quarta-feira, março 10, 2010

Lei, talvez, justiça, nenhuma

“Arranjem lá um grupo e corram-nos à pedrada. A sério! Nós queremos gente que nos ajude e que não obstaculize o desenvolvimento. Estou a medir muito bem o que estou a dizer.”
Isto foi o que disse o Presidente da Câmara de Viseu em resposta a um Presidente de Junta que se queixava de ter sido autuado por vigilantes da natureza por violação da legislação ambiental.
No tribunal de Viseu Fernando Ruas, também presidente da Associação Nacional de Municípios foi condenado. Na relação de Coimbra foi agora absolvido.
Tanto quanto percebi ter-se-á entendido que o facto de Fernando Ruas, em resposta a uma pergunta de um membro da oposição ter dito que falava em sentido figurado quereria dizer que o que está acima transcrito não era uma incitação à violência.
Eu, que não sou jurista, não sei se o tribunal julgou bem ou mal, de acordo com a lei.
O que sei é que fui ameaçado várias vezes, directa e indirectamente, quer dizendo-me compassivamente alguns que se desse mais um passo no sentido das pessoas que estava a fiscalizar levava um tiro (que evidentemente nunca chegou), até aos meus amigos que me diziam, para meu bem, que tivesse cuidado que nas pedreiras havia muitos acidentes, que as máquinas podiam sempre ficar sem travões, tive os pneus de um carro do PNSAC que estava à minha porta (a vários quilómetros da sede do parque) cortados e tinha um bala na parede do meu gabinete, disparada algures a meio da noite (evidentemente não era para atingir ninguém, era assim uma espécie de reinação, mas por acaso dirigida à sede do PNSAC, onde trabalhavam várias pessoas que faziam fiscalização de pedreiras).
Perante este tipo de coisas uma palhaçada como a de Fernando Ruas é evidentemente um mero sinal do que vai naquela cabeça, ou melhor, do que faz falta naquela cabeça.
Mas há uma distinção que é preciso fazer: as pessoas que eu fiscalizava tinham por vezes ordem para encerrar as pedreiras, ou pelo menos para as encerrar se até uma altura determinada não resolvessem os problemas legais que tinham. Isso significava acabar com o seu ganha-pão e, muitas vezes mais complicado, o ganha-pão dos seus empregados. É fácil compreender reacções como muitas das que vi quando é isto que está em causa; Fernando Ruas não tinha nada de essencial em causa e é um servidor público, não há nada, rigorosamente nada que possa justificar não só o que ele disse, mas a verdadeira atitude que o que ele diz traduz.
Fernando Ruas, com o que disse, demonstrou ser um pulha que merecia umas pedradas. Em sentido figurado, claro.
henrique pereira dos santos

2 comentários:

Francisco Barros disse...

Henrique:
Obrigado pelo recordar de bons (maus?...) velhos tempos!
Já tive à posteriori mais algumas ameaças de morte, mas ainda estou vivo...

Quanto a Fernando Ruas, espero que o Ministério Público não fique a assobiar para o ar e se refaça justiça!!

Francisco Barros (Vigilante da Natureza)

RF disse...

Muito bem HPS

Conte comigo para umas pauladas, em sentido figurado também, claro!