quinta-feira, julho 19, 2012

Dois exemplos


Da diatribe de ontem da LPN contra o eucalipto resolvi escolher dois exemplos para ilustrar razões que minam a credibilidade do movimento ambientalista.
1) A afirmação de que nas duas últimas décadas a área de Quercus faginea no Oeste teria diminuído em 40%. A afirmação veio embrulhada em ses e mas que diziam que enfim os dados não eram seguros e tal e coisa, mas mesmo assim valia a pena chamar a atenção para o facto. E a afirmação pretendia fazer uma ligação entre a expansão do eucalipto e a diminuição em 40% do Quercus Faginea no Oeste. Dei um salto na cadeira que me distraiu de ver a referência bibliográfica que teoricamente permite a alguém dizer uma barbaridade destas. Quando aterrei na cadeira voltei à minha posição de partida nestas coisas: o bárbaro podes ser tu, portanto o melhor é fazer uma verificação mínima da credibilidade da afirmação. A meu lado estava um dos melhores vigilantes que conheci no ICNB (e conheci-os muito bons), excelente naturalista, conhecedor profundo o Oeste onde hoje exerce a sua profissão de técnico florestal. Para além disso um ambientalista no sentido clássico do termo, que se envolve civicamente nos movimentos ambientais, embora de baixo perfil público. E um colaborador assíduo de trabalhos científicos onde a sua evidente qualidade de trabalho e a confiança nos seus dados é inquestionável para as mais respeitáveis academias que trabalham em biodiversidade e áreas conexas. E perguntei se havia a mais pequena hipótese da área de Quercus faginea ter diminuído 40% em vinte anos. Cautelosamente, conhecendo as minhas posições heterodoxas em matéria de conservação, respondeu-me que dependia de que vinte anos estávamos a falar. Indiquei que estavámos a falar dos últimos, ou dos últimos do século XX, por aí. A sua reacção foi a mesma que a minha: não, não é possível. Qualquer pessoa que ande no campo sabe que não, não é possível afirmar que a área de Quercus faginea diminuiu 40% em vinte anos. Qualquer botânico confirma facilmenter a improbabilidade disto. Que a academia se entetenha a levantar hipótese absurdas em artigos científicos, acho normal, um dos papéis da academia é exactamente o de questionar a certezas quotidianas. Mas que uma das principais ONGs, a que supostamente tem uma cultura de maior rigor científico nos seus pontos de vista, resolva assentar posições sociais em hipóteses académicas abstrusas serve para quê?;
2) Lá veio mais uma vez a tolice do eucalipto como invasor. Não há na academia e nos meios científicos qualquer peso consistente na afirmação de que o eucalipto pode ser invasor. Existe um grupo minúsculo de investigadores, mais conhecidos pela sua ligação ao movimento ambientalista que pelo seu trabalho académico, que põe essa hipótese desde há meia dúzia de anos. O facto do eucalipto estar em Portugal há cerca de 200 anos, de haver 750 000 hectares da espécie e de nunca ninguém ter identificado nenhuma evidência empírica de invasão de eucalipto não demove esse pequeno grupo de considerar que toda a academia, e toda a gente, está errada, chamando em sua defesa duas ou três referências bibliográficas que se citam mutuamente, sem que ninguém, até hoje, tenha produzido evidência empírica sobre a matéria. Sobre isto leiam-se estes dois posts onde se resume a discussão. Sendo este o cenário da discussão, o que ganha uma ONG em assumir como suas as posições ultra-minoritárias desse grupo sobre o assunto? Não se trata sequer de haver uma posição ultra-minoritária a que se reconhece solidez empírica, trata-se mesmo de um devaneio académico sem qualquer relevância na produção científica. O que ganha uma ONG em se apoiar em tão frágeis bases, só porque lhe servem para defender ideologicamente uma posição?
Dito de outra maneira, o que ganham as ONGs em andar à procura de informação que possa estar de acordo com as suas ideias em vez de andar à procura de informação que lhes permita ter ideias melhores?
henrique pereira dos santos

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde Henrique,

Venho aqui muitas vezes, principalmente para me actualizar sobre as questões técnicas subjacentes às opções políticas (não sou político nem "ambientalista" atenção).
Além da questão da postura das ONG ambientais, a proposta em si não lhe merece análise? Numa altura em que estamos novamente sem soluções para o cadastro não acha que abdicar destes licenciamentos é desperdiçar uma boa fonte de informação que pelos vistos já há (finalmente)alguém encarregado de compilar?
Considero que há ainda muito espaço para a área de eucalipto crescer em Portugal, mas gostava de saber onde e como, em vez de dizer que sim por todo o lado. Pelo menos uma vez gostava de ouvir alguém do lado das
celuloses (não é o seu caso) dizer explicitamente onde é que acham que NÃO se deve/pode plantar. Na minha opinião a única coisa que falta à floresta portuguesa e aos seus donos, é uma carta de ordenamento florestal nacional, aplicável à escala municipal, que diga onde e como se planta e o quê, não me parece assim tão complicado, no máximo restringe a liberdade individual dos proprietários de fazerem asneiras. Muito mais simples e barato do que a metodologia actual de:
1-Licenciar mobilizações de solo pelas autarquias, que apesar de terem gabinetes técnicos pagos pelo seu amigo FFP, muitas vezes não sabem o que é uma ripagem ou licenciam "surribas" (não-técnica de mobilização de solo que consiste em "sachar" com uma retroescavadora) que é a forma usada pela esmagadora maioria dos proprietários, sem condicionantes. 2- Parecer da CCDR, em caso de REN ou RAN, cujas condicionantes não são fiscalizadas pelas autarquias e de forma mais ou menos simultânea com o parecer da AFN cujo parecer ao plano previsional recentemente exigido é invariavelmente positivo.

A questão não se resume à espécie a plantar, mas também à técnica de mobilização do solo, que tem efeitos potencialmente nefastos, ou não? quem fiscaliza se não há lugar à identificação do responsável? Vejo todos os dias situações que configuram ilegalidades a este nível (mobilizações), com esta lei, o que estamos a fazer é assumir que uma vez que não conseguimos fiscalizar legalizamos! tudo!

Termino só dizendo que já existe muito eucaliptal abandonado, improdutivo, e os seus donos investem tanto na sua reconversão como os donos do pinhal na sua condução, zero.

Espero sinceramente que mais alguém venha "atiçar este lume", salvo seja e que não venha vento leste.


Cumprimentos