Olympus Mons sugeriu, há já algum tempo, quando este blog parecia um blog sobre alterações climáticas, que analisasse uma conversa de comadres que eu já tinha lido há algum tempo.
Demorei algumtempo a pegar nisto, não só por ter outras prioridades mas porque realmente já tinha lido a história e francamente não me interessava por aí além.
Mas o prometido é devido e aqui fica.
A alegação é a de que os famosos emails demonstravam uma deturpação do processo de peer review por parte de um "team", como o apelidam as putativas vítimas.
Convém ter em atenção que o artigo científico em causa era uma segunda tentativa de demonstrar o mesmo que já tinha sido dito uns anos antes (embora desta vez de forma mais limitada dada a crítica fundamentada a que tinha sido submetido o primeiro artigo com o mesmo tipo de alegações).
Vejamos os factos essenciais.
Em 5 de Dezembro de 2007 o artigo em causa é publicado on-line e só 11 meses depois é publicado em papel, no mesmo número onde é publicado um outro artigo que pretende rebater o primeiro.
Sobre isto convém dizer que qualquer director de jornal (e as publicações científicas são também publicações com objectivos de comunicação com o seu público) se pela por ter uma polémica a decorrer no seu jornal, portanto até aqui nada de novo.
A 30 de Novembro de 2007 (uma semana antes da publicação on-line) um jornalista manda as provas para alguns cientistas. Também aqui nada de novo: é normal os jornalistas terem informação previamente (muitas vezes com embargos de publicação até uma altura definida) e é normal que procurem suscitar o contraditório.
Alguns dos cientistas envolvidos acham o artigo muito mau e irritam-se com o facto de uma revista importante de climatologia o ter publicado. Independentemente de quem tem razão, este tipo de opiniões não é crime nenhum e acontece todos os dias.
Os cientistas que estão convencidos de que o artigo nunca deveria ter sido publicado por ter opções indefensáveis (esta é a sua opinião, e não discuto se é certa ou errada) procuram definir qual a melhor forma de responder e repôr o que acham que é a verdade. Normal, nada de novo.
Há depois uma troca de mails em que transparece uma certa proximidade entre o editor e os cientistas (inevitável dado serem investigadores de topo da área da revista) e em que os ditos cientistas pretendem criar uma posição mais favorável para o seu paper de resposta. Tenho dúvidas sobre a elegância deste procedimento mas não vejo nenhuma entorse fundamental do processo de peer review (o que existe sim é uma preocupação com prazos para que os dois papers sejam publicados em igualdade de circunstâncias na versão papel da revista. Como digo tenho dúvidas sobre a forma como este objectivo é perseguido, dúvidas no campo da ética, mas tenho poucas dúvidas de que coisas semelhantes se passam todos os dias neste mundo).
Tenho sobretudo dúvidas sobre a actuação do editor em alguns passos, incluindo o facto de não informar os autores do primeiro paper sobre o que está a acontecer, mas é muito forçado transformar estas eventuais falhas do editor da revista num problema de manipulação de dados e do processo de publicação por parte do dito team.
Francamente a maior parte do artigo do American Thinker que Olympus Mons me pede para comentar é uma conversa de comadres sem qualquer relação com a suposta "fabricação" de dados científicos: em nenhum momento esteve em causa a publicação do primeiro artigo (excepto o facto de ter sido rejeitado noutras revistas, mas isso acontece todos os dias e é a vida). Pelo contrário, apesar de rejeitado noutros lados foi possível publicá-lo, demonstrando que o sistema tem escapatórias suficientes.
E em nenhum momento o team foge ao confronto científico, pelo contrário, vai ao encontro dele escrevendo um artigo para rebater o primeiro.
O mais curioso que os mails demonstram é que apesar do team entender que o paper nunca deveria ser publicado ele efectivamente foi publicado.
Se há coisa que fica demonstrada é que não é verdade que o team tenha capacidade para sufocar a divergência.
henrique pereira dos santos
4 comentários:
.. The most difficult thing for a scientist in the era of Climategate is trying to explain to family and friends why it is so distressing to scientists. Most people don’t know how science really works: there are no popular television shows, movies, or books that really depict the everyday lives of real scientists; it just isn’t exciting enough. I’m not talking here about the major discoveries of science—which are well-described in documentaries, popular science series, and magazines—but rather how the process of science (often called the “scientific method”) actually works.
The best analogy that I have been able to come up with, in recent weeks, is the criminal justice system—which is (rightly or wrongly) abundantly depicted in the popular media. Everyone knows what happens if police obtain evidence by illegal means: the evidence is ruled inadmissible; and, if a case rests on that tainted evidence, it is thrown out of court. The justice system is not saying that the accused is necessarily innocent; rather, that determining the truth is impossible if evidence is not protected from tampering or fabrication. ..
.. Climategate publicly began on November 19, 2009, when a whistle-blower leaked thousands of emails and documents central to a Freedom of Information request placed with the Climatic Research Unit of the University of East Anglia in the United Kingdom. This institution had played a central role in the “climate change” debate: its scientists, together with their international colleagues, quite literally put the “warming” into Global Warming: they were responsible for analyzing and collating the various measurements of temperature from around the globe and going back into the depths of time, that collectively underpinned the entire scientific argument that mankind’s liberation of “greenhouse” gases—such as carbon dioxide—was leading to a relentless, unprecedented, and ultimately catastrophic warming of the entire planet. ..
JP Costella
Caro Anónimo,
Aconselho-o a ler o post sobre o costela e o que ele diz. Procure neste blog escolhendo a palavra exemplar.
E já agora investigue quem é o costela (é um dos loucos envolvidos em teorias da conspiração sobre o assassinato de Kenedy, entre outras coisas).
Francamente, não há referências um bocadinho mais sólidas que a Maya ou o professor Karamba?
henrique pereira dos santos
O problema é que existem muitos Costellas a afirmar o que ele afirma, muito antes do sopro dos emails, e não é por isso que as interpretações do HPS têm mais credibilidade que as deles, relativamente ao presumível complot.
Quanto à falta de ética daquele grupo de cientistas não há sequer matéria passível de interpretação.
Caro Anónimo,
Se vamos pela quantidade, há muitos mais que dizem o contrário do Costella. Só que isto não é nenhum sporting benfica, é preciso olhar para os argumentos.
E sobre isso o caro anónimo, tal como o costella, tal como douglas nesta conversa de comadres entretêm-se a fazer mais juízos de valor que a discutir os factos.
Repare que no texto citado no blog não há uma única linha a explicar por que razão o tal artigo publicado a contraditar o de Douglas et al está errado.
E no entanto há, noutros lados, várias demonstrações de que os autores que se queixam de ser uns perseguidos, perante dados contraditórios, escolheram conscientemente os que suportavam o seu ponto de vista prévio.
Se é de ética que estamos a falar (e não da consistência científica das várias teorias em confronto, que é o que interessa politicamente), penso que ficamos conversados.
henrique pereira dos santos
Enviar um comentário