londres, a história é recorrente: a cidade cresce, o tráfego aéreo também e é preciso novo poiso para dar conta do recado. Em Portugal, a nossa megalomania não permite estes arranjos prosaicos. Se a Portela está ‘esgotada’, o melhor é desfazer a Portela, entregar o que sobra à selva do betão e construir uma monstruosidade sem nome a cinquenta quilómetros de Lisboa, capaz de resolver os problemas da cidade para toda a eternidade. Londres ou Nova Iorque remendam-se como podem; nós, do alto da nossa riqueza e majestade, não vamos lá com remendos. Só com roupa nova. Infelizmente, a megalomania gera mais problemas do que aqueles que resolve e os acontecimentos desta semana comprovam a tese. Segundo parece, um misterioso grupo de beneméritos resolveu pagar um novo estudo que aponta Alcochete como solução ideal. Quem são os beneméritos? O que os move? E por que motivo só abriram a boca agora, quando a Ota estava no horizonte desde o início da legislatura? Ninguém sabe. Mas nada disto arrefeceu os ânimos da oposição, que viu no estudo e no ‘recuo’ do Governo uma derrota brutal para o eng. Sócrates.
Eu não pretendo desanimar a oposição. Mas não é de excluir que o ‘recuo’ do Governo seja, na verdade, o embalo de que este precisa para dar o salto definitivo. Não vale a pena lembrar que Sócrates estava informado do estudo há, pelo menos, 3 meses. Mas importa lembrar que o ministro das Obras Públicas também; e que nada disso arrefeceu o entusiasmo de Mário Lino pela margem norte. Podemos argumentar que isto mostra apenas a excentricidade do senhor, que eu pessoalmente aprecio. Mas talvez seja uma manifestação de sinceridade: uma pausa de seis meses é tudo o que o Governo precisa para enterrar a polémica da Ota. Como? Pelo enterro de qualquer alternativa ‘credível’. O estudo da CIP oferece essa oportunidade numa bandeja. Uma derrota para Sócrates? Não. Sejam. Ridículos.
Se o único local para construir um aeroporto na região de Lisboa fosse a Ota, que esgota em 20 anos ou menos, então o país teria um problema estratégico muito grave que imporia a preservação da Portela como alternativa de aeroporto na região.
Alcochete é a única hipótese de ser tolerável o fecho da Portela.
Estes autarcas do distrito de Leiria deviam era se preocupar em fazer pressão para que a Base Aérea nº5 de Monte Real seja aberta à aviação civil. Isto porque se a Ota ajuda o turismo de Fátima, Monte Real ajudaria muito mais e claro até Coimbra beneficiaria. Não se esqueçam que agora há auto-estrada perto da base Aérea.
O que não percebo mesmo é autarcas do Norte do distrito fazerem campanha pela Ota!!!!
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