Roubei este título ao penúltimo post do HPS. Depois de alguma troca de comentários, acho que vale a pena reflectir um pouco mais sobre as questões de fundo levantadas (não me refiro ao objecto específico do post do HPS com o qual no essencial concordo).
Ninguém em princípio aspira a viver num mundo onde os fundamentos ecológicos de segurança e prosperidade estejam em causa e portanto neste aspecto podemos dizer que existe uma igualdade entre os cidadãos e que não está em causa a influência que o universalismo tem nas causas ambientais. Contudo, subjacente a este pensamento existe frequentemente a crença no progresso, ou seja, que no fim uma nova ordem social e política mais justa e fraterna aparecerá se incluirmos os valores ambientais (entre outros) nos padrões económicos porque nos regemos.
Ora, a economia é antes de mais o reflexo de como os quase dez biliões de seres humanos do planeta tentam sobreviver e terem uma vida melhor. Logo a luta por interesses, por vantagens e pelos poderes localmente estruturados é determinante. O mundo é profundamente desigual e tem sido esta desigualdade (que não é sinónimo de falta de ética) o motor da civilização, pelo que a liberdade não é asséptica e depende sempre da percepção dos actores e da envolvente em que se movem, ou seja, o local continua a ser determinante mesmo numa época de globalização.
Muito do que se conseguiu em termos ambientais esteve e está associado a um novo paradigma comportamental onde a responsabilidade sobre as consequências ambientais das nossas acções é assumida voluntariamente. Hoje, dificilmente por regulamentação e taxação apenas sem uma globalização da responsabilidade se caminhará para um desenvolvimento sustentável. O exemplo do mercado de carbono, essencial ao combate às alterações climáticas, nasceu e consolidou-se como projecto voluntário de responsabilidade ambiental e social e não como fruto de regulamentação.
As causas ambientais sérias e estruturadas há muito que perceberam que uma das suas forças é a racionalidade dos argumentos, a sua base científica e a ligação destas com a decisão política. Só para dar um exemplo, que todos conhecemos, basta referir que sem esta lógica já não existiria Rede Natura na Europa. Contudo, em muitas situações por idealismo em excesso, na minha opinião, a “crendice” e a falta de razão empírica são exploradas como argumento. É o mundo que irá acabar já amanhã por sobreaquecimento, ou a fome que se irá instalar se não actuarmos rapidamente nos sistemas de produção de alimentos, ou os oceanos que se irão transformar em locais sem vida já na próxima década (o exagero é meu e propositado). Será sem dúvida uma boa estratégia de marketing, mas usada em demasia tem o efeito contrário (tantas vezes se diz "que vem aí o lobo, que quando este vem já ninguém acredita"). A integridade dos ecossistemas é fundamental para a economia, mas esta baseia-se em factos e não em mitos.
A questão essencial para o ambiente não é nem a falta de reflexão e pensamento nem a falta de regulamentação, mas sim a incapacidade de transformar os caminhos formulados, de sociedade e não apenas económicos, em acções que mobilizem e tenham impacto positivo nas aspirações das pessoas. Como conseguir estar nos sonhos e propósitos daqueles que apresentam energia para a mudança. O que falta não são conceitos e planos, mas sim projecto.
Ninguém em princípio aspira a viver num mundo onde os fundamentos ecológicos de segurança e prosperidade estejam em causa e portanto neste aspecto podemos dizer que existe uma igualdade entre os cidadãos e que não está em causa a influência que o universalismo tem nas causas ambientais. Contudo, subjacente a este pensamento existe frequentemente a crença no progresso, ou seja, que no fim uma nova ordem social e política mais justa e fraterna aparecerá se incluirmos os valores ambientais (entre outros) nos padrões económicos porque nos regemos.
Ora, a economia é antes de mais o reflexo de como os quase dez biliões de seres humanos do planeta tentam sobreviver e terem uma vida melhor. Logo a luta por interesses, por vantagens e pelos poderes localmente estruturados é determinante. O mundo é profundamente desigual e tem sido esta desigualdade (que não é sinónimo de falta de ética) o motor da civilização, pelo que a liberdade não é asséptica e depende sempre da percepção dos actores e da envolvente em que se movem, ou seja, o local continua a ser determinante mesmo numa época de globalização.
Muito do que se conseguiu em termos ambientais esteve e está associado a um novo paradigma comportamental onde a responsabilidade sobre as consequências ambientais das nossas acções é assumida voluntariamente. Hoje, dificilmente por regulamentação e taxação apenas sem uma globalização da responsabilidade se caminhará para um desenvolvimento sustentável. O exemplo do mercado de carbono, essencial ao combate às alterações climáticas, nasceu e consolidou-se como projecto voluntário de responsabilidade ambiental e social e não como fruto de regulamentação.
As causas ambientais sérias e estruturadas há muito que perceberam que uma das suas forças é a racionalidade dos argumentos, a sua base científica e a ligação destas com a decisão política. Só para dar um exemplo, que todos conhecemos, basta referir que sem esta lógica já não existiria Rede Natura na Europa. Contudo, em muitas situações por idealismo em excesso, na minha opinião, a “crendice” e a falta de razão empírica são exploradas como argumento. É o mundo que irá acabar já amanhã por sobreaquecimento, ou a fome que se irá instalar se não actuarmos rapidamente nos sistemas de produção de alimentos, ou os oceanos que se irão transformar em locais sem vida já na próxima década (o exagero é meu e propositado). Será sem dúvida uma boa estratégia de marketing, mas usada em demasia tem o efeito contrário (tantas vezes se diz "que vem aí o lobo, que quando este vem já ninguém acredita"). A integridade dos ecossistemas é fundamental para a economia, mas esta baseia-se em factos e não em mitos.
A questão essencial para o ambiente não é nem a falta de reflexão e pensamento nem a falta de regulamentação, mas sim a incapacidade de transformar os caminhos formulados, de sociedade e não apenas económicos, em acções que mobilizem e tenham impacto positivo nas aspirações das pessoas. Como conseguir estar nos sonhos e propósitos daqueles que apresentam energia para a mudança. O que falta não são conceitos e planos, mas sim projecto.
2 comentários:
João Menezes: "Será sem dúvida uma boa estratégia de marketing [a crendice e a falta de razão empíricas quando exploradas como argumento], mas usada em demasia tem o efeito contrário". E eu acrescento, e usada sem ser em demasia, não deixa de ser desonesta, ainda que o possa ser inconscientemente.
No fundo, secar o discurso de uma verdadeira "religiosidade" de que algum pensamento ambientalista é fértil.
Óptimo post, João.
Gonçalo Rosa
Gonçalo, Obrigada. Sim, pode ser fruto de algum idealismo. Mas tens razão, se consciente não eixa de ser uma forma de desonestidade. JM
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