"Aquela ribeira passava ali por trás da casa do meu filho para ir para aquelas terras além, mas agora está aquela bouça medonha, já não é preciso levar lá a água, já nem sabem onde passava o rego".
As infra-estruturas, quer as de regadio, quer os caminhos ("sim, daqui ligava a ..., era por aquele caminho, mas o melhor é ir dar a volta pela estrada que está tudo cheio de mato, já nem se conhece o caminho, só para quem conhecer bem que o senhor ainda fica aí perdido pelo monte"), quer grande parte das outras, as eiras, os canastros (não sei por que razão alguém lhes começou a chamar espigueiros, que nunca vi ninguém numa aldeia, tirando as mais turísticas em que já são uma atracção há anos e mesmo assim, se se perguntar se não tinha outro nome ainda dizem que "a gente quando era canalha chamava-lhe canastro", chamar-lhes outra coisa que não canastros, nome provavelmente originado nos entrançados de canas de que ainda se encontra um ou outro exemplar e que depois dá origem ao nome popular da estrutura óssea do peito de que hoje quase só se tem a memória na expressão pouco amigável "parto-te o canastro") e muitas outras infra-estruturas estão ou caminham para a ruína, incluindo os muros que suportam os socalcos.
Muitas destas estruturas, como as de regadio, até poderão ser pouco eficientes em muitos aspectos e precisar de investimento para as melhorar, mas são estruturas bastante sustentáveis
e de baixo consumo energético.
Repôr a sua funcionalidade onde se perdeu começa a não ser tarefa ao alcance de cada produtor individual, não apenas pelas dificuldades técnicas e elevado custo mas porque lhes começa a faltar o enquadramento social e reconhecimento das regras que permitiam a gestão dos inevitáveis conflitos.
henrique pereira dos santos
terça-feira, dezembro 30, 2008
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1 comentário:
Ha algum tempo atras, discutia com um ex-colega do ICNB, a questao do abandono agricola no nordeste transmontano.
Recordamos que a agricultura de pequenas parcelas ai praticada era de subsistencia. Durante grande parte do seculo XX, muitas foram as familias que arrancaram pao do granito, vivendo miseravelmente em Tras-os-montes e em todo o mundo rural portugues. Essencialmente nas decadas de 1960 e 1970 assistiu-se ao exodo rural e a forte migracao para as grandes cidades. Estes movimentos de gentes, em espacos temporais relativamente curtos,
originaram problemas ambientais a epoca praticamente ignorados. O abandono dos campos agricolas e o desordenamento urbano sao talvez os mais visiveis.
As pessoas buscaram na industria e nos servicos, melhores salarios, melhor poder de compra.
Nos dias de hoje, objectivamente, nao sei designar qual o nivel de vida "aceitavel" para um portugues. Vive-se melhor nos meios urbanos que no passado, mas vive-se tambem melhor nos meios rurais. Creio tambem que, em Portugal, trabalhar no sector agricola parece significar ou viver mal e/ou viver de subsidios. E-se socialmente descriminado. E esta segregacao economica e social tem os custos que tem, tambem ao nivel ambiental.
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