Neste meu post, para o ilustrar, usei uma fotografia com uma extensa legenda explicando-a.
Todos os comentários ao post se centraram nessa legenda.
A questão de fundo prende-se com uma velha discussão: quando uma empresa investe em conservação isso é bom ou é simplesmente o chouriço que se dá a quem se roubou um porco?
O caso concreto é das celuloses, que ocupam com eucalitptal umas valentes centenas de hectares e deixam alguns para conservação (actualmente, com o modelo de certificação que usam, cerca de 10%), mas poderiam ser as eléctricas e as suas barragens, os eólicos e as suas torres, as construtoras e as suas estradas, enfim, a lista poderia não ter fim.
No fundo a discussão resume-se a saber se estamos melhor com empresas que produzem na lógica própria do negócio, usando para isso os recursos do território que podem ou querem, deixando uns bocados para a biodiversidade e a conservação, ou seria melhor que as empresas tivessem, de base, uma posição de conservação, a que adaptavam o seu negócio.
Do meu ponto de vista não há vantagem nenhuma em ser ineficiente no negócio a favor da conservação. Ou há razões para que a lógica de conservação de um recurso escape à produção económica (e há sítios em que isso se justifica), ou se um território tem uma lógica de produção, então que o faça o mais eficientemente possível, sem perdas para terceiros.
O problema é que nesta discussão o que uns acham perdas aceitáveis (quer porque são pequenas e reversiveis, quer porque sendo grandes e irreversiveis se justificam face aos benefícios da produção), outros acham perdas absolutamente inaceitáveis.
O caso dos eucaliptais e das barragens são provavelmente dos que mais extremadamente se discutem.
Infelizmente mais com o coração que com a razão.
Entrar pela ribeira da Foz, totalmente rodeada de eucaliptais que geram a riqueza que permite manter e alargar um corredor ecológico notável faz qualquer um interrogar-se sobre o que seria o destino dessa galeria ripícola se se tivesse mantido o uso tradicional da propriedade, com base em gado, agricultura e, provavelmente, algum montado.
Sair dessa galeria para o eucaliptal envolvente faz qualquer um interrogar-se sobre que mais valias de conservação poderiam existir na manutenção do mosaico pré-existente (desconheço o que existia na propriedade antes da primeira florestação, sirvo-me apenas da minha experiência e da observação da envolvente para admitir um cenário de montado pobre e agricultura marginal).
Mas ao mesmo tempo é inevitável admitir que esse cenário provavelmente estaria fora de causa, sendo mais natural que a economia da produção conduzisse ao abandono produzindo uma paisagem comum em Portugal, com recuperação notável dos sistemas naturais (evoluindo o montado para o sobreiral), de elevada susceptibilidade ao fogo e de baixo potencial de criação de riqueza.
O eucaliptal em Portugal é um bom motivo de discussão numa óptica ambiental: vale mais que os 750 000 hectares de eucalipto que temos sejam povoamentos mal geridos, com alguma diversidade biológica, com algum sub coberto interessante aqui e ali, com recuperação de carvalhal aqui e ali, produzindo alguma riqueza, como acontece na maioria desses 750 000 hectares, ou ganharíamos mais em ter povoamentos geridos de forma comercial pura e dura, como acontece nos cerca de 150 a 200 mil hectares geridos pelas celuloses e afins, criando riqueza a sério e gerindo e mantendo valores de conservação notáveis, em áreas mais ou menos marginais para a produção, de forma profissional.
Confesso que não tenho ideias totalmente claras a esse respeito, excepto achar que não faz sentido prescindir de produzir riqueza a partir da produção de eucalipto, pasta e papel.
Declaração de interesses: colaboro profissionalmente com a Altri.
henrique pereira dos santos
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