Declaração de interesses: trabalho profissionalmente com ONGs que não vão boicotar o fundo EDP para a Biodiversidade e parte do meu trabalho actual consiste em apoiar a gestão estratégica e fazer fund raising para projectos de conservação, incluindo por isso contactos com várias empresas que se dispõem a financiar projectos de conservação da biodiversidade
Já tinha tido conhecimento do que se preparave e aparece hoje a público o anúncio de um boicote ao Fundo EDP de biodiversidade.
É uma posição de algumas ONGs que não percebo.
A EDP fez uma campanha de comunicação que tem um ponto de fragilidade forte: não torna claro que a EDP, como companhia generalista de produção de electricidade é, inerentemente, uma empresa poluidora.
Na verdade a campanha não tem nenhuma mentira mas ao não deixar claro este ponto dá o flanco à imensa demagogia das ONGs.
Demagogia em primeiro lugar porque na verdade o que as ONGs contestam é o plano de barragens, que é da responsabilidade do Governo e executado por várias empresas, entre as quais a EDP.
Demagogia porque que a alternativa que apresentam (a eficiência energética) não é uma alternativa no quadro do negócio da EDP mas uma alternativa de política energética que está em grande medida na mão do Governo adoptar ou não (sendo certo que as mesmas ONGs estiveram absolutamente caladas quando o actual Governo impediu uma subida brusca de electricidade que é, sem dúvida, uma das mais sólidas medidas para garantir a eficiência energética).
Demagogia porque as mesmas ONGs que não querem o dinheiro da EDP atribuído num concurso aberto não rejeitam o dinheiro do Estado (muitas vezes atribuído em processos pouco transparentes) que condiciona as opções da EDP.
Demagogia porque as mesmas ONGs (ou pelo menos algumas) não rejeitam o dinheiro do mundo rural que lhes é atribuído pelo Ministério que liquida a Reserva Agrícola Nacional.
Demagogia porque as mesmas ONGs não rejeitam o dinheiro da Comissão Europeia que condiciona as opções energéticas do Estado e da EDP.
E demagogia ainda porque se a EDP estivesse calada em matéria de biodiversidade, como estão muitas outras empresas, do sector ou não, as ONGs estariam também caladas (é curioso como empresas com fortes pegadas ecológicas, a GALP, por exemplo, para não falar de outras eléctricas concorrentes da EDP, tem sido tão pouco fustigada pelas ONGs apesar da sua miserável, se existente, política de biodiversidade).
Também eu tenho muitas dúvidas sobre o plano de barragens. Também eu sou contra a barragem do Baixo Sabor. Também eu acho que a EDP podia fazer mais que o que faz e de forma mais consequente e aberta.
Mas francamente, neste charivari inconsequente não me apanham, muito menos por causa de uma campanha de comunicação fraquita e de um conjunto de opções políticas que cabem ao Governo e não à empresa que se pretende atingir com este boicote.
henrique pereira dos santos
7 comentários:
Como diz o outro. Melhor assim. Mais fica.
Já agora, aproveitando o facto de não concordar com o comentário do melhor assim porque acho que este tipo de espalhafato inconsequente é prejudicial à credibilidade do movimento ambientalista, sobretudo quando se olha para o contraste com o silêncio de algumas ONGs em relação à alteração do regime da Reserva Agrícola Nacional, esclareço um detalhe da minha declaração de interesses: nas organizações para quem trabalho as minhas opiniões não são mais que as opiniões de um assalariado, as decisões são tomadas pelas legítimas direcções, das quais eu não faço parte (nem nunca aceitei aliás fazer parte de qualquer direcção de organizações às quais presto serviços).
henrique pereira dos santos
caro Henrique,
Percebo a sua posição de salvaguarda. Num daqueles comentários habituais - em resposta a outro comentário - do público online podemos ler o seguinte. Passo a citar: "Cota 500
Por Vítor Pimenta - Arco de Baúlhe, à beira Tâmega
Caro LEOLEO de Lisboa. Fundamentalismos o tanas. A gente cá no interior tem de aguentar estas pias de água porca - em sacrifício das poucas riquezas que temos, paisagem natural e solos aráveis - só para os senhores se refastelarem na boa vida dos aparelhos electrónicos e das tomadas. Já que o caudal do Tejo é assim tão grande e de potencial, olhe, faça-se uma barragem ali junto ao forte de São Julião da Barra, até à outra Margem, à cota 150 e pronto. Ia passear até à Baixa pombagira em modo scuba-diving. Vá mas é instalar um painel solar." Dito isto. Resta explicar quais são, e onde estão, as balelas..Quem engana quem nas malhas da incongruência?
Caro Anónimo,
Quer descodificar (e já agora assinar)?
Gonçalo Rosa
Caro Anónimo,
As barragens do Tâmega nem sem da EDP. Repare que o que critico é o facto de se fazer um boicote ao fundo EDP da biodiversidade por causa de uma campanha de comunicação quando na verdade o que se pretende atingir é o plano de barragens do Governo.
henrique pereira dos santos
Caro Henrique,
No Despacho nº15048/2009. D.R. nº127, Série II de 2009-07-03 o ministério da economia e da inov. e da agric., desenv. rural e pescas.., declara "a imprescindível utilidade pública do abate de todos os sobreiros e azinheiras adultas e jovens com o o objectivo da obras do aproveitamento hidroeléctrico do Baixo-Sabor."
E mais: Está em curso a alteração à lei das expropriações que dá poderes, porventura inconstitucionais, à EDP.
Qual é a fronteira entre o programa nacional de barragens do Governo e a EDP? Quais são as balelas do título deste post?
Caro Anónimo,
Parece-me evidente que se o Governo atribui interesse público ao Sabor e o aprova, esse reconhecimento é válido para o arranque de sobreiros e azinheiras. Não faz sentido aprovar uma barragem e não aprovar as acções intermédias fundamentais à sua execução. Podemos discordar, e eu discordo, da decisão de construir o Sabor, mas não podemos defender que é razoável aprovar o Sabor e proibir o arranque sobreiros e azinheiras inerentes (este princípio já o defendo há muito veja, por exemplo, aqui http://ambio.blogspot.com/2009/02/sobreiros-mais-uma-vez.html a propósito doutro caso).
Em qualquer caso o Sabor não faz parte do plano de barragens.
Volto a dizer que o Plano de Barragens tem barragens concessionadas à EDP e a outras empresas, portanto não faz sentido centrar a crítica na EDP. E na verdade a EDP executa o que outros decidiram.
Entre as várias balelas desta acção das ONGs está a afirmação, nunca demonstrada, de que a campanha da EDP tem mentiras. O que tem, isso sim, é uma omissão sobre as razões pelas quais a EDP investe em biodiversidade.
Continuo a dizer que não compreendo como querendo contestar-se as razões que motivam a política de investimento em biodiversidade da EDP se opte por boicotar os instrumentos de minimização dos efeitos dessas razões e ainda por cima a pretexto de uma campanha de comunicação (que até acho que já nem está no ar, mas não sei).
ESta omissão da EDP na campanha, volto a dizer, é bem menos grave que a omissão de algumas das ONGs subscritoras em relação à alteração do regime da RAN, processo que decorre ao mesmo tempo.
henrique pereira dos santos
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