Gostaria de chamar à atenção dos leitores do AMBIO para um debate promovido pelo blog contraditório em torno da questão "Concorda com um plano calendarizado de redução das emissões de gases de estufa?". Os actores do debate foram os Profs Pedro Miranda e Delgado Domingos. As minhas posições sobre a matéria são conhecidas pelo que não estranharão a minha próximidade com os argumentos de Pedro Miranda. Não obtstante, folgo verificar que a maioria dos participantes deste debate comungam da mesma opinião.
Sublinho algumas das palavras finais de Pedro Miranda que são de uma clarividência exemplar:
"Vamos então à única questão científica relevante levantada pelo Prof. Delgado Domingos: a explicação do desfasamento entre a evolução temperatura e do CO2 revelada pelas bolhas de ar em Vostok. O problema é bem conhecido e tem sido discutido na literatura científica. A explicação aceite é a seguinte: as oscilações glaciares são controladas por variações orbitais da Terra, i.e. por pequenas variações da excentricidade da órbita e da obliquidade (ângulo entre o eixo da Terra e a normal ao plano de translação) e pela precessão dos equinócios. Estas variações alteram muito ligeiramente o ciclo anual da radiação solar, afectando a temperatura. O efeito directo, no entanto, é pequeno e não justificaria a oscilação glaciar. Dois mecanismos de amplificação são propostos: o primeiro é designado por feedback gelo-albedo, o segundo é revelado pelos dados de Vostok e envolve o CO2. Este segundo mecanismo, aquele que nos interessa na presente discussão, funcionaria do seguinte modo: um ligeiro acréscimo de temperatura reduz a capacidade do oceano reter CO2 (a água mais fria dissolve maior quantidade de CO2), o aumento de CO2 atmosférico aumenta o efeito de estufa aumentando ainda mais a temperatura. Temos assim um processo de feedback positivo que explica a transição entre o período interglaciar e o período glaciar.
Os dados de Vostok dizem-nos que existe um feedback positivo CO2-Temperatura. O feedback pode ser posto em acção de dois modos diferentes: devido a um aumento de temperatura por factores externos (e.g. variações orbitais) ou, directamente, devido a emissões de CO2.
O Prof. Delgado Domingos não compreende em que consiste uma “previsão climática”. Em rigor, as pessoas que fazem investigação em Clima (i.e., que não só têm opiniões sobre o assunto mas que publicam trabalhos originais em revistas científicas) não utilizam o termo “previsão” para falar de clima. O clima é uma descrição do estado “médio” da atmosfera, para períodos da ordem dos 30 anos (a “normal climática”). Quando discutimos um cenário de mudança climática, discutimos sempre estatísticas de períodos de várias décadas. A crítica que o Prof. Delgado Domingos faz aos trabalhos de James Hansen, baseada em comparações de períodos curtos, não tem rigor científico."
Para uma leitura dos argumentos avançados pelas duas partes intervenientes neste debate ler aqui
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6 comentários:
É parte integrante deste contraditório o que se vai passando na "old Albion", nomeadamente a posição que o Institute of Physics, organização mundial com 36 mil membros, entendeu tomar relativamente ao Climategate. Disponível aqui.
Podem continuar a morder na canela do Phill Jones e colaboradores mas o que ninguém explicou é a obsessão pelos dados do CRU que, como já foi explicado, não pertencem ao CRU, grande parte destes estão disponíveis e não são a única fonte de dados climáticos globais. Os dados da NASA estão disponíveis na sua totalidade, são parecidos aos do CRU e isso ainda não permitiu que os Eduardos deste mundo demonstrassem que as análises dos cientistas estão erradas.
Depois de uns meses percebeu-se que os eduardos, jorges oliveiras, ecotretas, range os dentes, ruis mouras, e outros eruditos da blogosfera são barulhentos mas não avançam muito nos seus raciocínios. Quais papagaios do pior que por aí se publica.
HT
A habitual diatribe ad hominem não merece resposta.
Evidência merece sim, a passagem, lapidar, do Prof. Delgado Domingos no "Contraditório" que me permito aqui transcrever, sob o sub-título "A questão chave: a previsão verificável": Todas as figuras com dados que o Prof. Pedro Miranda utiliza terminam em 2000, quando dados muito significativos existem já para todo o 2009. Será porque a partir de 2000 todas as previsões feitas anteriormente se afastam significativamente das observações? Apresentar o resultado de modelos em que os parâmetros subjectivos foram ajustados para que se verificassem aceitavelmente os valores até aí observados não é fazer previsão mas sim pós-explicação. Se o modelo for fiável, o mesmo conjunto de parametrizações deve manter-se constante em todo o período simulado (1850-2010), podendo quando muito variar o valor do CO2 efectivamente emitido. A meu conhecimento, nenhum dos modelos conhecidos satisfaz este requisito.
Por que razão será que esta passagem me faz revisitar polémicas, antigas e actuais, sobre a (in)utilidade dos modelos econométricos? Ou como os "modelos" são óptimos a explicar o que já aconteceu e péssimos a prever o que está para acontecer (publicitada que já esteja a tese em questão)?
Caro Eduardo, Obrigado por demonstrar que as minhas diatribes não são diatribes mas simplesmente uma descrição da realidade. Eu disse que Eduardos e outros são incansáveis em repetir o pior que se lê na internet. Poderia ter acrescentado que penso serem analfabetos, distraídos selectivos, ou manipuladores desonestos. O exemplo do seu último comentário é disso exemplo.
Se em vez de se apressar a colar qualquer coisa que leu apressadamente e se tivesse dado ao trabalho de procurar entender o que se escreve em ambos os lados do contraditório teria reparado que a primeira clarificação do Pedro Miranda responde ao pedaço de texto do Delgado Domingos que colocou na última caixa de comentários:
"O Prof. Delgado Domingos viu mal (e até insiste duas vezes no mesmo erro factual). A Figura 2 inclui dados até 2009 e não até 2000. E é muito claro que a figura não apoia as palavras do Prof Delgado Domingos sobre a última década. Por isso, talvez, ele se enganou e pensou que a última década não estava lá…"
O Prof Pedro Miranda é muito paciente e generoso na sua observação!
A habitual diatribe ad hominem não merece resposta.
O "nosso" Eduardo "Goebbels" F. sempre em grande forma. Só ele nunca fez, faz ou fará ataques ad hominem. Estes comentadores numa coisa são bons: o copy/paste. O Insurgente faz escola. -- JRF
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