quarta-feira, março 07, 2012

Sem surpresa

Há três anos escrevi este post.
É por isso sem surpresa que leio esta notícia.
E será sem surpresa que tarde ou cedo verei o começo dos prováveis processos judiciais, porque esta história, que tem sido tratada como uma história de imenso desperdício (que é), será, tarde ou cedo, uma história de polícia.
Não porque os decisores de topo estejam forçosamente envolvidos em esquemas manhosos, mas porque muitos recursos e pouco controlo são sempre uma tentação e a carne é fraca. A probabilidade de alguma das centenas de pessoas que podem decidir o uso de um bocadinho desses recursos ser tentada a servir-se é elevadíssima.
Naturalmente isto foi possível porque o que aqui se passa é o balão de oxigénio do sector imobiliário, o sector que mais tem sofrido, e ainda sofrerá, com o corte abrupto de crédito a que Portugal se está a tentar adaptar.
As obras públicas têm sido a droga dura da nossa vida política e a ressaca da privação nunca será bonita de se ver: infelizmente são milhares de pessoas reais e concretas que sofrerão as consequências deste desmame forçado, nomeadamente no desemprego que resultará da redução do peso do sector imobiliário em Portugal (felizmente, apesar de tudo, direi eu neste caso).
A Democracia é o regime da prevalência dos procedimentos sobre os resultados.
Temo que nos faltem muitos anos de regime e muitas demonstrações como as que cito para que se torne impensável desculpar a falta de respeito pelos procedimentos com os resultados obtidos.
Reduzir esse tempo depende da nossa memória, e por isso vale a pena ir ver isto.
henrique pereira dos santos

1 comentário:

Anónimo disse...

As crises servem muitas vezes para que haja a mudança de paradigma necessária. Mas o que tenho visto são medidas exageradas, de quem não vive o dia-a-dia dos cidadãos. Volto ao exemplo do metro, que é o que tenho sentido mais de perto. Tinham dito que afinal só haveria cortes no n.º de carruagens de metro depois das 21h e com o qual até concordava, pois quando viajava a essas horas, via bem que havia muito espaço vazio. No entanto, na linha verde (Cais do Sodré a Telheiras), decidiram cortar durante todo o dia o n.º de carruagens. Resultado - à hora do almoço e pelas 18h, o metro está à pinha. Já só se ouve as pessoas a reclamar, que isto é incomportável - aumentarem os preços do passe e depois só a piorarem os serviços. Infelizmente, o povo só reclama de peito feito. Não sei quantos destes já fizeram 1 pedido de reclamação por escrito. O paradigma tem que mudar, sim, mas temos que ser aquilo que exigimos dos governantes. E isso custa tanto! Tenho o Henrique em grande consideração nesse aspecto, mas nem sempre as pessoas sabem olhar para si próprios e fazer o que querem que os outros façam. Eu queria que os decisores das medidas de austeridade iluminadas para o metro, andassem no mesmo a horas de ponta. Não é apenas olhando para números, é preciso vivenciar para se perceber exactamente o que é preciso mudar.