Uma das previsões frequentes é que o agravamento das alterações climáticas provocaria aumento de instabilidade social.
A sequência do raciocínio é elementar: mais aridez em certos países de África, estaria na origem de um incremento das taxas migratórias e estas aumentariam tensões sociais nos países receptores.
Outro raciocínio propõe que o aumento de aridez, provocaria um aumento da probabilidade de conflito entre países banhados pelas mesmas bacias hidrográficas em virtude da competição por um recurso (a água) cada vez mais escasso.
A lógica e irreprensível mas existe alguma evidência de que aumentos de tensão social têm estado associados a aumentos de pressão climática? Leia esta interessante discussão na revista Nature de hoje.
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8 comentários:
Quando leio isto:
"The primary causes of civil war are political, not environmental," says Buhaug.
Fico esclarecido. Política (que é a elaboração sobre uma situação) não é ambiente...
Não sei quem aprova estas sumidades!
António Eloy
António, Levado ao extremo tudo é ambiente mas no artigo, ambiente é usado como meio físico e em particular com o clima. Não nos percamos na semântica.
Para quem estiver interessado, uma descrição das causas remotas do conflito ruandês (neste caso não se trata de alterações climáticas), analisadas por Jared Diamond.
Os cientistas políticos têm tendência a desvalorizar as causas remotas de um conflito, salientando o que é visível e que se materializa no designado conflito político ou étnico ou religioso, e esquecendo o que subjaz de forma mais profunda:
«
We have come to associate genocide in Rwanda and Burundi with ethnic violence. Before we can understand what else besides ethnic violence was also involved, we need to begin with some background on the genocide's course, the history leading up to it, and their usual interpretation that I shall now sketch, which runs as follows. (I shall mention later some respects in which this usual interpretation is wrong, incomplete, or oversimplified.)»
«The most painful and socially disruptive land disputes were those pitting fathers against sons»
«That situation of chronic and escalating conflict forms the background against which the killings of 1994 took place. Even before 1994, Rwanda was experiencing rising levels of violence and theft, perpetrated especially by hungry landless young people without off-farm income. When one compares crime rates for people of age 21-25 among different parts of Rwanda, most of the regional differences prove to be correlated statistically with [325] population density and per-capita availability of calories: high population densities and worse starvation were associated with more crime.»
Como eu aprecio estas "lógicas irrepreensiveis" !!! :) Fico que nem a Cinha Jardim quando o Benfica marca golo... em extase !!!
:)
Estas correlações futuristas fazem-me lembrar as da protecção civil para explicar os fogos florestais. Haja paciência!
«Global climate change, war, and population
decline in recent human history»
Este artigo, na minha opinião, dá uma perspectiva mais vasta do problema: «Scientists have noted that social activities heavily depend on climate. They have also pointed out that temperature probably influences our lives more than any other climatic factor and human society is especially vulnerable to large, long-term temperature changes (1). However, scientific research on the social effects of climate change has tended to focus on the economic costs of current and future climate change and has neglected the study of how societies have historically reacted to long-term climate change. This neglect is unfortunate because a better understanding of how past climatic changes have influenced human society may help us better understand our future prospects.»[...]«The hypothesis we propose posits that long-term climate change has significant direct effects on land-carrying capacity (as measured by agricultural production). Fluctuation of the carrying capacity in turn affects the food supply per capita. A shortage of food resources in populated areas increases the likelihood of armed conflicts, famines, and epidemics, events that thus reduce population size»
José,
Não tenho qualquer problema em subscrever o texto que transcreves. Na realidade é uma adaptação liminar da teoria das meta-populações aos povoamentos humanos, o que faz todo o sentido.
Mas o problema é mais complexo. Para simplificar imaginemos que a resposta às alterações climáticas se resume a dois termos de uma equação: a "exposição" às alterações climáticas e a capacidade de "adaptação" a estas alterações. Se a capacidade de "adaptação" às alterações do clima fosse igual em todas as partes, bastaria caracterizar o factor "exposição". O que defendem algumas pessoas (nomeadamente os que são referidos no artigo) é que o factor "adaptação" é tão importante que tem retirado significância estatística ao sinal climático. Ter ou não ter uma sociedade bem estruturada é o que tem determinado a probabilidade de conflitos que desembocam em guerras. Lomborg não está muito distante deste argumento quando diz (ou dizia [para mim não está claro o argumento agora]) que é mais barato manipular a variável de adaptação (e.g., através do combate à pobreza) que manipular o factor exposição.
Ou seja, ninguém nega que o clima tenha influência sobre os recursos disponíveis e sobre as populações humanas. O que dizem é que factores sociais e económicos podem minimizar a importância dos primeiros ao ponto de lhes retirar poder explicativo (e quem sabe preditivo) para conflitos.
Não estudei o assunto a fundo (estamos claramente no domínio da economia e da análise de custo benefício) pelo que vou acompanhando com interesse este debate.
Compreendo esse raciocínio e julgo que ele será válido até certo ponto, que depende da amplitude das alterações climáticas e das suas consequências. Julgo que não são apenas as sociedades pouco estruturadas que estão em risco. A complexidade das sociedades avançadas, da sua interdependência, porventura, coloca-as também perante grandes riscos.
O problema do combate à pobreza é um ponto interessante neste contexto. Herman Daly (Beyond Growth) referia-se a um erro de análise de outro economista quando este dizia que o problema das alterações climáticas não seria muito significativo para os EUA porque, por exemplo, o peso da agricultura (sector que, presumivelmente, seria dos mais afectados) no PIB seria apenas de 3% (não sei precisar se era este exacto valor, mas era baixo). Ou seja, em última análise, se ele desaparecesse, presume-se que os EUA importariam todos os bens alimentares de que necessitassem. Não se sabe é de onde, visto que são o maior produtor alimentar mundial. O problema é que esses 3% poderiam rapidamente transformar-se num valor muito superior se a produção de alimentos diminuisse dramaticamente com o consequente aumento do seu preço e a redução forçada de despesa em bens mais dispensáveis/supérfluos. Porque, no fundo, aqueles 3% são a base de suporte para os outros 97%.
Uma melhor explicação do ponto anterior (agricultura e alterações climáticas), pelo próprio, com excerto do livro:
«Yale University economist Nordhaus
(1991) is quoted as saying: ‘Agriculture,the part of the economy that is sensitive
to climate change, accounts for just 3% of national output. That means there is no way to get a very large effect on the US economy’.
«The error that concerns
me here is to measure the importance of
agriculture by its percentage of GNP.Surely
these distinguished economists know all about
the diamonds–water paradox, diminishing marginal
utility, and inelastic demand for necessities.»
«Another related dimension of the error is
that it treats all parts of GNP as substitutable,
not only at the margin, but on the average and
on the whole»
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