sábado, novembro 14, 2009

The good news show ou como a agricultura intensiva pode ajudar a salvar uma espécie criticamente em perigo

Foto de Francisco Calado tirado daqui.
O chasco-preto (Oenanthe leucura) é uma espécie classificada no Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal como Criticamente em Perigo. No entanto, no IUCN Redlist, a espécie está classificada como "Least Concern". (Este fenómeno de grandes diferenças entre a classificação nacional no LVVP e a IUCN Redlist é muito frequente e deixa-me por vezes um pouco confuso, mas não é tópico deste post).

A ocorrência da espécie, outrora com uma ampla distribuição pelo interior do país, de norte a sul, é hoje confinada aos troços superiores do Douro e Tejo.

Na última edição (18/2008) da revista Airo, editada pela SPEA, foi publicado um artigo da autoria de Tiago Múrias et al., que relata um estudo sobre a ocorrência e nidificação do chasco-preto na região de Foz-Tua, na região demarcada de vinho do Douro. A espécie terá mostrado uma tendência de aumento da sua subpopulação na região estudada e, segundo o artigo, e passo a citar, "uma explicação para o aparente aumento da espécie na área é a de que a substituição das vinhas tradicionais por vinhas de tipo intensivo ou semi-intensivo promove condições para um aumento da disponibilidade alimentar (sobretudo fauna do solo) que, asociada á existência de numerosos e relativamente seguros potenciais locais de nidificação, favorece a expansão local do chasco-preto".

Ora e essa agora. Estávamos todos obrigados a acreditar que o grande mal em termos da biodiversidade é o abandono da agricultura tradicional, vem aí um estudo que mostra uma espécie às portas da extinção (pelo menos em Portugal) que tem nos suspeitos agricultores modernos um amigo que vem dar uma ajudinha ao simpático chasco-preto.

É o que eu chamo uma boa nóticia, para o chasco-preto e para mostrar que a realidade é sempre, sempre mais complexa que se quer fazer crer. E obrigado Tiago, pela objetividade do artigo e suas conclusões.

Henk feith

6 comentários:

Paulo Barros disse...

Henk,

O mês passado vi um chasco-preto na foz do Tua, entre Fiolhal e Ribalonga e esta semana vi outro no Sabor perto de Meirinhos, sei que está confirmado no Tua, mas no sabor não sei, sabes se está confirmada a quadricula PF77?

Paulo Barros

Nuno disse...

Não estando eu na área da Biologia ou da Agricultura perguntava se, não sendo as explorações de agricultura intensiva necessariamente "desertos", não deveriam ser no entanto previligiados os modos de produção agrícola que permitam as condições mais abrangentes de permanência de fauna?

Isto porque (parece-me mas confesso a minha ignorância) não percebi se o chasco-preto depende intrinsecamente deste modo de produção ou se é a única espécie afectada de algum modo pela cultura intensiva da vinha.

De qualquer modo é interessante o apelo a que não se caia em posições absolutas relativamente a assuntos que têm várias ramificações.

Cumprimentos

Henk Feith disse...

Caro Nuno,

No post não defendi a abolição da agricultura tradicional em favor da intensiva. Longe disso. Mostrei que a diversidade não depende exclusivamente dela (a tradicional) e que por vezes as espécies ameaçadas (e não só) encontram lugares e oportunidades onde menos se espera.

O mais importante é procurar factos, mesmo quando esses contrariam as ideias dominantes sobre uma certa matéria. E isto aplica-se ao chasco-preto, como à energia nuclear, as barragens, os OGM, os fogos florestais, etc. Não há preto-e-brancos, nem ni cinema (salvo se calhar o xadrez).

Henk

Nuno disse...

Concordo totalmente Henk Feith,
infelizmente ocorre muitas vezes que exista um aproveitamento destas "áreas cinzentas" (para repescar a analogia), como este caso especifico que descreveu, para desmontar críticas relevantes que lhes possam ser dirigidas.

Infelizmente isto é recorrente nos tópicos fracturantes (pelo menos entre ambientalistas) que mencionou, por parte dos dois lados.


Cumprimentos

Henk Feith disse...

Caro Paulo,

Fui consultar a base de dados do ICNB disponível na internet (http://www.icn.pt/sipnat/Observacao_Especies/ObservacaoFrame.aspx?page=pesquisa.aspx) e fiz uma pesquisa para o chasco-preto na PF77. Não vem identificada a espécie, o que não quer dizer que não ocorra lá, claro.

Se calhar o melhor era contactar o Tiago Múrias (ele está no Facebook).

Henk

Anónimo disse...

caro Paulo

que eu conheça é a segunda observação de Chasco-preto na zona do baixo sabor, a outra anterior foi feita pelo Domingos Patacho (creio) há uns anos num troço uns Km mais abaixo.

podes ver no Atlas.

Na zona do douro Superior, a espécie já foi vista e confirmada a sua nidificação, no Coa e no Sabor (para além do Douro, com distribuição mais u menos continua entre Mazouco e a foz do sabor)sempre em densidades, aparentemente , muito rduzidas. Do conhecimento que tenho das aves rupicolas desta região, nos últimos 15 anos, atrever-me-ia a afirmar que a espécie tem regredido em área de ditribuição (e neste momento quase desapareceu do troço internacional do Douro e Águeda), mas só posso dizer isso como palpite.

António Monteiro