Li esta notícia do DN e fiquei de boca aberta (na versão em papel é ainda mais absurda).
""O fogo controlado é uma técnica que tem vindo a ser usada em Portugal desde 2005 e permite a gestão dos combustíveis e da paisagem nas florestas", explicou ao DN Miguel Galante, adjunto do secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural."
Li uma vez, li outra vez, verifiquei se por acaso não me tinha escapado nada, e concluí que não, que realmente um tal Miguel Galante tem a distinta lata de dizer que o fogo controlado (repare-se a data e origem deste manual de fogo controlado) em Portugal foi inventado por este Governo (camarada, se aprofundar a coisa, vai ver que provavelmente até o domínio do fogo é uma descoberta de Sócrates, o actual).
""Já em 2006 trouxemos alguns peritos dos EUA para dar formação a um grupo de técnicos da Associação Florestal Nacional, Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade e organizações de produtores florestais", diz Miguel Galante."
Imagino o que diria o Moreira da Silva se fosse vivo, e a gargalhada do Komarek, se cá voltasse.
"A savana não é a floresta portuguesa, mas para a Navashni Govender - aliás, uma especialista que vai trabalhar também no fogo controlado em Portugal - o facto de termos uma floresta mais densa não prejudica esta técnica."
A mesma ideia ridícula de sempre: o que precisamos é de estrangeiros que aqui o pessoal não pesca nada disto.
Nada contra estrangeiros, bem pelo contrário, mas não seria mais simples falarem com o Paulo Fernandes ou com do Francisco Rego ou com o Domingos Xavier, que têm horas e horas de fogo controlado nas nossas condições, em vez de contratarem uma sul-africana que trabalha nas savanas do Kruger Park?
Para conferências, óptimo, para troca de experiências e discussão académica, óptimo, mas para fazer e ensinar a fazer?
Ridículo.
Eu espero que tenha sido só o jornalista que se tenha esquecido de fazer o trabalho de casa e percebido mal o que lhe disseram.henrique pereira dos santos
11 comentários:
O PNPG existe desde 1971 e fazem-se fogos controlados desde de sempre, a questão nao está na formação dos profissionais, mas na falta de comunicação e formação com os habitantes que tendem a fazer esses fogos controlados, e que por vezes nao tem as consequencias que estes pretendiam, mas essa coesão entre os habitantes e o habit natural talvez sejam preciso outros 30 anos para obter resultados, as vezes a solução está no basico.
A notícia do DN começa assim:
"Em 1836, o alemão Frederico Varnhagen, na altura 1.º administrador geral das Matas do Reino, deixou a sugestão que se usasse a técnica do fogo controlado para diminuir o risco de incêndio em povoamentos de pinheiro--bravo, como o Pinhal de Leiria. Passados 174 anos, as suas sugestões foram ouvidas e, segundo as autoridades florestais, até à próxima época de incêndios o fogo controlado será finalmente usado de forma alargada a todo o País."
Não consigo perceber onde o HPS lê que este Governo reivindica a invenção do fogo controlado.
Quanto ao resto, é a mesma mentalidade da treta de sempre: só o que vem de fora é bom. E, claro, os mesmos do costume vão embolsar à grande com mais este embuste.
Pedro, Montijo.
Caro Henrique,
Infelizmente é normal os jornalistas (ou candidatos a) serem pouco conhecedores dos temas que tratam. Também é normal os governantes quererem puxar a brasa à sua sardinha.
Varnhagen à parte, o fogo controlado começou a ser experimentado em 1976 (no PN Peneda Gerês) e ganhou envergadura operacional a partir de 1983, tendo declinado/terminado a partir de 1992. A partir de 1998 começou a criar-se algum ambiente favorável à expansão do f.c., que efectivamente só se veio a concretizar em 2005.
A mim preocupa-me mais o facto de o governo andar a anunciar 15.000 ha anuais de fogo controlado e ao mesmo tempo saber que deixou de contar com o trabalho das pessoas que na última temporada fizeram 1/10 daquele valor. E sem elas não há praticamente mais ninguém, o que implica o regresso ao pré-2005.
Paulo Fernandes
Teoricamente o Paulo tem razão mas na prática o fogo controlado nunca deixou de ser exercido no PNPG, segundo Tito Rosa, presidente do ICNB, ligado ao ministério da agricultura, economia agrária e sociologia rural, desde 1979 ou seja 31 ano de supostas experiencias e não teorias diz:
“Queremos demonstrar que é possível integrar a gestão dos ecossistemas com a tradição de quem vive nas áreas protegidas”
“O projecto será no Parque Nacional da Peneda-Gerês porque este está muito ligado ao pastoreio”
Parece-me que toda a direcção do PNPG/ICNB anda um pouco desorientada, neste sentido, e quando precisamos de ajuda, nada melhor que o pedir . Talvez seja melhor ajuda externa, depois destes anos todos os progressos têm sido muito poucos. ja tiveram muito tempo para teorias e experiencias.
A técnica do fogo controlado sempre foi usada pelas gentes das aldeias serranas do Centro e Norte do país. Tanto para se obter pasto viçoso para o gado como para combater os incêndios de matos e florestas. Bombeiros é um termo que apenas há algumas dezenas de anos se começou a ouvir nessas aldeias, anteriormente eram os seus habitantes que corriam a apagar os fogos que surgiam, muitas vezes utilizando a técnica do contra-fogo.
Eu gostaria de saber como se pode utilizar o fogo controlado em florestas que, como as nossas, são constituídas por um retalho de muitas propriedades privadas, todas elas de pequena dimensão.
Quero dizer: deita-se fogo à minha propriedade para nela criar uma barreira que proteja as propriedades vizinhas? E quem me paga o prejuízo de as minhas árvores arderem?
Gostaria que me esclrecessem.
Caro Luís Lavoura,
Num fogo controlado as árvores não ardem, a não ser que seja esse o objectivo.
P. Fernandes
O Fogo controlado é importante na silvicultura preventiva assim com na floresta, (serra) ou seja se um habitante pretende fazer uma queima (podas de vinhas, oliveiras ou “silvas”) no seu terreno pode fazer mas deve avisar os serviços florestais ou seja os sapadores florestais (2005) onde estará um técnico para supervisionar essa queima. Neste momento existe uma lei se a pessoa realizar a queima sem acompanhamento técnico é considerado uso de fogo intencional e as coimas podem ir até 60.000€ Em relação ao controlo de fogo nas “florestas” No PNPG existe animais que habitam na serra e pastores.
Os pastores precisam de renovar os pastos, normalmente fazem em Fevereiro e Março. Não em Julho/ Agosto quando surgem os incêndios, até porque nessa época estraga o “pasto” devem ser realizados exactamente da mesma forma. O objectivo do PNPG é conseguir fazer esse controlo de fogo nessas áreas de pastoreio, ai não existe retalhos assim os pastores não precisam de o fazer. Quanto às árvores depende da serra já que no PNPG existem 4 mas nas zonas de pastoreio não existe floresta densa.
Paulo Fernandes,
obrigado pelo seu esclarecimento.
Suponha agora a seguinte situação prática. Tenho uma propriedade com cinco hectares plantada com choupos, já altos. Nela crescem bastantes silvas e ervas. Todos os anos, ou de dois em dois anos, tenho que a mandar limpar por um tratorista, o que custa dinheiro. Pergunto: seria mais barato e prático limpá-la usando fogo controlado? Isso seria viável, fisicamente e financeiramente?
“Quero dizer: deita-se fogo à minha propriedade para nela criar uma barreira que proteja as propriedades vizinhas? E quem me paga o prejuízo de as minhas árvores arderem?”
A questão é relativa se na área envolvente da sua propriedade não existir habitações e se por acaso um outro proprietário queimar as suas arvores este é responsável mas se num raio de 50 m existir habitações você é o responsável pela manutenção da sua propriedade assim como os as habitações são responsáveis para alertar a sua situação já que as arvores e os arbustos devem estar distanciados 5 m da habitação, como as copas das arvores num raio de 50m devem distanciar entre si 4 m.
Para realizar queimadas e obter um técnico é necessário o licenciamento na câmara municipal ou junta de freguesia, depende da zona onde é esse terreno e também da boa vontade dos técnicos (Bombeiros sapadores florestais ou GIPS), até porque em pequenos retalhos eles só observam o que o proprietário queima de forma a não ultrapassar os limites da propriedade, em grandes propriedades não sei como funciona.
cumprimentos
Luís,
Financeiramente e em termos comparativos o fogo controlado é viável, já que a gradagem é a única técnica cujo custo pode competir com o custo do fogo controlado. O f.c. é também mais eficaz porque remove não só a vegetação do sub-bosque como também parte da manta morta. No caso específico que aponta há um senão: tanto quanto sei o choupo é uma espécie de casca fina, o que provavelmente inviabiliza o uso do fogo... Há uma regra simples: pode-se queimar em povoamentos florestais sem causar danos às árvores se a casca tiver 1 cm de espessura ao nível do peito.
Caso esteja interessado em contratar serviços de f.c aqui fica o contacto:
http://www.giff.pt/website/
P. Fernandes
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