sexta-feira, março 02, 2012

Falar claro



Toda a argumentação que a QUERCUS aqui usa não tem o menor fundamento. Os centros de recuperação só em casos muito pontuais tem alguma relação com a conservação da natureza. Aliás as espécies que aparecem na reportagem não estão ameaçadas coisa nenhuma, e as espécies citadas pelo Samuel estão todas em expansão rápida. Mesmo que assim não fosse, a probabilidade de um animal recuperado ter êxito na natureza é baixíssima.
Os centros de recuperação, tal como existem, são um desperdício de recursos que fazem falta à conservação, já não falando no absurdo de se estar a reduzir o transporte de doentes por falta de recursos e se continuar a fazer dezenas de quilómetros para recolher buteos, cegonhas, corujas e coisas que tal.
Pode eventualmente justificar-se um centro dedicado a espécies verdadeiramente ameaçadas, quanto ao resto trata-se essencialmente de uma brincadeira cara que o Estado não deve financiar.
Os centros da Estrela e da ria Formosa foram concessionados, por concurso público, a entidades privadas (no caso, a associação Aldeia) que os gere com base em financiamento privado. E gere-os melhor que o ICNB estava a gerir antes. Nada contra.
Mas com os meus impostos, tenham lá paciência, vão tratar dos vossos bichinhos de estimação da mesma forma que os outros cidadãos: com o dinheiro de quem quer gastá-lo nessa actividade.
henrique pereira dos santos

8 comentários:

Teresa M Gamito disse...

O ano passado caiu uma cria de grifo de um dos ninhos que é avistado pelas câmaras das Portas de Ródão. A cria ainda não era voadora mas já estava muito próximo. Na altura estavam a decorrer passeios de barco e pediu-se à empresa de passeios que vissem se a cria teria caído à água e constataram que não e disso informaram os observadores. No entanto, uma observadora (que por vezes deve pensar que é mãe dos grifos e cegonhas-pretas) resolveu insistir na necessidade de "salvarem" o grifinho. Perante a insistência o CERAS recomendou-lhe que contactasse o SEPNA. Esta entidade enviou uma "brigada" e, não se sabe porquê dado que não se sabe a informação que receberam, não se aproximaram com cuidado e assustaram o grifo (que até estava em terra e perto do ninho e por isso poderia continuar a ser alimentado pelos progenitores até ser capaz de voar) e este caiu à água. Aí, como puseram em causa a sobrevivência do grifo, não tiveram outro remédio senão levarem-no para o CERAS, onde foi concluído que o grifo estava óptimo mas que como ainda não voava iria lá ficar.

Conclusões(?): 1 - o CERAS e o SEPNA registaram mais um salvamento de um animal que não precisava de ser salvo; 2 - o CERAS e o SEPNA gastaram recursos a salvar esse animal que não precisava de ser salvo; 3 - esses recursos poderiam ter sido usados noutro animal que realmente precisasse de ser salvo; na página da câmara aprece uma descrição que leva a crer que houve um acto "heróico" tanto da observadora, como da Quercus/CERAS, como do SEPNA

Pergunta 1: mesmo que este grifo precisasse de ser salvo é aceitável interferir na natureza quando uma espécie não está em risco? poderia, por exemplo, ter servido de alimento a outra espécie

Pergunta 2: não caberia à Quercus ter sido didática e explicar que não havia razão para fazer este "salvamento"?

Miguel B. Araujo disse...

Henrique, Se bem entendo a Quercus defende que o transporte de animais protegidos para estes centros seja assegurado pelas autoridades. A definição do que é um animal protegido tem suporte legal. Portanto, esta posição da Quercus parece ser bastante razoável. Obviamente não estamos a falar de pombos.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Não Miguel, a QUERCUS não defende nada disso. A grande maioria dos animais que estão nos centros não são animais protegidos (ou melhor, à luz da directiva habitats todas as aves selvagens são protegidas, quando digo todas, é todas). Ou se preferires, não estão ameaçados de todos ou, no máximo, têm o estatuto de ameaça de vulnerável. O contributo destes centros para a conservação destas aves é completamente marginal (admitindo que existe).
Se a QUERCUS defendesse que todos os animais com os estatutos de ameaça tal e tal deveriam ser transportados, poderia admitir sem problema, só que o efeito prático seria o mesmo, porque efectivamente o que hoje é transportado, na esmagadora maioria dos casos, são espécies como os buteos, as cegonhas, as gaivotas e por aí fora.
E isso não tem a menor razoabilidade.
Por muito que choque algumas pessoas, na enorme maioria dos casos a melhor solução, para todos, incluindo o animal, é torcer-lhe o pescoço o mais rapidamente possível para mantê-lo o menos tempo possível em sofrimento.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Mas nesse caso, Henrique, a tua crítica é uma crítica à Directiva Habitat.

Se uma espécie é protegida, está ferida e alguém a feriu ilegalmente, é natural que uma organização de conservação, que zela pela aplicação das Leis de conservação, defenda que as autoridades policiais tenham de intervir.

Estas autoridades podem filtrar as ocorrências de modo a usar os meios limitados com maior eficácia que mas não podes pretender que uma organização de conservação feche os olhos a estes episódios, que mais não seja porque têm uma "constituency" a que têm de responder.

Por outro lado, se existe função que o Estado possui que não é alienável, nem sequer em tempos de crise, é manter a ordem e fazer cumprir a Lei. Nem os mais liberais dos liberais defendem que o Estado se demita desta sua função central.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Não misturemos as coisas: fiscalizar e reprimir ilegalidades é uma coisa, transporte de animais é outra.
Quanto à exigência de uma fiscalização de conservação mais eficaz, nada a opôr, até bato palmas.
Que isso tenha alguma relação com o transporte de animais é que não vejo onde.
henrique pereira dos santos
PS Embora eu ache a directiva aves criticável nesse seu exagero, não é essa a minha crítica. É à exigência de alocação de recursos da conservação a coisas que não têm nenhum efeito positivo na conservação. A ideia de que a QUERCUS não tem de se preocupar se existem ou não recursos é uma ideia que não me entra na cabeça.

Miguel B. Araujo disse...

Tens razão que quando dizes que fiscalizar e reprimir é diferente de transportar. Não obstante, para tomar ocorrência de um delito a policia tem de se deslocar ao local do delito e se o fizer poderá avaliar se vale a pena transportar o animal para um centro de recuperação, ou não. Terão de ser as autoridades a fazer essa avaliação, naturalmente, em dialogo com as organizações de conservação. Em muitos casos esses animais vão parar aos centros por outra via.

Obviamente que não vejo qualquer inconveniente que uma ONGA faça uma análise de custo de benefício de modo a racionalizar as suas exigências sobre como devem ser geridos os escassos recursos públicos afetos à conservação. Seria um sinal de maturidade. Mas também é verdade que esse papel cabe, a bem do rigor, a quem gere os recursos. Ou seja, no caso vertente, ao Estado. A Quercus terá de ser criteriosa na forma como gasta os recursos que gere mas no que diz respeito a fundos que não gere não me estranha que tenha uma atitude mais direcionada para a análise dos benefícios que dos custos. Se o Estado quiser transferir esta análise mais complexa para as ONGAs é simples. Transfira fundos e competências em regime de "out sourcing". Verás que a partir desse dia os gestores dos transportes decidirão se vale a pena ir buscar uma cegonha a 200 km ou se é melhor guardar os recursos para o caso de um Bufo real necessitar de resgate.

Henrique Pereira dos Santos disse...

1) Na esmagadora maioria dos casos não há ocurrência nenhuma a verificar: o bicho está ferido e ninguém sabe de onde vem o que aconteceu e por aí fora. A excepção é a denúncia de detenção ilegal onde o procedimento normal seria o que dizes. Mas o que é relevante aí é fiscalizar e reprimir a detenção ilegal. O que se faz ao bicho é outra história e é como dizes, é normal que a GNR faça uma avaliação do que vale e não vale a pena levar para um centro. Penso que foi isso que passou a ser feito quando a regra anterior era levar tudo para os centros;
2) Claro que a QUERCUS pode ter as posições que quiser sobre o assunto. E eu ter as opiniões que quiser sobre as opiniões da QUERCUS. Foi exactamente isso que aconteceu: a QUERCUS defende o transporte sistemático de animais para os centros, com uma argumentação enganosa, eu desmontei essa argumentação e defendo que o Estado não deve fazer isso;
3) Há anos que defendo a passagem disso para os privados. Mas atenção, para que o Estado transfira recursos para que isso seja feito, o Estado tem de ter uma justificação social, isto é, o Estado deve dizer por que razão deve o Estado gastar o dinheiro dos contribuintes naquela actividade específica. Ora o que estou a dizer é que não há nenhum ganho de conservação (poderá haver de educação ambiental, do que tenho alguma dúvida, e de investigação veterinária) associado a isto, portanto não vejo nenhuma razão para o Estado transferir recursos para os privados para se fazer uma actividade que não tem ganho social claro.
O que está aqui em causa é mais uma tentativa da QUERCUS capturar recursos do Estado, usando para isso uma argumentação ardilosa e errada e o acesso fácil aos meios de comunicação social. Nada de novo na actuação das grandes ONGs em Portugal.
henrique pereira dos santos

Tedateo disse...

muiti interesante