quinta-feira, setembro 02, 2010

O volte face de Lomborg

Contrariamente ao que escreve a imprensa, Bjørn Lomborg nunca foi um "céptico climático".

Nunca o li negar a existência de alterações climáticas (AC) de origem antopogénica mas sim questionar se os custos de mitigação das AC compensariam face a outras necessidades. Lomborg defendia que no ranking das prioridades mundiais, o investimento na mitigação das AC era baixo.

Por isso leio com interesse que Lomborg alterou a sua percepção sobre prioridades colocando as alterações climáticas no topo das necessidades mundiais de investimento.

Vale a pena ler a notícia completa do Guardian aqui.

43 comentários:

José M. Sousa disse...

Com o devido respeito, Lomborg não alterou nenhuma posição fundamental. Lomborg é suficientemente inteligente e sofisticado para saber que não teria um mínimo de credibilidade (ainda vai conseguindo ter alguma, pelos vistos) se negasse as alterações climáticas. Mas na prática, ao negar a sua importância, torna irrelevante essa questão. Essa discussão sobre as prioridades como a coloca Lomborg é totalmente absurda quer de um ponto de vista político quer de um ponto de vista científico. Até porque Lomborg continua a insistir que existe uma fixação com a redução do CO2(equivalente, bem entendido). Como pode isso ser se a ciência afirma que é precisamente aí que está o problema? É preciso ter em conta que Lomborg não é um sujeito inocente. O think thank que ajudou a criar serve bem os interesses daqueles que acham que tudo deve ficar na mesma, independentemente da Civilização e das gerações vindouras ficarem comprometidas.
Ver também no Guardian
e aqui

Miguel B. Araujo disse...

Caro José,

Já me deve conhecer o suficiente para saber não alinho em discussões sustentadas por processos de intenção e/ou de especulações sobre as intenções obscuras que motivarão as posições de cada um. Já uma vez o referi quando se usou o mesmo tipo de argumentos para desqualificar os argumentos de Pitelka. Essa forma de discutir, desqualificando pessoas não por o que expressam mas pelas alegadas intenções que lhes atribuímos, não me interessa.

Portanto registo com interesse a mudança de tom de Lomborg sobre o risco das alterações climáticas e o consequente nível de prioridade que merece. Não entro na discussão estéril sobre se a mudança de tom se deve a uma evolução genuína do pensamento de Lomborg, a um movimento táctico para ganhar mais dinheiro, ou uma forma de ganhar credibilidade logo influência política. Para mim é suficiente registar que é uma mudança drástica de discurso e que permite elevar o debate para níveis mais interessantes. Como dizia alguém: só os burros não mudam de opinião.

Aparentemente, o pecado que agora lhe atribuem é argumentar que há formas mais eficientes e eficazes de combater as alterações globais que simplesmente reduzir drasticamente as emissões de CO2-eq. Os contornos do seu argumento não me parecem ainda claros e a informação na imprensa é parca. Por exemplo numa notícia dizia-se o seguinte:

"De acordo com o “The Guardian”, a solução de Lomborg consiste em investir nas energias renováveis e na geoengenharia. O dinheiro, que seria conseguido através de um imposto sobre as emissões de carbono, também deveria ser utilizado em medidas de mitigação – como a construção de barreiras para responder à subida do nível médio do mar – e em cuidados de saúde."

A notícia é confusa pois onde se lê "mitigação" deveria ler-se adaptação mas passando por cima da iliteracia do/a jornalista, o que Lomborg parece defender são: taxa sobre carbono; investimento em energias renováveis e geoengenharia. As duas primeiras medidas foram parte de um consenso alargado. Tenho mais reservas quanto à última medida mas teria de ler mais para formar um opinião concreta.

Em todo o caso, podemos concordar ou discordar das soluções propostas (fundamentando as posições) mas esta é uma discussão imensamente complexa que não se inicia com Lomborg nem terminará com ele. O certo é que há uma coincidência de pontos de vista sobre o problema e a sua urgência e que agora Lomborg se presta a discutir soluções. É novo e como tal parece-me interessante.

Fico aguardando mais informação. Tentarei ler o seu livro, da mesma forma como li o primeiro, pois as críticas sobre o primeiro livro eram invariavelmente empoladas e politicamente motivadas. Fiquei sempre na dúvida se as pessoas tomavam posição sobre os dados e argumentos veiculados no livro (muitos pareceram-me razoáveis e bem fundamentados) ou se simplesmente formaram opinião com base no que outros diziam sobre o que ele tinha dito.

José M. Sousa disse...

Caro Miguel Araújo

«as críticas sobre o primeiro livro eram invariavelmente empoladas e politicamente motivadas»

Não se trata de processos de intenção. É absolutamente óbvio, para quem tenha acompanhado o discurso de Bjorn Lomborg desde o princípio (promovido que foi, não se sabe exactamente a que título, pelo Economist e outros), nos livros e artigos de jornal que escreveu, ou nas conferências e debates que deu, que ele é profundamente desonesto ( a qualificação não é apenas minha; Stephen Schneider chamou-o "Dishonest Dane"). Mas é hábil e inteligente, isso não nego.

Não creio que as críticas ao "Skeptical Environmentalist" tenham sido todas motivadas politicamente. A comissão que analisou o livro recorreu a vários especialistas em cada uma das matérias tocadas por Lomborg, entre os quais Stephen Schneider, Lovejoy, etc. que arrasou com o dito.

Miguel B. Araujo disse...

Caro José,

A comissão que analisou o livro prestou um mau serviço à sociedade. Eu li o livro e considerando-me suficientemente literado no assunto creio ter capacidade para discernir denonestidade intelectual quando a encontro. E não encontrei.

O que encontrei foram críticas a uma certa forma mediática de fazer campanhas ambientais protagonizadas por algumas figuras mediáticas do "establishment" científico e das ONGAs (nomeadamente do Greenpeace). As críticas no livro foram amplamente documentadas com exemplos mas estes nunca foram rebatidos.

O que se tentou fazer foi um assassinato político de Lomborg. Esta tentativa acabou por dar-lhe visibilidade e empurrá-lo para o extremo direito do debate político. Quem leu o seu livro, saberá, no entanto, que esse não foi o ponto de partida do seu discurso.

Note que os nomes que cita, Schneider (entretanto falecido) e Lovejoy, são tudo menos neutros. Portanto não faz muito sentido que tenham sido juízes de Lomborg. De resto, os fundamentos da acusação eram perfeitamente absurdos. Por exemplo, que Lomborg citava artigos de jornal e não artigos científicos. Quem lê o livro sabe que é um livro no domínio das ciências sociais, sobre a forma como o conhecimento científico é transmitido à sociedade e manipulado para encaixar em agendas políticas. Para fazer semelhante análise o material primordial de investigação são os jornais.

Finalmente, para quem não sabe, um inquérito posterior, ilibou Lomborg das acusações que lhe foram feitas. Insistir nessa tecla é tão incorrecto como insistir que Phil Jones manipulou os dados do último relatório do IPCC.

José M. Sousa disse...

Caro Miguel

Do relatório mencionado anteriormente (se reparar na raiz do link, por uma questão de credibilidade da fonte, trata-se da página na Univ. Stanford do falecido Stephen Schneider):
«Most of Bjørn Lomborg's quotes allude to secondary literature and media articles. Bjørn Lomborg uses peer-reviewed articles only when they support his rose-coloured point of view. By contrast, the authors on the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) were subjected to three rounds of audits by hundreds of external experts.»[...]
«Bjørn Lomborg's book is published by the social sciences side of Cambridge University Press.»[...]
«A dozen esteemed scientists, including Raven and Harvard's Edward O. Wilson, are demanding that Lomborg's publisher cut him loose. 'We are deeply disturbed that Cambridge University Press would publish and promote an error-filled, poorly referenced and non-peer-reviewed work', they write in a letter calling on Cambridge to transfer publishing rights to a popular, nonscholarly press."»


Não me leve a mal, mas sinceramente, não acha estranha a tremenda promoção de uma pessoa com o curriculo (quase irrelevante) de Lomborg?

É que o Miguel parece achar (eu sei que não é o caso, mas perante o que diz sobre não querer saber se há motivações política ou de dinheiro ou outras) que não existem organizações que deliberadamente lançam desinformação, desacreditam a ciência e as políticas públicas que tentam, ainda que de forma tíbia, enfrentar o problema. Infelizmente existem e têm muito poder e recursos.


«Scientific papers
Lomborg's only published work is in "game theory and computer simulations", according to the Skeptical Environmentalist frontispiece. Australian National University academic John Quiggin, writing in the Australian Financial Review in March 2002, pointed out the number of refereed publications Lomborg has produced on statistical or other scientific analysis of environmental issues "is zero".»

Pode dizer que isto é passado e que, em qualquer caso, é boa a suposta reviravolta de Lomborg. Admito que sim, mas na realidade aquilo que o Guardian lhe atribui e tendo em conta o que diz Howard Friel, ele não alterou assim tanto a sua posição.

«há formas mais eficientes e eficazes de combater as alterações globais que simplesmente reduzir drasticamente as emissões de CO2-eq»

Que eu saiba esta redução drástica das emissões de CO2 é condição essencial do problema. Se se está a referir à geoengenharia, até agora as recomendações, que eu conheça, são de muita precaução e que não desobrigam à redução das emissões de CO2.
De qualquer modo, Lomborg não é certamente a pessoa mais habilitada para falar sobre o assunto.
Mas também concedo que já é um avanço que Lomborg considere importante investir em energias renováveis. Mas mesmo aqui, investir em energias renováveis só por si (no que à política energética diz respeito) não resolve problema nenhum, porque o consumo total continua sem restrição.

Dou-lhe o exemplo da China. Esta tem vindo a crescer a 10% ano (PIB); e já é a segunda economia mundial. Isto significa que duplica a sua dimensão de 7 em 7 anos. O consumo de energia estará a crescer ainda mais rapidamente.

Para entender melhor Lomborg e onde ele se enquadra, sugiro um interessante livro de uma prof. de Direito (Lisa Heinzerling) e de um economista (Frank Ackerman): "Priceless"

Uma recensão de "Cool It" de Frank Ackerman

José M. Sousa disse...

«Insistir nessa tecla é tão incorrecto como insistir que Phil Jones manipulou os dados do último relatório do IPCC.»

Desculpe, mas este paralelo não tem fundamento.

Lomborg tem o hábito de falar como se ele tivesse autoridade. De onde lhe vem essa autoridade? Ele não se limita a falar de problemas sociais. Aliás, então Stuart Pimm, E.O. Wilson, para além dos já referidos são todos uns histéricos que estão a ver problemas onde eles não existem. Então e, porque carga de água é que o próprio Lomborg não há-de estar politicamente motivado? Foi ilibado pelo governo dinamarquês conservador, pois!

Francamente, não percebo. Oiço dizer, leio, Academias de Ciências, etc.

Então, mas globalmente há ou não uma crise de proporções como jamais a Humanidade enfrentou que se relacionam com as Alterações Climáticas e Biodiversidade, por exemplo. É que assim fôr, Lomborg é irrelevante.

José M. Sousa disse...

parece que houve um problema com um comentário longo que fiz, vou colocá-lo por partes:

Caro Miguel

Do relatório mencionado anteriormente (se reparar na raiz do link, por uma questão de credibilidade da fonte, trata-se da página na Univ. Stanford do falecido Stephen Schneider):
«Most of Bjørn Lomborg's quotes allude to secondary literature and media articles. Bjørn Lomborg uses peer-reviewed articles only when they support his rose-coloured point of view. By contrast, the authors on the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) were subjected to three rounds of audits by hundreds of external experts.»[...]
«Bjørn Lomborg's book is published by the social sciences side of Cambridge University Press.»[...]
«A dozen esteemed scientists, including Raven and Harvard's Edward O. Wilson, are demanding that Lomborg's publisher cut him loose. 'We are deeply disturbed that Cambridge University Press would publish and promote an error-filled, poorly referenced and non-peer-reviewed work', they write in a letter calling on Cambridge to transfer publishing rights to a popular, nonscholarly press."»


Não me leve a mal, mas sinceramente, não acha estranha a tremenda promoção de uma pessoa com o curriculo (quase irrelevante) de Lomborg? (cont.)

José M. Sousa disse...

É que o Miguel parece achar (eu sei que não é o caso, mas perante o que diz sobre não querer saber se há motivações política ou de dinheiro ou outras) que não existem organizações que deliberadamente lançam desinformação, desacreditam a ciência e as políticas públicas que tentam, ainda que de forma tíbia, enfrentar o problema. Infelizmente existem e têm muito poder e recursos.


«Scientific papers
Lomborg's only published work is in "game theory and computer simulations", according to the Skeptical Environmentalist frontispiece. Australian National University academic John Quiggin, writing in the Australian Financial Review in March 2002, pointed out the number of refereed publications Lomborg has produced on statistical or other scientific analysis of environmental issues "is zero".»

Pode dizer que isto é passado e que, em qualquer caso, é boa a suposta reviravolta de Lomborg. Admito que sim, mas na realidade aquilo que o Guardian lhe atribui e tendo em conta o que diz Howard Friel, ele não alterou assim tanto a sua posição.

«há formas mais eficientes e eficazes de combater as alterações globais que simplesmente reduzir drasticamente as emissões de CO2-eq»

Que eu saiba esta redução drástica das emissões de CO2 é condição essencial do problema. Se se está a referir à geoengenharia, até agora as recomendações, que eu conheça, são de muita precaução e que não desobrigam à redução das emissões de CO2.
De qualquer modo, Lomborg não é certamente a pessoa mais habilitada para falar sobre o assunto.
Mas também concedo que já é um avanço que Lomborg considere importante investir em energias renováveis. Mas mesmo aqui, investir em energias renováveis só por si (no que à política energética diz respeito) não resolve problema nenhum, porque o consumo total continua sem restrição.

Dou-lhe o exemplo da China. Esta tem vindo a crescer a 10% ano (PIB); e já é a segunda economia mundial. Isto significa que duplica a sua dimensão de 7 em 7 anos. O consumo de energia estará a crescer ainda mais rapidamente.

Para entender melhor Lomborg e onde ele se enquadra, sugiro um interessante livro de uma prof. de Direito (Lisa Heinzerling) e de um economista (Frank Ackerman): "Priceless"

Uma recensão de "Cool It" de Frank Ackerman

Miguel B. Araujo disse...

Caro José,

> «Most of Bjørn Lomborg's quotes allude to secondary literature and media articles. Bjørn Lomborg uses peer-reviewed articles only when they support his rose-coloured point of view. By contrast, the authors on the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) were subjected to three rounds of audits by hundreds of external experts.»[...]
1. Eu sou um "insider" do processo de "referee" (como autor, "referee" e editor) pelo que conheço as suas vantagens e fragilidades. É melhor não irmos por aí. Aliás, não tendo contestado Lomborg os resultados veiculados pelo IPCC esta referência ao IPCC é extemporânea.

2. Volto a salientar que Lomborg não escreveu nem pretendeu escrever um livro científico. É um livro de opinião fundamentando os argumentos com métodos das ciências sociais e é nesta qualidade que tem de ser lido e interpretado. Interpretar este livro como se fosse um livro científico é criar um "strawman".

> «Bjørn Lomborg's book is published by the social sciences side of Cambridge University Press.»[...]
> «A dozen esteemed scientists, including Raven and Harvard's Edward O. Wilson, are demanding that Lomborg's publisher cut him loose. 'We are deeply disturbed that Cambridge University Press would publish and promote an error-filled, poorly referenced and non-peer-reviewed work', they write in a letter calling on Cambridge to transfer publishing rights to a popular, nonscholarly press."»
Voltamos aos argumentos de autoridade. Outras dúzias de investigadores, mais silenciosos, leram com interesse o livro de Lomborg ainda que sem ter de concordar com tudo o que lá foi escrito. Sinceramente, prefiro argumentos sem mais. Palavras atiradas ao vento, sem demonstração e com o único fito de descredibilizar um autor porque o argumento não agrada não me sensibilizam. Apesar do respeito que me infundem algumas das personalidades que embarcaram nesta campanha a minha formação impede-me de alinhar com estes métodos.
>
> Não me leve a mal, mas sinceramente, não acha estranha a tremenda promoção de uma pessoa com o curriculo (quase irrelevante) de Lomborg?
Não não acho. Vivemos num mundo de interesses e quando aparece alguém com ideias poderosas que podem ser aproveitadas por outro para determinados interesses, é normal que o façam.
> «Scientific papers
> Lomborg's only published work is in "game theory and computer simulations", according to the Skeptical Environmentalist frontispiece. Australian National University academic John Quiggin, writing in the Australian Financial Review in March 2002, pointed out the number of refereed publications Lomborg has produced on statistical or other scientific analysis of environmental issues "is zero".»
Mais argumentos de autoridade. São mais fáceis do que gastar tempo e neurónios a argumentar a sério.

José M. Sousa disse...

Priceless

Miguel B. Araujo disse...

> Pode dizer que isto é passado e que, em qualquer caso, é boa a suposta reviravolta de Lomborg. Admito que sim, mas na realidade aquilo que o Guardian lhe atribui e tendo em conta o que diz Howard Friel, ele não alterou assim tanto a sua posição.
Tendo em conta o que li, é uma reviravolta de 90 graus e um passo no sentido de favorecer discussões mais úteis. O que diz Friel e outros é igual ao litro pois ainda tenho cabeça para pensar e interpretar a partir de fontes directas. Aguardemos pela fonte directa para progredir nesta conversa.
> Que eu saiba esta redução drástica das emissões de CO2 é condição essencial do problema.

Sim mas há várias formas de se chegar lá. vamos esperar pelo livro para saber exactamente o que defende Lomborg.

> Dou-lhe o exemplo da China. Esta tem vindo a crescer a 10% ano (PIB); e já é a segunda economia mundial. Isto significa que duplica a sua dimensão de 7 em 7 anos. O consumo de energia estará a crescer ainda mais rapidamente.
Sim e se a solução que preconiza é um corte radical neste crescimento vai ficar a falar sozinho, infelizmente. As soluções têm de partir de pressupostos realistas caso contrário não servem de nada.
>
> Para entender melhor Lomborg e onde ele se enquadra, sugiro um interessante livro de uma prof. de Direito (Lisa Heinzerling) e de um economista (Frank Ackerman): "Priceless"
O José leu o livro de Lomborg? Aconselho-o a recorrer às fontes primárias primeiro e só depois ler as secundárias. Dá mais trabalho mas dá resultados mais interessantes.

José M. Sousa disse...

Então a autoridade é completamente irrelevante, aquela que deriva da credibilidade adquirida, das provas dadas, etc.?

Eu não li nem o Ambientalista Céptico nem o "Cool It". Mas leio o que diz Lomborg no Project Syndicate, por exemplo. Suponho que se trata do mesmo.
Além disso já assisti a apresentações na NET, TED TALKS, por exemplo. Nos artigos no Project Syndicate, e não só, é raro Lomborg citar as fontes das suas afirmações.
Em relação ao "Cool It", por exemplo, na recensão citada, há referências a citações que dão uma boa ideia da pobreza e enviesamento da análise.

José M. Sousa disse...

Refiro-me a esta recensão

Mas o Miguel, afinal, também recorre a argumentos de autoridade, perfeitamente razoável, no caso, mas não deixa de ser um argumento de autoridade:

«Eu sou um "insider" do processo de "referee" (como autor, "referee" e editor) pelo que conheço as suas vantagens e fragilidades. É melhor não irmos por aí. Aliás, não tendo contestado Lomborg os resultados veiculados pelo IPCC esta referência ao IPCC é extemporânea.»

«assassinato político de Lomborg»

Ora, por favor. Por parte de quem, de Stephen Schneider e companhia? Se há coisa que Lomborg tem do seu lado são políticos, por sinal maus.

«Palavras atiradas ao vento, sem demonstração e com o único fito de descredibilizar um autor porque o argumento não agrada não me sensibilizam.»

Com franqueza, está a adoptar uma atitude arrogante. O livro que lhe citei, "Priceless" analisa circunstanciadamente as "ideias poderosas" que Lomborg e outros utilizam de forma sistemática e deliberada, nomeadamente, a sua aplicação da Análise Custo Benefício aos ambientais e de saúde, nomeadamente, às políticas e regulamentos públicos, demonstrando o quanto estão erradas.

«Volto a salientar que Lomborg não escreveu nem pretendeu escrever um livro científico»

Pois não, mas como afirma Ackerman na recensão acima:

«If he had confined himself to actual examples of oversimplification and exaggeration in climate change rhetoric, Lomborg could have written a short, useful article - perhaps making the point that it is unhelpful and unnecessary to overstate the case, since the real problems of climate change are serious enough.»
[...] «As in his previous books, Lomborg adopts a voice of authority in Cool It. He offers a definitive-sounding explanation of the climate problem for a nontechnical audience, identifies and summarizes recent research, and tells his readers who to trust and who to doubt»

José M. Sousa disse...

Quanto à necessidade de gastar 100 mil milhões de dólares ano em energias renováveis, isso até nem é novidade:
já em Dezembro de 2009 Lomborg dizia isso:

We should be negotiating an international agreement to increase radically spending on green-energy research and development – to a total of 0.2% of global GDP, or $100 billion a year

«Vivemos num mundo de interesses e quando aparece alguém com ideias poderosas que podem ser aproveitadas por outro para determinados interesses, é normal que o façam.»

Claro, mas há limites!

« As soluções têm de partir de pressupostos realistas caso contrário não servem de nada.»

E o que é que considera realistas? Se. por absurdo, amanhã se anunciasse que se detectou um asteróide em rota de colisão com a terra daqui a vinte anos, acha que esse argumento seria aceite? O problema é que a opinião pública mundial desconhece - em boa parte devido a sofisticadas campanhas de desinformação, como bem sabe - a maior parte dos dados do problema. Se assim não fosse, provavelmente o que considera irrealista deixava de o ser. Aqui trata-se de política, e são os interesses de poucos que estão a levar a melhor. Lester Brown dá o exemplo da mobilização económica para Segunda Grande Guerra como ilustração de como o que parece irrealista deixa de o ser desde que haja políticos à altura e cidadãos informados. Agora, é claro, se prevalecer o cinismo, então não há anda a fazer.

José M. Sousa disse...

Já agora, não é verdade que a análise de Lomborg em "O Ambientalista Céptico" seja apenas uma tentativa de analisar
como se comunica ciência, através da análise de jornais, aplicando os métodos das ciências sociais, etc.. Neste excerto do livro cujo sub-título é "Measuring the Real State of the World" Lomborg afirma que o objectivo do livro é
«This book attempts to measure the real state of the world».

Além disso olhando para o índice, vemos uma vez mais que ele tem a pretensão de dar um quadro alternativo sobre o estado da ciência em inúmeras áreas,da energia e recursos à biodiversidade. É um super-homem o Lomborg!

Além disso, a visibilidade de Lomborg não resultou da queixa movido por vários cientistas (a 1ª declaração da comissão data de 2003). Jornais com o The Economist, o Wall Street Journal, o nosso Expresso, etc. já lhe davam destaque em 2001.

José M. Sousa disse...

De facto, os argumentos de Lomborg são poderosíssimos e de uma honestidade e conhecimento extraordinários:
MunkDebates É necessário inscrição prévia no site. Alternativa é a página no Youtube

José M. Sousa disse...

Transcrição do debate citado no comentário anterior

Miguel B. Araujo disse...

Caro José,

Confesso que tenho pouca apetência para discutir "sound bites". Eu li o livro e formulei uma opinião. O José não leu o livro mas mesmo assim tem opinião. Não há mal nisto. Todos, em algum momento da vida, formulamos opiniões baseadas em fontes secundárias. Mas não faz muito sentido discutirmos sobre este livro pois existe uma assimetria grande (sobre o segundo livro não comento pois não o li). Eu discuto o que li e concluí e o José distribui links sobre o que outros disseram. Poderia discutir o que outros dizem mas não faz muito sentido até porque a resposta a estas opiniões acaba por, invariavelmente, ser mais links. E de link em link perde-se o fio à meada e acabamos por discutir o sexo dos anjos. Exemplos:

Eu digo que a crítica de alguns fazedores de opinião na área científica é desajustada pois criticam o livro usando os parâmetros para avaliar artigos científicos. Eu saliento que o livro não é um livro científico e que portando não pode ser avaliado desta maneira. É um livro veicula um argumento - de que grande parte da agenda ambiental está assente numa análise catastrofista e por vezes distorcida dos dados científicos - com base na interpretação de documentos publicados nos media. O José responde é não é verdade "que o livro seja uma tentativa de analisar como se comunica ciência, através da análise de jornais, aplicando os métodos das ciências sociais" pois leu o índice do livro, o subtítulo, e a frase em que Lomborg procura vender o seu livro com "This book attempts to measure the real state of the world". Podemos discutir esta frase mas se o fizermos não estamos a discutir o que o livro faz mas as concessões retóricas que Lomborg faz para vender o livro. Se quer a minha opinião, o livro não mede o estado do planeta mas contribui para discutir até que ponto a ciência e a comunicação que dela se faz sobre o estado do planeta é rigorosa. É neste ângulo de discussão, mais do que as propostas que Lomborg faz, que o livro me parece útil.

Para rebater a minha análise de que a visibilidade de Lomborg estimulada pela radicalização da resposta dada por alguns secotres ambientais, diz que muitos jornais já lhe davam destaque quando o livro foi publicado. Sim, os jornais e as revistas dão os destasques que lhes parecem apropriados mas a visibilidade de Lomborg cresceu proporcionalmente ao debate que gerou e para que haja debate é necessário haver contrariantes. Neste concreto o debate atingiu níveis muito superiores a qualquer debate ambiental pois a forma usada por algumas mentes ilustres para arrumar o debate foi tentar arrumar o próprio autor do livro. Um erro colossal, a meu ver.

Sobre o meu argumento de autoridade verá se tiver atenção ao contexto que não o é. O que quero dizer é que conheço o significado do "peer review" como "insider" e que como tal não me deixo impressionar por ele. O "peer review" cumpre, pior ou melhor, a sua função nas revistas científicas mas não serve para mediar o debate político. No caso concreto, houve muito autor importante que foi criticado por Lomborg. É o caso, por exemplo, de E.O wilson e do uso que faz das "species area curves", derivadas da teoria de biogeografia insular, para fazer estimativas de extinção global das espécies. Teria tido interesse em ler textos que rebatessem esta crítica mas apenas li "sound bites" sobre a desonestidade de Lomborg, a sua proximidade a grupos de interesse neoliberal e outros disparates que tais. O que me preocupa é que este "sound bites" foram a resposta dada por mentes ilustres que tinham responsabilidade intelectual de não se deixar atrair por este tipo de facilitismos.

Finalmente, sobre a necessidade de se trabalhar com opções realistas responde-me com asteroides. Acha que faz sentido discutir a realidade com base em ficção?

José M. Sousa disse...

Caro Miguel Araújo

O Miguel está no direito de olhar as coisas na perspectiva que entender, naturalmente.

No último debate que indiquei, com um dos tais links, quem é profuso em "sound bites" é Bjorn Lomborg em pessoa. Aqui não se trata de de uma fonte secundária porque é o próprio a falar.
É curioso que ele é apresentado, aliás como em muitas outras ocasiões, como "Climate Change Expert".

Você diz que os cientistas cometem falhas, às vezes exageram, etc. Isso parece-me normal, e Lomborg poderia ter-se limitado a isso.

Acaso o Miguel, quando leu o livro, foi verificar a credibilidade da maioria das afirmações do próprio Lomborg?
Porque desculpe que lhe diga você também não é especialista em todos os tópicos tocados por ele. Nesse aspecto poderia ter sido iludido por ele como qualquer outra pessoa.
Aliás uma das fontes secundárias que citei (Frank Ackerman) ele próprio diz que foi abusivamente citado por Lomborg porque tirou conclusões à pressa.

Lomborg não critica apenas fazedores de opinião, critica cientistas e organizações prestigiadas como o World Watch Institute que tem equipas de investigadores, e não propriamente "fazedores de opinião"; claro que, como toda a gente, podem enganar-se.

Em todo o caso, e o exemplo do debate que indiquei, entre outros, é mais do que clara a falta de seriedade de Bjorn Lomborg no debate.

(cont.)

José M. Sousa disse...

Sobre o asteróide, parece que não quer entender o paralelo.
Eu explico.
Bjorn Lomborg, de forma sistemática, diz que, embora o problema das alterações climáticas seja sério, há prioridades mais importantes, como enfrentar a fome, a SIDA, doenças infecciosas como a malária, saneamento básico, falta de água, etc. Revela-se muito preocupado com o destino do Terceiro Mundo! Diz então que dispomos de poucos recursos e que as escolhas que temos a fazer são entre gastar o pouco que gastamos em ajuda ao desenvolvimento e o que ainda não gastamos em medidas para enfrentar as alterações climáticas. Acontece que Lomborg cita o IPCC, mas, sem o dizer, refere-se sempre aos cenários mais optimistas e tira conclusões como

«How much will cutting carbon emissions help them? It’s going to get warmer and warmer. There are going to be more and more problems for them. But George is going to save them by about 0.1 degrees towards the end of the century. It’s a very, very inefficient way to help them. »

Não explica onde vai buscar estes 0.1 graus até ao fim do século.
ou:
«If you take those 50 billion dollars, you’re essentially going to make it impossible for us to save four and a half million kids from dying. Yet if you spend it the most effective way on climate change, you can postpone global warming by the end of the century by six hours. » Ena, que precisão!!!

Acontece que no Relatório do IPCC (AR4 - 2007), este traçou vários cenários de emissões

José M. Sousa disse...

e alguns deles estimam concentrações de CO2 até final do século que ultrapassam as 1000 ppm. E, como é público, revisões científicas mais recentes atribuem uma maior probabilidade a cenários bem mais graves do que aqueles em que Lomborg se baseia.

Ora, o Miguel aceitará que ainda que haja uma probabilidade de 10% ou até menos de virmos a ter 1000 ppm até final do século isto seja motivo suficente para começarmos a alterar o estado actual das coisas. E penso que concordará que um cenário destes é, no mínimo, potencialmente cataclísmico?! Parece-me que o que não é realista é continuarmos como estamos e portanto, seria mais útil que pessoas como Lomborg deixassem a desinformção e fossem mais sérios, porque só uma opinião pública informada pode permitir essa mudança.

O que Lomborg faz nos seus discursos é traduzir todo em dinheiro, como se o dinheiro, a riqueza fosse algo sem relação com o mundo natural ( o que Herman Daly designa por Fallacy of misplaced concreteness). Ele tem a pretensão de saber quem são os "Top economists".
«But the costs are phenomenal. Economists tell us the costs of doing that, to keep to the two degrees centigrade limit that many nations have signed on to, will cost, by the end of the century, some 40 trillion dollars a year. That is forty trillion dollars. The net benefit will be to avoid climate damages of about three trillion dollars. We are buying a cure that’s much more costly than the ailment.»



Pois há muitos outros que ele não refere, e que são especialistas em "ecological economics" que ele, muito convenientemente ignora: Herman Daly, Frank Ackerman (Can We Afford the Future?
The Economics of a Warming World"
, etc. E a forma como desvaloriza o Stern Review, que não é obra de uma única pessoa, como ele quer fazer crer. E podia também citar o relatório da Mckenzie:
«The macroeconomic costs of this carbon revolution are likely to be manageable, being in the order of 0.6–1.4 percent of global GDP by 2030. To put this figure in perspective, if one were to view this spending as a form of insurance against potential damage due to climate change, it might be relevant to compare it to global spending on insurance, which was 3.3 percent of GDP in 2005»


No debate, o Lomborg tem esta preciosidade:
«Actually, global warming in that particular area means that there will be less water stress, not more. Why? Because there will be more water vapor in the atmosphere»

Para uma pessoa que exige rigor, está muito bem....

José M. Sousa disse...

O Miguel disse num dos primeiros comentários que fez, que

«As críticas no livro foram amplamente documentadas com exemplos mas estes nunca foram rebatidos.»

Parece que não é exacto:

Foi escrito um livro inteiro sobre o assunto: primeiro com o título "The Cost of the future" «Fremtidens Pris», depois com o título em inglês download aqui

José M. Sousa disse...

com título, dizia : Sceptical Questions and Sustainable Answers

Miguel B. Araujo disse...

Caro José,

Continua o churrilho de links. Se quer conversar o melhor será digerir os links e assumir os argumentos como seus pois não terei tempo de seguir todos os links que me irá apresentar em resposta à minha prosa. Aliás, nem se se percebe muito bem o que quer enviando tantos links pois neles encontramos informações que apoiam as suas leituras assim como informações que não apoiam. Por exemplo, resolvi seguir um deles. O vídeo do youtube que apresenta o "munk debate". Nas suas palavras este é um exemplo de Lomborg no seu pior, demagogo e impreciso. Mas que encontrei eu? Encontrei um debate polarizado em que todas as partes recorreram da demagogia, da imprecisão e de muita retórica para fazer valer os seus pontos de vista. Por exemplo, o próprio Monbiot cai na tentação da demagogia quando atribui o assassínio em massa das pessoas de uma aldeia no Quénia às alterações climáticas. O raciocínio seria mais defensável se tivesse apenas dito que este episódio ilustrativo de tensões sociais exacerbadas por factores ambientais como as secas prolongadas. E depois poderia acrescentar que as projecções para esta região são de maior aridez pelo que as tensões terão tendência a aumentar. Mas atribuir o assassinato em massa que presenciou às alterações climáticas é demagógico pois deliberadamente omite que esta região é recorrentemente afectada por secas, que a instabilidade social é endémica, etc. Está a lançar um "sound bite", impreciso com o fito único de convencer o povo incauto. Todos os participantes do debate usaram este tipo de simplificações e imprecisões.

Por outro lado o próprio ângulo em que o debate se desenrola é patético. Aqui contrapunham-se os que alegadamente defendem que temos que mitigar as alterações climáticas e os que dizem que é mais eficiente adaptarmos-nos a elas. É um debate inútil mas vale a pena recordar o contexto histórico em que se desenvolve: grande parte do movimento ambiental "mainstream" negou-se, durante anos, discutir a urgência de se tomarem medidas de adaptação climática contrapondo estas à urgência da mitigação. Esta era a tese central, a tese veiculada por líderes como Al Gore e uma tese entretanto substituída (no último relatório do IPCC) pela tese de que temos de fazer ambas as coisas.

Ora a posição táctica deste movimento não era defensável. Não era defensável do ponto de vista técnico porque as alterações climáticas, de acordo com as projecções, ocorrerão com ou sem mitigação das emissões de CO2-eq. Na realidade, até 2050 os cenários e as projecções decorrentes são bastante concordantes e independentes das medidas que se tomarem agora. A diferença começa a registar-se depois de 2050. Portanto, assumindo as projecções como certas, é óbvio que é necessário avançar com medidas de adaptação e que a mitigação ajudará a reduzir custos futuros de adaptação.

As posições de Lomborg têm sido a de contrapor o exagero desta posição com o exagero de outra: não mitigar, adaptar já para resolver os problemas actuais e com isso minimizar a exposição das populações aos problemas do futuro. É uma posição extrema que omite o facto dos custos serem imensamente superiores no futuro se não se mitigar já. Omite também o facto de haverem cenários futuros que só são mitigáveis sem aumentos de temperatura extremos, como é o caso da manutenção de comunidades insulares. No entanto é uma posição que teve o mérito de ajudar a recentrar o debate e trazer o discurso da adaptação para o mainstream". Hoje, todas as pessoas que partem para este debate reconhecendo a existência de alterações climáticas com origem humana reconhecem a necessidade de mitigar (mesmo Lomborg) e adaptar, sendo a discussão centrada nas prioridades.

José M. Sousa disse...

Tenha paciência, você acusou-me de preguiça e de não exercitar os neurónios. Os links servem para mostrar que não estou a inventar.

«Por exemplo, o próprio Monbiot cai na tentação da demagogia quando atribui o assassínio em massa das pessoas de uma aldeia no Quénia às alterações climáticas. O raciocínio seria mais defensável se tivesse apenas dito que este episódio ilustrativo de tensões sociais exacerbadas por factores ambientais como as secas prolongadas.»
Ele não disse isso exactamente. Ele não fez essa atribuição directa, mas esse exemplo, serviu para ilustrar algo que tenderá a ocorrer com frequência no futuro com o agravamento das alterações climáticas.

Miguel B. Araujo disse...

Quanto ao asteróide continuo sem perceber. Se o planeta estiver na rota de um grande asteróide que atingirá o planeta em 20 anos, só há uma solução satisfatória: destruir o asteróide.

As alterações climáticas não vão destruir o planeta. Também não vão aniquilar a humanidade. Muito menos serão a causa única da crise sobre a biodiversidade.

Com as alterações climáticas haverá uns que ganham e uns que perdem e os que mais perdem serão, provavelmente, os que mais perdem hoje. Portanto estamos no campo do debate ético, do debate económico e do debate ambiental mas não estamos perante uma catástrofe como a que ilustra com o seu exemplo.

Ora não estando nós perante o cenário da destruição irremediável do planeta é normal que existam diferentes perspectivas sobre como gerir a crise. Também é normal que as soluções sejam matizadas de acordo com o contexto ideológico de cada um. Tudo isto é normal e desejável e pessoalmente gostaria de assistir e participar em debates racionais sem que se recorra sistematicamente à demagogia fácil e ao ataque "ad hominen", como o que foi feito a Lomborg por ocasião do seu primeiro livro e que prejudica principalmente quem o profere.

Miguel B. Araujo disse...

Caro José,

O que Monbiot disse foi isto:

They killed 96 people that night. There were two that got away and they killed them the next day. They killed them because they were desperate and they were desperate because of droughts. And that drought almost certainly was a result of climate change.

A última frase, como referi acima, não era necessária pois nem ele nem ninguém pode relacionar um evento isolado com um padrão que só faz sentido quando interpretado à luz de várias décadas. É um acto de demagogia mas a verdade é que neste debate houve vários de parte a parte pelo que nem sequer é uma crítica a Monbiot que de resto tem grandes qualidades de comunicação e de clarividência. Mas é uma constatação que serve para matizar o contexto em que este debate decorreu.

José M. Sousa disse...

»Quanto ao asteróide continuo sem perceber. Se o planeta estiver na rota de um grande asteróide que atingirá o planeta em 20 anos, só há uma solução satisfatória: destruir o asteróide.»

Pois, e isso provavelmente exigiria a mobilização de recursos técnicos e económicos de todos os países do mundo. Ninguém se lembraria de vir com argumentos: ah mas isso vai diminuir o PIB, etc!

«Também não vão aniquilar a humanidade»

Mesmo que isso seja verdade, o que não é líquido, a questão é se teremos condições para viver num mundo com um mínimo de estabilidade e civilização. Porque a Humanidade até pode continuar a existir, depois de guerras ou catástrofes que reduzam significativamente a sua dimensão.

Miguel B. Araujo disse...

> «Também não vão aniquilar a humanidade»
>
> Mesmo que isso seja verdade, o que não é líquido, a questão é se teremos condições para viver num mundo com um mínimo de estabilidade e civilização. Porque a Humanidade até pode continuar a existir, depois de guerras ou catástrofes que reduzam significativamente a sua dimensão.

Caro José, Este tipo de intervenções catastrofistas não ajuda à credibilização do debate climático. A humanidade está exposta a climas que vão desde o Árctico ao deserto do Sahara. Com a ajuda da tecnologia, soubemos adaptarmos-nos a condições climáticas extremas e não se prevê que o clima do planeta evolua no sentido de deixar de ter climas análogos com os actuais. O que variará é a distribuição destes climas e o aparecimento pontual de climas mais extremos. Portanto, a humanidade não está em perigo pelas alterações do clima, o que não quer dizer que o modo de vida de centenas de milhões de pessoas não seja afectada, em muitos casos para pior. O exagero apenas serve para dar argumentos a quem não se revê com a sua posição.

José M. Sousa disse...

Pois, e de evento isolado em evento isolado, o problema vai-se agravando até não ter remédio. Sabe que existem "tipping points" a partir dos quais o sistema ganha vida própria e depois ninguém sabe até onde podem ir as temperaturas. Alguém faz ideia de como será este planeta com uma temperatura média de + 5ºC , 6 , 7ºC, 10ºC? Você sabe? Quer correr esse risco?
Esse argumento de que façamos o que fizermos agora, só começa a ter consequências após 2050, parece-me duvidoso. Mesmo que fosse verdade, certamente após 2050 as consequências serão mais graves se não começarmos a inverter as coisas. Aliás, temos constatado que as previsões têm sido optimistas quando comparadas com o que ocorrido, e não o contrário.

José M. Sousa disse...

Oh, pelo amor de Deus. Tenha paciência, com o devido respeito.

É evidente que continuará a haver climas diferenciados.

Porque julga o Miguel que a Austrália com o tamanho que tem, tenha apenas cerca de 20 milhões de habitantes? Saberá isso, com certeza melhhor do que eu.
Eu não estou a ser catastrofista. Mas porque é que a catástrofe não há-de ser um resultado possível, só porque é desagradável? Como o próprio IPCC tem em conta, é um cenário provável, se não invertermos o curso. E para isso não bastam novas tecnologias, emboram sejam importantes.

José M. Sousa disse...

Aliás o livro "Colapso" de Jared Diamond é muito instrutivo a este respeito.

Miguel B. Araujo disse...

aro José,

Pode-se discutir com base em especulações mas a eficácia destas discussões é perto de zero quando se quer que o resultado sejam mudanças drásticas no modelo económico do planeta. Ou seja, mudanças que implicam custos para muitas gente que não pensa como nós.

Nem eu nem ninguém conhecemos os "tipping points" do planeta. Sabe-se que existem mas não se sabe quais são nem quais as suas consequências. Por exemplo, eu estou convencido que a partir de determinado nível de aquecimento inverte-se o padrão e começamos a arrefecer. Existe evidência para isto no registo fóssil mas ninguém sabe dar respostas concretas pois a complexidade das interacções entre o sistema atmosférico e oceânico é superior ao conhecimento que temos sobre eles.

O argumento de 2050 não é argumento. É o resultado da análise das projecções oficiais do IPCC e é com base nesses resultados que se defendem mudanças com consequências políticas e económicas. O que o José não pode (deve) fazer é defender a análise destes resultados quando concorda com eles e descartá-los quando não concorda. Só a partir de 2050 é que as projecções entre GCM e cenários de emissões começa a divergir. Isto que dizer duas coisas:

1 - Que o resultado das diferentes opções politicas começa a ter efeitos mais vísiveis a partir desta data devido ao "lag" com que o sistema climático responde;

2 - Que a incerteza entre as diferentes projecções aumenta a partir deste período também.


PS. Sobre o seu último comentário. Desconheço qualquer cenário do IPCC que diga que a humanidade está em risco de ser aniquilada. Discutir isto não faz qualquer sentido.

José M. Sousa disse...

Eu não disse que o IPCC tem um cenário onde a Humanidade vai ser aniquilada. Mas um cenário de emissões 1000 ppm, enfim...
É como diz o Monbiot, "How lucky do you feel"!

Que há-de arrefecer , há-de , mas se levar 500 anos, não nos servirá de muito. De qualquer modo, há um princípio na incerteza que é o princípio da precaução.


«mudanças drásticas no modelo económico do planeta»
Essas mudanças drásticas terão que ocorrer em qualquer caso, por outras razões. Mas você parece assumir que as alterações climáticas não forçarão essas mudanças muito antes de atingirmos temperaturas muito altas. Não sei como pode tanta certeza disso...

José M. Sousa disse...

« pois a complexidade das interacções entre o sistema atmosférico e oceânico é superior ao conhecimento que temos sobre eles.»

Pois, parece assumir que a incerteza funciona a nosso favor, e se fôr ao contrário?

José M. Sousa disse...

Ainda em relação à afirmação de Monbiot, ela é perfeitamente legítima, para além da razão que referi.
Existem estudos, já tinha lido referências em relação a isso, sobre alterações climáticas na região do Sahel.

E ora vai mais um link, para isto não ficar apenas no ar:

«It is safe to say that the decreasing rainfall and devastating
droughts in the Sahel region during the last three decades of the 20th century are among the most undisputed
and largest recent climate changes recognized by the climate research community.»

Parece-me que, na dúvida, a atitude responsável não é ignorar o problema, mas prevenir.

José M. Sousa disse...

Para provar que não estou em delírio, pelo menos sózinho, a propósito do asteróide e de cenários de extinção da espécie humana, o relatório Stern fá-lo Table 2A.1 (pág 7 do PDF, ou 47 do documento)aqui

Miguel B. Araujo disse...

Caro José,

O seu argumento sobre Monbiot começa a parecer desesperado. Primeiro nega que ele tenha dito o que disse. Quando vê que por aí é melhor não ir, diz que Monbiot está certo porque os padrões climáticos do Sahel são consistentes com as projecções. Acontece que o Kenia não está no Sahel pelo que temos aqui um problema elementar de geografia!!! Mas também temos um problema de manipulação de conceitos. Vejamos: Este ano tivemos muitos incêndios, não foi? Estes incêndios coincidem com projecções do IPCC que prevêem o aumento de temperaturas, a redução da humidade relativa do ar na maior parte da Península Ibérica, logo o aumento da probabilidade e severidade dos incêndios. Quer isto dizer que os incêndios deste ano se devem às alterações climáticas?

Se me disser que sim, dou o caso como perdido. Se me disser que não, sugiro que volte a pensar na frase de Monbiot. Não precisa de responder e enviar mais links. Basta-me que pense em silêncio sobre o tema.

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Quanto ao asteróide, peço-lhe mais uma vez que leia os links e digira-os antes de os enviar pois caso contrário levanta areia, faz perder tempo às pessoas e expõe a superficialidade com que aborda estes temas. Em nenhum momento Stern faz uma analogia directa entre asteróides e alterações climáticas, como o José fez acima. A discussão é teórica e serve para ilustrar a importância de calcular o "discount rate" na análise económica de impactes climáticos. Vejamos o que diz Stern no link que enviou:

"There is, however, one aspect of the argument that will be important for us in the analysis that follows in the Review and that is the appropriate pure time discount rate. We have argued that it should be present for a particular reason, i.e. uncertainty about existence of future generations arising from some possible shock which is exogenous to the issues and choices under examination (we used the metaphor of the meteorite)."

Repare na última frase: exogenous to the issues and choices under examination!!!!

A tabela que indica apenas serve para ilustrar as consequências de usar diferentes valores de "rho" (o discount rate) no cálculo da probabilidade de persistência da humanidade. Ou seja, é uma análise de sensibilidade para mostrar que um factor por afectar o cálculo de uma quantidade. Não serve para dizer que as alterações climáticas projectadas afectam directamente a persistência da humanidade pois para isso seria necessário apresentar um mecanismo que é algo fora do âmbito da discussão de Stern. Os valores da tabela são, por assim dizer, arbitrários e teóricos!!!

A conclusão do capítulo ilustra bem o patamar teórico desta discussão:

"Whether we are considering marginal or non-marginal changes or strategies the “pure time discount rate” is of great importance for a long-run challenge such as climate change. The argument in the chapter (...) is that ”pure time discounting” is relevant only to account for the exogenous possibility of extinction. From this perspective it should be small. On the other hand, those who would put little weight on the future (regardless of how living standards develop) would similarly show little concern for the problem of climate change."

Caro José: O problema dos seus links é este. Entope os canais de comunicação e não clarifica nada. Se os quer usar de forma produtiva é melhor lê-los com atenção antes de os enviar.

José M. Sousa disse...

Eu sei que a discussão era teórica e sobre taxas de desconto, mas é com base nessas taxas de desconto que Lomborg e uma série de outros economistas sugerem que determinem as políticas públicas.
A questão do asteróide agora era graça, admito. Peço desculpa por fazer perder-lhe tempo em relação a essa parte, mas julgo já tinha explicado o meu ponto em relação a isso. Se a minha discussão é superficial, pois fique sabendo que considero que a sua também o é, e muito.
O Quénia não fica no Sahel, pois não, mas é limítrofe. Deve haver uma ruptura ao passar a fronteira!
De qualquer maneira não negou a afirmação taxativa do artigo que lhe citei, que não refere um evento isolado, mas uma tendência de décadas

José M. Sousa disse...

«It is an ill-posed question whether the 2003 heatwave was caused, in a simple deterministic sense, by a modification of the external influences on climate—for example, increasing concentrations of greenhouse gases in the atmosphere—because almost any such weather event might have occurred by chance in an unmodified climate. However, it is possible to estimate by how much human activities may have increased the risk of the occurrence of such a heatwave6, 7, 8. Here we use this conceptual framework to estimate the contribution of human-induced increases in atmospheric concentrations of greenhouse gases and other pollutants to the risk of the occurrence of unusually high mean summer temperatures throughout a large region of continental Europe»

Saliento: "It is an ill-posed question"

Acho que o mesmo se poderia dizer da forma como pôs a questão dos incêndios em Portugal.

A propósito dos incêndios na Rússia, a Organização Meteorológica Mundial disse isto: «The occurrence of all these events at almost the same time raises questions about their possible linkages to the predicted increase in intensity and frequency of extreme events, for example, as stipulated in the IPCC Fourth Assessment Report published in 2007. The Report stated that “…the type, frequency and intensity of extreme events are expected to change as Earth’s climate changes, and these changes could occur even with relatively small mean climate changes. Changes in some types of extreme events have already been observed, for example, increases in the frequency and intensity of heat waves and heavy precipitation events” (Summary for Policy Makers, WG I, FAQ 10.1, p. 122).»

Alguns diziam até que a Rússia poderia ser um beneficiário - um dos tias supostos - das alterações climáticas, como se isto tudo fosse linear.

E quanto a superficialidade, este seu parágrafo é mais que suficiente, e nem preciso de colocar qualquer "link" explicativo:
«A humanidade está exposta a climas que vão desde o Árctico ao deserto do Sahara. Com a ajuda da tecnologia, soubemos adaptarmos-nos a condições climáticas extremas e não se prevê que o clima do planeta evolua no sentido de deixar de ter climas análogos com os actuais. O que variará é a distribuição destes climas e o aparecimento pontual de climas mais extremos. Portanto, a humanidade não está em perigo pelas alterações do clima, o que não quer dizer que o modo de vida de centenas de milhões de pessoas não seja afectada, em muitos casos para pior»

Esteja descansado que não o chateio mais, já vi que não gosta de ser contrariado.

Miguel B. Araujo disse...

Caro José,

Não se trata de não gostar de ser contrariado. Trata-se de lamentar ver o mesmo tipo de erros que o tretas e companhia fazem, em si. Os extremos tocam-se, infelizmente, e por muito que possa simpatizar com o seu ponto de vista geral nunca estarei de acordo com os facilitismos que levam à demagogia. É justamente esse tipo de facilitismos que alimenta o Lomborg e outros.

Quanto ao resto, não vale a pena responder pois visivelmente não se deteve a pensar no que escreveu e muito menos no que escrevi eu. Se tivesse não voltaria à carga.

José M. Sousa disse...

Soberba não lhe falta. Lá está você com a autoridade mal disfarçada. Erros? Então e os seus? É claro que estamos a falar de ética, de riscos, de política. É neste domínio que Lomborg
se define, e os erros dele são abjectos!

De ciência do clima ele é tão perito quanto eu!

Você tem todo o direito a ser um optimista inveterado e um crente na tecnologia, agora isso não o coloca do lado certo. Você na sua argumentação recorreu a truques de linguagem e preciosismos, ignorando o ponto mais geral que estava em discussão (um exemplo foi Monbiot, que o meu argumento era desesperado, etc.); esqueceu as minhas observações que respondiam a dúvidas/questões levantadas por si. Insinuou que não lia as referências que lhe dava, quando a sua memória sobre o que leu sobre o Ambientalista Céptico parece muito selectiva. De todos os livros que lhe indiquei, "Colapso", "Priceless", "Can we afford the future", "Beyond Growth", etc, li-os todos do princípio até ao fim e, mesmo não tendo lido o Ambientalista Céptico, mas conhecendo o que conheço de Lomborg, ele é um vigarista! Repito as vezes que quiser!

Sabe perfeitamente que, embora o IPCC seja a autoridade em muitos destes assuntos, o material científico em que se baseia está desfasado em pelo menos 4 anos (o que é muito), mas você ignora as referências científicas mais recentes. Quer dizer, vamos ficar quietinhos até 2013 até que saia o AR5, sabendo nós que o IPCC não fez ele próprio investigação.

Passe bem!

Anónimo disse...

eh eh, miguel, não dê trela a estes religiosos. são pior que a seita de jeová,

ht