Declaração de interesses: este projecto está neste momento sob a minha responsabilidade.
O ICNB tem um projecto que irá terminar a sua fase piloto neste ano e entrará num ano zero de desenvolvimento no próximo ano lectivo. Nesta fase piloto terá tido a participação de cerca de seis a sete mil alunos divididos pelos quatro anos que durou esta fase.
O projecto descreve-se em poucas linhas: consiste em levar todos os meninos do oitavo ano de escolaridade a passar três dias (duas noites) numa área protegida usada como recurso para a escola leccionar o programa lectivo normal.
Em relação à fase piloto há diferenças significativas: o tempo, que passa de dois dias (uma noite) para três dias, a alteração do acompanhamento dos alunos que passa a ser dos professores e não do ICNB e a alteração da origem de financiamento do ICNB para a escola.
E sobretudo a diferença de ambição: atingir anualmente 130 000 mil alunos em vez dos mil a dois mil alunos.
O projecto constitui uma enorme operação logística (deslocar mais de 130 000 pessoas, assegurar mais de 250 000 mil dormidas e mais de meio milhão de refeições em áreas maioritariamente economicamente deprimidas e com poucas infra-estruturas de suporte) e consequentemente tem um custo de operação enorme (estimam-se 10 milhões de euros anuais, não contando o investimento em infra-estruturas, sobretudo de alojamento).
Está fora de causa olhar para estes números e esperar que os orçamentos do ICNB ou do Ministério da Educação suportem o projecto em fase de cruzeiro (a atingir em cinco a dez anos, dependendo da capacidade de mobilizar o alojamento em áreas protegidas).
Mas está também fora de causa resignarmo-nos à apagada e vil tristeza de poucos alunos em Portugal terem a oportunidade de usar as áreas protegidas como recurso pedagógico, ao menos uma vez na vida.
Estes números apontam para custos per capita de 70 a 80 euros, o que estará ao alcance de muitas famílias mas não de todas. O objectivo é conseguir uma participação média de financiamento directo pelas famílias de 50% do custo do programa, sendo que umas pagarão 100% e outras zero.
Este projecto só é possível se for verdadeiramente um projecto nacional e não do ICNB. Conseguir isso é o principal desafio que o ICNB tem pela frente para pôr de pé o projecto (para além de capacitar as áreas protegidas para este uso, apoiar os professores na exploração pedagógica das áreas protegidas e apoiá-las no duro trabalho de auto-financiamento da actividade).
Todas as indicações que temos neste momento, quer de prestadores de serviços contactados e que provavelmente nos permitem descer as estimativas de custo, quer de empresas que queremos envolver no financiamento do projecto quer mesmo da dinâmica das escolas na angariação de fundos (apoiadas pela dimensão nacional do projecto e pelo trabalho de base feito pelo ICNB) permitem olhar para o projecto com optimismo.
Será uma boa oportunidade para os professores, peça central neste projecto de participação voluntária, demonstrarem o seu empenho num ensino diferente e mais rico.
Não tenho nenhuma razão para pensar que não será possível.
Nem para pensar que será fácil.
henrique pereira dos santos
domingo, março 16, 2008
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14 comentários:
Muito bem. É assim mesmo. Sensibilizam-se os miúdos e conquistam-se turistas (a família que depois gostava de lá ir etc). Bom trabalho e boa sorte
Muito bem, mesmo! Parabéns pelo projecto e votos de que seja um grande sucesso!
Muitos parabéns pela iniciativa e força para os anos vindouros!
Cátia Rosas Santos
Caro HPS,
Excelente iniciativa à qual desejo o melhor sucesso. Permita-me uma colherada: porque não dar também a conhecer aos jovens as ruralidades vividas in loco pelos habitantes dessas áreas? Nas aldeias existem alternativas dignas e saudáveis à vida das cidades. Muitas dessas aldeias situam-se em áreas protegidas ou Rede Natura.
De pequenino...se torce o destino. Muitas imagens da juventude permanecem adormecidas, ou apenas são sonhadas, até que um dia a decisão de abandonar a cidade, definitivamente ou temporariamente, emerge com força insaciável. Bem sei que não é esse o objectivo do projecto, mas porque não acrescentar-lhe mais esta valência?
Posso dar-lhe contactos de algumas aldeias com capacidade para acolher uma turma - com sala de convívio maior que uma sala de aulas - habitadas por gentes hospitaleiras, situadas em Rede Natura (algumas das aldeias recuperadas pelo programa "Aldeias de Xisto", por ex.) e rodeadas por "Natureza de qualidade".
Jaime Pinto
Já fiz o merecido destaque.
Parabéns...e estou ansioso por participar.
Caro Jaime,
Uma das coisas que a fase piloto nos ensimou é que não existem recursos para duplicar tarefas, isto é, que o país não tem recursos para ter simultaneamente os professores e outros técnicos a acompanhar os miúdos.
Por isso o acompanhamento dos miúdos, e necessariamente os conteúdos e opções de exploração pedagógica dos recursos, têm de ser responsabilidade dos professores.
Mas esta fase preparatória do projecto já permitiu identificar a necessidade de abrir a possibilidade de usar recursos, nomeadamente de alojamento, não previstos inicialmente.
Se a orçamentação do projecto apenas conta com pousadas da juventude (e a preços ainda não interiamente conversados especificamente para o projecto) porque era preciso avaliar a sua viabilidade o seu desenvolvimento pode muito bem fazer-se a partir de ofertas de serviços de muito mais gente, quer da hotelaria tradicional, quer de novos modelos de aljamento como o referido.
É por isso provável que o projecto contenha mecanismos de associação de alojamento de parceiros que o queiram.
A opção pelas áreas protegidas parece-me razoavelmente compreensível.
Se o projecto tiver êxito e crescer estou convencido que dará origem a um movimento de alargamento, quer a diferentes niveis de ensino, quer a diferentes destinos.
Mas para começar um projecto de execução difícil pareceu-nos sensato começar pelo que for absolutamente imprescindível e o menos complicado possível.
henrique pereira dos santos
A experiência não só é interessante, como é possível. Há uns anos uma escola de Leiria organizou um projecto com algumas semelhanças que usava como base o Parque Natural da Serra de Aire e dos Candeeiros. Chamavam-lhes "trilhos pedagógicos" e tratava-se de usar o património existente para aulas de História, Biologia, Geografia, Desenho. As actividades decorriam ao longo de dois dias e os grupos eram acompanhados só por professores onde se incluia, obrigatoriamente, um de Educação Física.
A experiência teve evoluções (chegou a incluir desportos de aventura integrados nas actividades lectivas: provas de orientação para leitura de mapas, por exemplo)e só não foi mais longe por dificuldades logísticas.
Sucesso para a iniciativa.
Caro HPS,
Pois...Roma e Pavia não se fizeram num só dia...
Fica a sugestão com outra que vou acrescentar: existem inúmeras escolas primárias em aldeias situadas na Rede Natura, bonitinhas e sempre bem localizadas (uma das raras coisas bem feitas do tempo de Salazar) que estão bem preservadas, graças ao empenho das Juntas de Freguesia e Comissões de Melhoramentos dos respectivos Lugares. Contudo TODAS elas há muitos anos não são usadas para a função para que foram criadas: as raras crianças das aldeias estudam na escola primária da Vila mais próxima. Seria ouro sobre azul os miúdos da cidade passarem 3 dias em algumas dessas aldeias e escolas, evidentemente seleccionadas a preceito, apesar do choque que alguns desses miúdos teriam ao verificar que a escola da aldeia com 50 anos era muito melhor e mais bonita que os barracões onde lhes ensinaram as primeiras letras na cidade.
Jaime Pinto
Lamento mas não aplaudo a iniciativa.
Diz-me a intuição que a intitucionalização do tema "ambiente" que assim se vai consolidando não é a solução.
Dizia a Natália Correia que "os valores não se ensinam, respiram-se"!
Esse "respirar" é algo que se adquire no quotidiano e não em "investidas" que sendo pontuais não deixam por isso de ter um peso logistico consideravel, como é o caso.
Continuo a não perceber ( aliás, até percebo )o que impede as escolas de promoverem o contacto com o ambiente natural, rural ou urbano das suas próprias imediações, enquanto se passa a ideia de que é necessária essa instituição inacreditável da "quinta pedagógicca" para ilustrar a prática agricola e pecuária!
O meu receio é o de que se generalize a ideia já razoavelmente difundida de que "ambiente" é algo que se consome em locais e condições especificas. Ou seja, como mais um "produto comercial" e respectivo marketing associado.
Caro Manuel Rocha,
Não percebi, pelo seu comentário, em que é que a iniciativa impede que as coisas funcionam como quer. Não há nada na iniciativa que obrigue quem participa a fazer isto ou aquilo.
A iniciativa pretende abrir oportunidades para quem as queira aproveitar.
É contra isso? Prefere que as pessoas não tenham oportunidades?
Gostaria de perceber bem a sua objecção para ver o que se pode melhorar na iniciativa.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique,
Nada disso, pelo contrário.
Mas preciso de tempo que agora não tenho para me explicar devidamente.
Cá voltarei para o efeito.
Meu nome é Fernando Mattos, só consigo acessar anonimamente, problema de linguagem...Parabéns pela iniciativa, é um trabalho gigantesco que deve mostrar seu caráter. etc, etc,...Aqui no Brasil iniciativas deste tipo são feitas pelas escolas particulares.
Só temo por um probleminha, com a mentira repetida um milhão de vezes de um tal de aquecimento global.
1- uma mentira repetida a exaustão
2- execração pública. para quem contestar.
3- todos uniformizados marchando.
4- um governo único para todo planeta ( talvez 1000 anos)
5- provavelmente esteja o senhor criando a "JUVENTUDE AQUECIMENTISTA"
Não se percebe a razão do comentário colimático do anterior comentador mas se tem interesse em discutir o tema sugiro que consulte o post http://ambio.blogspot.com/2008/01/uma-resposta-aos-cpticos-climticos.html
Onde o tema é discutido com alguma profundidade.
Caro Henrique:
A minha prometida resposta ficou maior do que devia para colocar na vossa caixa de comentários, pelo que optei por a deixar lá no meu recanto.
Saudações,
MR
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