quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Da acédia como estado natural

Nas minhas deambulações à procura de informação sobre comboios, passei pela entrada da wikipedia sobre a CP.
O artigo é mais ou menos indigente e merece ser comparado com a entrada espanhola sobre a RENFE.
Até aqui nada de especial. Os conteúdos portugueses da wikipedia reflectem a relativa pequenez de Portugal, acentuada por alguma timidez nestas coisas de contribuir em projectos colectivos.
Mas verdadeiramente o que me escandalizou foi o quadro que reproduzo abaixo, precedido por estas frases extraordinárias:
"O presidente do Conselho de Administração é o responsável pela empresa, liderando um conselho que geralmente é constituído por cinco membros, contando com o próprio presidente. Os membros do conselho são nomeados directamente pelo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, e exercem geralmente um mandato trianual.
Sendo um cargo de confiança política, os nomeados são geralmente membros ou independentes próximos dos dois partidos que se alternam na chefia do Governo de Portugal, o
PS e o PSD".
Nunca contribuí para a Wikipedia, nem vou fazê-lo neste caso, por isso terei de me incluir nos dez milhões de portugueses que, podendo contribuir para um artigo da wikipedia equilibrado sobre os caminhos de ferro portugueses, acabam por aceitar a normalização da ideia de que transportar pessoas e bens de forma eficiente é um trabalho de confiança política que deve ser entregue a militantes partidários.
São estas coisas que definem o nosso estado natural como país: a acédia (describes a state of listlessness or torpor, of not caring or not being concerned with one's position or condition in the world. It can lead to a state of being unable to perform one's duties in life).
henrique pereira dos santos, que não faz parte da lista (mas tem pena) e se limita a assinar este post

3 comentários:

Manuel Silva disse...

Caro HPS

Tem toda a razão sobre a acédia geral na nossa sociedade e sobre os seus efeitos perniciosos, também eles gerais e transversais.

De facto, a acédia e a preguiça são palavras que no fundo representam o mesmo conceito, e que são descritas teologicamente nos mesmos termos.

Mesmo sem ser por razões religiosas, penso que fará sentido fazer-se uma consideração séria dos outros 6 pecados mortais, e explorar como o seu evitamento (individual) poderá estar relacionado com maior bem-estar pessoal e social. Indo mais além, pensemos sobre a sua relação com o desenvolvimento sustentável, e como estão relacionados com a insustentabilidade geral que caracteriza as nossas sociedades modernas. E já, agora, ainda neste contexto, pensemos sobre a relevância das respectivas virtudes a cultivar, pessoal e colectivamente.

Cumprimentos,

Manuel Silva

Anónimo disse...

Acha normal que na linha do Algarve se demore perto de três horas de Vila Real de Santo António a Lagos, numa linha que é utilizada por milhares de turistas? Que na linha do Algarve os horários estejam desfasados dos horários das escolas há vários anos, empurrando os estudantes para a utilização do autocarro? Que se tenha encerrado o apeadeiro que ficava junto do porto de VRSA, o qual poderia ser utilizado pelos turistas alojados em Ayamonte ou Isla Canela, nas deslocações a Tavira, Faro ou Lagos? Que se tenham encerrado estações que serviam áreas bem povoadas, como a estação de Vila Nova de Cacela? Que um cliente de Alfa Pendular, após chegar a Faro, tenha de esperar mais de meia hora pelo regional para o sotavento? A gestão da CP é uma anedota.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Eu tenho enorme dificuldade em classificar a gestão dos comboios como anedota.
Insisto em querer tratar o assunto com racionalidade.
Parece-me que a linha do Algarve merecia maior atenção, porque tem efectivamente densidade de transporte (não sei se o conceito existe mas acho que é claro quanto ao que pretendo dizer).
Mas não sei também por que razão não se investe o que parece possível.
Admito que haja investimentos prioritários nas linhas de caminho de ferro em Portugal.
Admito também que poderia haver melhorias de gestão.
Mas a informação que tenho não me permite tere opiniões tão definitivas quanto ao mercado potencial e quanto é que é preciso para o servir convenientemente.
henrique pereira dos santos