sábado, março 07, 2009

A um negrilho

o negrilho de Miguel Torga, em S. Martinho das Antas, Conc. de Sabrosa
exemplar de interesse público, com bem mais que 30 metros de altura
fotografia publicada em "Árvores Monumentais de Portugal", Ernesto Goes (1984) e sacada daqui

A um negrilho

Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

Miguel Torga in Diário VII (1956)

Um dia destes, ao passar por alguns ulmeiros secos em Trás-os-montes, recordei-me do velho poema de Miguel Torga, homenageando um dos negrilhos (e os negrilhos) de sua terra. Ao longo do século XX, muitos dos ulmeiros, olmos, negrilhos ou mosqueiros, afectados pela grafiose, secaram. Os grandes exemplares, quase desapareceram da paisagem transmontana, restando hoje apenas cepos daqueles que outrora foram seus esqueletos e que reavivam a memória dos mais velhos.

2 comentários:

Victor Alves disse...

Os negrilhos fazem falta. Era uma árvore imponente, tinha uma forte marca na paisagem, foi uma grande perda.

Marco Fachada disse...

A propósito de negrilhos ou olmos (termo mais usado nas terras raianas de Trás-os-Montes), recordo-me de um enorme, na eira em frente à casa dos meus avós, perto de Chaves. Sem exagero teria um diâmetro de cerca de 1 metro e meio. Recordo-me da utilização das folhas dos olmos para alimentar os porcos, misturadas com água e algum farelo. Ainda ajudei o meu avô, em tardes de Verão, a "ripar" essas folhas nos negrilhos à beira do ribeiro. Foi prática que mais tarde se perdeu, não sei se pelo aumento da grafiose, se por questões meramente relacionadas com a economia rural de subsistência. Outros tempos.

Marco