Deve haver poucas pessoas que não gostem de comer, e eu não sou uma delas. Gosto de experimentar receitas das sobremesas mais exóticas, amassar pão à procura do mais genuíno sabor, ficar-me esquecida nas livrarias a apreciar livros de cozinha recheados de resultados impossíveis de obter em casa. Mas não sou de olhar só para o resultado: os meus ingredientes escolho-os com cuidado e atenção porque é a minha família, a saúde e boa disposição de todos, que está em causa. E, neste capítulo, sou muito tradicional: procuro o melhor, sem compromisso. Por exemplo, se olho para a lista de ingredientes de uma embalagem de comida e vejo números além dos nomes... é porque foi feito no laboratório e não no campo. E o que sai do laboratório, pela minha lógica, não pode ser comida.
Mas mesmo eliminando o que inclui números ainda sobra muita coisa que não entra no meu carrinho de compras. Por exemplo, não aprovo ingredientes que, há cem anos apenas, ninguém usaria na cozinha, mesmo se começarem pela palavra Vitamina, ou jurarem que fazem bem aos intestinos. E depois ainda há aquelas comidas que se querem fazer passar por outras – chamo-lhes os travestis. Margarina e bolachas com "sabor" a chocolate são bons exemplos, mas os adoçantes que querem fazer de conta que são açúcar para poupar nas calorias são talvez daqueles a quem mais cuidadosamente barro a porta de casa. Quando tenho dúvidas, aplico uns testes muito simples: pode ser produzido numa quinta, ou pescado no mar? Percebo como passa do estado original para a embalagem final? Se a resposta é não, é porque não é para mim. Isso leva-me a passar ao lado de quase todo o pão dos supermercados e padarias, repleto que está de "melhorantes" e "enzimas", ou ainda da míriade de outros alimentos com espessantes, corantes, estabilizantes ou demais maravilhas da tecnologia alimentar.
Claro, a maneira como a comida é processada também conta, não basta escrutinar os ingredientes. A radioactividade, por exemplo, pode ter muitos fins úteis, mas comida irradiada rima com comida doente... e que nos põe doentes a nós. E a aplicação de radiação electromagnética (vulgo forno de microondas) garantidamente também não foi pensada para nos trazer mais saúde. Quanto ao leite UHT, o tal que ainda está igual a si próprio mesmo após seis meses de esquecimento no fundo do armário, bem, arranjem leite do dia pasteurizado, encham um copo de cada um e façam o teste à família toda, a ver se não distinguem o que ainda sabe a leite daquele que do leite já só tem o aspecto.
Na busca da comida como "nos bons velhos tempos", gosto de reparar também nos ingredientes "invisíveis". Prefiro, tal como a restante população europeia, que as minhas hortaliças sejam sem pesticidas, o meu leite sem antibióticos e a minha carne sem hormonas... mesmo se trouxerem o selo europeu de autorizado. Se for do campo e não de aviário ou de aquacultura, melhor. E sendo colhido e comido na época, melhor ainda.
E que dizer da mais moderna de todas as invenções alimentares, os alimentos geneticamente modificados, ou transgénicos? Já ouvi as sete maravilhas sobre eles: mais nutritivos, mais duradouros, mais limpos de pesticidas, muito estudados e seguros, até a fome no mundo e a crise energética (através de biocombustíveis) eles se preparam para resolver. Mas eu confesso: a primeira vez que comprei óleo de soja e depois verifiquei pelo rótulo que continha soja geneticamente modificada senti um aperto abaixo do estômago que nunca me engana. Esta comida transgénica pode ser apropriada para cobaias de laboratório, mas não é comida de gente. Mas claro, o problema é poder escolher. Para já anda por aí soja e milho transgénico, mas já este ano a Comissão Europeia pretende aprovar arroz transgénico. Arroz! O mais castiço dos cereais que comemos em Portugal!
Fui informar-me e fiquei a saber que os portugueses são os "chineses" da Europa: cada um de nós come em média 17 quilos de arroz por ano, enquanto que os italianos, que estão em segundo lugar atrás de nós, não comem mais que uns míseros sete quilos. Os dinamarqueses, coitados, não sabem o que é arroz doce e não vão além de quilo e meio por ano. E agora, querem abrir a nossa porta ao arroz transgénico?! Isso é, para a gastronomia, o mesmo que deitar abaixo o Mosteiro dos Jerónimos seria para a nossa história e cultura!
Senhor Ministro da Agricultura: espero que goste de arroz de ervilhas, de arroz malandro, de arroz de forno e de arroz de pato. Espero, em suma, que goste de arroz, porque ser português também é isso: durante a última grande guerra devemos em grande parte ao arroz a nossa sobrevivência alimentar. Quando se sentar em Bruxelas e chegar a vez de votar o arroz transgénico, Senhor Ministro, vote por nós.
Margarida Silva, bióloga
11 comentários:
Sei que há certos aspetos da produção intensiva de alimentos que preocupam muita gente, com razão.
Agora, é raro encontrar uma lista de suspeições, superstições e ideias feitas semelhante à que foi apresentada pela Margarida aqui. Para quem teve uma formação académica (a referência ao título de bióloga leva a concluir isso), a ausência que qualquer suporte para as afirmações feitas chega a ser aflitiva.
A minha avó tinha medo de relâmpagos. Nunca lhe passou o medo, mas não chegou a ser atingido por um. Felizmente.
Henk Feith
Olá Henk,
Obrigada por ler o meu texto. Deduzo, do seu comentário, que uma bióloga nunca deve escrever como cozinheira e mãe de família, sem acrescentar referências nem fazer-se validar previamente pela comunidade científica. Deve abster-se absolutamente de falar do que acredita, duma forma simples e despreocupada, pois isso é cair na supersticão.
Já agora, uma superstição (fui ver ao dicionário) é uma crença irracional. Diga-me, por favor, o que é que há de irracional em ter pouca (ou nenhuma) fé no que a tecnologia alimentar tem feito à alimentação (salvo algumas honrosas excepções). Usando a história como compêndio, verificamos que muito do que já foi verdade científica e tecnológica veio posteriormente a ser abjurado e abandonado. A irradiação não faz mal à comida, segundo a crença vigente actualmente. Mas daqui a uns anos, qual vai ser a crença? Quando os nossos métodos de detectar impactos forem mais sensíveis, mais abrangentes, a que conclusão vamos chegar? Com o microondas, ao princípio, estava tudo bem. Mas agora já os manuais (pelo menos alguns) aconselham certas restrições. E no futuro, o que irão dizer? A isto a ciência não responde. E enquanto a ciência não tem resposta, o que fazer? Eu, assumidamente neste texto, deixei-me guiar pela intuição. Lamento se a intuição lhe parece bruxaria, mas a intuição faz parte da natureza humana tanto quanto o raciocínio lógico, e tem pelo menos tanto valor quanto.
Quanto à sua avó, confesso que não percebi. Achar que os relâmpagos são perigosos também é uma ideia feita, uma superstição, uma mera suspeita sem fundamento? Podemos discutir a probabilidade de ocorrência - e cada um assumirá para si o nível de exposição que entender - mas dificilmente poderemos dizer que ela estava a inventar moinhos de vento.
Bons cozinhados,
Margarida
Olá Margarida
Belo texto.É preciso estar perto da natureza para o apreciar.
Há,cada vez mais,duas ciências uma ao serviço das pessoas outra,ao serviço do dinheiro.
A primeira é humilde e atenta a todas as opiniões quer sejam as ditas científicas,quer sejam as consuetudinárias.
A outra cada vez mais arrogante julgando-se superior.
Só aceito a primeira.
Para confirmar,quando quero saber se vai chover,espreito para o abrigo do sapo jardineiro se lá estivar adorminhado não chove,se estiver activo e pronto a ir passear vai chover com toda a certeza.
Quando o céu começa a ficar carregado,olho para os animais da quinta,burro incluido,se continuarem a comer ou brincar descontraidos já sei que a trovoada cá não chega,se ficarem nervosos e a procurar abrigo vem aí borrasca.
Para saber se os alimentos têm transgénicos,ou outras mixórdias,dou primeiro ao cão se ele cheirar,cheirar e não lhe pegar não presta.
Para fotografar as aves de rapina uso o Perú,posso ficar inteiramente descansado,não passa nenhuma rapina,mesmo a grande altura,sem ele dar conta e emitir aquela linguagem de aviso.
Ainda não encontrei tecnologia,tão fiável,que os substituisse.
Para aquela porcaria que por aí nos querem vender como alimento ainda tenho alguma defesa natural de rejeição,cheira-me a desinfectante de laboratório e começo logo a sentir necessidade de mais oxigénio.
Saudações cordiais,
mário
Achei interessante a leitura do texto, mas parece-me que estou com o Henk... O extenso rol de argumentos irracionais (que parecem saídos de uma revista dirigida pela Laurinda Alves) torna impraticável que os consiga rebater de forma sistemática.
Fica clara uma visão legítimas mas altamente preconceituosa do problema.
Cara Margarida,
Uma pessoa, bióloga, mãe ou seja que outros atributos tem, pode escrever o que quiser, de forma como quer.
O que me levou a reagir foi de facto a irracionalidade no discurso. Admito que irracionalidade me faz confusão. Procuro compreender afirmações como "E o que sai do laboratório, pela minha lógica, não pode ser comida" e não chego lá. Ou "não aprovo ingredientes que, há cem anos apenas, ninguém usaria na cozinha". Uma vez que o texto não desenvolve qualquer esforço para ajudar o leitor a compreendê-lo (ou então não está ao meu alcance, admito).
O seu texto deixa-me com a sensação de uma visão romântica pré-industrial, que o que era bom era o mundo em 1850. Aí se calhar a referência aos cem anos. Mas o mundo não parou em 1850, para a felicidade da humanidade (no meu ver, claro). E, no meu ver, a solução para os muitos problemas existentes no mundo atual passará sempre pelo continuação do caminho iniciado há séculos, e que se baseia na abordagem racional dos desafios, e nunca num regresso aos tempos da ignorância e desconhecimento.
O medo da minha avó era irracional, justamente pela probabilidade de ser atingida não ser nula mas insignificante. Não compreendo pessoas que têm medo de voar mas metem se todos os dias no carro para de deslocar na estrada. É irracional e não compreendo. Mas cada um tem direito aos medos que quer ter, claro.
Henk Feith
PS, acho louvável o consumismo criterioso, que é a maior força existente para melhorar mercados e processos de produção, mesmo quando discordo dos critérios.
Caro Henk,
Parece-me que já lhe respondi a essas questões, mas vou tentar de novo. Como sabe, o risco não é só a probabilidade de uma coisa acontecer, mas depende também do impacto no caso dela acontecer. E, se para a sua avó havia problemas com raios, não era certamente pela probabilidade, mas sim pelo impacto, que é do pior que há: mortal. E um número pequeno multiplicado por um número muito grande (quão grande já depende do amor à vida que a sua avó tinha), dá um número grande. Por isso a sua avó não tinha nada de irracional.
Quanto ao meu texto, é todo ele baseado na filosofia "better safe than sorry". E isso, de facto, é do mais racional e lógico que pode haver. Sim, claro que o que é produzido no laboratório (leia-se: ingredientes sintéticos) não é produzido no campo e, como tal, tem uma maior probabilidade de não ser adequado à saúde. Há muitos ingredientes sintéticos em circulação sobre os quais recaem as maiores suspeitas em termos de impactos na saúde! E enquanto a ciência não sabe tudo... para quê arriscar? Como vê, é lógico. Sobretudo quando temos filhos para alimentar é da mais pura racionalidade jogar pelo seguro.
Quanto à afirmação dos 100 anos, pensei que entendia o espírito da coisa em vez de se apegar à letra. Referia-me apenas a uma época próxima que, embora já pós-revolução industrial, ainda era em média uma época de alimentação em relação próxima com o produtor, ao contrário do que aconteceu a partir do fim da segunda grande guerra.
Ignorância? Desconhecimento? Henk, para escrever como eu escrevo é preciso saber muito. Quem é ignorante bebe aspartame e nem percebe a relação se lhe aparecer um tumor ou esclerose múltipla. Quem desconhece dá aos miúdos candy 100% sintético, com corantes implicados em déficits de atenção, e acha que está a fazer um favor.
Sim, já vi muita gente ser acusada de romantismo. Sobretudo quando é contrastado com o progresso puro, duro, e à custa das certezas que as mães e outros gostam de ter antes de comerem o que lhes põem à frente. Num mundo em que também a ciência se curva frequentemente ao poder do dinheiro, mesmo o que tem selo de seguro pode não o ser.
Não, não sou um velho do Restelo. Também gosto de (algum) progresso. Mas não sou daqueles que acham que só porque é progresso tem de ser bom.
Margarida
Margarida,
É sempre reconfortante perceber como pessoas que sabem muito nos salvam dos ignorantes que avaliam a entrada de alimentos no mercado.
Mas fiquei confuso: o que é que a frase "better safe than sorry" tem que a ligue com a lógica, se não se definir antes o que é safe e sorry?
Podes dar-me referências sobre a probabilidade das coisas naturais serem menos prejudiciais que o que sai dos laboratórios? Ando um bocado atrasado com as referências nesta matérias e as últimas coisas que me lembro de ter lido é de um tal Sócrates (não este) que parece que bebeu um coisa naturalíssima, se não me engano o nome vulgar é cicuta, e fez-lhe tão bem que o curou defintivamente de qualquer possibilidade de ter escleroses e cancros provocados por aspartame.
Claro que o número de intoxicações alimentares, muitas mortais, que existiam nos tais anos que achas muito melhores eram muito menos que as actuais (ser-te-á fácil demonstrar, suponho), para já não falar da mortalidade infantil muito mais baixa que a provocada por esse produto de laboratório chamado penicilina (parece que até é um produto natural, mas não chegava para as encomendas e agora é feito em laboratório, o que evidentemente nos dá cabo da saúde).
henrique pereira dos santos
Henrique,
É impressionante como se misturam alhos com bugalhos para demonstrar o indemonstrável. Nunca disse que tudo o que era natural era bom, e não me parece que a cicuta fizesse alguma vez parte da nossa alimentação regular (à excepção do tempo dos Bórgias, talvez). E não me referi aos medicamentos em ponto algum do meu discurso... ou para ti um antibiótico agora é um alimento? Talvez juntes aos refrescos? Quanto às intoxicações alimentares do antigamente - provocadas essencialmente por falta de higiene e meios de conservação - ninguém tem saudades delas... e eu por acaso até digo bem da pasteurização no meu texto inicial, o que mostra que não ponho no mesmo saco tudo o que é moderno. Por isso trata de travar o teu ímpeto de dizer mal depois de distorcer o que foi dito. Acho que sou bem clara e honesta: há um sem número de substâncias sintéticas em utilização alimentar sobre as quais muito pouco ou nada se sabe. E ainda menos se conhecem as suas sinergias. Sim, eu conheço a tua fé no "sistema". Mas esse sistema tem permitido um sem número de descasos e, por este andar, palpita-me que ainda não se terá escrito o último capítulo. Ou já te esqueceste que os especialistas garantiam que as vacas loucas eram perfeitamente seguras? Quanto ao better safe than sorry, lamento, mas não vou começar a definir cada palavra que uso. Vai ver ao dicionário e, se tiveres dúvidas, ajudo-te a encontrar um melhor.
Margarida
Margarida,
Eu não teria feito qualquer comentário ao facto de fazeres as opções que quiseres em matéria de alimentação.
Mas está subjacente ao teu texto, mas muito mais ao último comentário que fazes ao Henk, que as tuas opções resultam do conhecimento científico e que há uma associação entre boa alimentação (a que vem dos campos) e má alimentação (a que usa produtos de laboratório).
Ora sabes muito melhor que eu que a diferença entre remédio e veneno é sobretudo uma questão de dose (há pessoas que morreram por beber água a mais, num daqueles concursos idiotas de recordes).
E que a discussão entre niveis de consumo seguro de milhares de produtos (quer naturais, quer de laboratório, que aliás muitas vezes não fazem mais que potenciar processos naturais escolhidos) é tudo menos uma discussão fechada e cheia de evidências.
Ou seja, as tuas opções, perfeitamente legítimas, são uma questão de fé (e não é líquido que a fé não tenha vantagens em relação ao conhecimento científico em determinadas matérias) baseada em preconceitos não demonstrados (isso em si não é nenhum problema, todos nós fazemos o mesmo em decisões cruciais da nossa vida).
Mas não vale a pena justificares a tua oposição, pro exemplo, ao aspartame (que também não uso) dizendo que toda a gente que o usa (e o produz, e o autoriza, e lhe avalia os efeitos, etc.) sabem pouco ou então sabem muito e são uns cínicos que se estão nas tintas para os efeitos dos produtos.
O tal sistema péssimo permitiu reduzir a mortalidade infantil, alimentar muito mais pessoas que alguma vez aconteceu antes na história e levar a esperança média de vida (bem como a qualidade de vida) a níveis nunca antes atingidos.
Se é sustentável ou não é outra discussão, mas não há razão para supor que não tem cumprido bem o seu papel na gestão da nossa espécie.
henrique pereira dos santos
Irracionalidades à parte, estou completamente de acordo com a Margarida. Bom texto.
Caro Henrique,
De facto as minhas conclusões têm uma forte influência da minha visão do mundo. Parece-me pacífico que todos agimos assim. O que não quer dizer que não tenha também concorrido para elas um nível de conhecimento científico significativo. A ciência tem-me fornecido muitas peças do puzzle mas, como não consegue fornecer todas, o resto é inevitavelmente completado pelo meu engenho e arte. Disto isto, há uma grande diferença entre produtos de origem natural que se comem há gerações e produtos novos/sintéticos: sobre os primeiros existe um historial de uso seguro que não existe para os segundos. Por isso, quando não há evidências científicas (não há o caso do aspartame, sobre este existe muita informação - sobre a ciência e sobre a corrupção do sistema), à partida é mais provável que uma substância sintética seja nociva do que uma outra que já se usa há centenas ou milhares de anos. Claro que também depende da dose. Mas podemos falar em pesos equivalentes.
Sobre o sistema que tanto admiras: não te esqueças das vacas loucas, que já referi acima - o sistema teve outras prioridades que não a maximização da protecção da saúde. Lembro-me de o presidente do Infarmed dizer que era "inevitável" que as comissões especializadas de avaliação de medicamentos tivessem membros da indústria farmacêutica. Como é possível esperar independência de comissões assim? É que é com base nestes pareceres técnicos que depois se tomam decisões políticas. Há muitos - muitos mesmo - exemplos de comissões europeias de avaliação de produtos e actividades em que estão membros da indústria que era suposta estar a ser fiscalizada. Como é que manténs a tua fé neste sistema, é algo que me ultrapassa.
Margarida
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