A iniciativa Business and Biodiversity foi muito mal digerida pelo movimento ambientalista em Portugal, com o argumento de que não havia mecanismos de controlo e de sancionamento dos aldrabões.
Isso não impediu algumas ONGs de serem parceiras de projectos concretos de algumas empresas, com implicações nos fluxos financeiros, mas sempre que a iniciativa aparecia as ONGs desapareciam, atrás de umas vagas declarações sobre greenwashing.
Esta atitude é normal em Portugal onde o dinheiro das empresas é sempre objecto de suspeita (ao contrário do dinheiro das empresas que faça um estágio nos cofres do Estado, que é sempre virginal).
Por várias vezes, enquanto estive ligado à iniciativa, tentei fazer com que as ONGs criassem um observatório da iniciativa, sem qualquer sucesso. Teria de ser uma iniciativa voluntária das ONGs e sem dinheiro associado, portanto era de pouco interesse. Como de costume a resposta era de que esse papel cabia ao Estado e o Estado é que tinha de fiscalizar o cumprimento dos compromissos (voluntários) das empresas.
A posição habitual: as empresas fazem, nós entramos no assunto com a nossa capacidade técnica e conhecimento, que naturalmente tem custos, e o Estado é que deve fiscalizar para podermos ter as mãos livres para criticar a fiscalização se alguma coisa correr mal.
Agora envolvimento directo, risco de falhar, hipótese de ser acusado de estar com os interesses económicos, isso não nos peçam que nós estamos aqui para ser a consciência crítica do sistema e não para resolver problemas.
Ora um comentário sobre as audiência do terra alerta feito na caixa de comentários deste post veio lembrar-me de tudo isto.
É que a SIC comprometeu-se, no BB, a produzir conteúdos sobre biodiversidade. E comprometeu-se voluntária e publicamente como testemunho do seu compromisso para com a biodiversidade, e não como área de negócio a desenvolver (as audiências parecem demonstrar que as duas coisas até se podem conjugar).
Acabar com o único programa onde a biodiversidade era tratada de forma sistemática é na verdade uma ruptura dos compromissos assumidos.
Volto a frisar, a SIC é livre de rever os seus compromissos voluntários.
Mas se houvesse o tal observatório sobre a iniciativa BB, sempre teria alguma visibilidade uma posição clara de classificação desta atitude como demonstrativa do pouco empenho da SIC na conservação da biodiversidade.
Claro que pôr as ONGs a criticar um dos seus pilares de sobrevivência, uma televisão, não seria fácil. E claro que há casos mais escandalosos de compromissos BB que são promessas assinadas em papel molhado.
Mas eu gostava tanto que o movimento ambientalista português, deixasse de ser o pãozinho sem sal em que se transformou e de vez em quando desse um ar da sua graça, que teimo em fazer estes posts que só me trazem chatices.
henrique pereira dos santos
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