terça-feira, outubro 26, 2010

80 dólares (II)

Tenho usado esta barreira dos 80 dólares para minha orientação.
Acredito (é fé mesmo, fundamentação racional, zero) que andará pelo limite da competitividade da energia eólica. Confio em quem me disse isso há uns tempos, mas não sei o suficiente para saber se assim é ou não.
É claro que é um valor mais que impreciso, tanto mais que a inflação terá comido parte do valor dos 80 dólares de então, mas também as melhorias de eficiência na produção de electricidade a partir do vento terão diminuído o limite da sua competitividade, sem apoio público, face às energias fósseis.
A coisa não deve estar muito longe visto que, tanto quanto sei, nos últimos leilões para atribuição de licenças de produção eólica, o preço médio por kW das eólicas andar a par do preço médio do mercado.
Mas convém notar que este preço do petróleo existe numa altura de crise económica em várias economias importantes, e também de abrandamento no crescimento de economias como a da China.
Vale a pena olhar para a figura que publico a ilustrar este post e que é do financial times do dia 19 de Outubro, publicada a ilustrar um artigo sobre o esforço de eficiência que a China está a fazer (o objectivo é a redução em 20% da intensidade energética, isto é, a energia gasta por cada unidade produzida). Vale a pena notar o aumento previsto do consumo, mesmo que os objectivos de eficiência energética sejam atingidos.
Eu não percebo nada de economia, vou lendo aqui e ali, ouço quem sabe mais que eu do assunto e por mais cauteloso que seja não consigo ver coisa diferente disto: se o petróleo está nos 80 dólares nestas circunstâncias, qual é a perspectiva face à uma hipotética recuperação económica na Europa, USA e Japão.
É nestas alturas que me lembro de há muitos anos estar no jardim da Gulbenkian, onde, não muito longe, estava uma mulher a falar para quem a queria ouvir, preocupada porque estávamos em Outubro e ela tinha deixado passar o Verão sem tomar banho, pelo que a perspectiva era agora esperar mais um ano pelo próximo banho.
De água fria, calculo eu.
henrique pereira dos santos

7 comentários:

Nuno disse...

Um alerta importante, porque nos últimos dias o preço cirandou pelos 85$ e porque ficou provado no Verão de 2008 que o país paralisa com o barril nos três dígitos, uma vez que somos os europeus mais dependentes da distribuição de bens por via rodoviária.

Pelo que tenho lido, a viabilidade económica dos custos de extracção, cada vez maiores para se poder dar resposta ao aumento de consumo, nunca vai deixar os preços descerem abaixo dos 75$ e já se assume como verosímil o impensável há poucos anos: um barril estável nos 100$ até 2012.

Para além da oportunidade que possa representar para o eólico (mal ou bem, se calhar mais para o carvão e gás natural), resta-nos saber se terá alguma lógica continuarmos a investir na nossa dependência da rodovia, o sorvedouro principal de petróleo; responsável por importações monumentais de combustível e viaturas; incentivador de dispersão territorial, etc, etc.

Senão não sei se num par de anos o exército terá meios para andar a distribuir mantimentos à população por uns tempos.

Cumprimentos

Nuno Oliveira

Nuno disse...

Ainda sobre o mesmo assunto chamaram-me há tempos a atenção para este folheto sobre reservas alimentares estratégicas lançado pelo Ministério da Agricultura, sem qualquer autocrítica da parte do promotor:

http://www.cnpce.gov.pt/archive/doc/Reservas_Alimentares_Emergencia.pdf

Acho que é extremamente irresponsável que não se descreva exactamente o cenário de "ruptura no abastecimento" a que se referem, que pelos vistos pode demorar 1 dia ou 6 meses. Também não percebo porque só esteve em hipermercados e não em juntas de freguesia ou postos de correio.

Assim é um alarmismo no mínimo e no máximo uma medida de remedeio ridícula ("mochila anti-crise") face a um colapso anónimo.

Luís Lavoura disse...

O preço do petróleo não tem correlação direta com o custo de produção da eletricidade convencional. De facto, a eletricidade convencional mais barata é atualmente a produzida em centrais a carvão e, recentemente devido à cada vez maior disponibilidade de gás natural liquefeito no mercado mundial, em centrais a gás natural.

As centrais a petróleo são mais caras e, atualmente, ninguém as constrói.

É claro que há uma relação indireta pois, quando o preço do petróleo sobe, os preços do carvão e do gás natural também têm tendência a ser empurrados para cima. Mas trata-se de uma relação indireta e imperfeita, pois os três combustíveis fósseis servem em larga medida mercados diferentes.

O petróleo é sobretudo usado para mover veículos (barcos, automóveis, camiões, aviões).

Anónimo disse...

Portugal com os nossos 10,6 milhões consome 25 Mtoe, ou seja a China vale por 80 Portugais em consumo de energia, mas valeria cerca de 120 vezes se tivesse um consumo per capita similar ao Português.
Estou com o LL, o preço da electricidade e do petróleo está como o das batatas para o do arroz. Ambos são glúcidos, ambos são energia.
Manuel Ferreira dos Santos

Nuno disse...

Já agora, uns números relacionados, tirados do site da DGEG (via Menos1Carro):

- A energia eléctrica é 22,5% do consumo de energia final e 6,2% da mesma energia final são produzidos em Portugal sob a forma de energia eléctrica de origem renovável

- A restante vem de termoeléctricas (47.5% da energia eléctrica foi gerada deste modo em 2009) e de energia eléctrica importada (5% em 2008)

- 52,8% do consumo da energia final vem do petróleo importado, dos quais 62,2% são aplicados no modo rodoviário de transportes, ou seja, 36,7% do consumo de energia final é aplicado em transportes rodoviários, de passageiros e de mercadorias.

- Em 2007 o nosso défice comercial foi de 19.5 mil milhões de euros, dos quais 6,2 mil milhões (quase um terço!) vêm de uma só categoria comercial, a dos "combustíveis e lubrificantes" (ainda se pode contabilizar os veículos, também importados)

Julgo que se está a ignorar um enorme elefante na loja de porcelanas tendo em conta que o mercado para a competição das renováveis, a electricidade, representa apenas 1/5 da energia total.
Infelizmente tocar neste assunto é veneno político porque todos sabem o que implica pedir ao país, apesar de a médio prazo não ser algo opcional mas uma inevitabilidade.

Jaime disse...

Fé não é conhecimento

José M. Sousa disse...

“The Impending World Energy Mess: What It Is and What It Means to You