domingo, agosto 21, 2011
O Zé fazia falta
Ora vejam esta notícia do correio da manhã.
108 euros por ano é com certeza um valor baixo. Mas 300 euros por mês talvez seja um bocado excessivo quando se pretenda fomentar hortas urbanas.
Talvez seja necessário garantir maiores possibilidades de usufruto às pessoas. Talvez seja preciso rever situações que estão tortas há tempo demais.
Alguém pode ir chamar o Zé?
henrique pereira dos santos
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6 comentários:
2 precisões:
não são, infelizmente 300 euros, leste mal, são...3000 (esqueceste um zero)
e esse Zé já desapareceu há muito, e não há qualquer hipotese de o ter de volta.
Sem me chamar Zé já diligenciei o esclarecimento e se se confirmar proposta de alteração desta situação, na linha do novo riquismo do novo Zé.
António Eloy
Não, António , não me esquecio de um zero, limitei-me a passar o valor anual para mensal para ter uma ideia sobre a sua razoabilidade face a duas realidades: o ordenado das pessoas e a produção de uma horta daquele tamanho.
Não tenho nada contra este valor base, acho apenas que a este valor deveria ser deduzido o valor por metro quadrado que a câmara gasta em manutenção e espaços verdes, visto que esse serviço está a ser prestado pelos utilizadores de hortas. O que remete para a discussão sobre o uso público desses espaços, que é uma discussão que me interessa muito.
henrique pereira dos santos
Tens razão, não reparei, na leitura apressada que se tratava de renda anual, o que por mês dá os cerca de 300 euros.
Claro que é excessivo, e não tem em conta os benefícios para a cidade e nenhuma lógica de economia social, que deve ser raiz das hortas sociais.
Claro que quando a legislação é cega a Catarina Portas e o Manel da Esquina pagam o mesmo, independente dos ganhos sociais e ambientais.
Já me movimentei para corrigir esta injustiça.
António Eloy
Durante anos as hortas-urbanas não foram assunto. Não apareciam nos jornais, os seus utilizadores eram gente anónima, e as sebes de redes e canas, as cancelas e os galinheiros diluíam-se nas vistas sobre Lisboa. Sou capaz de apostar que muitos dos utilizadores, por exemplo, da linha de Cascais nunca se aperceberam das centenas de hortas de que se vêem do comboio. Há poucos anos os alunos do Instituto Superior de Agronomia ainda eram obrigados a fazer uns inquéritos aos horticultores urbanos, que depressa esqueciam porque eram realizados numa disciplina incoerente do 1º ano. Décadas a fio a CML cobrou rendas simbólica porque, imagino eu, considerava que os horticultores-urbanos prestavam um importante serviço ao manter o solo limpo de combustíveis (enquanto não fosse sacrificado à construção civil).
Os Srs. Adriano e José durante anos gozaram o prazer de cultivar a terra, consumiram os seus frutos e pouparam dinheiro. Com água para regar - e assim parece pelas fotos – faziam, pelo menos, 5 euros/m^2.ano em produtos da terra. As despesas não ultrapassavam os 0,5 euros/m^2.ano. Olhando para as contas a Câmara, aparentemente. está a pedir um valor razoável: 2,5 euros/m^2.ano.
1475 m^2, a área da horta do Sr. Adriano, é gigantesca para um casal de reformados. Como a área é grande, além das hortícolas para consumo da casa (e vender?), o Sr. Adriano tem um pequeno pomar, um barracão e às tantas, não consegui perceber, um galinheiro ou uma coelheira. Com esta área fazem-se 14 hortas bem jeitosas de 100 m^2, cada uma delas capaz de sustentar uma família em verduras (excluindo batata). A CML cobraria 250 euros por horta; os 1400 m^2 sustentariam 1/3 de funcionário camarário (a ordenado mínimo e meio). Se estiverem bem delimitadas, com arrumos onde guardar os apetrechos, regras de utilização claras, fartura de água e protegidas dos pilha-galinhas suponho que não faltarão candidatos.
Compreendo os Srs. Adriano e José. Deixam a terra melhor do que a receberam, com mais matéria orgânica e, só por isso, deveriam ser ressarcidos. A renda de 2,5 euros/m^2.ano é excessivo porque não incorpora os “ganhos sociais” de ter idosos saudáveis e bem entretidos (uma horta-urbana, por exemplo, compete com a ocupação de um centro de dia). Neste momento interessa, sim, identificar o erro cometido pela CML. A câmara nunca fez contas (olhando para o passivo da CML parece que não são bons nisso) e nunca se questionou por que razão os Srs. Adriano e José tiveram sorte, enquanto tantos outros reformados que vivem em Lisboa que sabem, gostam e precisam de fazer uma horta, não a tiveram.
Carlos,
É exactamente este tipo de análise que eu gostaria de ver a Câmara fazer.
Por isso falo em coisas tortas a corrigir. Também sei como as hortas podem ser um bom negócio (embora esteja convencido que não é esse o grande impulso destes horticultores).
Repara que simplesmente aumentar rendas não resolve nenhuma das questões essenciais.
Obrigado pelo teu comentário e as tuas contas.
No meio disto não te esqueças da questão do uso público. O que eu gostaria de ver era mesmo jardins usáveis em que os tradicionais canteiros são hortas (isto é uma enorme simplificação, que a coisa não pode ser bem assim) tendo como modelo os que os proprietários das quintas de recreio fizeram durane séculos em Portugal.
henrique pereira dos santos
O Carlos tem toda a razão: 1400 mais trocos não é uma horta familiar, é uma unidade de produção agrícola. Por muitos netos que o Sr. Adriano possa ter, é impossível escoar a produção (que deve ser boa, resultado de anos de cultivo em terras tradicionalmente produtivas) a escala familiar.
Se o senhor que usefruiu desse privilégio durante tantos anos agora disse que não vale a pena continuar, então que dê espaço a quem queira. E aí a CML devia de facto dividir aquele espaço em dez, dando uma bela oportunidade a 10 cidadãos de produzir umas hortículas frescas, essas sim, para consumo próprio.
Tenho uma horta. Não chega a 100 m2. Dá uma trabalheira dos diabos e produzo mais do que consigo consumir (sem batatas, certo). Gasto uma fortuno em plantas, composto, sementes, ferramentas etc. para produzir as hortículas e seguramente sairia mais barato comprá-las na mercearia do bairro. Mas dá me gozo e poupo no ginásio (costas doridas à parte).
Falta à CML esclarecer quais os motivos dos aumentos: se é simplesmente receita, se é cortar em privilégios pouco democráticos (que é o caso), se é de promover a partilha das hortas por mais voluntários, não está claro. Isto resolve-se de outra forma: das inúmeras parcelas de terreno desocupadas no espaço urbano, destiná-las para hortas, ordená-las em parcelas de dimensão adequada à produção caseira e promover a sua utilização entre os urbanos, com custos e regras claramente definidas. Isto não é nada de inovador: é feito por tudo que é Europa.
Henk Feith
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