segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Diz o roto ao nu

imagem de sérgio leitão roubada daqui
O Público tem, aos Domingos, uma secção que poderia ser uma boa ideia jornalística mas que o jornal resolve executar pela metade e, pior, da maneira menos inteligente.
A ideia consiste em pôr alguém a fazer uma pergunta a uma figura pública. A ideia seria boa se depois a dita figura pudesse responder. Mas não, o Público acha boa ideia fazer perguntas sem resposta. Acresce que ao escolher os perguntadores o Público tem critérios razoavelmente demagógicos.
O resultado é uma coisa com pouco interesse por serem apenas perguntas sem resposta, as mais das vezes perguntas retóricas em que quem pergunta não pretende na realidade perguntar nada mas apenas marcar a sua posição.
A pergunta deste Domingo era do Presidente da Câmara de Boticas para a Ministra da Justiça: "Como se podem dinamizar os territórios de baixa densidade populacional retirando-lhes serviços, acabando com a última réstia da sua soberania, que é a existência da Justiça, e obrigando as populações a terem de fazer justiça pelas próprias mãos?".
É arrepiante constatar que o Presidente da Câmara de Boticas acha que é a instalação de serviços do Estado central que pode suportar a dinamização de territórios de baixa densidade. Suponho aliás que o Presidente da Câmara de Boticas terá vindo a investir seriamente das escolas primárias das aldeias para as dinamizar.
Olhando para o leque de cursos profissionais disponibilizados em Boticas, verifica-se a lógica do costume: recepção e atendimento, contabilidade, informática, turismo rural e ambiental. Olhando para as apostas económicas, cá temos as contradições do costume: turismo, exploração de recursos geológicos, energia eólica e hídrica.
Olhando para os investimentos camarários, lá temos as vilas, o investimento nos bombeiros e por aí fora.
Eu também acho que o Estado central não pode prescindir do território, mas pergunto-me se o poder local pode prescindir da sua base produtiva que justifica os serviços.
Que tal ser menos assertivo na reivindicação do que os outros deveriam fazer e começar a pensar se as estratégias de gestão municipal não estarão, também elas, um pouco distantes da sua prioridade principal: criar emprego sustentável?
Ou dito de outra maneira, deixe lá de perguntar o que os contribuintes podem fazer pelo seu concelho e concentre-se na riqueza que o concelho pode trazer ao país.
henrique pereira dos santos

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