Há já bastante tempo escrevi um post com o título acima, a propósito de um comentário sobre os heróis das ONGs.
Retomo o assunto de uma perspectiva diferente mas partindo de outro comentário neste post:
"Quais são as suas prioridades? Chatear os poucos que ainda vão tentando fazer algum bem.".
É curioso como a crítica é entendida como um mal e não como um contributo para que as coisas corram melhor.
E que seja considerado absurdo criticar "os poucos que vão tentando fazer algum bem".
Vale a pena perder algum tempo a corrigir esta frase demagógica e errada.
Mas antes, respondendo à primeira parte, as minhas prioridades estão claramente elencadas neste post. Aumentar a custódia de território por parte de organizações de conservação. A que posso acrescentar, a democratização do acesso à biodiversidade e à informação sobre ela e aumentar a sustentabilidade das organizações com base na adopção de modelos racionais de gestão e captação de recursos.
Quanto ao resto, em primeiro lugar não é "os" mas "uns". Isto é, "os poucos que vão tentando fazer algum bem" não podem ser confundidos com os ainda muito menos "que vão tentando fazer algum bem" com o projecto que eu critiquei. Há muitas maneiras de ir "tentando fazer algum bem" e algumas dessas maneiras estão erradas. Ou mais precisamente, parecem-me erradas. E devem por isso ser criticadas, independentemente das intenções de quem vai "tentando fazer algum bem". O facto de serem poucos os que "vão tentando fazer algum bem" apenas tornaria mais urgente essa crítica, para que não se gastem os poucos recursos existentes em coisas de que afinal pouco bem resulta, independentemente das intenções de quem vai "tentando fazer algum bem".
Em segundo lugar não é verdade que sejam poucos. E isso é importante tornar claro. Há muita gente que "vai tentando fazer algum bem". O facto de haver alguns poucos que se pretendem erigir como puros promotores do bem, em oposição à generalidade das pessoas, decorre mais do seu sectarismo que da atenção à realidade. Bastaria falar do "Limpar Portugal", do "Banco Alimentar", do "Biodiversity4all", ou das dezenas de pequenas associações que existem pelo país fora para se perceber que ao contrário do que muitas vezes se diz, há de facto muita gente a tentar "fazer o bem" pelo país fora. Numa pequena associação com que colaboro, desde que se adoptou um modelo racional de captação de sócios há pelos menos um sócio por semana a entrar, havendo outras em que há bastante mais.
Em terceiro lugar, seria importante definir melhor o que é "tentar fazer o bem". A generalidade das personalidades mais conhecidas e influentes do movimento ambientalista, ou que apoiam o movimento ambientalista, como Jorge Palmeirim, Francisco Ferreira, Luisa Schmidt e muitos, muitos outros, já foram convidados a "prestar serviço público" assumindo responsabilidades de decisão em organismos públicos que muitas vezes criticam. Pois bem, estes e muitos, muitos outros recusaram várias vezes assumir essas responsabilidades de serviço público. Note-se, é uma opção perfeitamente legítima, não tem nada, absolutamente nada, de criticável. Mas é evidentemente absurdo considerar que quem tenta fazer o bem neste domínio são os que se recusam a ser "civil servants", mesmo que temporariamente, e os que aceitam fazer tudo o que eles fazem (produzir conhecimento, transmitir conhecimento, participar no debate público, voluntariar-se para o serviço comunitário não remunerado e por aí fora) e para além disso ainda correm o risco de aceitar responsabilidades de serviço público, são os malandros sem autoridade moral para criticar actuações concretas, feitas provavelmente com as melhores intenções, mas eventualmente erradas.
Era o que mais faltava.
Heróis somos todos e vidas banais temos todos. Se se quer mobilizar mais gente para "tentar fazer o bem" seria útil não começar por fazer distinções entre os intocáveis e os outros.
Adenda: continuo à espera, mas por via das dúvidas estou sentado, dos esclarecimentos que permitam demonstrar que os projecto criticado tem alguma relevância para a conservação e que não decorre simplesmente da necessidade de financiar o centro de recuperação e reprodução de aves da LPN. E continuo à espera que me digam por que razão a cria em cativeiro não faz parte das acções elencadas nas conclusões dos workshops sobre a conservação da espécie e mesmo assim foi assumida com esta relevância, em detrimento de outras identificadas como prioritárias e mais relevantes.
henrique pereira dos santos
4 comentários:
Mais um excelente post, HPS! Temos as nossas divergências, mas neste post subscrevo cada uma das tuas frases.
Eu se me dessem 250000 euros, garanto-vos que "os poucos que vão tentando fazer algum bem" seriam muitos mais!
E realmente quem não gosta da crítica, e pensam que só os chateiam, só pode estar a viver num regime autoritário, no papel de ditador...
Ecotretas
Declaração de interesses: não tenho interesse nenhum.
Caro HPS uma das razões porque paro cá pouco é porque consigo dá para discutir até ao fim dos tempos... e para lá disso. E por falar em tempo o meu anda escasso. Não é nenhuma crítica, mas é assim que as coisas são.
Acho piada que vá para o meu blogue dizer que trunco ideias e não sei que mais e começa logo por dizer que "a crítica é entendida como um mal". Se calhar são só as suas e aquele e outros posts do mesmo teor, que se estão a tornar a sua grande especialidade. E daí, concluímos que "a crítica é entendida como um mal". Começou bem, mas a mim pareceu uma evidente "truncagem das ideias de terceiros".
Segundo, as suas prioridades estão tão claramente elencadas, que não as percebi. E pelos vistos não fui o único. E uma coisa é elencar, outra coisa é actuar. Considerando as acções no blogue, a sua grande prioridade é fazer tudo que é ambientalista ficar mal na fotografia.
Pela seguinte razão: os projectos parecem-lhe errados (ou as maneiras de ir fazendo algum bem), mas para quem os elabora e quem os aprova, parecem certos. Por alguma razão, o "HPS way", é o certo, o resto o errado. Se forem os caçadores a promoverem a conservação, é o certo. Se for um projecto de biólogos, é o errado. Se for manter um corredor de migração imperturbado é o errado. Se for instalar umas eólicas com uns radares é o certo, mas daqui a dois anos vê-se. Enfim, lembro-me que o vi a discutir argumentos (no sentido de negar) sobre o Abutre-do-Egipto, com um biólogo especialista em Abutre-do-Egipto... é um exagero de debate. Nunca vi ninguém que debatesse tanto. Sempre para o mesmo lado. Sempre a debater. Com o pobre do JRF, nada especialista em nada, é o massacre completo. Debate em duplicado. Ou triplicado. E ainda me chama mesquinho. Depois de fazer uma crítica, essa sim mesquinha, a um projecto de reprodução de Francelhos.
Partilhe lá esse método racional de captação de sócios num post. Isso sim teria interesse. Em vez de tanto debate.
Alguém falou em intocáveis? Eu não. Falei em prioridades. Parece-me outra nítida "truncagem das ideias de terceiros". Escusada.
Por fim, nas imortais palavras de uma "socialite", estar vivo é o contrário de estar morto. Tentar fazer o bem, é mais ou menos o mesmo.
PS: Se as pessoas responsáveis pelos projectos resolvessem esclarecê-lo nas suas dúvidas constantes e perpétuas sobre a relevância de tudo para a conservação de alguma coisa, não faziam mais nada na vida.
Sabe uma coisa Tretas? Quando chegam com a conversa dos ditadores e outras tretas alarves do mesmo calibre, sinto imenso orgulho. O último comentário no meu blogue a propósito da redução dos deputados fala de mofo e mete citação de Salazar. Fico todo orgulhoso, sei imediatamente que estou no caminho certo.
Vê-lo de braço dado com o HPS aqui no Ambio, não me faz inchar de orgulho, longe disso é-me indiferente, mas deixa-me sem qualquer dúvida relativamente à justeza dos meus argumentos. Obrigado por isso. -- JRF
Olá estou começando com um blog sobre meio ambiental, natureza e preservação. Faça uma visita. (http://lutarpelanatureza.blogspot.com)
Obrigado
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