segunda-feira, janeiro 25, 2010

Fabricar caro ou importar barato?

neste post me tinha referido ao facto da importação de electricidade implicar menos custos que a sua produção a partir de eólicas (em rigor com quase todas as outras fontes também, em grande parte do dia), pelo menos aos níveis actuais dos preços de petróleo.
Acho que vale a pena discutir isso, clarificar isso, não embarcar na propaganda de que se pouparam não sei quantos milhões em importações quando de facto se gastou mais para produzir a mesma quantidade de energia.
Mas também acho que vale a pena combater a ideia do outro extremo de que se está perante um absurdo mais que demonstrado e coisas que tal, como faz o ciência não é neutra.
Há um preço, convém defini-lo com clareza, trocamo-lo por um almoço e o que temos a discutir é se o almoço vale o preço, com racionalidade e frontalidade.
A demonstração (pelo menos é assim que o seu autor lhe chama) do absurdo eólico é feita com base em preços de uma situação concreta que o autor extrapola com base em inferências mais que duvidosas, usando correlações climáticas escandinavas, por exemplo, usando dias concretos para tirar ilações gerais e coisas do género.
Não pretendo demonstrar que o autor da demonstração está errado.
Só pretendo expor dúvidas sobre os seus cálculos, deixando aqui dois gráficos e uma figura: o primeiro gráfico compara a situação demonstrativa usada (um dia concreto, a azul) com a média dos preços ao longo do ano (para ver a sua representatividade), o segundo dá uma visão dos preços spot de todo ano de 2009 e mais uns dias de 2010 (os dias mais próximos estão à esquerda, como a situação dita representativa, o dia 1 de Janeiro de 2009 está à direita) para se ter a noção do que representa a situação que se pretende demonstrativa e a figura mostra a situação das albufeiras em Dezembro de 2009, que se pretende que seja demonstrativa da tal situação absurda, quando na verdade está bastante acima da média.
Volto a repetir, são dúvidas de ignorante.




henrique pereira dos santos

6 comentários:

Anónimo disse...

o post ficaria mais claro se fossem adicionadas legendas completas a cada uma das figuras. nomeadamente sobre as fontes!!

Henrique Pereira dos Santos disse...

A fonte dos dois gráficos é o site da REN que tem uma parte sobre o mercado. O desenho das albufeiras vem direito do site do INAG.
De facto se eu gastassse mais tempo talvez conseguisse umas coisas melhores, com mais legendas e etc. mas realmente não tenho muito mais tempo para dedicar a isto.
Clicando nas figuras aumentam e dá para ver melhor, acho eu.
henrique pereira dos santos

Pinto de Sá disse...

Caro Sr. Henrique Santos,
Proponho-lhe um pacto de civilidade nos nossos debates, antes de comentar este seu post. Se concordar, poderemos trocar muitas ideias interessantes, depois.
As correlações entre o vento e o consumo, entre o vento e a chuva, e entre o vento e os preços de mercado spot, são probabilísticas. Usar um caso particular, que foi o que eu fiz como "demonstração", arrisca-se ao confronto com outro caso particular contraditório, como bem nota. Na verdade, só um estudo estatístico, ou mais exactamente e neste caso, estocástico, permitirá uma avaliação séria da questão.
Eu não fiz esse estudo. Mas, como notei no meu blog, NINGUÉM fez esse estudo. Nem em Portugal, nem em parte alguma do Mundo porque o problema não se coloca noutros lados - a não ser em Espanha, que também não prima como modelo europeu de desenvolvimento.
O excesso pontual de produção eólica é inerente à sua natureza intermitente e claro que se coloca noutras regiões com grande penetração dessa forma de energia, como a Dinamarca e o norte da Alemanha - e a Espanha. Mas a pequena Dinamarca e o norte da Alemanha estão no centro da Europa, com fortes ligações eléctricas a vários vizinhos, e podem por isso "passar" o problema a terceiros sem grandes inconvenientes. Já a península ibérica constitui uma "ilha" eléctrica, dadas as fracas ligações a França, e por isso a Espanha tem problemas similares aos nossos; como resolve ela o problema? Desligando as eólicas! Para o que previu meios técnicos e contratuais de o fazer. E nós não!
Acresce a esta nossa falta de previsão técnica o facto de só termos um vizinho "eléctrico" e que, ainda por cima, tem os mesmos problemas que nós nas mesmas alturas (a Alemanha em caso de aperto apoia-se na França, que não sofre desse tipo de problemas).
Entretanto, como disse, estas coisas só podem ser analisadas com rigor no âmbito de estudos estocásticos de longo prazo, ou seja, de planeamento. Que ninguém fez, e como disse não o fizeram porque nem sequer o problema foi alguma vez tratado com rigor em parte alguma! São os custos da inovação...
Pode-se, porém, usar alguns dados para elaborar um estudo desses. Um dos dados importantes é o conhecimento das médias e variâncias do vento e da água nos rios para séries de, digamos, pelo menos 10 anos. Do vento não temos porque as nossas eólicas têm menos de 10 anos, e foi por isso que usei os dados da Dinamarca - porque tendo ela uma velha tradição na matéria, dispõe desses dados. Aliás, foram os únicos que encontrei na Associação Europeia de Energia eólica (EWEA), de onde os tirei...
Da água dos rios, isso temos. Por exemplo, há pouco estive a estimar as estatísticas da nossa produtibilidade hidroeléctrica, e o valor médio de potência gerada na última década foi de 1265 MW, mas com um desvio padrão anual de 30%! Ora o problema é a evidência empírica de uma forte correlação entre o vento e a chuva!
Quanto aos preços: também há uma (infeliz) correlação probabilística. O perfil diário de preços é estocástico mas razoavelmente determinado: são mais altos nas horas de maior procura, e menores nas de menor, que é sempre de madrugada. Infelizmente o vento também sopra mais, probabilisticamente, de madrugada. E a temperatura ambiente também tem uma correlação com o consumo energético (o consumo é mínimo para temperaturas entre os 16 e os 21ºC, obviamente por causa da climatização), e a temperatura com o vento e a chuva...
O que eu penso é que tudo isto devia ser estudado antes de se avançar com "inovações" cujos erros são pagos, e muito, pelo consumidor e/ou contribuinte! Em vez de se substituir a Ciência pela ideologia e pela propaganda.
Cumprimentos!

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Pinto de Sá,
Bem vindo.
Só para esclarecer um comentário no outro post, quando classifico o seu blog de nuclearista não é, evidentemente, com o intuito de o insultar pela simples razão de que ser nuclearista não é insulto nenhum. É uma posição como outra qualquer.
Pelos vistos afinal estamos de acordo: é preciso clarificar o que se está a pagar e com que objectivos nas renováveis.
Ainda bem. Confesso que ao ler os seus posts não é essa a impressão com que se fica, mas pelos vistos é só um problema de comunicação.
Não tenho a certeza de que ninguém tenha feito estudos, penso que o INEGI tem feito bastantes, mas estamos de acordo na necessidade de maior acesso à informação pro parte do público.
henrique pereira dos santos

Pinto de Sá disse...

O INEGI?
Não, não fez nenhum estudo desses. Num post citei aliás um paper muito recente publicado na melhor revista mundial da especialidade e que pela primeira vez toca no assunto, mas ainda sem correlacionar os regimes de ventos e de chuva; ora esse paper é do Peças Lopes, meu colega da FEUP e grande protagonista da nossa política eólica (presidiu às comissões que atribuíram os pontos de injecção). Conheço-os muito bem e há muito.
É como lhe digo: esses estudos nunca foram feitos "lá fora", nem sequer enunciados pelos académicos, quanto mais por especialistas de terreno que têm pressões de prazos e de recursos e que se limitam, na melhor hipótese, a estarem a par do que os académicos fazem, e as mais das vezes apenas das ferramentas disponíveis no mercado.
Aquele quadro em inglês que postei, que sublinha a correlação entre vento e chuva, é de Inglaterra e de uma empresa de consultoria, não é académico. E apenas se limita a enunciar o problema...
E eu falo assim porque tenho muito orgulho em somar a 30 anos de academia uns 20 de colaboração com a nossa indústria a fazer I&D, e não comércio. Mas este assunto nem é da minha especialidade, e de qualquer modo as autoridades preferem gente que diga normalmente amen, que é algo que os regionalistas do Porto não se importam de fazer se lhes derem a mínima oportunidade de serem considerados em Lisboa, mas que não é obviamente o meu caso... :-)

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Pinto de Sá,
A sua questão, se bem o percebo, é que haverá situações em que coincidirá o máximo armazenamento nas albufeiras, fará vento e estará a chover.
A correlação entre vento e chuva haverá em parte, mas eu diria, pura intuição, que a situação tenderá a ser muito diferente na escandinávia e em Portugal.
Entre outras razões pela irregularidade inter anual da chuva que faz com que as nossas albufeiras estejam no seu máximo de armazenamento muito poucos dias por ano (e em muitos anos isso quer dizer nenhum).
Se for aqui http://www.centrodeinformacao.ren.pt/PT/publicacoes/EnergiaEolica/A%20Energia%20Eólica%20em%20Portugal%20-%202008.pdf
tem o gráfico da produção diária eólica ao longo de 2008 e facilmente verificará que sendo muito irregular (o que está identificado como um dos problemas da eólica há tempso sem fim), dificilmente conseguirá ter um diagrama de precipitações ao longo do ano sobreponível.
Se como disse, juntarmos a isso capacidade de armazenamento em muitos dias, rapidamente percebemos que o problema de levanta, sendo necessário analisar com mais detalhe, dificilmente será um problema de primeira grandeza na gestão da produção de energia.
Pode haver melhores soluções que as actuais?
Sim, provavelmente, mas daí a pôr em causa toda a lógica de produção eólica vai um passo grande demais para a minha perna.
Sem prejuízo de estar de acordo consigo no facto de ser excessivo o voluntarismo das nossas políticas energéticas e ser errada a prevalência da opção pela produção renovável face à eficiência energética (que ao contrário do que diz me parece que tem um grande campo de aplicação, sobretudo se incluirmos a água quente solar nesse rol).
henrique pereira dos santos