Este post é uma resposta ao comentário 11 deste outro.
Caro BG,
O que me está a dizer é que em teoria é favor da conservação dos recursos naturais e percebe a sua importância mas na prática a teoria é outra.
A primeira questão é se é inteligente o país adoptar por políticas de rentabilidade imediata sacrificando a rentabilidade futura (suponho que é isso que quer dizer a sua pergunta sobre se o país tem recursos para não os aplicar integralmente em matérias de rentabilidade imediata).
Eu diria que não, que não é inteligente.
A segunda questão que coloca parece-me ser se a sociedade remunera convenientemente a produção de biodiversidade por parte dos proprietários e gestores.
Eu diria que não, não remunera, por isso sou radicalmente contra o actual PRODER (e os outros antecessores) que pretendem que os recursos públicos servem para apoiar a competitividade da actividade económica (com o que basicamente conseguem fazer distorções irracionais de mercados que funcionam) em vez de servirem, como defendo, para apoiar soluções socialmente úteis para falhas de mercado (como acontece com a remuneração da produção de biodiversidade).
O seu ponto dois é simplesmente falacioso: é, entre outras razões, por ter em consideração as externalidades sociais dos projectos económicos (que incluem as questões de conservação) que os países estão à frente de nós, portanto se acentuarmos o desprezo por essas externalidades, como se tem vindo a verificar, teremos cada vez mais recursos não produtivos a resolvê-las (por exemplo, com medidas de conservação compensatórias estúpidas e caras que poderiam ser evitadas se a conservação fosse adequadamente considerada desde o princípio do processo de decisão).
Não percebi as suas considerações finais sobre a rede natura, que esteve em discussão pública mais de um ano (bem mais que todos estes projectos), que foi muito mais escrutinada que estes projectos. A sua frase poderia ser a de que estes projectos de TGV, Aeroporto e etc., são projectos que as obras públicas puseram à frente do poder político para aprovar (diga-se de passagem, sem um décimo do processo de participação pública associado à Rede Natura) mas parece-me que não vale a pena ir por este caminho que é manifestamente inútil e falso.
Quer a rede natura, quer estes projectos são decisões legítimas do poder político.
O que vale a pena é ver como Sines, Alqueva, as barragens desde os anos 50, as estradas, alcochete, rave, o Euro 2004, etc., etc., sempre foram justificados com base em pressupostos que nunca se verificaram e absorveram sempre, sempre, só em custos não previstos, muito mais recursos (cada um deles) que toda a política de conservação do país desde Afonso Henriques.
Não quer dizer que os projectos não tenham sido úteis e produzido riqueza, estou apenas a dizer que produziram muito menos que o previsto e custaram muito mais que o previsto.
E que esses recursos foram retirados às pessoas e às empresas por via fiscal implicando, muito provavelmente, o seu uso muito menos eficiente na produção de riqueza.
henrique pereira dos santos
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5 comentários:
Quanto ao ponto 2 do comentador anterior, que passo a relembrar "Portugal pode investir na conservação da natureza (senso stricto) a mesma proporção de recursos financeiros públicos e privados que os restantes países da Europa ocidental, designadamente os que vão vinte anos à frente em termos de desenvolvimento?", apraz-me dizer que o desenvolvimento é um conceito que serve para lá meter muita coisa.
Um exemplo: a grande indústria francesa, que tem gerado muito "desenvolvimento", lega para os seus cidadãos uma contaminação infernal de PCB [1,2] e de dioxinas [3], geradora de cancros. Isto é que é o desenvolvimento e o progresso?
[1] Cartographie des pollutions aux PCB en France, http://www.univers-nature.com/inf/inf_actualite1.cgi?id=3157
[2] Taux records de contamination aux PCB pour les amateurs de poisson, http://www.univers-nature.com/inf/inf_actualite1.cgi?id=3170
[3] Dioxine : «Je n'ai pas envie de vivre ailleurs», http://www.libelille.fr/saberan/2008/06/dioxine-je-nai.html
Quando ainda é necessário explicar o "básico", então eu tenho que concordar que o "movimento conservacionista" falhou no nosso país (e não só).
É curioso quando, mesmo quando fundamentado em centenas de factos e de estudos científicos ao longo das últimas décadas, os que defendem a imperiosa necessidade de preservar a biodiversidade para a própria sobrevivência da espécie humana, continuam a ser vistos como os "ingénuos românticos".
Ainda recentemente, na secção de ambiente do "Portugal diário IOL", alguém se indignava com os "milhões" gastos para defender o lince, quando há gente a morrer à fome. Isto, para demagogia, é difícil de ultrapassar...O pior é que este tipo de pensamento está bem entranhado e não corresponde propriamente a uma excepção.
Claro que é fácil responder à demagogia com mais demagogia e, numa altura em que o país está hipnotizado pelo circo do futebol, poderia perguntar-se a quantos portugueses se mataria a fome com o dinheiro gasto nos estádios (vazios) do Euro 2004?! Também poderia perguntar se, fechando o Ministério do Ambiente durante alguns anos, se arranjaria dinheiro para pagar as obras e as derrapagens da Linha do Norte, por exemplo (?!)
Estou a ser demagógico propositadamente, para que se perceba que a demagogia é "um pau de dois bicos". Pessoalmente, penso que a demagogia nunca é a solução...
Embora tentador, o "movimento conservacionista" tem que primar por não cair na mesma demagogia. Embora seja difícil, não vejo outra alternativa à "força da razão e da educação".
Porque se não querem ou não sabem compreender a fulcral importância de cada espécie no seu habitat, aceitem ao menos que, com o desaparecimento de cada espécie, desaparece um património genético irrepetível.
E que, por exemplo, nesse "património" pode estar a cura para alguma doença.
Veja-se o caso do taxol descoberto na espécie norte-americana de teixos, com valiosíssimas propriedades anti-cancerígenas. E em tantos outros casos.
Sendo assim, como para certos leitores, estas questões não aparentam ter um lucro rápido para as gerações actuais, desista-se pois de preservar a biodiversidade em nome da poupança de recursos; sabendo de antemão que os custos deste erro estratégico para as gerações futuras seriam inimagináveis...
P.S. - No entanto, não posso deixar de me perguntar quantas mais barragens, auto-estradas, aeroportos ou estádios de futebol, será necessário construir até sermos um país suficientemente "rico" para ter uma política de conservação da nossa biodiversidade?
E como a crise nos transportes demonstra: faz sentido uma mega plataforma logística nas proximidades de Lisboa? E o aeroporto? Vamos insistir em obras faraónicas que suportam modelos de desenvolvimento económico e de ordenamento do território em colapso? Cuja componente técnica nacional se esgota na construção civil? É deliberadamente não estou a falar de engenharia civil…
Não haverá melhor maneira de espatifar com o dinheiro dos contribuintes sem ser em remakes do filme das abetardas?
Olá. Acabei de conhecer este blog. Acabei de publicar um livro de poesias que foi inspirado no jornalismo ambiental e em projetos de Educação Ambiental. O objetivo principal da obra é, por meio da poesia, despertar a consciência conservacionista em relação aos escassos e tão ameaçados recursos naturais do País, bem como construção da cidadania, ética e cultura de paz. RETRATO - http://www.allprinteditora.com.br/catalogo2/retrato.htm . Grande abraço.
Rosi Cheque - jornalista e poeta (São Paulo - Brasil)
adoro este blog, sempre com post surpreendentes - meus parabens
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