domingo, janeiro 24, 2010

Neutro, seguramente não, ciência, talvez



O blog nuclearista A ciência não é neutra é um blog a que vou de vez em quando aprender umas coisas.

Vou menos do que iria se não tivesse alguma dificuldade em lidar com pessoas que insultam os outros com a maior das facilidades mas demonstram uma hiper-sensibilidade à menor crítica que lhes seja feita.

Como acontece com a generalidade dos nuclearistas, a crítica às energias renováveis é uma constante. É uma crítica muitas vezes justa, e partilho com aquele blog alguma apreensão pela ideia instalada de tudo o que é renovável é bom e o que é preciso é andar (talvez por ouvir no fundo dessa argumentação o eco do para Angola em força que a pátria não se discute, agora substituído por renováveis).

Também acho que é preciso discutir o preço dessa política e tenho poucas dúvidas de que na sua base não está qualquer preocupação ambiental mas sim o facto das renováveis serem um meio fácil de captar investimento sem aumentar o défice. E embora com algum prejuízo da competitividade, a política compensa porque isso da competividade é coisa mais difícil de dar por ela e pode sempre dizer-se que são os empresários que são maus.

Mas o conjunto de posts sobre o facto de pontualmente se estar a produzir energia a um preço de 9 cents o kWh e a entregar de graça a Espanha merece alguns comentários de um ignorante como eu, que não comento lá no sítio dada a tendência do dono do blog se sentir insultado por dá cá aquela palha.

O essencial da questão é que em algumas alturas chove muito, venta muito e há pouco consumo. Nessas alturas, como o comprador está obrigado a comprar toda a electricidade eólica produzida, ele é obrigado a entregá-la em qualquer lado. Como não há consumo suficiente em Portugal, entrega ao lado. Mas como ao lado estão com o mesmo problema, e não precisam da energia, aceitam-na, mas de graça.

Onde começam as minhas perplexidades?

Em primeiro lugar no facto do autor do blog deixar entender que toda essa energia está a ser produzida a 9 cents por kWh, o que me parece que não será bem assim porque aqui estará incluída alguma energia produzida de outra forma (hídrica, por exemplo).

Depois, porque daria a impressão de que durante todo o tempo em que isso acontece a exportação seria a custo zero (enfim, num post mais à frente lá se fala da exportação em horas de cheio, que será a 5 cents, e há pelo meio um diagrama que mostra variações diárias).

Também não percebo por que razão se escolhe como diagrama demonstrativo um que diz respeito a um Domingo.

E tenho ainda dificuldade em perceber como se tiram conclusões gerais de uma situação particular (todos os dias há produção de muitos outros bens que não se vendem, desde bilhetes de avião, a quartos de hotel a outros menos perecíveis, como bananas), em vez de se fazer a análise global da questão.

Reparo ainda, que com certeza por distracção, quando se demonstra a correlação entre precipitação e vento se esquece a frase final do gráfico: essa correlação é particularmente verdadeira para barragens sem albufeira. Claro que pegar em correlações climáticas escandinavas e aplicá-las em Portugal é um detalhe, no meio disto tudo, incluindo essa coisa da irregularidade das chuvas nas nossas condições, que faz com que haja muitos anos em que faz vento, chove, mas ainda assim muitas albufeiras (que muitas vezes são de regularização inter-anual) estão muito menos que cheias.

Enfim, estou de acordo na necessidade de discutir o preço da política das renováveis (nomeadamente face à apatia perante a eficiência energética), estou de acordo na necessidade de introduzir racionalidade económica e etc..

Mas quando vejo tantas coisas a levantar-me dúvidas sobre a forma como um nuclearista lida com as renováveis fico com a sensação de que talvez as renováveis sejam mais competitivas do que parece à primeira vista, sobretudo face ao nuclear.

Mas isto é um ignorante a falar, claro.

henrique pereira dos santos

7 comentários:

Eduardo Freitas disse...

Caro Henrique Pereira dos Santos,

Compreendo a sua "oportuna" intervenção tento em conta a notícia no Expresso de sábado passado.

Registo, de igual modo, que apode alguém como nuclearista pelo simples facto de esse alguém pretender discutir um assunto sério.

Nada mais há a comentar após esta constatação, Mr. George Monbiot aka Henrique Pereira dos Santos.

E, sim, trata-se de um comentário "ad hominem".

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Eduardo,
Normalmente não leio o Expresso, mas vi de facto a chamada de primeira página. Como se quiser pode verificar eu já tinha comentado, há bastante tempo, no próprio "a ciência não é neutra",perguntando por que razão haver perdas pontuai no negócio energético era assim tão escandaloso.
Tinha intenção de escrever sobre isto há algum tempo (e tenho também intenção de escerver mais um ou outro post, se me der licença, sobre esta questão que me interessa, como pode ver nos arquivos da Ambio).
Quanto ao nuclearista (foi ao blog que chamei nuclearista) não é nenhum insulto, é uma caracterização. Posso escrever defensor do nuclear, é igual. E isso para mim não diminui ninguém.
Escreva comentários de manhã que vai ver que a essa hora as conspirações e as agendas ocultas se desvanecem mais facilmente.
henrique pereira dos santos

Pinto de Sá disse...

Tendo encontrado agora este post (peço desculpa mas raramente consulto blogs alheios - sou bloguista só em part-time) permita-me que lhe note que embora pense que me chamou nuclearista com o intuito de me insultar, o insulto não me incomoda. É um insulto porque não encontra em parte alguma do meu blog a defesa do nuclear. O que encontra é a violação do tabú sobre o nuclear, e quem considera isso a defesa do mesmo caracteriza-se a si próprio.
De facto, no post em que discuto a instalação do nuclear em Portugal sou muito claro em opinar que não considero que o país tenha categoria para isso. Não tem conhecimentos, não tem tecnologia, não tem planeamento nem, sobretudo, tem hábitos de gestão de obras e ética que permitam garantir que a construção de uma nuclear se pudesse fazer com o rigor e a competência que são indispensáveis a que seja uma solução segura e económica.
Agora, é um facto que não tenho nenhum preconceito contra o nuclear. Mas também não tenho contra as renováveis. Quem ler os msus posts sobre as mesmas constatará que o que me custa na política nacional quanto às eólicas é não se ter atempadamente acautelado o desenvolvimento de tecnologia própria no assunto. Seria completamente a favor de que se subsidiasse as eólicas, ou até o solar, se isso correspondesse à "amamentação" de uma indústria nacional com potencial exportador. Que é precisamente a razão de ser das subsidiações na Dinamarca, na Alemanha e até em Espanha. Tenho isso claro no meu blog.

Anónimo disse...

Caro HPS,
Não o conheço e por isso provavelmente vou dizer um disparate, mas este texto não faz nada o estilo de texto que tenho lido da sua autoria. O PS tem o cuidado de citar as fontes colocar os números, e explicar as contas que faz antes de apresentar as suas interpretações. Isso é manifestamente mais do que o que leio 99,9% das vezes sobre o AGW incluindo no AMBIO. O blog não é de ciência profunda – nunca vi por lá as equações de Maxwell, mas é indiscutivelmente de divulgação científica e dos bons, como o AMBIO é quando fala de ecologia...
Relativamente à energia nuclear não percebo a sua aversão a esta solução técnica de produção de energia. Tem dados sobre quantas mortes ocorreram em cada um dos diferentes sectores de produção de electricidade nos últimos 40 anos? A quantidade de lixo produzida em cada um deles? Os impactes e impactos de cada um deles? Devemos ser contra a energia nuclear mas a favor dos processos de diagnóstico clínicos que utilizam radioactividade? (E já agora: devemos preocupar-nos em saber em que condições estão instalados todos os aparelhos de «raios x» por este Portugal fora?) Devemos considerar esta aversão à energia nuclear uma fobia ou um problema de Fé? Não me fale de resíduos por favor, que a produção de pás para as eólicas originam muito mais lixo que um reactor nuclear. Mas agradeço que sugira alguma ideia para a produção de água potável para a metade do mundo que dela precisa – e onde vive muito mais do que metade da população do planeta...
Já agora 1: não entendo que a energia nuclear seja uma solução para Portugal (país da cunha, do compradio, da corrupção e da incompetência – com «engenheiros» da categoria daquele em que estou a pensar à solta na sala de controlo da Central Nuclear teríamos ao vivo uma versão do pesadelo em elm street).
Já agora 2: não me pareceu apropriada a forma como o PS no seu blog se referiu ao MBA.
Obrigado pelo espaço e cumprimentos

Henrique Pereira dos Santos disse...

Para além da questão dos resíduos (e o que esta em causa não e a quantidade, é a sua natureza), penso que responde à sua pergunta sobre a energia nuclear ao enunciar as razões pelas quais não acha que em Portugal se possa ter energia nuclear: o risco é muito elevado e depende sempre do erro humano que é impossível eliminar.
A questão não é o que aconteceu mas sim o que, embora pouco provável, pode acontecer.
Eu não estou disponível para correr esse risco enquanto me parecer que existem alternativas mais interessantes (incluindo algum empobrecimento).
Eu não sou cientista e apenas fiz perguntas neste post. Uns dias depois concretizei mais algumas questões, embora não sobre a questão nuclear.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

assistiu-se em Portugal a uma propaganda anti energia nuclear que resultou no medo generalizado na população ... mas ninguém alertou com a mesma veemência para os riscos confirmados da radioactividade natural, pelo que é pertinente perguntar:

sabe-se quantas mortes já aconteceram devido aos elevadíssimos níveis de radão (radioactividade natural) nas cidades e aldeias deste país já identificadas em diversos estudos?

porque não se tomaram as devidas medidas preventivas nas habitações sujeitas a estes elevados níveis (ventilação)?

Anónimo disse...

realmente é o país (pessoas) que temos :-(