sábado, agosto 14, 2010

Ventos

Diz Pedro Vieira que a minha insistência no vento Leste é excessiva e que agora até já falo do vento Noroeste.
Diz o anónimo que cito no post anterior, que mais importante que a direcção do vento é a caracterização das massas de ar.
Eu falo no vento Leste porque é uma coisa simples de verificar e que funciona. Associado ao vento Leste estão de maneira geral massas de ar quentes e secas. Há outras circunstâncias em que acontece? Sim, claro, mas a questão é que quase sempre que estiver vento Leste, mesmo no Inverno, provavelmente teremos fogos.
Repare-se neste post de Maio. De uma situação de zero fogos (estava a chover) passamos em seis dias para mais de sessenta, porque apareceram imediatamente depois da chuva dois ou três dias de vento Leste.
Do mesmo modo nos últimos dias o que acontece é isto:

Partimos de 21 de Julho com 185 fogos, para termos um pico em 27 de Julho com 459 (esteve vento Leste em 26 e 27), depois baixa durante pouco mais de uma semana com um calor aflitivo, para subir com o vento leste que ocorreu em 6, 7 e 8, se não me engano, voltando a baixar durante o tal vento Noroeste, para agora ontem e hoje (hoje os fogos andarão pelos 440, veremos amanhã que a previsão tem mudado muito e parece que afinal vai ser o Nordeste que tem estado, excepto ao fim da tarde, que o tal Noroeste ajudará qualquer coisa) voltar a subir.

Note-se que na verdade tem estado um vento Nordeste que se aproxima um pouco do vento Leste mas não é o mesmo, não tem a mesma secura do típico vento Leste.

O vento Leste não é uma coisa que anula todas as outras circunstâncias, o vento Leste é como o sal das condições meteorológicas no que ao fogo diz respeito: espevita-lhe a inflamabilidade.

Portanto o que o Pedro diz sobre número de dias sem chuva e etc., claro que influencia, mas não se encontra uma reacção imediata em número de fogos e dificuldade de extinção como se encontra sempre com a entrada de vento Leste.

Ora é esta solidez na verificação empírica e a extrema facilidade deste indicador que faz com que eu defenda que devia ser usado de forma sistemática por toda a gente.
Haveria com certeza alturas em que o indicador daria informações erradas, mas seriam bem poucas face à utilidade das muitas em que funcionaria.
Para amanhã, se a tanto me ajudar o engenho e a arte, falarei dos fogos e da forma como esta semana foram tratados no Expresso.
henrique pereira dos santos

7 comentários:

Lightnin' Jones disse...

Henrique,

Concordo que a indicação dada pelo vento leste integra os 2 factores mais importantes para a propagação do fogo, que são a humidade do ar (secura de curto prazo) e a velocidade do ar. O outro factor muito importante é a secura de médio-longo prazo (tempo desde a última precipitação), que determina a disponibilidade de combustível, e portanto a intensidade, dificuldade de combate e impacto do fogo no solo e vegetação. Há alguns anos que os operacionais no terreno usam o vento leste como critério. E se bem me lembro, no final dos anos 80 o Prof. Luciano Lourenço da U. Coimbra criou um índice de perigo simples que incluía, salvo erro, temperatura, humidade do ar, vel. vento e direcção do vento (Leste ou não-Leste).

P. Fernandes

Pedro Almeida Vieira disse...

concordo inteiramente com o Paulo Fernandes...

Henrique Pereira dos Santos disse...

Então estamos todos de acordo. Ora se toda a gente sabe isto, por que razão nos continuam a servir oficialmente índices de risco de incêndio que são menos fiáveis que este?
Eu sei, o Paulo já explicou que são índices de severidade potencial que estão mal aplicados como índices de risco de incêndio, mas a verdade é que têm servido para a indecorosa campanha do Governo (ontem foi a Ministra do Ambiente a dizer que não se lembrava de muitos anos como este) de colar a situação deste ano, que é difícil desde 25 de Julho, com as situações verdadeiramente excepcionais que se deram noutros anos, mascarando a questão essencial: em condições meteorológicas extremas, mesmo com o dispositivo de combate melhor (e até por isso) vamos ter fogos tão severos como tivemos nesses anos.
Segundo aspecto: seria bom que deixássemos de falar de Espanha (e dos outros países mediterrânicos) como tendo condições semelhantes à nossa. Isso não é verdade porque temos uma frequência muito mais elevada de ano com condições favoráveis aos fogos e o facto de não assumirmos essa especificidade é responsável por erros de política de gestão de fogos que nos custam os olhos da cara.
Só uma questão sobre a secura de longo prazo. A divisão clássica das classes de combustível pelos que secam numa hora, 10 horas e 100 horas funciona nos dois sentidos, isto é, uma chuva fraca afecta imediatamente os combustiveis finos (mas o seu efeito também desaparece rapidamente uma vez substituído o tempo chuvoso or um vento Leste) mas é razoavelmente irrelevante para os combustiveis mais grossos. O resultado disso é que apenas se a chuva for suficientemente abundante e demorada é que o seu efeito se reflectirá nos combustiveis mais grossos.
É assim Paulo?
henrique pereira dos santos

Lightnin' Jones disse...

É sim Henrique. Uma das principais consequências da secagem de médio prazo (digamos 1-2 meses) é a total disponibilidade do solo orgânico para arder e a dificuldade de rescaldo. Já a secagem de longo prazo (3 e mais meses) tem efeitos importantes na hidratação dos tecidos vivos da vegetação arbustiva. Em regiões mediterrânicas, onde os matos são o combustível predominante, isto pode ser determinante para as diferenças inter-anuais de área ardida (provavelmente foi um factor importante em 2005).

Henrique Pereira dos Santos disse...

O que quer dizer que para anular esse efeito não chegam os borrifos de vez em quando, é preciso uma chuva que realmente regue, certo?
henrique

Lightnin' Jones disse...

exacto, uns 20-30 mm de precipitação acumulada permitem acalmar as coisas durante uns dias.

Alice Lobo disse...

Vocês deveriam ser bombeiros e assim colocarem em prática os corta-fogos, metodos usados para controlar e apagar Fogos, teorias !!!

(Lusa) - "Nos últimos sete anos arderam mais de 20 mil hectares do Parque Nacional da Peneda-Gerês, registando-se em cada ano uma média de 77 incêndios, segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidada (ICNB).

O Plano Prévio de Intervenção em Incêndios Florestais, elaborado no ano passado sob a tutela do ICNB para aquela zona protegida, revela a "vulnerabilidade" do Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG) à "ocorrência" e "propagação" de incêndios florestais.

A acumulação de combustíveis na floresta e nas zonas de pastagem, predação do gado, roça, necessidades de lenha e queimadas controladas, aliada à topografia muito acidentada, acessibilidade difícil e às características culturais da população residente, assim como a elevada pressão turística, potenciam a ocorrência de fogos, refere-se no documento, a que a Agência Lusa teve acesso.

A zona com maior número de ignições é a freguesia de Cabril, seguindo-se as freguesias de Outeiro e Pitões das Júnias, no concelho de Montalegre, mas existem outros locais com bastantes pontos de deflagração: as freguesias de Castro Laboreiro, no concelho de Melgaço, a freguesia de Soajo, no concelho Arcos de Valdevez, e a freguesia de Vilar da Veiga, no concelho de Terras de Bouro.

De acordo com os dados estatísticos do PNPG, no período entre 1990 e 2007, verificaram-se 1.272 incêndios, com uma área ardida de 19.403,28 hectares.

Em média ocorrem no PNPG 77 incêndios por ano, que afectam uma área média de 1.153 hectares por ano, um valor bastante significativo, tendo em conta que a área do PNPG é da ordem dos 11 mil hectares.

Aquele documento do ICNB destaca a tendência para o aumento do número de incêndios nos últimos anos, excepto em 1999, 2002 e 2003, quando o número de incêndios diminui.

Quanto à área ardida, verificam-se grandes oscilações de ano para ano, sendo 2006 o que registou maior área ardida, da ordem dos seis mil hectares.

Entre 2003 e 2007 houve um crescimento da área ardida independentemente do número de incêndios.

"Isto deve-se aos incêndios dos meses de Janeiro, Fevereiro, Outubro e Novembro, em que não existe uma disponibilidade de meios suficientemente capaz de dar resposta aos incêndios que ocorrem durante esta época", lê-se no documento.

Uma análise aos incêndios no PNPG nos últimos anos permite concluir que existem duas épocas de fogo: uma nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março, e outra no Verão, nos meses de Julho a Setembro.

"Tendo em conta que no Inverno não existe a mesma disponibilidade de meios relativamente ao Verão, as áreas ardidas durante os meses de Janeiro, Fevereiro e Março são bastante significativas nas médias anuais. Em 2007 verificou-se que a maioria dos incêndios ocorreu em Outubro e Novembro, assim como a área ardida", acrescenta.

A mesma estatística indica existir alguma regularidade na ocorrência dos incêndios ao longo da semana, embora seja mais elevada à sexta-feira, sábado e domingo.

A maioria dos incêndios ocorre entre as 08:00 e as 23:00, registando-se um período de maior número entre as 12:00 e as 19:00.

O PNPD engloba importantes manchas de carvalhais galaico-portugueses, que são das mais extensas e bem conservadas a nível nacional. Os matos ocupam metade da área e os povoamentos florestais são dominados por pinheiro bravo e folhosas."

Mas apesar de todos sabermos isso e até o zápovinho numa linguagem simples conhecer muito bem os ventos apenas , nao dão esses "nomes, ou definições" as coisas continuam igual e vão continuar, se a as pessoas, autoriades, nao mudarem de atitudes.