sexta-feira, novembro 20, 2009

Democracia de bastidores

Hoje ficámos a saber que a Europa tem novos dirigentes. O Presidente do Conselho Europeu, como se sabe, foi imposto pelo eixo Franco-Alemão. O alto comissário para os assuntos exteriores foi imposto pelo Reino Unido. Tudo na boa tradição Europeia com os Franceses e Alemães a procurarem controlar o rumo da Europa mesmo que contra ventos e marés e os Britânicos a lembrar que é necessário contar com eles ainda que estes raramente contem com os outros. Os restantes Países são forçados a remeter-se ao papel de "claque" torcendo por uns ou por outros e procurando distribuir favores aos "grandes" Países na esperança que algum dia lhe seja distribuída uma migalha de poder Europeu.

Mérito dos candidatos? Não não é por aí que vão as escolhas: os dois escolhidos são praticamente desconhecidos dos Europeus e ainda que tenham as suas qualidades e o seu currículo político - ninguém o nega - não são personalidades carismáticas, capazes de entusiasmar os cidadãos para um projecto Europeu comum. Como diz a revista Economist:

"A man who has been Belgian prime minister for less than a year and a British technocrat who has never held elected office were chosen by European Union leaders on Thursday November 19th to represent their 27 countries around the world, and lead their policy making at the highest level."

É óbvio que nesta escolha tratou-se, essencialmente, de equilibrar os interesses nacionais de alguns Países e escolher personalidades que não fizessem sombra aos respectivos líderes. Esta é velha Europa que herdamos do rescaldo de duas grandes guerras.

É uma Europa que usa a retórica do mérito quando parece bem (ver estratégia de Lisboa) mas que na hora da verdade recorre a velhas soluções medíocres que garantem o "status quo" e dão segurança aos pequenos políticos que capitaneiam os países da União Europeia.

Uma Europa com medo da democracia e que por este motivo bloqueou a proposta de que o Presidente do Conselho Europeu fosse eleito de forma directa pelos cidadãos Europeus.

Uma Europa que espalhou a civilização ocidental pelos quatro cantos do mundo mas que actualmente é mera espectatora de um mundo cada vez mais bipolar em que os EUA e a China se perfilam como as únicas potências que realmente contam.

Uma Europa autista, sem capacidade de liderança e que em momentos críticos como o actual, com uma oportunidade ímpar para restabelecer o multilateralismo, por ter nos Estados Unidos da América um Presidente como Barak Obama, resolve escolher duas personalidades com perfil tecnocrático para representar os interesses Europeus ao mais alto nível.

O que se consegue com isto? manter a preponderância política dos três Países que controlaram a escolha dos novos representantes europeus (Fr, D, UK) e afundar as pretensões de consolidação de uma terceira potencia mundial (a União Europeia) que conte no panorama geo-estratégico internacional.

Ou seja, a velha Europa dos interesses nacionais e das desconfianças históricas entre vizinhos.

Dia 19 de Novembro ficará conhecido como um dia triste para o processo de construção Europeia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mas quem é que manda no seu dinheiro? Os outros? É exactamente essa a lógica da UE! Quem manda é quem tem dinheiro, quem produz, quem é competitivo - não são os pedintes que vivem eternamente da subsidiação (onde os portugueses fazem questão de estar sempre em primeiro lugar na fila dos que estão de mão estendida... até tenho vergonha). Tenho a certeza que se fosse alemão ou francês era exactamente assim que pensava. E é curioso que não nos preocupamos nada em receber dinheiro de uma economia, que só tem uma indústria e uma agricultura competitivas, à custa do baixo custo da energia - obtida por via nuclear...