sexta-feira, setembro 18, 2009

ideias ou aventais?

Nota: este post é francamente pouco recomendável a pessoas com tendências depressivas ou a outros que meramente prefiram e consigam ter um fim de semana tranquilo, rastejar pelo centro comercial, revisitar a praia em jeito de fecho de época ou um fazer um zapping pela chusma de canais do cabo, de preferência estrangeiros e de conteúdos tão fúteis quanto possíveis. Eu já tentei e não consigo.

Da análise que fiz aos programas eleitorais dos cinco partidos políticos com maior representação parlamentar, no que à Conservação da Natureza diz respeito, resultou a minha conclusão que quatro daqueles partidos - CDS/PP, PSD, PS e CDU - apresentam ideias, muitas vagas e que apenas abusivamente se podem considerar verdadeiras propostas. Excetuo do lote o programa de governo do BE, cujas ideias são relativamente mais concretas, é certo, ainda que algo exotéricas e inexequíveis e partindo de uma visão política que nada tem haver com a minha. Todos ele, em boa medida, passam ao lado dos grandes problemas da Conservação da Natureza em Portugal - a inoperância do ICNB, a baixa execução da Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, as formas como a Conservação da Natureza se vem (ou não) financiando, entre outros.

Mas contrariamente ao apontado em diversos comentários, não creio que o principal problema seja a prioridade que os partidos políticos não dão à Conservação da Natureza em particular e que é um facto que lamento, lamentando ainda mais que nunca tenha havido a coragem política de o assumir, já que é uma realidade horizontal a vários governos. O problema de fundo é bem mais grave, atingindo muitas outras áreas, e resulta da preocupação, na minha opinião deliberada, de não assumir quaisquer compromissos - definindo propostas concretas, prazos e objectivos - susceptíveis de reivindicações e avaliações em final de mandato. Esta nebulosa, abre ainda portas ao sonho dos mais optimistas, dado que nas tais apelidadas propostas cabe tudo, do melhor ao pior.

E tudo isto funciona, em boa medida, como um mercado. Se o eleitorado prefere aventais, canetas e bandeirinhas, vozes ululantes e ruidosas, promessas de "sangue" e discursos de raiva e veia a latejar, porquê oferecer-lhe ideias concretas, bem explicadas, que procurem respostas para os problemas do país? Porquê, se nem nos preocupamos em ler o que quer que seja? Quais programas, quais manifestos!?!?! Porquê, se as nossas escolhas são quase exclusivamente fulanizadas, em vez de baseadas em ideias, propostas, enfim, numa visão para o país?

Gonçalo Rosa

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