O título não deixa de ser um exagero motivado pelo facto de vir a ouvir Lou Reed no carro (não, por acaso não era o just perfect a perfect day onde fui buscar o título do post mas o coney island baby, do fantástico verso "But remember the princess who lived on the hill/ Who loved you even though she knew you was wrong") quando vinha da entrega de prémios Ideias Verdes do Expresso e Água do Luso.
De manhã uma reunião positiva com um parceiro estratégico do melhor projecto que o ICNB tem em desenvolvimento, a escola na natureza, a meio do dia uma reunião clarificadora de um assunto que se arrastava eternamente mas sobretudo o prémio ideias verdes ao projecto caprinus e companhia.
Este é um projecto comercial da empresa silviconsultores (podem procurar na net), ainda numa fase embrionária, que visa a prestação de serviços de limpeza de matos através da gestão do pastoreio orientado.
Neste projecto a produção de leite ou carne são sub-produtos porque o rebanho presta serviços como disse.
No fim da apresentação convincente de Carlos Machado parte importante das pessoas presentes (incluindo a direcção do expresso, que tem a obrigação de estar informada) parecia ter tido uma epifania e estava rendida à ideia e ao projecto.
Depois de décadas de diabolização da cabra começa-se finalmente em Portugal a reposicioná-la no mundo rural e a reconhecer-lhe os méritos que tem, sem que para isso seja preciso esquecer as suas dificuldades de gestão e os riscos da sua má gestão.
Um dia destes volto ao tema da desgraça do mundo rural provocada pela importação de modelos de gestão rural transmitidos pela academia e que esquecem a natureza de grande parte das nossas explorações agrícolas e de uma das suas principais adaptações às condições naturais que temos: a exploração agrícola, pecuária (quer estabulada, quer em pastoreio de pequenos ruminantes) e florestal são uma coisa só.
henrique pereira dos santos
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3 comentários:
Henrique, é tudo muito perfeito, mas eu se fosse pastor estaria zangado com a atribuição deste prémio ideias verdes. E recordo-me da pouco convincente (do ponto de vista da redução do perigo de incêndio) reportagem da SIC em que um matagal de tojo verde e seco deu lugar a um matagal de tojo seco após estadia caprinus & companhia...
Paulo Fernandes
É verdade, a projecto escola na natureza é efectivamente o projecto mais importante alguma vez desenvolvido pelo ICNB.
Não precisamos que as próximas gerações de políticos vejam o ambiente como um empecilho.
Continuação de bom trabalho
Caro Paulo Fernandes,
O exemplo de Grândola, que foi o que apareceu na reportagem da SIC, foi apresentado na sessão que refiro como uma má experiência. Carlos Machado disse inclusivamente que se a primeira experiência, que foi em Sintra e com bons resultados, tivesse sido a de Grândola provavelmente o projecto teria sido abandonado.
Apresentou essa experiência como uma demonstração das limitações da técnica de pastoreio orientado, aliás já por ti referidas anteriormente, sendo muito claro em afirmar que em áreas como a de Grândola só tem sentido usar esta técnica combinada com outras (corte prévio ou fogo controlado).
O pastoreio orientado não é nenhuma panaceia, como não é o corte e transporte a vazadouro, o fogo controlado, as centrais de biomassa ou mesmo a estrumação e criação de composto.
São técnicas complementares a ser usadas de acordo com as circunstâncias e com os recursos disponiveis.
A minha grande satisfação decorre apenas de se começar a olhar para esta técnica como mais uma em pé de igualdade com outras e não como a descoberta da Solução, que é coisa que não existe.
Por fim apenas um comentário sobre os pastores ficarem satisfeitos ou não. Eu não sei se conheces bem o projecto que me parece mais que a mera reprodução das técnicas ancestrais de pastoreio. E pareceu-me com potencial interessante para fazer uma coisa bem necessária: dignificar socialmente o trabalho de gerir rebanhos. Por isso acho que os pastores, todos os pastores, acabarão por beneficiar do projecto, se ele correr bem, claro.
henrique pereira dos santos
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