Associação Cívica Pró-Tâmega, Associação de Defesa da Praia da Madalena, Associação Amigos do Vale do Rio Tua, CEAI, Coagret, FAPAS, GAIA, GEOTA e Quercus, são estas organizações, que aliás ninguém sabe o que representam, que resolveram boicotar o fundo EDP de Biodiversidade.
Pelo menos a julgar pelo que diz o Publico de hoje.
Se o boicote do primeiro ano com o pretexto da campanha mediática da EDP me parecia ridículo, mas ainda assim passível de discussão, este segundo boicote parece-me da mais rematada hipocrisia por se fundamentar na acusação da EDP "ser "um dos principais promotores da destruição dos rios e da biodiversidade em Portugal" e de assumir uma "postura hipócrita" com a sua campanha".
Um módico de consistência nisto obrigaria a identificar quem são os outros "principais promotores da destruição dos rios e da biodiversidade em Portugal". E um módico de honestidade obrigaria a identificar o Estado como o principal desses promotores, não só por ser o autor da política que a EDP, e outros, executam, como também por prossegui-la noutros campos que não o da política energética, de que Alqueva é o expoente máximo (mas podem acrescentar Odelouca, Ribeiradio e por aí fora).
Já não falando da responsabilidade de não cumprir a lei que poderia trazer instrumentos mais eficazes de defesa dos valores naturais.
Qual é pois a razão para boicotar a EDP e não boicotar o Estado, recusando todo e qualquer financiamento público?
Eu só encontro uma: hipocrisia.
Gostaria de ser convencido de que estou enganado.
Adenda: E como vão boicotar as empresas que tendo os mesmos niveis de impacto não fazem fundo nenhum de biodiversidade? Um anónimo num comentário anterior dizia que este fundo, e outras medidas da EDP, são apenas aspirinas. Não tenho dúvidas nenhumas, mesmo sendo aspirinas de meio milhão de euros anuais para a biodiversidade. Mas por que razão quem dá aspirinas deve ser mais mal tratado que os que provocando as mesmas dores de cabeça nem aspirinas dá? Não é verdade que, não curando, a aspirina alivia a dor de cabeça? E não é verdade que algumas das soluções definitivas apresentadas para resolver as dores de cabeça, sendo eficazes, são evitadas por toda a gente (como por exemplo, cortar a cabeça).
henrique pereira dos santos
10 comentários:
"Não é verdade que, não curando, a aspirina alivia a dor de cabeça?" É, se continuarmos a fazer de conta de que não há medicinas alternativas. Por exemplo, há quem sofra da coluna e, várias vezes desenganado com as alegadas certezas da ortopedia, só se sinta bem com tratamentos disponibiloizados pela quiroprática, pela osteopatia, e, ainda, pelo yoga, pilates e quejandos. Octávio Lima (Ondas3)
Caro Antonio Lima,
Permita que discorde de si. Em primeiro lugar aspirina há só uma, a da Bayer. Em segundo, em tempos de crise grave, como aqueles que infelizmente desfrutamos, há que prezar o artigo nacional. Em vez de griloprática ou ostiadatia, porque não a bruxaria nacional, que cura sem recurso a químicos nocivos à biodiversidade?
O Público de 29 de Maio de 2009 noticiava que as finanças contestaram o Financiamento da Fundação EDP, pois não o consideraram Mecenato, mas apenas um meio de a coberto do Mecenato pagar menos impostos. É aqui que reside o busílis da Questão. Será que o fundo EDP biodiversidade é uma forma de se obterem benefícios fiscais transferindo despesa corrente para "Mecenato"?
mfs
Manuel,
Evidentemente esse não é o busílis da questão, porque se o fosse as ONGs só poderiam estar do lado da EDP a reclamar que o dinheiro investido na Biodiversidade deve ser considerado mecenato.
Não sei se é ou não, essa é uma discussão entre a EDP e as finanças mas não vejo por que razão deveriam as ONGs ficar escandalizadas com o facto de dinheiro voluntário investido na biodiversidade ser considerado mecenato.
Se entretanto a EDP meter obrigações que resultem das suas actividades, como compensação de impactos, no mecenato, aí sim, não tenho dúvida nenhuma que não deve ser considerado mecenato.
henrique pereira dos santos
"Se entretanto a EDP meter obrigações que resultem das suas actividades, como compensação de impactos, no mecenato, aí sim, não tenho dúvida nenhuma que não deve ser considerado mecenato.
henrique pereira dos santos"
Mas é isso mesmo que parece estar a acontecer. É que a lei do Mecenato dá um prémio fiscal da ordem de 30%. Ou seja investe mil, contabiliza fiscalmente 1300. Mas se a actividade financiada deveria sê-lo nas actividades correntes porquê contabilizar 1300? Para isso exige-se independência na aprovação das candidaturas. Então se a EDP dá mil ao s. Carlos e reserva metade da sala (suponhamos...) onde está o mecenato. Comprou a sala por "grosso". Foi isso que as Finanças parece terem questionado.
mfs
Manuel,
Só podes estar a brincar. Claro que comprar metade da sala do S. Carlos é mecenato, qual é a dúvida?
E a questão é: o fundo EDP financia actividades da EDP que não sejam voluntárias? Se financia, financia mal, se não financia, acho muito bem que seja mecenato.
Só não percebo em que ponto é que boicotar o fundo por parte das ONGs entra nessa discussão, que é uma discussão fiscal, mais nada (como existem milhares de outras discussões fiscais todos os dias).
Dequalquer maneira o post é sobre outra coisa: por que razão as ONGs boicotam um dos principais responsáveis pela execução de uma política que consideram errada e não boicotam o principal responsável pela definição e execução dessa política: o Estado.
henrique pereira dos santos
caro Henrique,
Hiprocrisia são as 165 grandes
barragens já existentes em portugal e e as dezenas de cádaveres hidrológicos....
Cumprimentos.
Valente anónimo,
Tenha santa paciência, mas uma empresa produtora de electricidade querer fazer barragens não é hipocrisia nenhuma, e haver quem quer que seja que é contra barragens (ou só a favor de 164 ou 163) não é hipocrisia nenhuma, mas não sei quantas ONGs fingirem que boicotam um fundo de biodiversidade por causa da política de uma empresa produtora de electricidade ao mesmo tempo que não boicotam o Estado responsável por essa política, isso sim, é hipocrisia.
Continuo a achar extraordinário que uma empresa que decide retirar meio milhão de euros das suas contas para os pôr a financiar actividades de biodiversidade (ainda que com isso vá reduzir os seus impostos porque, justamente, o Estado considera essas despesas como meio milhão mais 30%) seja sistematicamente torpedeada por isso. Não é ser criticada pelo que faz no resto da actividade, é ser criticada por fazer um fundo de biodiversidade.
É uma coisa completamente irracional, sobretudo quando em relação a muitas outras empresas, que tantos impactos como esta mas não põem um tostão voluntário no investimento em biodiversidade, as ONGAs estão caladas.
henrique pereira dos santos
O que é irracional é quem se preocupa com os problemas do ambiente vir aqui perder tempo. Passe bem!
Caro anónimo,
Dois comentários:
irracionalidade ou hipocrisia não são sinónimos. Pode ser irracional ter tantas barragens em Portugal e não ser hipócrita defender mais, se se estiver convencido do contrário;
se pensa que as pessoas que se preocupam com o ambiente são só as pessoas que pensam como o anónimo, pensa mal.
henrique pereira dos santos
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