segunda-feira, julho 28, 2008

Discutir e analisar a cultura interna das ONGA

in Diário de Notícias, 26 de Julho de 2008, p.11

Por Aline Delgado, Arquitecta. Ex-dirigente da Quercus.

As Organizações Não Governamentais de Ambiente (ONGA), surgiram num ambiente descontraído, eram descentralizadas e marcadas por uma gestão informal. Organizavam-se em torno dos poucos recursos que tinham, com rectidão e transparência nas tomadas de posição.

Hoje, algumas ONGA, manifestam um comportamento profissional, o que implica um modelo de gestão, que ajude a preservar o estatuto de utilidade pública que, na maioria das vezes, possuem. A aura de romantismo que emanava das ONGA acabou. O valor dos associados perdeu expressão e foi substituído pelo pragmatismo.

Algumas, absorveram modelos de gestão existentes no mercado, como que empresas de prestação de serviços a quem outras empresas e o Governo recorre procurando "tranquilidade" para desenvolver alguns projectos mais "estruturantes e/ou problemáticos".

Mas afinal, o que é, e o que não é uma ONGA? O que é uma ONGA:

* serve a comunidade, realizando trabalho de promoção da cidadania e de defesa do ambiente;

*luta contra a exclusão e contribui para o fortalecimento do associativismo;

* incentiva a participação na formulação e implementação das políticas públicas.

O que não é:

* não é uma empresa, nem lhes deve fazer concorrência; .não é representativa de interesses pessoais;

*não é um partido político.

A falta de um modelo específico para as ONGA, leva a que algumas assumam uma gestão estratégica, que aposta na necessidade de ter competência e capacidade para sobreviver e garantir espaço político, ignorando outros valores.

O profissionalismo alterou o perfil de "mão-de-obra" das ONGA: aos velhos activistas voluntariosos não se juntam novos activistas, mas sim técnicos profissionalizados. Os ainda activistas, resumem-se a antigos sócios. Alguns, ocupam cargos de direcção desde sempre, o que lhes confere uma espécie de status de "dono". Tornam-se a cara da ONGA ou até do movimento ambientalista.

Não que não sejam importantes. O que não podem é desprezar novos sócios que chegam, interessados na problemática ambiental e que se entregam voluntariamente.

No movimento associativo, observei esforços para que se integrassem novos voluntários. Eu própria fiz alguns. Mas parece que não há espaço a novas caras, novos activistas.

As Olimpíadas do Ambiente. Concurso, de qualidade incomparável, levado a cabo pela Universidade Católica do Porto e Zoomarine em co-organização com a Quercus. Onde estão os vencedores? Qual a estratégia para os integrar no movimento ambientalista? Quem, melhor que a Quercus, poderá promover estes promissores activistas?

A permanência de algumas pessoas nos mandatos estáticos ou rotativos, a centralização do poder, conflitos de interesses entre cargos dirigentes e vínculos laborais, a falta de participação democrática e a falta de transparência na tomada de decisões, são situações que gostaria de ver debatidas e analisadas. Lembro que até há bem pouco tempo, os Municípios não tinham limitação de mandatos.

O que, embora tarde, acabou por ser alterado e ainda bem, no meu entender. Uma ONGA tem sempre de se pautar por decisões democráticas favorecendo o bem comum e só terá sucesso se às preocupações ambientais, souber aliar a solideriedade e respeito por todos aqueles que acreditam num ambiente melhor."

6 comentários:

Anónimo disse...

dividir para reinar... já dizia o JC.

a limitação de mandatos não faz sentido em ONGAs pequenas, onde nem todos os sócios têm perfil para liderar, mas cá me parece que esta proposta é só para ver se o FF sai da frente da Quercus antes que os associados morram todos desinteresse.

Anónimo disse...

Os mandatos limitam-se com votos!!! Se querem sacar alguém da DIR da Quercus apresentem lista alternativa com apoio suficiente e talvez saquem de lá quem querem, isto porque concordo com o anónimo anterior "nem todos os sócios têm perfil para liderar" e limitar mandatos em associações não faz sentido nenhum...

SM

Anónimo disse...

Desde há muito tempo que as PRINCIPAIS ONGA apenas servem para promover pessoalmente os seus dirigentes. Caso acabassem de vez a Natureza e a poluição, os toiros e os toureiros, as perdizes e os caçadores, os cães e os gatos, os ratos e o queijo, a floresta e os madeireiros, os bons e os maus, os gordos e os magros, os ricos e os pobres, os honestos e os corruptos agradeciam.

Ex-dirigentes de ONGA são hoje autarcas. Ex-autarcas são hoje dirigentes de ONGA. Ex-dirigentes de ONGA ganham dinheiro em estudos para projectos imobiliários. Fazedores de estudos para projectos imobiliários são hoje dirigentes de ONGA . Ex-dirigentes de ONGA ocupam "altos" cargos (por nomeação) na Administração Pública. E mais, muito mais...

Com o tacho em perspectiva, a luta pelo protagonismo dentro das ONGA é, evidentemente, hercúleo. Quem chega de novo é esmagado. A não ser que seja um sócio pagador de cotas: neste caso é bem vindo - mesmo que pague apenas o primeiro mês fica registado para o resto da vida. Quantos sócios PAGAM cotas nas "grandes" ONGA?

Actualmente os subalternos lembram os jovens cucos. Com dinheiro de projectos a entrar em barda (sócios pagarem cotas? para quê?!) há que afastar os manos.

"trrim-trrim...Estou? boa-tarde Senhor Secretário de Estado. Apenas para o avisar que provavelmente avançaremos com uma queixa contra o Estado Português nas instâncias comunitárias. No mínimo, meia página com foto vai sair no Público a propósito do atentado ambiental em...Como? O Grande Projecto de Recuperação do Habitat do Tigre Dente de Sabre foi aprovado? ... A verba já foi desbloqueada?...Claro!... V. Exa. sabe que não temos nenhum interesse em denegrir o actual Governo nem o Estado Português...Não prometo nada mas vou fazer os possiveis. Quanto ao Público os senhores tratam disso? Claro que podem dizer que fomos mal informados. Vamos também já enviar um fax a referir fontes mal-intencionadas e pedir a anulação da notícia ...Mas diga-me V. Exa., a verba foi mesmo desbloqueada?"

Anónimo disse...

A Quercus e as restantes ONGA estão muito bem adaptadas ao meio em que vivem, de tal forma que sem capitalismo e subsídios extinguiam-se...
Há uns anos atrás num projecto industrial (estes sim, em risco de extinção em Portugal) em que estive envolvido, fomos «melgados» por uma destas beneméritas e altruístas ONGA, em que assim que o seu principal dirigente recebeu uma empreitada de construção civil, passou a portar-se como o Zé Sá Fernandes em Lisboa: desapareceu...
Como diz um amigo empresário: «todos os burros comem palha».

Ricardo S. Coelho disse...

A Aline tem razão. O problema é estrutural e nem é exclusivo das ONGAs. Também nos partidos, nas ONGs, nos sindicatos, etc., vemos sempre as mesmas caras na direcção. A rotatividade é um pilar básico da democracia, mas claro que nunca será assegurada quando existirem interesses pessoais pelo meio, mais ou menos ocultos.
1 nota: porque é que toda a gente escreve os seus comentários sem assinar? Será que há razão para ter medo de dar o nome (e a cara)?

Anónimo disse...

há razão amigo... se não sabes andas a dormir