O raio é um comentador interessado, bem educado e informado neste blog.
Enriquece portanto o blog, o que se agradece.
São dele algumas frases interessantes (digo-o sem ironia apesar de alguma ironia do resto que vou escrever) nesta discussão dos combustíveis e resolvi escolher uma para comentar:
"Quanto a, no futuro, viagens de avião, só de negócios, é ridículo. Isso provocaria o colapso da economia Mundial."
Eu também tenho dúvidas sobre esta previsão de um dia o avião só ser usado para viagens de negócios (independentemente de não haver negócios onde as pessoas invistam mais que os negócios do coração).
Mas acho muito interessante esta frase pelo facto do raio dizer que não é possível acontecer isto ou aquilo porque isso provocaria um colapso da economia.
É um ponto de vista optimista: se uma coisa nos faz mal não pode acontecer. Eu gostaria de ter a sabedoria de ter chegado a este ponto. Penso que a técnica é a do rei do Príncepezinho: se ordenar ao meu general que voe e ele me desobedecer é minha ou dele a responsabilidade? Ou seja, o corolário desta frase é que se alguma coisa acontece é porque não nos faz mal.
E este é um caminho luminoso para a felicidade.
Procurando chegar ao mesmo patamar de bem estar, lendo a sua demonstração do que diz na baixa que nesta semana se verifica no petróleo (ainda bem acima dos 100 dólares), lembrei-me de ver o que escreviam há uns anos as pessoas com posições optimistas como a do raio.
Em 2002 publicou-se um artigo interessante (escolhi este mas podiam ser mais cem) sobre a evolução futura dos preços do petróleo, muito centrado na discussão da banda de variação do preço que na altura seria entre os 20 e 30 dólares.
Aconselho a leitura integral (adicionei à citação o link para o artigo integral muito mais interessante lido agora que na altura)
E a forma elegante como se explica racionalmente a conclusão final:
Em conclusão, podemos afirmar que o papel da OPEP em geral, e da Arábia Saudita em
particular, apresenta-se fragilizado, em resultado quer de factores externos (emergência da
Rússia como produtor relevante; deterioração das relações com os EUA) quer internos
(ineficácia na utilização dos recursos). Desta forma, e caso não ocorram desenvolvimento
particularmente negativos no médio oriente, o próximo futuro afigura-se favorável a uma
trajectória descendente nos preços, com a OPEP a enfrentar crescentes dificuldades em
manter os preços acima do limiar mínimo.
Não percebi aqui onde cabe a eventual finitude de dois aspectos: o do recurso em si e o da capacidade da atmosfera absorver o carbono produzido.
O raio garante que há petróleo para muitos anos (estou em crer que sim) e evita pronunciar-se sobre a capacidade da atmosfera absorver o carbono (eu também, que não percebo nada do assunto).
Concluindo que as altas do petróleo são meramente especulativas.
Calculo que os especuladores não só tem recursos financeiros inesgostáveis que lhes permitem fazer subir os preços desta forma, como muitos deles são completamente estúpidos porque nem todos vão ganhar quando o preço começar a descer. Só os primeiros a abandonar o mercado vão ganhar. Os outros vão ficar afogados em petróleo barato.
Ou então fazem uma análise de evolução do mercado que contém riscos, claro, mas alguma sustentabilidade nos fundamentos do mercado da energia.
Talvez o mais natural seja mesmo que os especuladores tenham mais informação que nós: afinal é o dinheiro deles que está em risco.
A nós não nos dói ter opinião, a eles sim.
henrique pereira dos santos
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40 comentários:
Um outra entrevista (curta) com o economista chefe da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol
Também agradeço o comentário aos meus comentários.
O que disse sobre o colapso da economia não é porque esta não possa acontecer. Acho até que há uma probabilidade elevada dela acontecer embora não pelas razões enunciadas.
O problema é outro. É ridículo estarmos a discutir investimentos e modos de vida como se a economia e a civilização continuasse normalmente e utilizando como argumentos para justificar certas medidas, argumentos que, a serem válidos, provocariam o colapso da economia.
Por exemplo, qual o problema de se gastar actualmente uns milhares de milhões a contruir um TGV se amanhã a economia colapsar?
É que se houver um terramoto desta ordem a nossa situação será igual com ou sem TGV pois o dinheiro que teriamos poupado ao não o construir perderá o seu valor.
Quanto ao tal colapso da economia ele poderá chegar pela via das actuais políticas económico financeiras, Euro e outros disparates do mesmo nível.
Quanto às opiniões dos economistas de 2002 sobre a evolução dos preços do petróleo elas têm o mesmo valor do que a opinão actual dos membros da CECA (Corja de Economistas, Comentadores e Associados) sobre a evolução futura dos preços do petróleo.
Recordo a frase de um filósofo inglês (Bertrand Russel), quando a opinião dos especialistas é unanime, podemos tomar como certa a hipótese contrária.
Mas, sobre o artigo que citas, faço notar que o autor teve o cuidado de escrever desta forma, e caso não ocorram desenvolvimento
particularmente negativos no médio oriente.
Ora, sobre o Médio Oriente só há desenvolvimentos negativos...
Sobre o malfadado CO2, é melhor ignorar. O CO2 é um gás com efeito de estufa secundario (o vapor de água é muito pior) e necessário para o desenvolvimento do reino vegetal.
Ainda por cima já houve épocas em que havia mais CO2 do que actualmente e é também muito discutível de que o CO2 que há na atmosfera provenha da actividade humana.
Sobre o aumento do custo do petróleo descrevi no meu blog uma coisa que me sucedeu e que ajuda a perceber o que é que está a acontecer (ver: http://cabalas.blogspot.com/2008/06/isto-globalizao.html).
Caro Raio,
Os seus argumentos, se bem os entendo, são:
para quê preocuparmo-nos com hipóteses fora deste modelo económico e cultural se, espatifando-se o modelo tudo estará espatifado;
sobre o problema da aceleração da devolução do carbono à atmosfera não vale a preocuparmo-nos porque o carbono é bom para a vida.
São dois argumentos dificeis de contrariar.
O primeiro porque pela lógica do argumento não vale a pena discutir como se passa de um para outro modelo, sendo indiferente que seja com mais perturbação (leia-se fome, guerra e etc.) ou menos perturbação;
O segundo porque é difícil neste bocadinho explicar que a diferença entre o veneno e o remédio é apenas uma questão de dose.
O professor Pangloss, do Cândido, de Voltaire também tinha essa posição, de que está tudo sempre no melhor dos mundos e mantinha-a no meio da Lisboa destruída pelo terramoto de 1755.
Gostaria de ser capaz desse nirvana.
Se esta pequena troca de pontos de vista não tivesse tido outra utilidade eu já considero que ganhei imenso: a oportunidade que me deu de ver no seu blog os anúncios da cadillac e, sobretudo, a fabulosa Mama Cass no video dos mamas and papas, que me fez interrromper o Grupo de Acção Cultural Vozes na Luta, que estava a ouvir.
Obrigado por essas duas oportunidades de ver como o mundo pode mudar muito mais do que nos parece em cada momento.
henrique pereira dos santos
Caro Raio
Você está a dar por adquirido que o colapso é inevitável. Se fosse, de facto nem valia a pena falarmos sobre isso. Agora, se tivermos atitudes displicentes e se decidirmos investimentos sem critério, então, de facto, o colapso torna-se mais provével.
Quanto ao CO2 e vapor de água e registo histórico de CO2, etc., isso de facto é matéria para especialistas.
Sugiro este "post" todas as referências estão associadas aos respectivos links. A questão do vapor de água está lá. O vapor de água é de facto o mais importante gás com efeito de estufa (GEE). Mas isso é dizer muito pouco e não dizer o que de facto interessa. A confusão aqui reside em misturar a importância do vapor de água enquanto GEE numa situação de equílibrio, com a sua importância enquanto forçamento radiativo.
Mais sobre o Co2 e o vapor de água
«Physics seems to be working as it should, and climate scientists seem to be basing their understanding of climate change on rock-solid physical principles. The authors do not fall into the trap of assuming that water vapor is the root cause of the observed warming. They understand fully well that water vapor acts as a feedback to amplify forcing due to CO2 increase, and make this clear in their paper» in RealClimate "Busy Week for Water Vapor"
Pode ver os curriculum dos respectivos autores
Meus caros,
Creio não me ter feito entender.
O que eu digo é que um colapso económico, como sucedeu na Argentina aqui há uns anos acabará por acontecer em Portugal, pelas mesmas razões mas em pior situação pois a Argentina tinha semi-dolarizado a economia, isto é, ligou inexoravelmente o peso argentino ao dólar americano permitindo que na prática o dolár fosse quase a moeda da Argentina mas, não tinha mudado oficialmente de moeda, o peso argentino continuou a ser usado.
Como é evidente para qualquer aluno do primeiro ano de economia, as diferenças de produtividade entre a Argentina e os Estados Unidos conduziram a uma inflação maior na Argentina e ao colapso económico ao fim de dez anos.
Quando foi do colapso a Argentina desvalorizou o Peso em cerca de 50% (se a memória não me falha), desligou-o do dólar, arruinou uma data de gente, perdeu fortunas e entrou no bom caminho com a economia actualmente a subir a 8,5% ao ano.
A situação portuguesa é muito pior pois não temos a almofada de uma moeda local, substituimo-la pelo Euro. Assim, quando a economia colapsar a saída será muito mais difícil e dolorosa.
Mas, é bom que se entenda que a adesão ao Euro custou logo uma fortuna, quanto não sei pois nunca ninguém o disse mas, estudos feitos em Inglaterra sobre os custos da adesão do Reino Unido ao Euro dão valores astronómicos quando reduzidos ao nosso país (quer em proporção à população quer em proporção ao PIB), valores que ultrapasam os gastos com o projectado aeroporto de Alcochete ou com o TGV.
Além destes custos tivemos uma travagem brutal da economia. Se Portugal não tivesse aderido ao Euro continuaria naturalmente a crescer e, bastava que tivesse crescido mais um ponto percentual do que cresceu (ou não cresceu) e o país teria sido mais rico em cerca de 8.000.000.000 Euros, o que dava para construir dois aeroportos de Alcochete e ainda sobrava dinheiro para se construir mais umas pontes sobre o Douro...
É por estas razões que acho incrível toda a argumentação contra o aeroporto ou o TGV. Os custos destes investimentos são feijões comparados com o terrível erro que foi a adesão ao Euro.
Além de que o problema se pode reduzir ao seguinte.
O aeroporto é inútil pois vai deixar-se de se andar de avião como se anda actualmente.
Ora o que eu acho é que se se deixar de andar de avião como actualmente teremos um colapso da economia mundial (além da que teremos internamente com o Euro) e, será irrelevante termos construído ou não o aeroporto. O que se teria poupado por não construir o aeroporto não iría servir para nada.
Mas se a previsão estiver errada e se o movimento aéreo continuar a crescer como se prevê, então o não o termos construído aeroporto será catastrófico.
Em resumo e dependendo da evolução o aeroporto será inútil e a despesa feita nele irrelevante ou então será imprescindível.
Assim qualquer pessoa com um mínimo de bom senso deve concordar com a construção do aeroporto.
Este raciocínio aplica-se também a outros investimentos.
Um abraço
Meus caros,
Lembro-me de ser muito miudo e quando me disseram que era o Pai Natal que trazia os presentes eu reclamei logo e disse que era mentira, eram os meus pais que os traziam.
Lembrei-me desta história por causa do CO2. Acho tão difícil acreditar nisto como me foi difícil acreditar no Pai Natal.
O blog Mitos Climáticos (http://mitos-climaticos.blogspot.com) explica este problema muito bem.
Há também uma página com vários links que explicam muito bem estes embustes do aquecimento glbal, do CO2, etc. (http://mitodoaquecimento.googlepages.com).
Um abraço
Caro Raio
Se as suas referências sobre climatologia são o blog "Mitos Climáticos" ou o googlepages, então devia procurar fontes mais credíveis.
O seu raciocínio sobre economia parece-me bastante simplista.
Meu caro,
Nos links que indiquei há links para muito lado. Por uma questão de economia indiquei sites com muitos links em vez dos links.
Quanto ao meu raciocínio de economi ser ou não simplista isso parece-me irrelevante.
A questão é se é lógico ou não.
Um abraço
Peço desculpa por voltar à carga mas, sinceramente, fiquei um pouco ofendido com o desprezo com que crismas os meus raciocínios económicos de simplistas.
Eu não sou economista (a minha formação é em matemática) o que não me impede da fazer observações simples sobre economia que embora sejam mais simples do que as dos doutos economistas que por cá pululam têm uma vantagem sobre estas, acertam.
Por exemplo, em 21 de Novembro de 2001, coloquei (sob o nickname de Primus) a seguinte observação no grupo pt.soc.politica:
Evidentemente isto não pode continuar assim. Uma inflação superior em
Portugal, implicará que a nossa produtividade desça e que as nossas
exportações deixem de ser competitivas, logo, aumento das falências,
desemprego etc., sendo o sistema corrigido "à bruta" tarde ou cedo,
por uma queda acentuada no nível de vida da população portuguesa,
falências etc....
(p0de-se encontrar todo o texto em http://groups.google.com/group/pt.soc.politica/browse_thread/thread/a9a7f6b3adac6fc/9c2df912e3a33a3b?hl=en&lnk=st&q=moeda+author%3Aprimus#9c2df912e3a33a3b)
Assim eu não me pronuncio sobre esta crise depois dela acontecer, eu, ao contrário de sumidades como Vitor Constâncio e outros previa-a antes. Toda a gente que me conhece sabe que eu previ o que está a acontecer desde o Tratado de Maastrich.
Assim acho que tenho direito, no mínimo a alguma atenção e não a ser menosprezado com uma referência de simplista.
Evidentemente que não me considero mais sabedor de economia do que as tais sumidades tipo Vitor Constâncio, considero-me simplesmente mais honesto ou, pelo menos, menos desonesto...
Por fim refiro que se as pessoas se tivessem preocupado com os custos da adesão e manutenção do Euro como se precupam agora com os custos do aeroporto e do TGV, o país estaria certamente mehor.
A culpa do descalabro actual é de nós todos.
Caro raio
Eu não tinha intenção de ofendê-lo, mas sinceramente você parece ter feito uma grande mistura de temas no seu raciocínio, e eventuais erros num lado, nas justificam que se repitam erros noutro.
Eu até posso admitir que tenha razão, pelo menos em parte, na questão da adesão ao Euro, etc. Mas, mesmo aí não havia/nem há necessariamente uma fatalidade, se a gestão tivesse sido/vier a ser mais cuidada.
E, volto a afirmá-lo, sendo você de matemática, sabe com certeza qual o processo de formação do conhecimento científico; não é certamente o blogue "Mitos Climáticos", que nem tolera a existência de comentários ao que é lá afirmado, que serve de referência seja ao que fôr.
Esta senhora, Naomi Oreskes, fez uma pesquisa sobre artigos com peer-review sobre AC. Pode ver aqui o vídeo
Já agora, o artigo de Naomi Oreskes na revista Science: "BEYOND THE IVORY TOWER:
The Scientific Consensus on Climate Change "
Em quem devemos acreditar? Nas academias de ciências de todo o mundo (Norte/Sul Este/Oeste) ou em qualquer pseudo-climatologista? :
Declaração Conjunta (JUNHO 2008) de 13 Academias de Ciências (G8+5): é urgente implementar medidas para reduzir emissões de CO2 em 50% até 2050!
«Humans have been adapting to their environment
throughout history. But the rate and scale of climate
change means there is no time for complacency.»
Alguém me pode explicar duma forma que (como dizia o actor num filme) até uma criança de 4 anos perceba, porque é que as previsões meteorológicas a mais de 5 dias tem uma probabilidade inferior a 50% de estarem certas, e as previsões catastróficas sobre o aquecimento global a mais de 50 anos estarem certas?
Caro anónimo,
Vejo que se inspira nas declarações do Rajoy por sua vez inpiradas no seu primo.
A sua afirmação carece de precisão. É falso que as previsões a 5 dias têm 50% de probabilidade de estarem certas. A resposta certa é que depende dos casos. Há situações mais fáceis de prever que outras.
Segundo, é falso que as previsões climáticas a 50 anos estão certas. Ninguém jamais o afirmou. Aliás, quem trabalha na área sabe que um modelo nunca está certo. A questão essencial é se pode ser útil. As previsões dos modelos climáticos são de carácter condicional, i.e., se isto acontecer, então aquilo pode acontecer como resultado. E são feitas com base num conjunto de presupostos que geram regras e que reflectem o melhor que se sabe hoje em climatologia. Podem estar erradas? Pouco provável. Serão suficientes para fazer previsões precisas? Provavelmente não. Existem dinâmicas caóticas que podem alterar o sentido das previsões? Sim, ninguém o nega mas a robustez dos modelos actuais para prever climas do passado dá confiança aos climatólogos de que os modelos têm utilidade.
Que sugere? Que se faça tábua rasa do melhor que a ciência sabe sobre o tema em virtude das incertezas? Ou que se procurem estabelecer estratégias win-win que serão positivas quaisquer que seja o cenário imediato?
Finalmente: vá lá ao dicionário. Verá que clima e tempo são coisas diferentes. Prever as condicões metereológicas para daqui a 5 ou 10dias é muito diferente de prever tendências de longo prazo. O tempo responde às dinâmicas ciclicas (e.g. estações do ano) e dinâmicas caóticas (e.g. comportamento errático de anti-cliclones e ciclones). O clima responde essencialmente a dinâmicas cíclicas e fenómenos erráticos que operam a escalas geológicas (e.g. vulcões, cometas, etc). Ora a componente cíclica do clima é fácil de compreender e permite fazer previsões com valor heurístico (o que é diferente de dizer que estão certas).
Cumprimentos,
Miguel Araújo
PS. Sobres estes temas já muito foi escrito. Por exemplo há uns tempos escrevi est post no blog:
http://ambio.blogspot.com/2008/01/uma-resposta-aos-cpticos-climticos.html
Miguel Araújo,
Obrigado pelo esclarecimento (acredite que não estou a ser hipócrita).
Confesso que não tinha lido o que escreveu, nem nunca tinha ouvido falar do Rajoy que referiu.
Mas em compensação sem quem é o Moody que deu o nome ao diagrama da mecânica dos fluidos, que por seu lado tem uma importância central em convecção na transmissão de calor. É interessante referir – entre todos os outros – que o factor de fricção tem uma precisão de +/- 15%. Também sei o que é precisão e propagação de erros em análise numérica. Junto a isto o facto de o primeiro termómetro com escala ser um invento com 200 anos, um termómetro com precisão de centésima de grau menos de 100 anos, uma rede planetária de estações meteorológicas ter menos de 50 anos, e uma média de temperaturas ser isso mesmo: uma média (como diria um dos melhores professores de que tive a honra de ser aluno) que dependem da posição, se estão ao sol se à sombra, da hora a que são lidas, … Uma maneira de dar «mais luta» à previsão seria confrontar o número de vezes que teve sucesso, com o número de vezes que o tempo mudou (sol para chuva e vice-versa p.e.).
O planeta tem aproximadamente 4,5e9 anos e durante esse tempo a galáxia rodou 22 vezes. De acordo com os registos fósseis, aparentemente a vida terá surgido há 4e9 anos, e há 2e9 anos os micróbios foram os responsáveis pela maior catástrofe ambiental ocorrida no planeta, ao produzirem tamanhas quantidades de lixo (que incluía oxigénio) a partir da fotossíntese (tradução livre duma afirmação de Charles S. Cockell em «Impossible Extinction») que conduziu ao aparecimento (e não nos vou chamar coprófagos!) de formas de vida que tinham de viver nele.
Pelo caminho a Terra fez o que lhe apetecia em termos de clima sem a ajuda dos homens, sendo um caso muito recente (do ponto de vista geológico) e interessante o Sahara.
A partir de provetes de gelo (retirados dos sítios onde há gelo, independentemente das estações meteorológicas), com boas suspeitas sobre a variação da composição da atmosfera terrestre (cf. Peter D. Ward, que até é defensor da teoria do aquecimento global por razões antropogénicas), e de passarmos uma função discreta a contínua, saltamos sobre o probabilismo e caímos no determinismo. É engenharia de ponta prever hiperplanos de temperatura dentro de uma fornalha, e é uma coisa banal propor valores de temperatura na panela chamada Terra!…
No final dos anos 50, cientistas respeitáveis garantiam que estávamos à beira de uma nova idade do gelo. No início dos anos 80 um professor no Técnico (vou omitir o nome porque quando não estava a fazer de astrólogo até era um bom professor) continuava a afirmar, peremptoriamente, que o controlo da meteorologia pela humanidade era coisa para se conseguir numa geração.
No início dos anos 80 os Alvarez, Asaro e Michel publicam um dos mais extraordinários artigos científicos que conheço, e mudam quase que de um dia para o outro (o que é absolutamente notável!) a nossa visão sobre a grande extinção KT e sobre a evolução da vida na Terra. Durante muito tempo foi sortilégio contrariar nos meios científicos esta tese (o que torna o artigo ainda mais notável!!). Infelizmente os foraminíferos insistem em não se encaixar nela, e é provável que o impacto do corpo extra terrestre (cometa ou asteróide) acabe por ser relegado para segundo ou terceiro plano, no conjunto dos factores que, conjugadamente, contribuíram para aquela extinção em massa. O que será uma pena para as teorias do tipo «crash-bang-you’re-dead» (Tony Hallam).
Tenho desconfiança quando vejo os políticos de braço dado com os cientistas, um pouco como quando os clérigos andam de braço dado com a ciência. Lembro-me do que Henry Louis Mencken dizia: «The whole aim of practical politics is to keep the populace alarmed – and hence clamorous to be led to safety – by menacing it with an endless series of hobgoblins, all of them imaginary», e quando junto tudo isto, sou céptico. Peço desculpa mas é superior às minhas forças, até porque isto faz-me lembrar a conversa do nosso PM engenheireiro sobre o futuro de Portugal.
A coisa parece-me ainda mais grave quando o tema do aquecimento global desvia a atenção da poluição (particularmente na hidroesfera onde se realiza mais de 45% da fotossíntese do planeta) e do lixo que a humanidade vai produzindo alegremente, a par da desflorestação… Mas reconheço que o tema do aquecimento global por ser mais esotérico (?) é mais sexy e telegénico.
Curiosamente ou talvez não – regressando à mecânica de fluidos por onde comecei – um dos problemas mais sexy para os matemáticos (pelo menos para o Clay Institute) é a solução das equações de Navier Stokes. Pobre modelo de previsão meteorológica…
Obrigado pela sua paciência, e pelo espaço que o autor do blog me cedeu. Fico a dever aos dois uma ida ao divã ;-).
Cumprimentos
Tenho estado a meditar nestes temas e acho curioso a forma como as pessoas se agarram ás notícias de catástrofes. Suponho que são notícias sexy...
O problema com o aquecimento global é que de nenhuma forma está demonstrado mas estamos a gastar fortunas para o combater, quer ele exista ou não.
O clima, tal como a bolsa, é um sistema caótico, isto é, um sistema fortemente dependente das condições iniciais.
Se tivermos termómetos capazes de medir temperaturas até ao milésimo de grau, posso dizer que num dado local a temperatura é de 25,652 ºC.
Mas na realidade a temperatura é de 25,6527890065432...ºC e estes 0,0007890065432ºC que desprezo, ao fim de alguns ciclos influem fortemente nos resultados.
Isto é se o que desprezei tivesse sido 0,00071111122233ºC o resultado ao fim de alguns ciclos seria totalmente diferente.
É isto que torna totalmente impossível fazer previsões de clima a longo prazo, tal como é impossível fazer previsões da bolsa que, matematicamente falando é um sistema semelhante.
Assim pergunta-se que razões há para travar a economia e gastar fortunas em disparates, num Mundo com tantos problemas?
Você descobriu a Pólvora. O CLima é um sistema caótico! Submeta um paper à Science e ainda ganha um Nobel. Você ainda não percebeu que esta discussão não é entre as pessoas que intervêm neste blog, mas que as conclusões sobre o aquecimento global são fruto do trabalho de décadas de milhares dos melhores especialistas mundiais. Sobre Clima e tempo.
Mas na remota hipótese de eles estarem todos errados, você quer correr o riscode enfrentar as consequências? Você entraria num avião se houvesse 95% de probabilidade de ele se despenhar, por exemplo?
Caro M. Sousa,
Noto pela resposta que terias feito um bom apparatchik na União Soviética de Staline. Bom, como a União Europeia vai pelo mesmo caminho auguro-te um brilhante futuro nas instâncias comunitárias.
Uma das características dos apparatchiks é que falam frequentemente do que não sabem, mas exprimindo sempre e com toda a veemência a linha oficial.
É que eu não descobri pólvora nenhuma, o clima é amplamente reconhecido como um sistema caótico. Mais, foram estudos sobre a previsão do tempo que originaram a moderna teoria do Caos (se não acreditas, aproveita para te cultivares um pouco e consulta a Wikipedia, mete no search "Caos theory").
O aquecimento global não é fruto de um trabalho de décadas de ninguém pois, ainda na década de setenta do Século passado, os alarmistas profissionais estavam muito preocupados com o arrefecimento global.
Depois, mesmo actualmente há muito especialista de renome que de nenhuma forma concorda com o aquecimento global e muito menos com o ascausas antropogénicas do suposto aquecimento global.
Por fim há um problema muito importante, o suposto aquecimento global não é para amanhã, há, mesmo nas hipóteses mais pessimistas, muitas décadas à nossa frente e gastar fortunas a combater um fantasma, provocando miséria e fome em muitas partes do Mundo é crime.
Assim, a tua e a nossa responsabilidade neste tema é muito importante. Ao reforçarmos o pânico sobre o aquecimento global estamos a dar margem de manobra a políticos corruptos e/ou incompetentes para provocarem caos, miséria e fome no Mundo.
Imaginas quantas crianças já morreram de fome hoje devido às teorias a que te agarras com tanta força?
Será que logo à noite vais conseguir dormir em paz?
Um abraço
Errata:
Onde escrevi "Caos theory" devia ter escrito "Chaos theory".
Sorry
Caro Raio,
Se o clima (que não o tempo) segue uma trajectória caótica, porque razão a história climática do planeta nos últimos 2.5 milhões de anos tem seguido uma dinâmica cíclica de aquecimento e arrefecimento?
Há milhares de princípios científicos – firmemente estabelecidos - a serem testados neste momento e não vem nenhum mal ao mundo por isso.
Porque raio é que os defensores do catastrofismo se sentem tão incomodados em pormos à prova a sua «ciência»? Porque carga de água é que é tão difícil os investigadores obterem bolsas de estudo e subsídios para investigação, sempre que se propõem a estudar algo que ponha em causa o sacrossanto «aquecimento global por razões antropogénicas»? Isso não é ciência: é fundamentalismo, e os que o defendem não são cientistas são inquisidores do santo ofício e ayatollah’s.
Querem uma mão cheia de cientistas que consideram o que referem um disparate? Ver p.e.
http://www.oism.org/pproject/s33p36.htm
E até me estou nas tintas para quem são os senhores que assinam a petição. O que eu sei de mecânica de fluidos, de transmissão de calor, de geologia, de matemática (e modéstia à parte, sei alguma coisita) leva-me a concluir que o famoso «modelo» tem a mesma validade para prever o futuro que o tarot da Maya…
Mais engraçado ainda: um modelo baseado em pontos que representam – na melhor das hipóteses – um ano inteiro, quando não décadas, séculos, ou milhares de anos, é usado para prever o que se vai passar daqui a umas dezenas de anos!?!... Isto é como olhar para um homem à distância, irmos fazendo zoom, e esperar ver, em vez de células, uma multiplicidade de homenzinhos a constituir o homem.
Com a agravante que os profetas que o defendem são os mesmos do não ao nuclear, e que puseram o mundo como está: à beira de uma guerra por causa do petróleo!
Não tenho «saco» para ouvir falar de Chernobyl sem ouvir falar do Mar Aral, ou ouvir meter no mesmo saco Chernobyl e Three Mile Islands, revelando a mais profunda ignorância e imbecilidade…
A forma como se defende o aquecimento global (em cima) não passa de uma versão modernaça do «magister dixit» de quem não sabe o que é o latim, ou que julga que os conhecimentos dos outros sobre história da ciência são à medida dos seus.
Acima de tudo o que fica é isto: uma boa teoria científica não tem medo de ser confrontada com a investigação científica. O resto são tretas.
"Porque raio é que os defensores do catastrofismo se sentem tão incomodados em pormos à prova a sua «ciência»? "
Quem são esses defensores do catastrofismo? Os climatólogos? Quem "somos" os que põem à prova a dita ciência. Os anónimos que escrevem em blogs? Os pseudo-especialistas que escrevem blogs e não permitem contraditório?
"Porque carga de água é que é tão difícil os investigadores obterem bolsas de estudo e subsídios para investigação, sempre que se propõem a estudar algo que ponha em causa o sacrossanto «aquecimento global por razões antropogénicas»? Isso não é ciência: é fundamentalismo, e os que o defendem não são cientistas são inquisidores do santo ofício e ayatollah’s."
O anónimo de dedo em riste acusa. Não se sabe muito bem quem acusa. Os avaliadores da FCT? Todas as agências de investigação do mundo? São eles todos vendidos ao catastrofismo? Pela parte me toca não enfio a carapuça.
"Querem uma mão cheia de cientistas que consideram o que referem um disparate? Ver p.e.
http://www.oism.org/pproject/s33p36.htm"
E que artigos científicos sobre investigação climática publicaram estas pessoas? É curioso verificar que os ditos cépticos (digo "ditos" pois eu próprio me considero um céptico mas uma coisa é o saudável cépticismo académico e outra é cepticismo militante que não ouve argumentos e que distorce factos para melhor fazer passar teorias conspirativas com motivações ideológicas) são regra geral cientistas reformados e raramente especialistas da ciência climática. Será que os verdadeiros cientistas da ciência climática são todos uns vendidos ao sistema?
"E até me estou nas tintas para quem são os senhores que assinam a petição."
Mas não devia pois neste mundo as palavras assumem um peso diferente consoante quem as diz e quando. Por isso as palavras de um anónimo valem pouco.
"O que eu sei de mecânica de fluidos, de transmissão de calor, de geologia, de matemática (e modéstia à parte, sei alguma coisita) leva-me a concluir que o famoso «modelo» tem a mesma validade para prever o futuro que o tarot da Maya…"
O que sei de ciência leva-me a dizer que o seu argumento (de autoridade?) é muito pouco fundamentado.
"Mais engraçado ainda: um modelo baseado em pontos que representam – na melhor das hipóteses – um ano inteiro, quando não décadas, séculos, ou milhares de anos, é usado para prever o que se vai passar daqui a umas dezenas de anos!?!..."
Pontos? Que pontos? Um ano inteiro ou milhares de anos? Que confusão vai por aí. Não tenho razões para duvidar que saiba de matemática mas é óbvio que nada sabe de modelos climáticos e do seu processo de calibração, parametrização e avaliação.
"Com a agravante que os profetas que o defendem são os mesmos do não ao nuclear, e que puseram o mundo como está: à beira de uma guerra por causa do petróleo!"
A confusão não para de crescer. Os climatólogos são os profetas que puseram o mundo à beira de uma guerra? São contra o nuclear? Oiça lá: não acha que generaliza de forma excessiva? Sabe que estas pessoas que estudam o clima são pessoas normais que também pensam pela sua própria cabeça? Que têm opiniões distintas? É interessante vê-lo de dedo em riste, qual detentor da moral, defensor da ciência neutra, quando na prática nem apresenta factos, nem argumenta com precisão, nem assume a postura ética de se identificar. E não me venha dizer que o blog aceita comentários de anónimos pois uma coisa é o que pode fazer e outra é o que deve fazer. Especialmente quando um se vem um arvorar em justiceiro.
"Não tenho «saco» para ouvir falar de Chernobyl sem ouvir falar do Mar Aral, ou ouvir meter no mesmo saco Chernobyl e Three Mile Islands, revelando a mais profunda ignorância e imbecilidade…"
E o que é que isto tem a ver com a evidência sobre se o clima está a mudar ou não? E porque teima em insultar a torto e a direito em vez de argumentar de forma séria e precisa?
"A forma como se defende o aquecimento global (em cima) não passa de uma versão modernaça do «magister dixit» de quem não sabe o que é o latim, ou que julga que os conhecimentos dos outros sobre história da ciência são à medida dos seus."
Fiquei na mesma... Ou seja, não fiquei. Fiquei esclarecido sobre a sua forma de defender pontos de vista.
"Acima de tudo o que fica é isto: uma boa teoria científica não tem medo de ser confrontada com a investigação científica. O resto são tretas."
Talvez as tretas estejam noutro lado. Olhe, sou profissional da ciência e trabalho indirectamente com clima e não me revejo na sua verborreia acusatória. Como profissional da ciência estou e estarei sempre interessado em ouvir novas teorias científicas. Mas uma coisa são novas teorias científicas, fundadas em evidência empírica, e outras são textos que substituem tudo isto por acusações indiscriminadas e argumentos confusos.
O Raio
Suponho que não se deu ao trabalho de ler/ver os links que lhe sugeri, pois não?
Sr. Miguel B. Araújo,
Com tanta razão pelo seu lado nem percebo porque se dá ao trabalho de comentar os posts que não lhe agradam. A unanimidade que refere está longe de ser real! A sua visão sobre os paleo-climatologistas é estalinista: quem não está consigo, não existe.
Pois bem: ponha lá o seu chapéu de Merlin, que eu ponho o meu de burro.
Como (provavelmente) ainda tenho umas dezenas de anos para viver, desconfio que a minha morte chegará antes do dia do Juízo Final Climático-Catastrofista; e sobre este atrevo-me a parafrasear o chefe duma aldeia gaulesa: amanhã não será a véspera desse dia. ;-)
"Se o clima (que não o tempo) segue uma trajectória caótica, porque razão a história climática do planeta nos últimos 2.5 milhões de anos tem seguido uma dinâmica cíclica de aquecimento e arrefecimento?"
??? É normal. Pela mesma razão que as bolsas que também são sistemas caóticos, também têm ciclos. Só que estes ciclos são imprevisíveis.
"Será que os verdadeiros cientistas da ciência climática são todos uns vendidos ao sistema?"
O problema está na distribuição dos dinheiros para investigação. Há dinheiro para investigar as "provas" do aquecimento global, dinheiro e exposição mediática e não há dinheiro para investigar se tudo isto é uma fraude.
É por estas razões que os que desconfiam são geralmente mais velhos ou mesmo reformados pois são os que já não necessitam de apoios para progredir na carreira.
"Suponho que não se deu ao trabalho de ler/ver os links que lhe sugeri, pois não?"
Dei sim senhor. e tu? Deste-te ao trabalho de consultar os meus?
O que se devia fazer e já foi proposto, era o de os modelistas todos fazerem umas previsões para 2020 (por exemplo) e depois iriamos ver quem é que tinha acertado.
É que dizer que os modelos são justificados pelo passado é o mesmo que fazer previsões depois do jogo. cientificamente tem pouco significado.
Caro Raio,
Esta será a minha última intervenção neste debate. E será a última porque 1) não é o tópico do post; e 2) porque as afirmações feitas são de carácter provocatório e ficam-se por aqui. I.e., não advêm de "honesto estudo com longa experiência misturado" como diria o grande Camões. É portanto uma conversa que não se pode caracterizar como tendo de boa fé. Tão somente vejo preconceito, opiniões feitas sem estudo e algum excesso e falta de respeito na avaliação da posição das outras pessoas. Estou certo que dirá - como já disse - que somos os cientistas que não admitem contraditório mas a verdade é bem outra como poderão concluir os leitores desta sequência de posts. Vão portanto uns últimos comentários às mensagens enviadas:
Eu disse:
"Se o clima (que não o tempo) segue uma trajectória caótica, porque razão a história climática do planeta nos últimos 2.5 milhões de anos tem seguido uma dinâmica cíclica de aquecimento e arrefecimento?"
Raio responde:
"??? É normal. Pela mesma razão que as bolsas que também são sistemas caóticos, também têm ciclos. Só que estes ciclos são imprevisíveis."
Não é um exemplo comparável. Os ciclos de arrefecimento e aquecimento do planeta nos últimos 2.5 milhões de anos advêm de alterações ciclicas e prevísiveis na órbita terrestre. Ciclos conhecidos como de Milankovitch. Portanto nada disto se deve a dinâmicas caóticas. Deve-se a um mecanismo determinístico tão poderoso que altera o clima do planeta em ciclos mais ou menos previsíveis. Portanto existe uma teoria fundamentada em dados empírica que explica o fenómeno e serve de base para fazer previsões. A razão pela qual os ciclos glaciares e inter-glaciares dos últimos milhões de anos não encontra paralelo em períodos anteriores (que foram maioritariamente quentes) deve-se a alterações na posição dos continentes (a mais recente é a junção entre os dois continentes Americanos) que teve como consequência alterações nas correntes marítimas e mudanças bruscas no transporte de massas frias e quentes. Tudo isto entra nas equações que constituem os modelos de clima e tudo isto advém de um conhecimento aprofundado da história climática do planeta. Deitar este conhecimento pela borda fora e resumir todas as dinâmicas caóticas é ignorar que nem tudo se dá ao acaso no planeta. Que existem mecanismos ("forcings") conhecidos e que estes podem, com uma margem de erro óbvia e não é negada entre a comunidade científica, servir para fazer "educated statements" sobre climas futuros é óbvio e de pouco serve negar o óbvio.
Eu disse:
"Será que os verdadeiros cientistas da ciência climática são todos uns vendidos ao sistema?"
Raio respondeu:
"O problema está na distribuição dos dinheiros para investigação. Há dinheiro para investigar as "provas" do aquecimento global, dinheiro e exposição mediática e não há dinheiro para investigar se tudo isto é uma fraude.É por estas razões que os que desconfiam são geralmente mais velhos ou mesmo reformados pois são os que já não necessitam de apoios para progredir na carreira."
Supondo que tem razão (obviamente não tem) e a classe científica é toda afectada pela mesma orientação ideológica e, portanto, quando convidada a avaliar os seus pares quando submetem projectos, têm todos a mesmo posição negativa face a investigação de risco (chamado "frontier research"). Como explica, então, que além de reformados os tais cientistas raramente foram estudiosos da ciência climática mas sim especialistas em áreas completamente dispares? Não acha que o seu argumento enferma de uma simplificação tão excessiva?
Rio disse:
"O que se devia fazer e já foi proposto, era o de os modelistas todos fazerem umas previsões para 2020 (por exemplo) e depois iriamos ver quem é que tinha acertado.
É que dizer que os modelos são justificados pelo passado é o mesmo que fazer previsões depois do jogo. cientificamente tem pouco significado.
Errado. Os dados usados para validar os modelos no passado (processo de "hindcasting") são diferentes dos dados usados para calibrar os modelos. Portanto são avaliações independentes perfeitamente justificadas. Se quer ler um pouco mais sobre o tema recomendo um artigo meu na revista Science: http://www.mncn.csic.es/pdf_web/maraujo/Araujo_Rahbek2006Science.pdf
E já agora, se for ler o relatório do IPCC (capítulo I) verá como o modelo nulo (clima sem "forcing" humano") é incapaz de prever o clima das últimas décadas e o modelo que incorpora os mecanismos atmosféricos e oceânicos com mecanismos associados ao efeito de estufa se ajustam aos padrões observados. Provam os mecanismos associados aos modelos? Obviamente que não pois em ciência nunca se provam mecanismos. O que faz é falsificar opções menos prováveis. Sobre esta discussão epistemológica recomendo outro artigo meu (ver discussão) publicado na revista Global Change Biology: http://www.blackwell-synergy.com/doi/full/10.1111/j.1365-2486.2005.01000.x
E com estas palavras me despeço. Recomendo mais estudo e menos afirmações bombásticas pouco fundamentadas.
MB Araújo,
Há por aqui vários comentadores anónimos. A partir de agora passo a rubricar os meus comentários.
Numa coisa estamos (…!?...) de acordo: identificar tendências de evolução de populações de aves deve ser uma tarefa menos complexa do que identificar tendências de temperaturas ou (no sentido booleano do termo) de clima – e, para simplificar, estou apenas a partir do pressuposto que o número de variáveis é maior no segundo e terceiro caso, nada dizendo sobre o nosso conhecimento científico de cada uma delas.
Se com duas populações o resultado é o que o seu artigo mostra, e se percebi falha redondamente num caso e no outro é razoável, imagine-se a qualidade dos resultados quando a mesma metodologia é empregue para fazer previsões climatéricas…
Uma dúvida: a expressão «linear models» na legenda da figura/gráfico quer mesmo dizer modelos lineares? É que um modelo linear é normalmente aquele modelo a que se recorre quando a ignorância é grande, ou é o único que a capacidade do computador é capaz de trabalhar. E para não ferir susceptibilidades, ressalvo que a palavra «ignorância» é utilizada como sinónimo de «humildade científica» no meu comentário.
TG
Caro anónimo,
Ao contrário do que possa parecer, sabe-se bem mais sobre os mecanismos que controlam o clima do que sobre os mecanismos que determinam a distribuição das cerca de 1.5 milhões de esp´cies descritas (para não falar das cerca de 10 milhões que faltam descrever).
O clima é modelado com base em modelos oceanicos-atmosféricos de base mecanistica que são bastante complexos. Por isso é difícil explicar o seu funcionamento a leigos e por isso quem os tenta perceber tem geralmente a impressão de que se trata de "black boxes". Porém, os climatólogos estão anos luz dos biólogos e biogeografos em matéria de conhecimento do comportamento do seu objecto de estudo.
Os modelos de resposta das espécies podem ser derivados de uma série de modelos distintos (na realidade o meu grupo defende que devem ser derivados do maior número possível de modelos, ver Araújo & New 2007)). Uns podem ser modelos lineares generalizados (GLM), outros podem recorrer a funções não lineares. A linearidade não é a palavra chave (até porque os modelos lineares são os que melhor traduzem o conhecimento teórico que te possui actualmente, i.e., que determinam que as espécies respondem ao clima com uma função unimodal de tipo "bell shaped"). A palavra chave é estatística. Estes não são modelos mecanisticos como os modelos climáticos. São modelos que estudam estatisticamente as relações entre distribuições de espécies e clima e em função destas relações fazem interpolações de distribuições para outras regiões e/ou climas.
As deficiências destes modelos são conhecidas e amplamente discutidas por vários investigadores nos quais me incluo (ver por exemplo Araújo & Guisan, 2006). Se tiver interesse sugiro que dê uma vista de olhos nalguns dos artigos que se encontram na minha página (www.biochange-lab.eu).
Infelizmente continuamos a depender destes modelos para fazer "educated statements" sobre impactes prevísiveis do clima. Parafraseando Churchill podemos dizer que são os piores modelos à excepção de todos os outros.
Caro Miguel B. Araújo,
Peço desculpa pela minha impertinência. Se fui ofensivo foi sem querer.
Mas fico sinceramente chocado com algumas das tuas afirmações como por exemplo o negar que o clima é um sistema caótico.
Como disse a moderna teoria do caos (Lorenz) veio exactamente de estudos sobre previsões meteorológicas.
Face a isto recomendo-te vivamente que estudes um pouco as teorias do caos. É que um sistema caótico é um sistema deterministico, um sistema caótico não deixa nada ao acaso. O problema está é na nossa capacidade de observação e análise de um sistema caótico.
Estive a ver os teus artigos e tenho alguma dificuldade em compreender como podes avançar tão alegremente em certas conclusões e em certos raciocínios sem compreenderes o que é um sistema caótico.
Quando dizes que o clima é totalmente diferente das bolsas, estás totalmente errado (desculpa a violência do termo) pois, sob o ponto de vista matemático, têm muitas semelhanças. Já agora, os economistas também encontraram alguns ciclos.
Por fim é de referir que um sistema caótico pode não ser um sistema totalmente imprevisível. Um sistema caótico pode ser estudado, entendido como tal e também se podem tirar conclusões deste estudo.
Apesar de saber que não vais responder a este comentário, quero sublinhar que achei a discussão interessante.
Um abraço,
Caro Raio,
A teoria do caos é fascinante e não sou tão desconhecedor dos seus princípios como afirma. Se o raio voltar a ler a história do aparecimento da teoria, designadamente o famoso efeito borboleta, verificará o que já disse várias vezes mas que visivelmente não quer entender: a teoria aplica-se ao tempo (variação das condições meteorológicas dentro de um dado regime climático) e não ao clima que tende a mudar ciclicamente exceptuando os casos em que factores estocásticos de grande magnitude intervêm para alterar o seu regime. São os casos de grande erupções vulcânicas com as suas massivas emissões de gases com efeito de estufa, colisão com cometas, ou... goste-se ou não, o efeito geológico das sociedades humanas sobre a composição química da atmosfera.
O tempo é sujeito a dinâmicas caóticas e fazer previsões a mais de 7 dias, especialmente em momentos de grande actividade meteorológica, é bastante difícil pois pequenas perturbações no sistema (o tal bater das asas da borboleta) podem afectar o sistema. Por isso, dizem os cépticos, que fazer previsões a 20, 50, ou 80 anos é impossível. A questão é que os ditos "cépticos" ignoram a diferença entre tempo e clima o que corrobora a sensação de que não percebem nada do que estão a falar. Ninguém prevê o tempo daqui a 20 anos, muito menos 80 anos. O que se prevê são "switchs" no regime climático e estes supõem mecanismos tão poderosos que se sobrepõe aos caos. Obviamente que o caos continua a jogar o seu papel, especialmente nas transições entre um regime climático e outro. Por isso as mudanças de regime climático são acompanhadas por momentos de grande variabilidade climática. Mas assim como podemos prever a sucessão de dia e noite, ou a sucessão de estações do ano (sendo estas visivelmente diferentes de ano para ano), também se pode prever com óbvia margem de erro, que ninguém nega , a sucessão de regimes climáticos. Por exemplo, o degelo que ocorreu no árctico o ano passado (que se enquadra ns previsões dos modelos actuais) passou-se a uma taxa dezenas de vezes superior ao que os modelos se previa. Há muito que aprender sobre estes mecanismos, designadamente sobre a velocidade dos ditos "switchs" climáticos (sobre o assunto há um interessante artigo na Science esta semana) mas não é invocando a teoria do caos para tudo e nada, sem entender os mecanismos determinísticos que actuam sobre o sistema climático que se fará qualquer progresso na matéria.
Caro Miguel Araújo,
A minha sugestão de que seria mais simples determinar um modelo de resposta das espécies do que da evolução do tempo ou do clima, teve por base a hipótese que no primeiro caso existe uma variável, a actividade humana, que terá (?) um papel de maior destaque do que todas as outras no que se pretende modelizar. Já entendi que não é assim.
Quanto à polémica entre tempo e clima, o que me parece que várias pessoas lhe estão a tentar chamar a atenção na sua argumentação, é que tem dois modelos: um de previsão meteorológica em que a unidade na escala do «tempo» são as horas (estou a admitir previsões a 5 dias), e um segundo de previsão climatérica em que a unidade na escala do «tempo» são milhares de anos. Ora o que acontece é que o primeiro modelo é curto para extrapolações de 100 anos e o segundo é demasiado grande. Se quiser é um pouco como a relatividade e a mecânica quântica na escala «espaço». E, não leve a mal, é bem possível que a teoria das cordas esteja mais avançada do que a sua homóloga do tempo-clima.
Saudações,
TG
Saudações a todos,
Indo a:
http://arxiv.org/find
o artigo:
arXiv:0707.1161
é particularmente interessante sobre o tema CO2, e o:
arXiv:physics/0210095
sobre a evolução recente das temperaturas. O:
arXiv:physics/0601051
sobre os ciclones. Outros artigos extremamente interessantes são:
arXiv:physics/0509088
arXiv:physics/0503119
arXiv:physics/0502135
Todos os artigos foram seriados através da pesquisa «global warming» e - viva a democracia - também há artigos que defendem o aquecimento global por razões antropogénicas.
Para os que desconhecem e são curiosos, também podem ver aqui os extraordinários artigos do Grisha Perelman que lhe valeram a medalha Fields.
Miguel Araújo,
Inspirado pela seu comentário a um post meu sobre evolução de populações, comprei «The insects: an outline of entomology» de P. J. Gullan e P. S. Cranstone. Estou a gostar muito.
TG
Falsification Of The Atmospheric CO2 Greenhouse Effects Within The Frame Of Physics
«fictitious atmospheric greenhouse effects»
Está a dar credibilidade a um artigo que diz que o efeito de estufa não existe, é isso?
Em que revista científica foi este artigo publicado?
José M. Sousa,
Se o G. Perelman considera que aquela é uma boa base de dados para publicar os seus artigos sobre a conjectura de Poincaré, no capítulo da matemática (topologia em particular) estamos conversados sobre a credibilidade científica do site. Excepto se o meu caro tiver no seu curriculum uma medalha Fields (coisa que numa interpretação muito pessoal, me parece ser um «nadinha» mais difícil de conseguir do que um Nobel)...
Admito que nas restantes matérias, os artigos respeitarão os mesmos critérios, e isto é - obviamente - uma conjectura na acepção matemática do termo «conjectura».
Mas em concreto onde é que encontrou algum erro, especialmente na componente matemática e física dos pressupostos seguidos pelos seus autores? Tendo sido esse o caso, e não duvidando da sua própria credibilidade para publicar ali (que paradoxalmente será inversamente proporcional à credibilidade que atribui ao site), sugiro-lhe que o faça! Ou no mínimo que o partilhe connosco. Como terá reparado, um dos artigos é uma resposta a um artigo, e nem fórmulas matemáticas e modelos físicos são desenvolvidos nele.
E acima de tudo é um espaço de debate CIENTIFÍCO, como pode constatar pela pluralidade de opiniões que lá se encontra. O que significa que os defensores do aquecimento global lhe dão o crédito que o José Sousa está a negar, porque senão nem se davam ao trabalho absurdo de enviar para lá os seus próprios artigos, certo?
Mas acabando com esta argumentação tipo advogado, sublinho que a única coisa que – modestamente – tentei evidenciar: é que não há unanimidade científica sobre este assunto.
E a ciência nunca teve problemas em ser confrontada com as suas próprias conclusões, ou será que ando distraído e este paradigma mudou?
Saudações,
TG
O arXiv.org, segundo julgo saber, é uma espécie de índice ou arquivo de artigos publicados em inúmeras publicações. O que eu lhe perguntei é se sabe em que revista científica foi publicado o artigo?
Eu não fiz nenhum juízo de valor, apenas uma pergunta.
Já agora:
«In the past, our system has been arbitary, not terribly accurate, and demanding on our staff. The new endorsement system will verify that arXiv contributors belong the scientific community in a fair and sustainable way that will scale with arXiv's future growth.»
in arXiv.org
José Sousa,
Peço desculpa pelo mal entendido.
Não sei.
Como referi logo no início, confirmo que há sobre este assunto artigos para todos os gostos, aparentemente escritos por pessoas inteligentes, responsáveis e sensatas. Por favor não perca de vista que o único aspecto que tentei por em evidência, foi a pretensa unanimidade científica sobre o tema, e por consequência a imediata descredibilização de quem não está de acordo ou tem dúvidas.
Saudações,
TG
Só dois esclarecimentos…
O arxiv.org é onde publicam os cientistas que não alinham com a nomenclatura associada ao poder instituído, que controla as tradicionais publicações científicas de “renome”.
O artigo aqui citado “Falsification Of The Atmospheric CO2 Greenhouse Effects Within The Frame Of Physics”, goste-se ou não dele, em nada belisca as Leis da Física, contrariamente à teoria do aquecimento global causado pelo dióxido de carbono (antropogénico ou não).
Caro anónimo,
Ao contrário da maior parte das revistas científicas o arxiv.org não possui sistema de "peer review", ou seja, de avaliação independente de artigos por pares. Para lá publicar basta ter o artigo "endorsed, ou seja, apoiado por algum par ou ser do agrado da equipa editorial. Parece um bom sistema para publicar ideias inovadoras e arriscadas, rapidamente, mas não é um sistema que garanta a credibilidade (que não a infalibilidade) dos artigos publicados em revistas com um "peer review" validado pela ISI. De resto o seu comentário anónimo, sobre o "establishment" das revistas científicas, não tem qualquer credibilidade. É uma simples calúnia sem fundamento e sem a coragem intelectual de quem assina as acusações que faz. Quer criticar as recistas científicas? com certeza. Dê a cara pelas críticas e apresente factos.
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