Resultado de uma sementeira biodiversa em Alcácer do Sal
Tenho a sorte de trabalhar numa empresa onde confluem três elementos necessários para poder dar passos concretos na conservação da biodiversidade: gere património rural; reconhece a importância de investir em biodiversidade e cria riqueza suficiente para o fazer (e sem ter de recorrer a financiamento público, claro).
Nos últimos anos tenho liderado vários projetos de restauro de áreas de conservação, alguns mais bem conseguidos que outros. Mas todos me ensinaram coisas relevantes:
1 - Biodiversidade pode ser promovida em qualquer espaço, independente do seu estado de conservação. É preciso ler a paisagem, vegetação e habitats para compreender o caminho lógico de recuperação ou conservação.
2 - Não é preciso muito dinheiro para implementar, com sucesso, medidas que criem condições para o desenvolvimento de valores de conservação. Aliás, até aprendi que escassez de recursos obriga a encontrar soluções mais eficientes logo mais sustentáveis.
3 - A capacidade de recuperação da biodiversidade é espantosa, surpreendente e raramente se compreende em pleno o resultado das ações de restauro ou conservação. Isto torna tão satisfatório o esforço nela e fomenta a ideia que depende sobretudo de nós para termos uma diversidade biológica mais rica ainda.
Orquídea (estou em crer), encontrada no projeto de restauro após intervenção
Salgueiros a surgir em linha de água recuperada
Em textos recentes (post e comentários a posts) poderei ter deixado a ideia que menosprezo os grandes problemas ambientais que estão a acontecer por esse mundo fora, com base em sucessos importantes mas locais. Além de não corresponder à verdade, procurei sobretudo mostrar que há exemplos que mostram a inversão de algumas tendências (mas não todos, lá está) e, mais importante, que a iniciativa local seja o caminho mais construtivo e mais positivo para apoiar a conservação e recuperação da biodiversidade. É minha convicção profunda que são os pequenos projetos locais que, através da sua multiplicação, contribuam com maior eficiência (mais importante que eficácia) à conservação da biodiversidade que projetos megalómanos.
Por fim, oponho-me à corrente fatalista tão em vogue, cujo contributo para a conservação da biodiversidade é pelo menos duvidoso.
A biodiversidade precisa de ação positiva, concreta e simples. É altura de por as mãos na massa.
Henk Feith
sábado, maio 29, 2010
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4 comentários:
É de facto uma orquídea. Do género Serapias, provavelmente a S. lingua ou a S. strictiflora.
Cumprimentos
Muito obrigado pela informação. Se me pudesse explicar como se distingue as duas espécies posso ver se consigo identificá-la numa próxima visita.
Henk Feith
Henk, assino por baixo este teu convite à acção.
Que belo exemplo o que nos apresentas na primeira foto! Trevos semeados - concretamente Trifolium vessiculosum - e indígenas – T. angustifolium - mesclados com uma panóplia de plantas de folha larga - a flor amarela chama-se Parentucellia viscosa e o malmequer Chamaemelum mixtum - e de gramíneas - um Lolium semeado, talvez L. mutiflorum, a conviver com Avena, Bromus hordeaceus e Agrostis salmantica -, em comunidade, todos juntos, a bombear matéria orgânica para o solo, a melhorar a sua estrutura, a sequestrar carbono, a fixar azoto da atmosfera, a dar de comer à micro e macrofauna do solo, e a reparar os erros cometidos no passado por uma cerealicultura depredadora de nutrientes.
Afinal pode ser muito simples, como tu muito bem defendes. O discurso miserabilista em torno da biodiversidade emerge, muitas vezes, de uma interpretação enviesada da estrutura e funcionamento dos ecossistemas, que por sua vez radica na falta de experiência na observação, interpretação e na gestão dos ecossistemas.
Fico tão contente ouvir isto de ti. E a sementeira até foi de borla, porque o Fundo Português de Carbono financia-a (e não é subsídio!) suficiente para pagar os custos, sobretudo porque o pastor local entrou na parceria e assumiu os custos das operações (também vai beneficiar delas, através da alimentação do seu rebanho). Olha, reserva já um dia em maio 2011 para lá ir comigo...
Henk
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