segunda-feira, junho 14, 2010

Porque é que há tantas?

Perguntava José Rui na caixa de comentários do último dos meus posts sobre gestão de associações, antes de me dedicar a dsicutir as escolas primárias e o mundo rural.
Porque é que há tantas ONGs? Por que razão admito eu fundar outra? As que existem não são reformáveis ou não me interessam?
Há tantas porque como em Portugal as ONGS não criam activos palpáveis mas apenas activos imateriais (reputação, notoriedade, etc.) não há muita vantagem em trabalhar dentro das organizações com o que isso implica de compromissos quando se acha que se tem um problema específico, uma ideia nova ou uma nova forma de funcionar.
Por isso cada um faz uma ONG.
Eu estou de acordo com o Miguel Araújo quando diz que se a QUERCUS, a LPN e outras mais se fundissem era bem melhor. Não há muito de substancial que as diferencie.
Já o mesmo não se pode dizer da ATN e da ALDEIA, por exemplo, com a primeira a investir tudo em terrenos (activos palpáveis) a a ALDEIA a investir tudo em actividades (crescimento mais rápido, notoriedade mais imediata, mas maior fragilidade às vicissitudes por falta de uma âncora a que se reconheça valor real). São opções legítimas mas dificilmente integradas em duas organizações em fase ascendente (na fase de maturidade o problema é diferente e é tecnicamente mais fácil conciliar formas diversas de actuação mais mais difícil integrar novas formas complementares de funcionamento das organizações por resistência das culturas instaladas).
Por que razão admito fazer outra ONG? Porque acho que o esforço de reformar as que existem é brutal e eu não sou a pessoa indicada para o fazer. Na discussão que tenho vindo a fazer para criar ou não uma nova ONG esta questão tem sido levantada: porque não concorrer à direcção de uma das existentes com o programa que se pretende aplicar? É uma questão pertinente. Eu não acredito que as mais que anquilosadas ONGs actuais sejam reformáveis sem um profundo abalo interior que eu nunca estaria em condições de fazer (era preciso ter características pessoais que eu seguramente não tenho e não vendo ninguém que as tenha e esteja disponível eu considero que não podem ser reformáveis por mim, não quer dizer que não sejam reformáveis em si).
Vale a pena fazer mais uma ONG? Sim, se ela for efectivamente diferente das que existem: dirigida a um público diferente (em vez dos jovens estudantes urbanos, aos proprietários rurais, por exemplo); orientada para a criação de activos (por exemplo, 10% das quotas serem estatutariamente canalizadas para um fundo de capitalização); com clareza democrática nos estatutos (ao contrário do que se passa com a LPN, por exemplo, onde há sócios mais iguais que outros); com clareza na separação entre funções profissionais e electivas não podendo concentrar-se nas mesmas pessoas, com diferenças na sua missão, como por exemplo a procura de custódia do território de forma consistente, com diferenças na comunicação, mais orientada para os sócios que para os media, com diferenças no foco principal: os sócios em detrimento de ideas abstractas de bem comum, e por aí fora.
Há virtudes e defeitos em haver muitas ONGs.
Mas quando se funda as Árvores de Portugal é porque não se reconhece espaço nas ONGs tradicionais e maiores para trabalhar sobre as árvores de Portugal de forma eficaz, provavelmente porque a organização tem dificuldade em integrar a vontade de terceiros fora do círculo fechado em que estão encerradas.
Mas como não existem activos importantes não há custo em começar tudo de novo. Há excepções como as propriedades da LPN, que são as mesmas há um ror de anos e da QUERCUS no Tejo Internacional, que de qualquer maneira não representam nenhum papel estratégico na organização. Para a LPN as propriedades são cash cows, para a QUERCUS não se sabe o que são. Se pelo contrário, como acontece na ATN, toda a actividade das organizações girasse em torno dessas propriedades, quem achasse que podia fazer melhor ou combatia democraticamente dentro da organização, ou tinha de começar tudo de novo, com elevados custos de eficácia.
Criar património é um dos cimentos organizacionais mais sólidos que se possam imaginar.
henrique pereira dos santos

2 comentários:

joserui disse...

Obrigado pelo post. O último sobre as escolas e mundo rural esteve certo na minha opinião. Aliás está muito bem resumido no cartaz escolhido para ilustrar. Diz tudo. -- JRF

Henk Feith disse...

É de facto a ONGA gestora de património a ONGA que falta faz em Portugal. A ATN pode ser um primeiro passo, mas para chegar a uma dimensão nacional deve ter uma ambição nacional. Neste momento receio que seja um pouco (e só um pouco) um "far from my bed show". Uma certa proximidade física com as populações urbanas pode ter um efeito mobilizador muito maior. Se calhar ter (por exemplo) uma Várzea de Loures (http://www.avesdeportugal.info/sitvarzealoures.html) no seu património permitia outro sentimento de envolvimento das pessoas com o património gerido pela ONGA.

Henk Feith