Pôr em causa o papel do sistema bancário, apontar as suas falhas, problematizar a forma como se tornam «mecenas» ou apoiantes aparentes de causas ambientais, é tomado por alguns defensores do ambiente como uma perseguição injustificada ao grande capital. Ou, segundo outros, um subjetivo desgosto pelos bancos, igualmente sem fundamento.
A questão não parece ser gostar ou não gostar de bancos, mas sim o papel que eles têm na atual configuração económica, financeira, política, social e até cultural.
Esse papel possivelmente terá que mudar, ou melhor essa é a discussão mundial hoje mais importante em termos de sistema económico, e bem acesa, de que a imprensa portuguesa não se dá conta de modo satisfatório. Que tem que mudar, é o que se vê expresso na pena de muitos que nada têm de revolucionário ou de inconformista. Analistas consagrados de jornais como o The Economist, representante insuspeito do pensamento económico dominante antes da crise financeira, não dizem outra coisa. Chegam a exigir mudanças «radicais» e uma intervenção das autoridades ditas «reguladores» impensável nos tempos, ainda tão próximos e não de facto desaparecidos, do thatcherismo omnipresente. Não é mudar o que se discute, mas o grau, a profundidade, o sentido e o alcance da mudança.
As críticas rejeitadas por alguns como decorrentes de uma mania ideológica anti-grande capital ou anti-bancos passariam por moderadas perante o que dizem e escrevem grandes mestres práticos da finança, inclusive um George Soros, que foi o inventor de um dos esquemas hoje mais criticados, os hedge funds, e que fez fortuna num ataque especulativo em forma contra a libra. Mas, a lê-lo, os financeiros dessa sua época aliás recentíssima são anjinhos com asinhas ao lado dos jogadores de póquer atuais.
Que há que mudar, raros são os que o negam. Mas mudar para onde?
A oportunidade que pode agora haver, mediante a desorientação e abanão que grassa nos meios dos economistas teóricos e práticos, é que possam emergir finalmente o pensamento e as obras de economistas e cientistas sociais até agora marginais ou desprezados, nalguns dos quais se encontra o fundamento para uma economia que tenha em verdadeira conta a base real da economia «real», base essa que é ecológica-energética.
Georgescu-Roegen e Jeremy Rifkin, por exemplo, e ainda a economia de base cultural como a que segue as pisadas de Karl Polanyi, e toda a chamada economia ecológica (Herman Daly, Joan Martinez Allier, Serge Latouche e o «decrescimento económico»), já largamente presente nalgumas universidades e publicações académicas sem ter no entanto ainda sido escutada por quem tem os cordões da bolsa, metafórica e literal. Também a economia solidária, entre nós representada, entre outros, pela rede de associações de desenvolvimento de base local Animar, pelos Professores Roque Amaro e Luís Moreno, por exemplo, deveria ganhar uma nova visibilidade e importância, se os desatentos políticos e comentadores vierem a aprender com as turbulências atuais.
Richard Douthwaite, James Robertson e outros autores da corrente inspirada em E. F. Schumacher completam e aprofundam esse quadro. A banca é uma instituição humana, e como tal passível de mudança. O papel que vier a desempenhar para uma sociedade que queira resolver os problemas da destruição ecológica, da guerra, da fome e da injustiça social terá forçosamente que ser muito diferente do que hoje predomina.
Existem já numerosas instituições financeiras que apontam o caminho nesse sentido, embora a sua dimensão não seja comparável ao mainstream ou sistema dominante. Mas é bem possível, e já desde 1977 se poderia sabê-lo pelo êxito que teve a famosa obra de E. F. Schumacher, Small is Beautiful mesmo quando rejeitada (por exemplo, pelos que escreviam e escrevem no The Economist!!!), é pois bem possível que o gigantismo do mainstream, inclusive bancário como mostra a atual crise e como já se discute, não seja a solução mas o problema.
A questão não parece ser gostar ou não gostar de bancos, mas sim o papel que eles têm na atual configuração económica, financeira, política, social e até cultural.
Esse papel possivelmente terá que mudar, ou melhor essa é a discussão mundial hoje mais importante em termos de sistema económico, e bem acesa, de que a imprensa portuguesa não se dá conta de modo satisfatório. Que tem que mudar, é o que se vê expresso na pena de muitos que nada têm de revolucionário ou de inconformista. Analistas consagrados de jornais como o The Economist, representante insuspeito do pensamento económico dominante antes da crise financeira, não dizem outra coisa. Chegam a exigir mudanças «radicais» e uma intervenção das autoridades ditas «reguladores» impensável nos tempos, ainda tão próximos e não de facto desaparecidos, do thatcherismo omnipresente. Não é mudar o que se discute, mas o grau, a profundidade, o sentido e o alcance da mudança.
As críticas rejeitadas por alguns como decorrentes de uma mania ideológica anti-grande capital ou anti-bancos passariam por moderadas perante o que dizem e escrevem grandes mestres práticos da finança, inclusive um George Soros, que foi o inventor de um dos esquemas hoje mais criticados, os hedge funds, e que fez fortuna num ataque especulativo em forma contra a libra. Mas, a lê-lo, os financeiros dessa sua época aliás recentíssima são anjinhos com asinhas ao lado dos jogadores de póquer atuais.
Que há que mudar, raros são os que o negam. Mas mudar para onde?
A oportunidade que pode agora haver, mediante a desorientação e abanão que grassa nos meios dos economistas teóricos e práticos, é que possam emergir finalmente o pensamento e as obras de economistas e cientistas sociais até agora marginais ou desprezados, nalguns dos quais se encontra o fundamento para uma economia que tenha em verdadeira conta a base real da economia «real», base essa que é ecológica-energética.
Georgescu-Roegen e Jeremy Rifkin, por exemplo, e ainda a economia de base cultural como a que segue as pisadas de Karl Polanyi, e toda a chamada economia ecológica (Herman Daly, Joan Martinez Allier, Serge Latouche e o «decrescimento económico»), já largamente presente nalgumas universidades e publicações académicas sem ter no entanto ainda sido escutada por quem tem os cordões da bolsa, metafórica e literal. Também a economia solidária, entre nós representada, entre outros, pela rede de associações de desenvolvimento de base local Animar, pelos Professores Roque Amaro e Luís Moreno, por exemplo, deveria ganhar uma nova visibilidade e importância, se os desatentos políticos e comentadores vierem a aprender com as turbulências atuais.
Richard Douthwaite, James Robertson e outros autores da corrente inspirada em E. F. Schumacher completam e aprofundam esse quadro. A banca é uma instituição humana, e como tal passível de mudança. O papel que vier a desempenhar para uma sociedade que queira resolver os problemas da destruição ecológica, da guerra, da fome e da injustiça social terá forçosamente que ser muito diferente do que hoje predomina.
Existem já numerosas instituições financeiras que apontam o caminho nesse sentido, embora a sua dimensão não seja comparável ao mainstream ou sistema dominante. Mas é bem possível, e já desde 1977 se poderia sabê-lo pelo êxito que teve a famosa obra de E. F. Schumacher, Small is Beautiful mesmo quando rejeitada (por exemplo, pelos que escreviam e escrevem no The Economist!!!), é pois bem possível que o gigantismo do mainstream, inclusive bancário como mostra a atual crise e como já se discute, não seja a solução mas o problema.
José Carlos Marques
4 comentários:
Acho muito interessante a economia ecológica. Mas já não a acho assim tanto caso um banco se ponha a emprestar o meu dinheiro a empreendedores cheios de boas intenções, mas em que o risco do retorno do capital envolvido, mais juros, é real.
Os economistas ecológicos deverão empatar o seu dinheiro nos projectos dos seus sonhos. Ou então deverão pedir dinheiro emprestado aos amigos que pensam de igual forma.
Alô?! Andam diatraídos aí na AMBIO com a catástrofe da Deepwater Horizon????????
Tem a certeza de que essa catástrofe é pior que muitas outras? Eu não tenho, embora tenha a certeza que é mais mediática: mete petróleo e é num país rico.
De qualquer maneira na AMBIO cada um escreve o que lhe apetece (independentemente da actualidade) e também não vejo muito bem que poderemos nós acrescentar ao que está nos jornais.
henrique pereira dos santos
Infelizmente, apesar dos alertas, não me parece que as coisas caminhem nesse sentido
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