Li este artigo no público on line.
E mesmo procurando ter alguma contenção na crítica à actuação em áreas que foram da minha responsabilidade há pouco tempo não consegui deixar de fazer um post referindo o que me parecem ser dois ou três equívocos.
O primeiro e principal equívoco da Sr.ª Ministra do Ambiente é considerar que a prioridade do Ano Internacional da Biodiversidade é sensibilizar o cidadão comum.
Na verdade é muito interessante ver a diferença entre estes dois parágrafos:
"“Não queremos que (a biodiversidade) continue a ser uma preocupação de elites técnicas, queremos que desça ao cidadão porque temo-nos dado conta que mesmo técnicos de outras áreas olham para a biodiversidade com desconhecimento”, disse Dulce Pássaro."
O Secretariado da Convenção da Diversidade Biológica tem razão (e apenas para poupar espaço não transcrevo mais, deixando o link para quem se queira informar). Públicos-alvo, sensibilização política, colaboração com parceiros, avaliação de resultados e um relatório à Assembleia Geral das Nações Unidas fazem uma enorme diferença para distribuição de pequenos jornais em postos de abastecimento de combustível, workshops, guias de biodiversidade para cada área protegida, e por aí fora.
Na realidade o problema não é apenas, nem sobretudo, a sensibilização do cidadão comum, muito menos com pequenos jornais amadores, sem profundidade e objectivos definidos, a distribuir profusamente, mas sim a sensibilização, talvez, mais mais que tudo os compromissos pela biodiversidade do Sr. Ministro da Agricultura, do Sr. Ministro da Economia, do Sr. Ministro das Finanças e, acima de todos, do Sr. Primeiro Ministro.
O problema não são os workshops que o ICNB fará, o problema seria saber o que se pretende que todos os outros façam, incluindo os cidadãos comuns e as suas organizações. O problema não é fazer edições e publicações, o problema é saber para quem, porquê e com que objectivo.
O ICNB tem um programa de comunicação e visitação das áreas protegidas que pretendia passar das redacções infantis "o lobo é muito importante, não devemos matar lobos" e por aí fora para um contacto directo das pessoas com as áreas protegidas, os seus dilemas, as suas opções de gestão. Mas ainda assim parece que se vai esquecê-lo para de novo inventar a roda fazendo publicações a esmo, sem objectivo e com custos reais que, evidentemente, retiram recursos à principal função do ICNB: gerir a biodivesidade.
Confesso o meu cansaço.
E sobretudo a minha falta de esperança: os mesmos erros, da mesma forma, mais ou menos pelas mesmas pessoas, com os mesmos custos, outra, e outra, e outra vez, como se fosse impossível aprender e mudar.
Como é evidentemente possível aprender e mudar, isto só pode ter uma interpretação, infelizmente bastante negra: não se quer mesmo mudar, e já que politicamente não se pode varrer para baixo do tapete o Ano Internacional da Biodiversidade, vamos lá fazer um programa de festas para entreter para ver se ninguém nota que realmente a biodiversidade é assunto politicamente inexistente.
Essa é a opção clara e consciente deste Governo. E funciona, dado o baixo grau de escrutínio e capacidade crítica que demonstramos.
henrique pereira dos santos
2 comentários:
Se estas fantochadas resultassem, eventualmente seria atingido o objectivo de um governo preocupado com a biodiversidade, pela via do voto. O que seria paradoxal.
Mas como o objectivo é a fantochada em si, não há esse risco. Nunca houve e é também por aí que morrem as teorias da conspiração do "aquecimento global", porque não há políticos a ganhar eleições em parte nenhuma do Mundo, apelando para a conservação do que quer que seja ou redução de coisa alguma.
Assim sendo, concordo 100% com o post. Só sensibilizando elites (ou "elites") com poder e poder executivo em particular é que se pode esperar algum resultado prático relativamente à biodiversidade.
O que se avizinha é mais um delapidar criminoso de escassos recursos. JRF
O discurso na ministra é demagogo e cínico.
Como é que alguém que lidera o maior processo de destruição deliberada da biodiversidade pode fazer um discurso de preservação da biodiversidade?
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