sábado, janeiro 14, 2012

A paisagem também é Tua



“Centremo-nos, por economia de argumentação, no Douro vinhateiro, património mundial.
As intervenções a que hoje atribuímos este estatuto patrimonial não podem, em qualquer análise, ser consideradas como intervenções de pequena escala e respeitadoras da paisagem pré-existente.
A sedimentação das intervenções que resulta de um tempo longo, apesar da escala de intervenção gigantesca, leva-nos a aceitar mais facilmente estas alterações que outras mais pequenas mas muito mais concentradas no tempo, como parques eólicos, barragens ou estradas.

Quer sejam florestações extensas, largas urbanizações, barragens, esporões, estradas, parques eólicos, cortes de árvores, todos nós, quando não directamente envolvidos, sentimos uma perda se, de repente, a paisagem que sempre nos pareceu imutável nos aparece alterada.” (escrito pelos inícios de 2009 e publicado em Do tempo e da paisagem, 2010)
Vem isto a propósito da discussão sobre a barragem do Tua e das suas implicações na classificação do Douro como património mundial.
Sei que estando extremadas as posições do conjunto de grupos de interesse com posições antagónicas sobre a construção da barragem, seria difícil ter racionalidade na discussão sobre a paisagem.
A paisagem do Tua é uma paisagem lindíssima, que conheço de muitas vezes ter lá passado, em especial de comboio. Nas 14 horas que a viagem demorava foi muito o tempo que passei a olhar, fascinado, aquela paisagem em ruínas.
A paisagem do Douro vinhateiro também a conheço. E olhar para essa paisagem, vibrante, cheia de actividade e com uma economia invejável, também me fascina.
Qualquer pessoa tem a percepção imediata e intuitiva da distância que vai da paisagem do Douro vinhateiro à paisagem do Tua, pelo que nem percebo como poderia a amputação do Tua ter qualquer influência na classificação do Douro.
O que digo acima não torna a paisagem do Tua irrelevante, que não é, mas recoloca o problema da sua relevância patrimonial num patamar bem mais útil que aquele em que tem estado nestes dias.
Conservar uma paisagem longamente intervencionada, como é a do vale do Tua, implica conservar os processos que a construíram e mantiveram. Esses processos estão hoje mortos ou moribundos, ao contrário do que se passa no Douro vinhateiro. As pessoas emigraram, os cereais de inverno desapareceram, o gado raramente se vê, os olivais estão abandonados, os amendoais fugidos e as hortas deixaram de ser fabricadas.
A opção não é pois entre conservar uma paisagem ou fazer uma barragem, mas uma escolha entre um processo de evolução comandado pelo abandono ou outro processo de evolução assente numa barragem.
Não tenho posição definida sobre a barragem do Tua, ao contrário do Sabor, que contesto. Mas gostaria de ver uma discussão séria e profunda sobre a paisagem do Tua, com base na sua história e no que se pode prever que seja o seu futuro, clarificando que valores sociais estão em jogo em cada uma das opções.
Infelizmente o que vejo é um mero posicionamento contra ou a favor da barragem, em que a paisagem não passa de mais um pretexto para marcar a posição de cada um.
A paisagem merecia bem mais que isso porque não é um cenário, é um património vivo, constantemente em mutação, que reflecte grande parte da nossa identidade.
henrique pereira dos santos

1 comentário:

Giga Audio disse...

Uma nova linguagem musical da Amazônia para o mundo com a finalidade de acordar o homem para a proteção do planeta.
A Música Universal das Linguagens (baseada nas vocalizações dos animais - Sem plagiá-los) é um pequeno ramo da “Música Transmórfica". A Música Transmórfica, foi criada pelos compositores paraenses, Albery Albuquerque e Thiago Albuquerque que se manifesta sobre, através e além das formas percebidas e não percebidas pela consciência humana. Este novo e gigantesco sistema musical transmórfico, trabalha com a simultaneidade entre arte e ciência.
Quem estiver interessado em conhecer essa nova música, ou quiser ouvir alguma conferência, ou audições comentadas (que como já dissemos, tem uma de suas vertente que é essencialmente ecológica e ambientalista) entre em contato pelo nosso e-mail: guirapuru@gmail.com

Links que demonstram a música transmórfico em nível ecológico e ambientalista:
http://www.youtube.com/watch?v=Yty2_aAMcGw

http://www.youtube.com/watch?v=VVXeIcHpQZA

http://www.youtube.com/watch?v=6HAeYagbka8

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