"Correio da Manhã - Há um ponto chave na economia do País que é o enorme endividamento externo que só se pode resolver com as exportações. Mas como é que isso é possível se os mercados das empresas nacionais estão igualmente em crise? Não estamos num círculo vicioso?
Manuela Ferreira Leite - É evidente que a fase que estamos a atravessar não é a mais adequada a haver grandes aumentos de exportações. Mas é verdadeiramente adequada para que as empresas se reestruturem no sentido de procurar mercados de exportação. Porque no mercado interno é que têm dificuldade de sobreviver. Nesse sentido esta proposta tem uma visão de combater a crise, mas tem também uma visão de médio e longo prazo. E essa visão não pode deixar de ter em atenção que é necessário fomentar as exportações.
CM - É a única saída para Portugal?
MFL - É a única saída para Portugal."
Manuela Ferreira Leite - É evidente que a fase que estamos a atravessar não é a mais adequada a haver grandes aumentos de exportações. Mas é verdadeiramente adequada para que as empresas se reestruturem no sentido de procurar mercados de exportação. Porque no mercado interno é que têm dificuldade de sobreviver. Nesse sentido esta proposta tem uma visão de combater a crise, mas tem também uma visão de médio e longo prazo. E essa visão não pode deixar de ter em atenção que é necessário fomentar as exportações.
CM - É a única saída para Portugal?
MFL - É a única saída para Portugal."
Um dia destes, não sei quando porque encontrei esta entrevista por acaso, o Correio da Mannhã trazia uma entrevista com Manuela Ferreira Leite de que tirei o extracto que citei.
E citei porque não estou inteiramente de acordo com a última frase.
O endividamento resulta quer do que não vendemos ao exterior, quer do que compramos ao exterior. O que Manuela Ferreira Leite diz é que a única maneira de resolvermos isto é vendendo mais.
Eu acho que comprar menos também pode ajudar.
Não se trata de advogar medidas proteccionistas para a produção portuguesa que não resolvem nada.
Trata-se sim de ter uma verdadeira política de sustentabilidade, quer nas questões energéticas, quer nas da alimentação.
Tomemos o exemplo do PRODER, o programa de desenvolvimento rural. 11% do total das ajudas previstas para os anos de 2007 a 2013 dizem respeito ao Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. Para fazer o quê? Gastar energia a rodos para pôr a circular água com preços mantidos artificialmente baixos para produzir produtos que supostamente são concorrenciais no mercado externo (a tal história de vender mais ao exterior).
Feito o balanço de compras e vendas, sendo todo o projecto assente no consumo de energia que compramos quase integralmente ao exterior, até pode ser que se consiga ganhar mais que o que importámos, justificando-se assim o projecto (do que aliás duvido).
Mas entretanto há um conjunto de produções que desaparecem (o que mais me incomoda é o ostracismo a que votamos os nossos pequenos ruminantes e os produtos deles derivados) por que optámos por gastar 11% dos dinheiros públicos disponiveis para o desenvolvimento rural a viabilizar um projecto que depende sempre de energia barata para a sua manutenção, deixando por apoiar as produções e os métodos produtivos mais sustentáveis a prazo.
Há muitos outros campos em que o facto de só olharmos para a exportação e nos recusarmos a olhar para a importação com objectivos claros de redução do consumo ou de substituição de consumos, nos leva a soluções duvidosas.
Por outro lado imaginemos que o Estado decidia que em todas as cantinas de escolas, hospitais, quartéis , prisões mais de 50% dos produtos seriam produtos de época e produzidos a menos de 200 Km de distância (duas típicas medidas a adoptar para uma alimentação mais sustentável). Não falo já de procurar reduzir os produtos processados, sejam eles conservados quimicamente, pelo frio ou de outra mneira qualquer, mas também aí haveria muita margem de progresso. Nem falo também da possibilidade de reduzir o consumo de carne e peixe sem perda de qualidade nutricional das refeições.
Sim, teríamos coisas provavelmente mais caras (ou seja, neste caso, e Estado pagaria mais caro), mas com efeitos susbtancialmente diferentes na economia do país.
Bem sei que estas coisas dificilmente são preto e branco e é preciso ter muito cuidado com os efeitos perversos de medidas que podem distorcer mercados mas não tenho dúvidas de que sem considerar a redução de consumos e a substituição de consumos teremos muito que penar até as nossas exportações começarem a reduzir o endividamente que já hoje temos.
henrique pereira dos santos
5 comentários:
Plenamente de acordo. Se tivéssemos uma política de transportes decente e de conservação energética e de outros recursos, o PIB seria afectado muito positivamente
Quando temos um ministro que diz que não precisamos de ser auto-suficientes em cereais, quando globalmente os silos estão em baixo, pouco há que esperar do ministério.
Penso que Portugal nunca será auto-sustentável em cereais e as tentivas para o ser redundaram em desastres, como o das célebres campanhas do trigo. O que evidentemente não quer dizer que não se tente reduzir a sua importação olhando bem para o que podemos mudar todos os dias nos nossos pratos.
Não tenho a certeza de que o PIB seja positivamente afectado por medidas deste tipo, mas o endividamento externo sim. E neste momento parece-me mais importante acertar as contas que produzir mais se isso significar importar ainda mais que o que conseguimos vender.
henrique pereira dos santos
O PIB inclui, resumidamente, o Consumo Privado + Investimento Privado + Gastos Públicos+Exportações-Importações.
Às vezes tomam-se estas duas últimas rubricas em conjunto, chamando-as exportações liquidas, o que talvez contribua para os economistas se esquecerem que se reduzirem a parcela das importações (através da tal poupança energética, alimentar, etc.), estarão também a contribuir, directamente, para a melhoria do PIB.
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