Neste post do blog Quarta República, Pinho Cardão faz uma piada inocente sobre o aquecimento global. Mas depois os comentários revelam que a questão é menos inocente do que poderia parecer.
Não querendo abusar da hospitalidade do Quarta República resolvi que seria melhor trazer aqui algumas ideias que me foram suscitadas pela pequena discussão em que participei.
A primeira, e mais preocupante, é verificar que aparentemente cidadãos com actividade política relevante acham que a questão do aquecimento global não é uma questão central da sociedade sobre a qual devam ter um mínimo de informação que lhes permita ter uma posição sobre o que fazer, ou não fazer, face ao problema.
A segunda é verificar como é fácil ir buscar o sucesso mediático de Al Gore para desvalorizar as suas posições sobre as alterações climáticas, esquecendo toda a sua história de envolvimento ambiental anterior à sua Vice-Presidência dos Estado Unidos.
A terceira é ver como é fácil pegar em meia dúzia de ideias simples sobre um problema complexo para concluir que os milhares de cientistas que trabalham pelo mundo e que estão preocupados com as consequências das alterações climáticas são todos tótós ou vendidos.
A quarta é perceber como com meia dúzia de afirmações sobre a insignificância da quantidade de carbono que lançamos para a atmosfera, se comparada com a dimensão do sistema, se consegue convencer muito boa gente de que toda a discussão sobre as alterações climáticas é uma patetice de histéricos que querem é ganhar dinheiro e são responsáveis pelo aumento do preço da energia, esquecendo o efeito de Lorenz e o dinamismo e complexidade dos sistemas associados ao clima e à meteorologia onde pequenas alterações podem influenciar dinâmicas poderosas.
O resultado destas, e doutras, ideias, quando contaminam o processo de decisão, pode ser muito bem avaliado nas dificuldades do sector automóvel americano que, negando a necessidade de racionalizar consumos energéticos, com base em ideias semelhantes, continuou a investir tudo na produção de carros que hoje se revelam dificilmente vendáveis. Bem sei que a crise do sector é global mas muito, muito acentuada nos estados unidos onde as três grandes marcas pedem aos contribuintes que as salvem ao mesmo tempo que a volkswagen aumenta o seu investimento nos estados unidos para tirar partido da situação.
Outro bom exemplo de como andamos alheados desta história e não a levamos a sério na decisão diz respeito aos programas de investimentos públicos de combate à crise (ou melhor dizendo, aos efeitos da crise). Se Obama explicitamente tem referido o seu programa de melhoria da eficiência energética dos edifícios públicos, em Portugal, pelo menos que eu tenha dado por isso, nem sequer o famoso programa dee investimento nas escolas assume como central a eficiênia energética e a obrigatoriedade de todos os consumos de água quente serem suportados em sistemas de aquecimento de água por energia solar passiva.
Quer o governo, quer a oposição, quer mesmo o movimento ambientalista não disseram uma palavra sobre a facilidade de execução, o seu efeito no emprego e o retorno financeiro em sete a dez anos que poderia ser obtido por um programa sério de intervenção em edifícios colectivos (não falo sequer de pavilhões e etc., estou mesmo a falar dos prédios de habitação) no sentido de melhorar a sua eficiência energética (o que facilmente se obtém com um programa de disponibilização de assistência técnica, que é barato e ajuda à inserção de jovens licenciados no mercado de trabalho) e no sentido de garantir a instalação macissa de sistemas de aquecimento de água com base em energia solar passiva, não só para banhos (o que já seria excelente) mas também para diminuição dos consumos das máquinas de lavar.
É um programa relativamente barato, com retorno financeiro e ambiental garantido, assente em mão de obra intensiva, ou seja, favorável à criação de emprego e com tecnologias nacionais simples e existentes, com base numa fileira industrial que pode ter base nacional.
A única razão para isto não constar do programa de combate à crise, para alem da visibilidade mediática da coisa, é mesmo o nosso alheamento e a forma leve com que olhamos para o problema da sustentabilidade.
henrique pereira dos santos
Não querendo abusar da hospitalidade do Quarta República resolvi que seria melhor trazer aqui algumas ideias que me foram suscitadas pela pequena discussão em que participei.
A primeira, e mais preocupante, é verificar que aparentemente cidadãos com actividade política relevante acham que a questão do aquecimento global não é uma questão central da sociedade sobre a qual devam ter um mínimo de informação que lhes permita ter uma posição sobre o que fazer, ou não fazer, face ao problema.
A segunda é verificar como é fácil ir buscar o sucesso mediático de Al Gore para desvalorizar as suas posições sobre as alterações climáticas, esquecendo toda a sua história de envolvimento ambiental anterior à sua Vice-Presidência dos Estado Unidos.
A terceira é ver como é fácil pegar em meia dúzia de ideias simples sobre um problema complexo para concluir que os milhares de cientistas que trabalham pelo mundo e que estão preocupados com as consequências das alterações climáticas são todos tótós ou vendidos.
A quarta é perceber como com meia dúzia de afirmações sobre a insignificância da quantidade de carbono que lançamos para a atmosfera, se comparada com a dimensão do sistema, se consegue convencer muito boa gente de que toda a discussão sobre as alterações climáticas é uma patetice de histéricos que querem é ganhar dinheiro e são responsáveis pelo aumento do preço da energia, esquecendo o efeito de Lorenz e o dinamismo e complexidade dos sistemas associados ao clima e à meteorologia onde pequenas alterações podem influenciar dinâmicas poderosas.
O resultado destas, e doutras, ideias, quando contaminam o processo de decisão, pode ser muito bem avaliado nas dificuldades do sector automóvel americano que, negando a necessidade de racionalizar consumos energéticos, com base em ideias semelhantes, continuou a investir tudo na produção de carros que hoje se revelam dificilmente vendáveis. Bem sei que a crise do sector é global mas muito, muito acentuada nos estados unidos onde as três grandes marcas pedem aos contribuintes que as salvem ao mesmo tempo que a volkswagen aumenta o seu investimento nos estados unidos para tirar partido da situação.
Outro bom exemplo de como andamos alheados desta história e não a levamos a sério na decisão diz respeito aos programas de investimentos públicos de combate à crise (ou melhor dizendo, aos efeitos da crise). Se Obama explicitamente tem referido o seu programa de melhoria da eficiência energética dos edifícios públicos, em Portugal, pelo menos que eu tenha dado por isso, nem sequer o famoso programa dee investimento nas escolas assume como central a eficiênia energética e a obrigatoriedade de todos os consumos de água quente serem suportados em sistemas de aquecimento de água por energia solar passiva.
Quer o governo, quer a oposição, quer mesmo o movimento ambientalista não disseram uma palavra sobre a facilidade de execução, o seu efeito no emprego e o retorno financeiro em sete a dez anos que poderia ser obtido por um programa sério de intervenção em edifícios colectivos (não falo sequer de pavilhões e etc., estou mesmo a falar dos prédios de habitação) no sentido de melhorar a sua eficiência energética (o que facilmente se obtém com um programa de disponibilização de assistência técnica, que é barato e ajuda à inserção de jovens licenciados no mercado de trabalho) e no sentido de garantir a instalação macissa de sistemas de aquecimento de água com base em energia solar passiva, não só para banhos (o que já seria excelente) mas também para diminuição dos consumos das máquinas de lavar.
É um programa relativamente barato, com retorno financeiro e ambiental garantido, assente em mão de obra intensiva, ou seja, favorável à criação de emprego e com tecnologias nacionais simples e existentes, com base numa fileira industrial que pode ter base nacional.
A única razão para isto não constar do programa de combate à crise, para alem da visibilidade mediática da coisa, é mesmo o nosso alheamento e a forma leve com que olhamos para o problema da sustentabilidade.
henrique pereira dos santos
9 comentários:
Caro Henrique Pereira dos Santos
Quando fala nos “cidadãos com actividade política relevante, etc”, está a referir-se, obviamente, às pessoas ligadas ao PSD que participam no blog Quarta República.
Eu penso que, neste aspecto, tem toda a razão. Porque considero altamente criticável o facto de o PSD, como partido que tem a pretensão de governar Portugal, em alternativa à seita ideológica que actualmente nos governa, não ter uma posição clara sobre o assunto, uma vez que, como escrevi no final do comentário que aqui procura escalpelizar, embora sem referir o meu nome, as propostas dos alarmistas climáticos têm repercussões dramáticas na economia dos países civilizados. E algumas consequências estão já a observar-se, como acontece com a subida dos preços da energia eléctrica, que já estão a incorporar os custos de aquisição, pela REN, das inenarráveis licenças de emissão de carbono.
De facto, sendo o PSD um partido de governo, há muito que deveria ter dito aos portugueses que não alinha nessas fantasias. Mas, infelizmente, também desde há muito que o PSD não tem líderes de jeito. E um deles, o que tomou a iniciativa de arruinar o partido, um hipócrita que apenas se preocupa com a própria carreira e um incompetente que se limita a papaguear aquilo que pensa ser o politicamente correcto, esse está hoje na presidência da Comissão Europeia. A fazer papel de embrulho, mas muito contente.
Quanto às justificações do Henrique Pereira dos Santos relativamente ao meu comentário no Quarta República, já as conheço e não me convencem, nem um bocadinho. São vagas e, curiosamente, podem até ser revertidas sobre os alarmistas. Na verdade desiludiu-me. Pensava que vinha aqui justificar o facto de fazer tanto frio, ainda que o dióxido de carbono continue a ser emitido. Não sabe, não é verdade?
Mas não se penalize. Pelo que depreendo, a sua área é o ambiente e, como deve saber, ambiente e clima são coisas distintas. Não pensa, certamente, que invocar o Efeito de Lorenz explica o que quer que seja acerca da vaga de frio e de nevões com que estamos a ser presenteados. Sugiro-lhe que leia mais atentamente o blog Mitos Climáticos, do meu colega Rui Moura, o qual até tem um link para o Ambio.
Jorge Pacheco de Oliveira
Caro Jorge Oliveira,
Obrigado por se ter dado ao trabalho de continuar aqui a discussão.
O meu texto refere-se ao que li e não especificamente ao seu comentário, embora parte do que li e comentei provenha dos seus comentários.
Não é o caso do meu comentário acerca das pessoas com actividade política activa e que não se procuram informar sobre o assunto, que resulta de outras intervenções que não a sua.
Este blog tem um link para os mitos climáticos e tem 32 entradas para alterações climáticas, quase nenhumas minhas exactamente por saber pouco do assunto.
Uma dessas entradas tem uma resposta de Miguel Araújo aos cépticos (como o autor dos mitos climáticos) que penso que vale a pena ler no contexto desta discussão, podendo comentar o que se vai dizendo neste blog, ao contrário do que se passa no blog mitos climáticos que não admite a réplica.
Continuo a não perceber a sua insistência na ligação entre episódios meteorológicos como o que estamos a viver e a discussão porque não conheço ninguém no mundo que negue a possibilidade de episódios destes.
Quanto à energia barata, não se preocupe, com ou sem discussão sobre alterações climáticas foi chão que deu uvas.
É bom que nos preparemos para esse mundo em vez de matar os mensageiros.
henrique pereira dos santos
Caro HPS : julgo que sobre o global warming e o frio de rachar que se tem feito sentir já foi dito o suficiente.
Mas sobre a sua afirmação de que “energia barata já foi chão que deu uvas”, eu não me precipitaria. Também neste domínio há muita gente que ganha a vida a fazer previsões alarmistas. Há muita energia barata por explorar.
Aliás, o global warming e a energia são matérias inseparáveis. Porque o objectivo da esquerda internacional (não escondo a minha alergia) é precisamente criar dificuldades energéticas, principalmente aos EUA, para melhor conseguirem a decadência económica do país em que a liberdade tem sido mais cultivada.
Caro Jorge Oliveira,
E não é que o povo americano, sabendo perfeitamente que o perigoso inimigo dos Estados Unidos chamado Obama também tem uma posição alinhada com os fanáticos da esquerda internacional mesmo assim votaram no homem, isto é, no suicídio do seu sistema económico às mãos dos extremistas das alterações climáticas e dos arautos da energia cara.
Francamente, para quem entra na discussão a clamar rigor é o que se chama uma verdadeira surpresa.
henrique pereira dos santos
Mas o caro HPS está convencido de que o Obama faz parte da mesma esquerda que quer arruinar os EUA !?
Isso era o sonho dos esquerdistas de todo o mundo. Mas entre sonhos e realidades, existe uma grande diferença.
Quando o Obama mostrar que não está a cumprir o programa do Mário Soares, do Louçã e de muitos outros, vai haver um verdadeiro muro de lamentações.
Cumprimentos
Caro Jorge Oliveira,
Para ouvir obama himself sobre alterações climáticas tem disponível neste blog um video.
Se ficar com dúvidas veja quem são as pessoas que nomeou na área do ambiente.
henrique pereira dos santos
Caro HPS : já aqui tive oportunidade de lhe recordar que ambiente e clima não são a mesma coisa.
Com o ambiente preocupo-me, porque lhe estamos a fazer mal, mas sempre podemos tomar acções correctivas.
Com o clima também me preocupo, mas sei que não posso fazer grande coisa senão esperar que a mãe Natureza não nos tire o quentinho em que temos vivido.
E se aquecer mais um bocadinho, com ou sem dióxido de carbono antropogénico, sobretudo se isso evitar ou atrasar uma nova glaciação, também não me importo, pois gosto mais de ir de férias para sítios quentes do que frios.
Caro Jorge Oliveira,
Tenho lido uma boa série de publicações ciêntíficas sobre aquecimento global. Nas áreas que tenho lido, parecem claras as consequências já verificadas ao nível, por exemplo, do degelo no Ártico ou da alteração das datas de migrações de várias espécies de aves. Bem sei que isso tudo é muito pouco importante quando, afinal, o que nos preocupa, na nossa mais rudimentar ignorância, é se andamos mais quentinhos no Inverno, ou se preferimos ir para os calores da Republica Dominicana em deterimento de fazer esqui nos Alpes.
É também completamente irrelevante, apresentar evidências do que já está a acontecer e cenários do que poderá vir a acontecer, se estivermos mergulhados em preconceitos, alguns deles, permita-me, algo paranoicos, pilares fundamentais para acreditarmos no que queremos acreditar. Para além de quaisquer estudos, seguramente feitos por departamentos de contra-informação de extrema esquerda, há a nossa inabalável e tranquilizante fé. O resto, que se dane.
Por breves intantes, tenho a nostalgia de ser assim. Mas passa-me depressa. Prefiro antes não negar a realidade e procurar soluções para os problemas.
Mas que cegueira, caro HPS : onde é que viu o degelo do Árctico?
Em lugar de se limitar a ler publicações presumivelmente científicas, por que razão não dá uma vista de olhos às fotos do Árctico actualizadas todos os dias?
Deixo-lhe aqui um link muito útil para o efeito : http://www.iup.uni-bremen.de:8084/amsr/amsre.html
Vá lá ver hoje e observará um Árctico bem repleto de gelo. Este frio todo veio precisamente de um Árctico bastante gelado.
Quanto à alteração das datas de migração das aves sensíveis à temperatura, acha que isso prova alguma alteração climática anormal, para além dos limites da variabilidade natural conhecida?
Ver em todas as alterações à nossa volta sinais de um holocausto climático próximo é que pode revelar preconceito e preocupação paranóica.
Enviar um comentário