Muito se tem escrito aqui sobre a relação entre raridade e extinção de espécies e creio que por vezes incorrendo nalgum risco de simplificação. Infelizmente não tenho tempo para desenvolver o tema em profundidade mas resolvi ressaltar um texto que publiquei em 1998 na revista Silva Lusitana e que abordava este tema com algum detalhe. Passaram mais 10 anos desde que comecei a escrever este texto pelo que pode estar desactualizado num ou noutro aspectos. Porém, dado que a ciência da raridade estagnou um pouco desde os trabalhos seminais de Gaston talvez ainda seja útil. Quem quiser ler o artigo completo pode obtê-lo aqui.
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A herança naturalista, associada aos movimentos conservacionistas, valoriza o raro, o belo e o pouco habitual.
O valor que se atribui ao raro (p.e., Soulé, 1986) não é muito diferente do conceito económico de “bem escasso”. Porém, em biologia da conservação, o conceito de raridade, é apenas útil na medida em que fornecer uma aproximação do grau de vulnerabilidade (ou ameaça) da espécie a processos de extinção (p.e., Therborg, 1974; McIntyre, 1992; Arita, 1993). Neste contexto, o conceito de raridade considerado, unicamente, pela extensão da distribuição geográfica, é pouco informativo: uma espécie pode ter uma distribuição mundial confinada a uma área restrita (p.e., Península Ibérica) e ser bastante abundante e plástica no que concerne a utilização do seu habitat. Rabinowitz (1981) esquematiza sete combinações de formas de raridade em função da extensão da distribuição geográfica (p.e., restrita, alargada), dimensão da população (p.e., pequena, grande) e especificidade no uso do habitat (p.e., especialista, generalista). Kevin Gaston(1991, 1994a, 1996c) sugere que se estabeleça uma distinção clara entre raridade, medidaem função da extensão da área de distribuição e raridade enquanto medida da área real ocupada (equiparável, com algum cuidado, a abundância - p.e., ver metodologia de derivação de abundâncias com base em registos de presença/ausência em Gates et al. 1994). Enquanto a primeira medida fornece elementos relevantes para inferir factores históricos condicionantes da distribuição das populações, a segunda medida forneceelementos úteis à compreensão dos factores ecológicos limitantes da mesma distribuição.
A relação entre estes dois tipos de raridade é, em geral, positiva ainda que se conheçam exemplo de taxa não respondendo a esta padrão. É o caso de espécies de distribuição vasta mas de ocorrência localizada, p.e., algumas plantas alpinas- árcticas (Palmer et al. 1997). Outras excepções têm sido registadas utilizando dados de abundância, por oposição a área real ocupada: rela ção negativa - p.e., Adams & Anderson, 1982; Lawton, 1993 -; e relação de independência ou relação nula - Arita, 1993 -). Abordagens mais complexas baseadas na teorias dos fractais associam medidas de raridade com medidas descritivas da forma geométrica das áreas de distribuição (p.e., Maurer, 1994).
Dado o carácter intuitivo (Usher, 1986), ambiguidade associada ao conceito de raridade (Gaston, 1994/96c) e a incerteza sobre a informação que confere relativamente ao risco de extinção das espécies (p.e., Arita, 1993), tem-se procurado utilizar conceitos, mais explícitos, como vulnerabilidade ou grau de ameaça das espécies. No quadro desta terminologia, raridade é um componente do conceito e não o conceito em si. Abordagens recentes conjugam critérios quantitativos ou semi-quantitativos para qualificar níveis de vulnerabilidade em função de parâmetros que relacionem a dimensão das populações, a extensão da área de distribuição geográfica e a evolução dos quantitativos populacionais no tempo (p.e., Mace & Lande, 1991, Mace & Collar, 1994; Avery et al. 1994). Este tipo de abordagens tem sido utilizado para elaboração das novas Listas Vermelhas de carácter internacional (Red Data Books da IUCN), nacional (p.e., Avery et al. 1994; MSc Conservation Course, 1995; Palmer et al. 1997) e para a definição de ordenações deprioridades de conservação à escala regional (p.e., Palmeirim et al. 1994). A aplicabilidade destes critérios é, porém, condicionada pela existência de informação (p.e., dimensão dos efectivos populacionais e evolução dos quantitativos populacionais no tempo) raramente disponível para a maior parte dos taxa e/ou áreas do Globo. A importância da utilização da raridade enquanto critério aproximativo do grau de ameaça continua, assim, a ter um papel importante devido à relativa simplicidade de cálculo e ao poder preditivo que, em certos casos, poderá ter relativamente aos padrões de ameaça (p.e., Therborg, 1974; Arita, 1993). A associação entre raridade e extinção, ainda que intuitivamente lógica está, porém, por validar (Arita, 1993; MacIntyre, 1992).
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