sexta-feira, março 05, 2010

Lobos II

Portugal tem coisas estranhas.
Aqui há tempos o Público publicou (passe o aparente pleonasmo) os mapas aí de cima, indicando como fonte a tese de doutoramento de Francisco Fonseca.
Fui consultar a dita tese há umas semanas, um trabalho seminal sistematicamente citado em qualquer investigação sobre lobo em Portugal.
Devo dizer que não encontrei os mapas citados (posso não ter procurado com suficiente cuidado, não era esse o meu objectivo), embora tenha encontrado mapas a partir dos quais é possível fazer estes que se reproduziram.
A contração contínua da população de lobo parece evidente.
Mas concentremo-nos na parte superior destes maspas, que aqui reproduzo.
Aparentemente o lobo tem aumentado muito no Norte de Portugal e há hoje muitos mais lobos em Trás-os-Montes que nos anos 30.
Pois não é bem assim. A questão é que os primeiros mapas são reconstruções a partir de notícias de jornais, sobretudo consultados em Lisboa e os últimos são dados de inventário. A escassez aparente de lobos nos anos 30 é simplesmente uma escassez de notícias de jornal, ou porque não havia tantos jornais, ou porque os jornais não ligavam muito àquele fim do mundo, ou simplesmente porque ataques de lobo não eram notícia por serem normais.
O que é estranho não é que Francisco Fonseca tenha estes dados na sua tese: ele construiu a partir do nada e é normal, para quem faz pela primeira vez, que muitas coisas lá estejam que hoje poderíamos considerar erros de palmatória. É errado avaliar o que foi feito na altura com o que hoje temos de conhecimento e ferramentas de trabalho.
O que é verdadeiramente estranho é que vinte anos depois de publicada essa tese ainda seja aí que se vá beber a informação base da evolução das populações de lobo e que se continuem a apresentar estes mapas como sendo o retrato do que se passou.
Há qualquer coisa incompreensível na produção de informação de biodiversidade no país.
henrique pereira dos santos

2 comentários:

Francisco Barros disse...

Vejo referência de lobo na zona de Montejunto para 1930.
Daquilo que me lembro do que o meu pai e avô contavam, a ocorrencia de lobo era muitissimo esporádica e irregular desde o início do sec. XX para essa zona, passando-se anos e anos sem se notar a sua presença.
E era coisa fácil de constatar, pois à época os rebanhos de cabras abundavam por estas bandas...

Francisco Barros

Henrique Pereira dos Santos disse...

Francisco,
Ainda só dei uma primeira vista de olhos na tese, mas lembro-me de estar descrito ataque ou uma caçadaa vários lobos em Torres Vedras.
Como te digo, a informação diz respeito a uma notícia de jornal.
Ou seja, se for esporádico vem no jornal de certeza. Se for comum, pode nem vir.
henrique pereira dos santos