sexta-feira, novembro 04, 2011

É triste não saber ler



Tenho usado frequentemente esta imagem como demonstração de que o número de fogos não tem correspondência com a área ardida: há muitos fogos onde há gente, há muita área ardida onde há continuidade de combustíveis, concluí eu.

Mas um dia destes o Henk Feith observou, mal olhou para o mapa, que falar da área ardida por concelho dizia menos do que poderia, porque naturalmente os grandes concelhos têm mais área ardida por serem maiores, dando imediatamente o exemplo de Abrantes e Sardoal, que neste mapa aparecem nas vizinhanças de extremos opostos da escala, com Sardoal com muito menos ára ardida que Abrantes.

Perplexo com o facto de andar há tanto tempo com esta evidência debaixo do nariz sem dar por ela (as evidências têm esta característica de com frequência só serem evidências depois de alguém as tornar evidentes), pedi ao José Miguel Cardoso Pereira os dados de área ardida entre 1975 e 2009, e em pouco tempo a Ana Sá preparou-me um excel com fracção de área ardida em cada concelho (que com frequência é maior que 1, sendo quase dois no concelho com maior fracção, porque nestes anos todos já ardeu mais que a área do concelho, isto é, a repetição de fogo na mesma área existe).

O resultado é este.

Agora tenho de ir refazer o que tenho andado a dizer, porque não sendo totalmente errado, também não é muito claro que se possam tirar conclusões tão directas dos dados.

É o que dá não saber ler, dizem-se mais asneiras que o que é razoável.

henrique pereira dos santos


7 comentários:

Nuno disse...

Bom trabalho, a divulgar

ATNatureza disse...

Caro Henrique

Não sei se há uma relação directa entre essas duas variaveis, será uma questão de a quantificar e avaliar se é significativa em termos estatísticos.
Congratulo-o por recuperar este assunto sistematicamente, pois penso que devia ser levado muito a sério pelas autoridades e a meu ver não tems sido), pelo menos por precaução e até que fosse estudado a fundo e houvesse conclusões.

Contudo as manchas negras na Beira Interior, tão negras e óbvias que parecem ter origem na tradição pastoril (bem presente nesta região), tradição essa que implica o combate sistematico dos giestais (Cytisus multiflorus)através do fogo e ao longo de todo ano (sendo contabilizados nos dados que aprsenta apenas as ocorrências estivais, penso eu). Um exemplo: Figueira de Castelo Rodrigo (concelho) poderá ter sido o campeão nacional de oorrências no Verão (iam em mais de 100 no principio de Setembro). Penso que poderá estar relacionado com ofacto de ter um densidade elevada de ovinos (assinale-se a baixissima densidade pop. humana a nível nacional). Apenas uma suposição, como digo no principio há que quantificar.

António Monteiro

Anónimo disse...

Henrique, já agora o ideal seria reportar a área ardida como fracção da área "ardível" em cada concelho, ou seja excluindo a água, área social e agricultura de regadio. É assim que temos feito algumas análises estatísticas do regime de fogo. Mas creio que não mudaria muito o padrão do mapa.

Paulo Fernandes

Pedro Martins Barata disse...

<e já agora um mapa semelhante com o número de ocorrências por km quadrado ao nível do concelho? Assim podas fazer a comparação que estavas a fazer com os primeiros mapas?

Henrique Pereira dos Santos disse...

Tens razão, Pedro, foi aliás o comentário imediato do Zé Miguel ao post, dizendo que o ia fazer. Em qualquer caso as diferenças nesse ponto serão em princípio menores (logo se confirmará ou não a hipótese) porque o número de ignições não depende tanto da área do concelho mas mais do número de pessoas. O que sugeri ao Zé Miguel foi que se produzissem dois mapas, um com o número de fogos por área (ou seja, do mesmo tipo do da área queimada) mas também outro com o número de fogos por habitante, esse sim podendo dar indicações mais precisas de onde existe maior índice de "incendiarismo", para que se possa perceber as razões e o que fazer. Estou convencido de que esse índice de fogos por pessoa pode resultar num mapa mais surpreendente.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Os 5 municípios com maior densidade de ignições:
Gondomar
Paredes
Odivelas
Paços de Ferreira
Espinho
(todos com uma média anual superior a 4 ocorrências por km2, depois de descontados os falsos alarmes e os reacendimentos)

Os concelhos com menos habitantes por ignição (< 70 hab./igniç./ano):
Figueira de Castelo Rodrigo
Vila Nova de Paiva
Mêda
Montalegre
Boticas
Nalgumas áreas, por ex. Montemuro, este indicador pode andar na casa dos 20 ...

Paulo Fernandes

Henrique Pereira dos Santos disse...

Paulo, isso seria o ideal, de facto, mas daria um trabalhão para o pouco que se avançaria e levantaria problemas complicados em séries longas porque há trinta anos era agricultura de regadio no Minho pode ser hoje um belo carvalhal.
henrique pereira dos santos