quinta-feira, setembro 20, 2012

"Todo o luxo é uma espécie de degradação"


Tinha acabado de almoçar os restos de uma sopa, que tinha feito para aproveitar os restos, as peles, as espinhas e a cabeça de um peixe, deitando-os por cima de uns quadradinhos de pão que passei numa frigideira com azeite quando dei com o segundo post do Filipe Nunes Vicente da série que em boa altura começou.
Acompanhei o almoço com um copo de vinho branco. Ainda não cheguei à austeridade de Augusto, imperador romano, justamente elogiado por Suetónio pela sua frugalidade, que se manifestava, por exemplo, pela moderação do consumo de vinho, quase sempre baptizado com água, como era comum nessa altura.
Costume que aliás perdurou, como verifiquei no último passeio que fizemos às minas romanas de três minas, em nos serviram um refresco de mel e água (pode-se acrescentar umas gotas de limão, mas não fazem falta). E que me explicaram depois que também se bebia traçado com vinho tinto, era o que davam de beber aos ceifeiros do centeio, para lhes dar força, para lhes tirar a sede no trabalho duro ao sol do Verão das serras, sem que ficassem imprestáveis para o trabalho.
O meu convívio com o António Alexandre tem-me aproximado de uma cozinha mais próxima da terra, o que significa também mais aproveitadora, nomeadamente das partes menos nobres dos animais e plantas, a que António Alexandre sabe dar uma sofisticação que me falta (infelizmente, mas os pezinhos de coentrada que experimentei fazer pela primeira vez estavam bastante palatáveis).
Por tudo isto, no encontro entre o meu almoço de restos e os posts de Filipe Nunes Vicente, lembrei-me da citação de Eugénio de Andrade do título (de memória, não garanto o rigor de cada letra, mas está numa entrevista publicada num livrinho que comprei, já com um autógrafo de Eugénio de Andrade em que só reparei quando cheguei a casa, numa altura em que já era um poeta conhecido, mas não era ainda um monumento nacional).
E lembrei-me deste post de David Justino.
Na verdade incomoda-me não ver no movimento ambientalista ninguém levantar a voz para dizer, de forma clara, provavelmente incómoda para quem o disser, que a austeridade é uma virtude, defeito é a pobreza, a miséria e a fome.
Incomoda-me que ninguém, no movimento ambientalista, diga de forma clara que a defesa do consumo pelo consumo, que tem sido a receita constante para sairmos da crise, é inadmissível.
Que é bom a travagem no sector da construção, excessivo e predatório em Portugal, que é bom que as pessoas reorientem as suas prioridades de consumo, como aliás sempre defendeu, em teoria, o movimento ambientalista.
Incomoda-me que ninguém diga que austeridade não é problema, desemprego sim.
Uma coisa é fazer o maior esforço possível para remediar ou evitar as consequências sociais negativas de uma mudança estrutural na produção e consumo do país, outra coisa é apoiar o esforço reaccionário que está a ser feito para retomar um caminho completamente insustentável de consumo e que o movimento ambientalista não se cansou de denunciar (a situação financeira só reflecte o que o movimento ambientalista disse sobre o consumo excessivo que nos estava a conduzir pelo mundo alienante da insustentabilidade).
Meus caros, é tempo das pessoas que defendem a sustentabilidade dizerem com clareza que a austeridade é mais sustentável que o luxo.
E  que o luxo é sempre uma espécie de degradação.
henrique pereira dos santos

21 comentários:

Anónimo disse...

Têm ido à praia ultimamente? Com tanta fome que grassa em Portugal, como é possível haver praticamente só gordos?

Concordo com a austeridade. Como ambientalista discordo da imbecil estratégia do consumo pelo consumo. cobrar-se IVA para despesas deste tipo: http://expresso.sapo.pt/educacao-professores-portugueses-em-fim-de-carreira-sao-os-mais-bem-pagos-da-ue-atendendo-ao-nivel-de-vida-do-pais=f526355
é uma infâmia. Passos Coelho estava no bom caminho. Os Juízes do Tribunal Constitucional, à semelhança da greve pelos 2 meses de férias de S. Exas., chumbaram uma medida que lhes mexia na carteira. Equidade??!! Onde está a equidade das 30 greves dos funcionários públicos contra as 2 greves dos funcionários do sector privado no mesmo período de tempo? Ver pág. 65 do estudo: http://www.bportugal.pt/pt-PT/BdP%20Publicaes%20de%20Investigao/AB200906_p.pdf

Sim à austeridade, pela sustentabilidade do nosso planeta. Voltemos às açordas, às belas sopas, às verduras, à fruta barata e descalibrada. Carne e peixe só em dias de festa.

Anónimo disse...

Patetico lumpen intelectual... e para completar o ramalhete chamam-se citacoes do Suetonio sobre frugalidade... o Suetonio! O que bebia vinho de copos feitos do mais puro ouro.
Foda-se...

Henrique Pereira dos Santos disse...

Camarada anónimo,
E argumentos tem? Mesmo que seja com a qualidade do português. E mesmo que seja com o raciocínio que o faz dizer que eu não posso citar a frugalidade de um indivíduo porque o indivíduo que a refere não era frugal. Mesmo que seja com este nível, para a próxima traga um argumentozito para podermos conversar sobre ideias em vez de pessoas.
henrique pereira dos santos

Luís Lavoura disse...

Como, precisamente, é que o Henrique faz a sopa para aproveitar a cabeça e espinhas do peixe?
Quero dizer, tritura isso tudo com a varinha mágica? OU não tritura?

Henrique Pereira dos Santos disse...

Normalmente isto resulta de um peixe previamente cozido, de que aproveito depois a água, ou pode ser feito com uma cabeça ou um rabo especificamente comprado para o efeito.
No caso de ter desfiado o peixe para o aproveitar noutras coisas, ou se tiver sobrado, pode-se ir cozendo o peixe um bocado de tempo (se tiver marisco, ou melhor, cascas e cabeças, não se deve cozer muito o marisco não mais de cinco minutos). Depois passo por um passador chinês (se forcas e cabeças de marisco pode-se bater com uma varinha mágica e depois coar pelo passador chinês). De maneira geral esta sopa tem uma parte feita em que se faz um refogado, a que depois se junte este caldo de cozer o peixe (pode-se juntar uma cebola, um bocado de alho e louro à água de cozer o peixe, é preciso é cuidado com o sal visto que este caldo vai ferver algum tempo, perder bastante água e portanto rapidamente fica salgado se não se tiver cuidado). Uma das hipótese é nesse refogado (com cebola, alho e louro, de preferência bem puxado) pôr as espinhas, peles e etc., a estufar lentamente durante algum tempo (pode-se juntar algum vinho branco, levemente, de vez em quando). Depois de juntar o caldo de cozer o peixe, então passa pelo passador chinês, aqueles cónicos que por aí existem.
Pode-se juntar um tomate, para quem gosta, mas com moderação, doutra forma o gosto do tomate, que é bastante agressivo em sopas, abafa o resto.
Espero ter respondido, mas eu de cozinha não percebo nada, vou é fazendo essas perguntas ao António Alexandre.

Anónimo disse...

O humor dos senhores professores poderá acabar em breve, caso o colapso que muitos auguram de facto aconteça. A guerra civil afectará todos por igual, o facto de terem feito 30 greves em 15 anos, duplicando o salário relativamente a outras profissões sem sindicalistas profissionais estudiosos das lutas proletárias, não os livrará de terem de aproveitar ossos para melhorar a sopa.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Qual humor e quais professores? Ou isso é só um comentário geral sem nenhuma relação com o post?

Anónimo disse...

HPS, argumentar consigo depois deste excremento ignorante que deu post?
Largue o vinho.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Valente anónimo,
Não tem argumentos, é isso? Se é assim por que razão se deu ao trabalho de fazer comentários desse nível? Para desopilar o fígado?
Para isso há dezenas de coisas melhores a fazer.
Mas percebo que quem nem assina tenha alguma dificuldade em relação a si próprio e às suas ideias.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Tens razão Henrique, que o conceito de austeridade é algo a reter e que deveria unir as pessoas de bem independentemente da inclinação política. É pena que o conceito fique tão ligado à crise e aos cortes, uns justos e outros injustos, que se têm feito. A verdade é que a austeridade é necessária para preservar o ambiente, para assegurar uma mais justa repartição da riqueza entre classes sociais e entre gerações. Vale a pena ouvir e voltar a ouvir o grande discurso anti-sistema de Julio Anguita, ex-Secretário Geral da Esquerda Unida em Espanha onde invoca a austeridade como um dos conceitos centrais da esquerda.

Ver discurso aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=OVvsbVibMvQ

Carlos Aguiar disse...

A austeridade é uma reparação social porque é um ajustamento à realidade física do mundo. Portanto, "...a austeridade é uma virtude, defeito é a pobreza, a miséria e a fome" ..."[a] austeridade não é problema, desemprego sim"; como estou de acordo contigo, Henrique! Mas, sabes, assusta-me o facto de nem a teoria (está para para chegar o primeiro Nobel da economia sobre decrescimento económico), nem a política conseguirem lidar com economias estagnadas (e mitigar os seus efeitos sociais), quanto mais com economias a minguar. E há que minguar muito! E se a fome a doença, ou, pelo menos (numa primeira fase?), o desemprego, a desilusão e o desalento, tudo formas mais ou menos intensas de degradação, forem inevitabilidades do decrescimento, da austeridade? Fingimos que não, que bastaria ir em cima do capital, eliminar gorduras e ineficiências, e combater a corrupção e a evasão fiscal, porém, esta terrível dúvida, este medo, trespassa-nos a todos por ser mais do que provável. Como referes, o luxo é uma degradação porque amplia a degradação do decrescimento futuro, esta coisa de salvar as economias pelo consumo é um fuga para frente. Mas a degradação anda por aí, andará cada vez mais, é intrinsecamente desigual: e as pessoas passam-se.
Henrique, este foi um dos posts mais lúcidos e importantes que escreveste.

Anónimo disse...

Henrique , bom texto. Mas comete um erro, luxo e consumo excessivo não é o mesmo. Aliás, o luxo para muitos inclui a frugalidade.
E já agora o consumo é a base da economia seja qual for a a escola económica que considerarmos. Sem consumo não proveitos e não havendo proveitos só existem custos...
Abraço, João Menezes

Anónimo disse...

Muitas vezes o segredo de um bom cozinheiro é o caldo que pode servir de base a sopas, molhos ou outros pratos como arroz. E os caldos podem ou devem mesmo ser feitos com os "restos", ossos, espinhas, partes mais duras de legumes (dos espargos por ex), etc e posteriormente congelam-se em cubos de gelo para uso posterior. Qualquer bom livro de cozinha tradicional, francesa, moderna ou cientifica, tem uma capitulo sobre isto.
Para quem não estiver por dentro da área, deixo uns prints:
http://i.imgur.com/rjT1P.jpg

Anónimo disse...

HPS, a unica dificuldade que eu tenho contigo e perceber como consegues escrever com a cadela que levas em cima. Suca!

Miguel,
A si dedico-lhe umas palavras mais simplesmente porque respeito o seu trabalho e escritos neste blog que sao muito distintos disto e muito acima da resposta simplista que poe mais acima em comentario.
Errado. A austeridade e nociva para o tecido social e a logica da mesma levada ao limite e implosao social e uma ditadura ponto final. E sem tecido social nao faz qualquer sentido pensar no ambiente.
Nao estamos aqui a falar de nenhuma nocao abstracta ou idealizada de austeridade e sim da muito concreta e mortifera onda politica extremista que assola o continente europeu.
E este excremento de post junta-se ao resto das vozinhas burguesas do costume no coro batido da retorica TINA "There Is No Alternative" no apoio a ESTA austeridade e nao uma outra coisa qualquer.
Refuto violenta e radicalmente esta indigencia intelectual: quero que metam a TINA onde o Sol nao brilha e que se engasguem com os caldinhos de peixe rancoso com que tentam adormecer as massas.

Anónimo disse...

sem dúvida, Deus nos livre dos camarões.

Anónimo disse...

Caro anónimo, desengane-se com o silêncio do HPS. Ele prometeu descobrir a sua identidade para lhe responder cara-a-cara, algo que não está a ser fácil. Liberte-o do trabalho, identificando-se. Veremos depois quem está bêbado ou sóbrio.

Nuno disse...

Uma definição encontrada na internet:

"1. carácter ou qualidade do que é austero
2. rigor de disciplina; severidade
3. ausência de enfeites ou ornamentos
4. ECONOMIA contenção de gastos
5. ECONOMIA política governamental que procura reduzir a despesa pública"

Acho que hoje se chama austeridade a todo o tipo de coisas, desde algo mais próximo da abnegação do que da eficiência até uma espécie de neo-calvinismo masoquista traduzido em Orçamentos de Estado suicidários.

Se for tomada a expressão no sentido de que ser austero é ser despojado do superficial, do desperdício e do nocivo à continuidade das coisas que não se enquadram nas duas outras categorias então serei austero, reconhecendo que é sempre uma noção profundamente moralista, qualquer que seja a sua atribuição.

Anónimo disse...

má fortuna o seu texto seguir-se desse primeiro comentário.

Anónimo disse...

Má fortuna porquê?

O caro anónimo não quer que se saiba que os srs. professores do ensino público, com as suas milhentas greves ao longo de 20 anos, conseguiram ordenados incomportáveis para as finanças do país e a totalmente descompensados relativamente à generalidade dos outros grupos profissionais (exceptuando pilotos da TAP, maquinistas da CP e quejandos) contribuindo de forma superior para a insustentabilidade das desleixadas contas do Estado e consequentemente para a óbvia austeridade que toca a todos, infelizmente mais aos pobres?

O caro anónimo não quer que se saiba que os funcionários públicos têm um salário médio muito superior ao do sector público, diferença essa que se acentuou astronomicamente ao longo dos últimos anos, mercê das muitas greves que fizeram, contribuindo de forma superior para a insustentabilidade das desleixadas contas do Estado e consequentemente para a óbvia austeridade que toca a todos, infelizmente mais aos pobres?

O caro anónimo quer que se minta, se diga e se escreva que a culpa da austeridade é apenas dos ruinosos negócios com as parcerias público-privadas, dos políticos corruptos e incompetentes, da troica, dos salários obscenos que se pagam a alguns administradores das empresas públicas, dos inúmeros motoristas dos governantes, etc.?

Anónimo disse...

Má fortuna porquê?

O caro anónimo não quer que se saiba que os srs. professores do ensino público, com as suas milhentas greves ao longo de 20 anos, conseguiram ordenados e reformas incomportáveis para as finanças do país, totalmente descompensados relativamente à generalidade dos outros grupos profissionais (exceptuando pilotos da TAP, maquinistas da CP e quejandos) contribuindo de forma superior para a insustentabilidade das desleixadas contas do Estado e consequentemente para a óbvia austeridade que toca a todos, infelizmente mais aos pobres?

O caro anónimo não quer que se saiba que os funcionários públicos têm um salário médio muito superior ao do sector público, diferença essa que se acentuou astronomicamente ao longo dos últimos anos, mercê das muitas greves que fizeram, contribuindo de forma superior para a insustentabilidade das desleixadas contas do Estado e consequentemente para a óbvia austeridade que toca a todos, infelizmente mais aos pobres?

O caro anónimo quer que se minta, se diga e se escreva que a culpa da austeridade é apenas dos ruinosos negócios com as parcerias público-privadas, dos políticos corruptos e incompetentes, da troica, dos salários obscenos que se pagam a alguns administradores das empresas públicas, dos inúmeros motoristas dos governantes, etc.?

Anónimo disse...

Má fortuna porquê?

O caro anónimo não quer que se saiba que os srs. professores do ensino público, com as suas milhentas greves ao longo de 20 anos, conseguiram ordenados e reformas incomportáveis para as finanças do país, totalmente descompensados relativamente à generalidade dos outros grupos profissionais (exceptuando pilotos da TAP, maquinistas da CP e quejandos) contribuindo de forma superior para a insustentabilidade das desleixadas contas do Estado e consequentemente para a óbvia austeridade que toca a todos, infelizmente mais aos pobres?

O caro anónimo não quer que se saiba que os funcionários públicos têm um salário médio muito superior ao do sector público, diferença essa que se acentuou astronomicamente ao longo dos últimos anos, mercê das muitas greves que fizeram, contribuindo de forma superior para a insustentabilidade das desleixadas contas do Estado e consequentemente para a óbvia austeridade que toca a todos, infelizmente mais aos pobres?

O caro anónimo quer que se minta, se diga e se escreva que a culpa da austeridade é apenas dos ruinosos negócios com as parcerias público-privadas, dos políticos corruptos e incompetentes, da troica, dos salários obscenos que se pagam a alguns administradores das empresas públicas, dos inúmeros motoristas dos governantes, etc.?