quarta-feira, março 17, 2010

A energia e o movimento ambientalista

Imagem do site da EDP, esses malandros

Na sequência deste post, e comentários subsequentes, resolvi hoje dar uma volta pelos sites das três principais ONGA nacionais (a propósito de um comentário sobre o plural de Onga existe consenso no sentido do apóstrofo no plural onga's estar inequivocamente errado, existe alguma dúvida sobre ONGA não tem plural porque é uma sigla, ou se o tem por já ser um acrónimo, penso eu).
Ontem foi apresentada pelo Governo a Estratégia Nacional da Energia 2020 e seria por isso natural que perante uma das mais relevantes questões ambientais que temos pela frente houvesse opinião estruturada por parte do movimento ambientalista.
No Geota o último comunicado da associação que se encontra no seu site diz que o GEOTA fará parte do Júri do concurso das sete maravilhas naturais de Portugal. Tanto quanto me apercebi, não existe nada no site referente à estratégia nacional de energia.
Na LPN o último comunicado que existe diz que a LPN se associa à iniciativa "Plante uma árvore" da representação permanente da Comissão Europeia em Portugal. Esta iniciativa, que a mim me parece meritória nas intenções e processos, tem sido criticada pelo uso de espécies exóticas nas acções de vários parceiros (não o caso da LPN, mas vale a pena ver com que se entretem a LPN a propósito da biodiversidade), para além da estranha bizarria da autoridade nacional para a biodiversidade não fazer parte dos parceiros na iniciativa. Tanto quanto me apercebi, não existe nada no site referente à estratégia nacional de energia.
A QUERCUS tem posição sobre a estratégia nacional para a energia nos próximos dez anos. Está aqui a posição para quem a queira ler sem intermediários.
E vale a pena ler. A ideia principal está naturalmente no título que a QUERCUS dá ao comunicado: "um bom começo, mas contradições nas prioridades".
Importam-se de repetir? Um bom começo? Começo, ao fim de não sei quantos anos de decisões?
Lembro-me de quando o Governo anterior tomou a decisão de contrariar o regulador, não aumentando o preço da electricidade para resolver o défice tarifário, ter perguntado a um dos principais dirigentes da QUERCUS, e directamente envolvido nesta matéria, se a QUERCUS não tinha posição sobre isso. A resposta é que era uma questão de mercearia, não fazia sentido a QUERCUS envolver-se nisso. Verifico que de facto é assim que a QUERCUS pensa: o preço, o tarifário e esses pormenores, que traduziriam o princípio básico do utlizador pagador, estão ausentes da posição da QUERCUS. Não são por isso uma questão central para a QUERCUS (aparentemente o desenvolvimento sustentável, para a QUERCUS, não inclui o pilar da economia). Registo que a QUERCUS pretende discutir uma estratégia de energia omitindo a discussão dos preços.
O lead do comunicado, tirando a primeira parte que não interessa nada, reza assim:
"A Quercus considera que a referida estratégia continua a não criar um novo paradigma de coerência das políticas governamentais em matéria de energia, na medida em que as políticas dos últimos anos continuam a ser muito contraditórias, com investimentos programados nos transportes, principal área da nossa dependência energética."
Ou seja, a QUERCUS está a dizer que a política do Governo é incoerente, mas isso não a coíbe de a classificar como um bom começo. A quadradatura do círculo no seu esplendor, que retrata bem o comunicado emitido pela QUERCUS como procurarei fazer notar e que é de facto a marca de água da QUERCUS nas suas posições públicas há muito: criticar sim, em questões pontuais até fortemente e com acções jurídicas, mas nunca em caso algum dizer alto e bom som, com a clareza que seria exigível, que este Governo é o maior embuste ambiental que se possa imaginar.
Dizer que esta política energética não tem nada de ambiental, é apenas filha da falência do Estado e do desespero financeiro que obriga o Estado a empenhar os recursos naturais numa política suicidária de captação de investimento, isso a QUERCUS nunca fará nas actuais circunstâncias.
O que a QUERCUS faz é tocar e fugir, brincar permanente ao gato e ao rato da crítica, neste comunicado.
"Muitas das áreas abrangidas têm sido parte de planos e intenções anteriores, sem que Portugal tenha conseguido cumprir objectivos iniciais (ex. água quente solar e biomassa), e principalmente tenha visto reduzir de forma continuada o seu consumo de electricidade e a sua intensidade energética (indicador nunca referido durante todos os discursos da apresentação)".
Ou seja, a QUERCUS diz que o mais provável é ser tudo aldrabice, mas isso não a coíbe de considerar a estratégia um bom começo.
O melhor é que depois de passar esta medalha de aldrabice ao Governo (este e os anteriores), refere como o primeiro aspecto positivo:
"- Metas apresentadas em diferentes áreas (redução da dependência externa dos combustíveis fósseis; aumento das energias renováveis, aumento do emprego, e aumento do peso do PIB associado ao sector energético) são significativas, bem como a identificação da área da energia como crucial para o desenvolvimento sustentável do país;".
Ou seja, o que o Governo diz não é para levar a sério e o mais positivo da estratégia é o que o Governo diz, mesmo não sendo para levar a sério. Pergunto na minha ingenuidade: se os planos e intenções anteriores demonstram a sua inutilidade, como podem ser metas e coisas que tal ser consideradas como elementos positivos da estratégia?
Coerente com o seu princípio de que os preços são questões de mercearia, a QUERCUS afirma como segundo aspecto positivo:
"- Aumento em dez vezes da potência a instalar para produção de electricidade renovável de origem solar;"
Extraordinário, depois de considerar que a água quente solar é um bom exemplo de como as intenções ambientais do Governo não são para levar a sério, a QUERCUS acha bem que a estratégia opte por aumentar em dez vezes a produção eléctrica de energia solar que é, por enquanto, ruinosa. Não seria normal a QUERCUS dizer que o Governo se devia deixar de parvoíces com a produção eléctrica solar enquanto não levasse ao limite as potencialidades da água quente solar?
O terceiro aspecto positivo é a recusa da energia nuclear, que não vale a pena comentar. Não porque o assunto não seja importante, mas porque considerar positivo que não esteja em cima da mesa o que o Governo (e já agora, quase toda a oposição) sempre disse que não deveria estar, não deixa de ser sintomático.
O primeiro dos aspectos negativos:
"- Prioridade maior às energias renováveis em relação à redução de consumos e eficiência energética (quer no conteúdos das medidas apresentadas, quer em investimento previsto);"
Finalmente de acordo com a QUERCUS. Mas, pergunto eu, não é este aspecto negativo, por si só a demonstração de que o que está em causa nesta estratégia não tem nada, mas rigorosamente nada, de preocupação ambiental. Não é esta a pedra de toque que separa uma estratégia energética de base ambiental de uma estratégia energética de captação de investimento à custa da justificação moral ambiental que torna politicamente aceitável um tarifário que todos pagaremos em ineficiência e desemprego, sem ganhos ambientais reais?
"- Os investimentos em energias renováveis arriscam-se a ser demasiado extensos e a agravar fortemente os conflitos com o ambiente, nomeadamente através de barragens e eólicas onde as áreas disponíveis são cada vez menores."
Ou seja, a QUERCUS considera entre os aspectos positivos as metas estabelecidas para as energias renováveis, mas considera nos aspectos negativos o excesso de investimento nas duas principais e mais competetivas fontes de energia renovável. Resumindo, o que quer afinal a QUERCUS? Não quer discutir os preços e os custos, não quer o nuclear (eu também não), não quer barragens nem eólicas em excesso (faltaria definir o que é o excesso mas a QUERCUS depois pensa nisso) e quer aumentar dez vezes o eléctrico solar (a mais irracional das apostas de produção a partir de fontes renováveis, neste momento), querendo ainda melhorias de eficiência (eu também) embora não explique bem como.
O ponto seguinte mostra bem a vocação actual da QUERCUS para o contorcionismo:
"- No sector dos transportes, nomeadamente o papel do transporte colectivo, esteve completamente ausente. A prioridade foi para o automóvel eléctrico que apesar das suas inegáveis virtudes ambientais deverá ser apenas um eixo de uma política mobilidade que não está a funcionar (veja-se as Autoridades Metropolitanas de Transportes), bem como um visão integrada em termos de ordenamento do território. A redução da necessidade de utilização do transporte individual é fundamental para as famílias portuguesas reduzirem custos e o país reduzir a sua dependência energética;"
Tal como no primeiro ponto, esta é mais uma demonstração cabal da falta de perspectiva ambiental nesta estratégia. Mas ainda assim a QUERCUS ganha ânimo para incluir uma frase sobre as "inegáveis virtudes ambientais" do carro eléctrico? Inegáveis? Depois de se criticar a aposta nas barragens e eólicas? Depois de querer pôr a tónica na redução de consumos ainda se consegue vislumbrar inegáveis virtudes ambientais no carro eléctrico? Tudo isso no mesmo parágrafo em que "en passant" se diz, como se de coisa menor se tratasse, que os transportes colectivos estão ausentes da estratégia?
E por fim, num tique próprio da QUERCUS, o comunicado acaba com uma conversa de comadres sobre os meandros internos do Governo, dizendo que o ambiente vai ceder à economia. Francamente, acham que é mesmo uma questão importante? Se há coisa que Sócrates tem feito bem é manter a consistência interna dos seus Governos, e eu também acho que assim deve ser. Não há políticas do Ambiente e da Economia, há políticas do Governo. Não é o ambiente que vai ceder, é o Primeiro Ministro que define essa política.
Seria pedir muito à QUERCUS que explicitasse de forma clara e inequívoca que esta estratégia corresponde à opção política do Primeiro Ministro:
empolar artificialmente o investimento no sector da energia durante o próximo ciclo eleitoral, justificar enganadoramente essa opção com razões ambientais, as quais na verdade estão completamente ausentes das suas preocupações políticas, e deixar a factura a pagar em competitividade, desemprego e dívida nacional para quem vier depois.
Meus caros dirigentes do movimento ambientalista,
podem com certeza acusar-me pela enésima vez de eu ser anti-onga, mas francamente, quando numa questão ambiental estratégica como é a energia, a LPN e o GEOTA dormem placidamente, e a QUERCUS faz um dos mais indecorosos exercícios de contorcionismo político que tenho vito em matéria ambiental eu respondo-vos que se há alguém que está de facto a matar as ONGA são vocês, não sou eu.
Mesmo que estejam, como creio que na maioria estarão, cheios de boas intenções.
henrique pereira dos santos

14 comentários:

Nuno disse...

É realmente inexplicável que a Quercus não seja mais assertiva e coerente ao nível do discurso, nomeadamente investindo na "limpeza" de rodeios diplomáticos.

Relativamente á aposta prioritária na eficiência e educação parece-me bastante mais activa do que no protesto/apoio aos planos sobre energias renováveis, através do projecto Eco-casa, dirigido ao público em geral. Parece-me um projecto positivo, pro-activo e em expansão.

Fiquei um bocado surpreendido pela referência positiva aos carros eléctricos quando a organização criticou o spin propagandístico do 1ºMinistro em relação ás isenções de impostos, que pretendia ver alargado aos transportes públicos e agora vem criticar os mesmos por possivelmente gerarem mais emissões. Não percebo porém porque esteve formalmente ausente do movimento que reclama benefícios idênticos para bicicletas.

Relacionado com o post vem hoje esta notícia:

"Quercus teme "pressão ainda maior" sobre o Ambiente"
http://economia.publico.pt/Noticia/quercus-teme-pressao-ainda-maior-sobre-o-ambiente_1427607

As críticas não estão erradas mas o discurso parece ainda um pouco diluído e concentrado em coisas como electrodomésticos e secadores de roupa em vez da globalidade da estratégia nacional para a energia.

A falta que faz um departamento de marketing e relações públicas...

RF disse...

HPS, faz muito bem em dissecar estes comunicados e perder algum do seu tempo a levantar as questões que aqui referiu.
Isto porque para 99% dos cidadãos, a existência de um comunicado de uma ONGA é, por si só, um documento científico capaz, seguro e de referência.
Não o é, e o HPS detecta-o pormenorizadamente neste seu post. Dá ideia de que as ONGA têm que fazer uns comunicados "muito inflamados" contra o Governo, muito críticos, quando as grandes questões estratégicas das Áreas Metropolitanas de Transportes ou a convergência dos preços da energia, que são 2 aspectos centrais, ficam de fora das preocupações de forma quase que diria escandalosa.
E a questão última da convergência dos preços da energia com a realidade fica de fora e ela é muito provavelmente reveladora do pensamento ideológico de quem escreve e assina este comunicado, assente na ideia de que ter o preço da energia mais próximo do real seria uma forma de penalizar "os mais pobres" e dar mais dinheiro a ganhar ao distribuidor. Nada mais errado.
Hoje, com a subsidiação da energia, estamos a financiar o desperdício com o OE e a ajudar "os ricos" a gastar electricidade. Nada mais que isso. E como o Estado não paga a horas ao fornecedor de energia, o mesmo Estado financia-se na banca e a empresa recebe a horas, ficando o resto em juros para o contribuinte.
A convergência dos preços da energia poderia libertar uma boa fatia do OE para investimento imediato em programas de eficiência energética, por um lado, e por outro para criar uma tarifa social justa para os que, ajustados às suas posses, pudessem vêr realmente uma ajuda.
O apostar no carro eléctrico ou aumentar 10 vezes a produção de energia solar são sim as verdadeiras contas de mercearia disto, para encher o olho do cidadão "preocupado" com o ambiente. Marketing, portanto.

aeloy disse...

1- A questão dos preços é fulcral e devia assim como para a fiscalidade haver políticas europeias coordenadas ou, no mínimo ibéricas. O tema é obrigatório!!!
2- A política de eficiência/poupança/ melhoria das taxas de utilização devia ser central articulada com informação/educação (o caso do biodiesel merecia um post...)
3- A aposta nos carrinhos deveria ser articulada com uma estratégia global para as áreas metropolitanas ou não faz qualquer sentido.
4- A micro-geração é uma área que não vi completada, mas pode ser porque não cria título, articulada com melhor gestão da rede e aproveitamentos do calor tem valia de ponta
5- E sobre as energias Sem-fim suaves e renováveis penso que a aposta deve ser feita com um pé na sustentabilidade global e outro na participação e não em nebulosas ideias que essas as dissipa o vento e lava a àgua, que pode ser aquecida pelas rochas...
6- E acho que falta é uma visão a tudo isto...
Com, também reconheço que estou a ver nevoado...
7- E privatizar a R.E.N. é um disparate, já a EDP já devia...
António Eloy

A.J.A.Luz disse...

relativamente ao ponto 1 do comentário anterior - há políticas europeias para os preços: liberalização; e ibéricas: Acordo de Santiago, actualizado em Braga, já abalizado pelo poder legislativo em Portugal e Espanha, estabelecendo a eliminação das tarifas administrativas, salvaguardando consumidores vulneráveis, tal como dispõe a Directiva

Anónimo disse...

Eu gostaria de saber onde está, ou qual o conteúdo efectivo da estratégia nacional para a energia que a comunicação social diz que o governo apresentou ontem. Eu começo a pensar que a troca com o Sócrates/Trocas-te foi deliberado para ninguém questionar o inexistente conteúdo do tal documento. Sabemos que uma boa isdeia começa com um papel em branco. Mas também sabemos que o contrário também é verdadeiro.
Manuel F Santos

Henrique Pereira dos Santos disse...

Manuel,
Essa é uma crítica justa e razoável (se for verdadeira). A Manuela Ferreira Leite a partir de certa altura passou a dizer que não comentava power points. Não tenho nada contra este tipo de crítica. Mas "Um bom começo embora com contradições das prioridades" ou o silêncio?
henrique pereira dos santos

aeloy disse...

1- Não há políticas europeias de preços, aliás quando me fala em liberalização neste dominínio está tudo dito. Não há igualmente fiscalidade europeia mas sim cada país taxa como quer...
2- Não há qualquer, nem simulacro, de politicas e fiscalidade ibérica coordenadas (basta ver os preços dos combustíveis, do gaz da electricidade) .O facto de haver preceitos não quer dizer senão que há preceitos, aliás o Mibel é um bom exemplo do que não existe, de facto.
Julgo que a questão dos preços à escala da unidade económica onde funcinamos não se compadece com mézinhas e truques de ilusionismo.
Não há política de preços coordenada, nem fiscalidade para os mesmos, nem a nível europeu, nem ibéricamente.
E lá vou encher o deposito e comprar umas bilhas de gaz, aqui ao lado.
António Eloy

Unknown disse...

"Bom começo?"
Fui eu o responsável pelo título e por parte do comunicado que foi escrito imediatamente após a apresentação da suposta estratégia face várias solicitações da comunicação social. Agradeço aliás as vossas reflexões :-) A expressão "bom começo" não está realmente consistente com o comunicado ne se percebe. Na altura surgiu pelo facto de alguns aspectos relativamente à anteriormente chamada estratégia da energia publicada em 2005 estarem agora mais claros e consistentes. Mas efectivamente o documento é por agora ainda desconhecido, sendo que muitos números foram anunciados, o que já permite pronunciarmo-nos. Quanto ao solar para produção de electricidade, há uma filosofia bem diferente do até agora aprovado e que deixa de passar directamente pelo investimento e painéis fotovoltaicos, apostando em tecnologias mais baratas e de investimento nacional, apesar de centralizadas (daí o elogio). E quanto aos carros eléctricos, não há dúvidas que eles se traduzem em vantagens ambientais (poluição do ar no local, ruído) - é prematuro é comprometermos desde já apoios tão elevados e focalizar os sforços nestas matérias em detrimento do transporte público.
O comunicado não é assim uma baralhação tão grande e acho que menciona vários aspectos fundamentais (só por dizermos que as renováveis tinham muito mais protagonismo que a redução e a eficiência, sabemos que muitos protagonistas ficaram chateados).

Quanto aos preços, 100% de acordo. Foi uma falha grave, mais do que a do locutor que participa no "Contra-informação" e a quem tinha morido a mãe no dia anterior.

EcoTretas disse...

A análise do Manuel F Santos é extraordinária! Realmente, o que ficou foi o Trocas-te. O plano não tem pés nem cabeça, especialmente do ponto de vista económico. Os verdadeiros números querem-se enterrados! Preparem-se é para pagar cada vez mais pela energia...
Ecotretas

aeloy disse...

Pois claro que os preços da energia tem que aumentar e muito.
E fazê-los reflectir os custos de todo o processo e externalidades. Essa é a grande falácia da política energética a treta da falta de consciência dos processos e da ecologia dos mesmos.
A Eloy

Henrique Pereira dos Santos disse...

Francisco,
Em primeiro lugar deixa-me dizer-te que te tiro o chapéu por seres quase o único (penso que o Paulo Santos ainda é dirigente do FAPAS) que respondes e dás a cara pelas associações fora dos ambientes controlados.
O problema de fundo é que as associações não têm uma agenda clara em questões centrais (biodiversidade, energia, para citar duas) e portanto têm sempre de estar a inventar a roda, o que significa que se podem esquecer dos preços, ou dizer coisas ininteligiveis como o que dizem o solar eléctrico ou coisas mal explicadas, como a precisão de explicar que os inegaveis benenfícios do carro eléctrico são locais.
O problema é saber como se controem agendas claras, participadas e que não são da pessoa x ou y.
Eu aqui no blog posso dar-me ao luxo de ter coisas que decorrem exclusivamente dos meus interesses (por exemplo, fiz um post sobre reservas de surf porque acho graça e porque tenho interesse nisso, mesmo sabendo que não é nenhuma questão prioritária de ambiente. Até posso fazer um private joke ilustrando o post com uma fotografia de uma das minhas filhas. Mas isso não é modo de instituições funcionarem. E tu sabes que é assim que funciona a definição de agendas das ONGs (sobretudo das agendas práticas, mais que das agendas formais).
O resultado, sob pressão, é o deste comunicado, que não é brilhante.
henrique pereira dos santos

EcoTretas disse...

aeloy,
Essa ideia de que a energia tem que subir é um disparate! Estás como o Ehrlich estava em 1980... Ele errou todas as previsões e até foi burro/estúpido em apostar naquilo que acreditava, como podes confirmar aqui:
http://ecotretas.blogspot.com/2010/03/apostar-no-ambiente.html

Ecotretas

Henk Feith disse...

Pois a eficiência energética é a grande ausente e no meu entender é porque eficiência energética reduz consumo logo reduz faturação logo não interessa a quem produz energia.

Inaugurei a minha casa há uns meses e desde que o sol resolveu reaparecer, tenho água quente (quentíssima, a água no depósito chega a 70 ºC ao fim da tarde!) para 4 pessoas de borla e desliguei por completo o aquecimento da casa, graças a painéis térmicos, uma arquitetura pensada no aproveitamento da solar energia passiva e uma aposta no isolamento térmico. Estamos em março e ainda há uma semana tive geada no jardim.

Multipliquem o preço da energia e vão ver como se consegue reduzir o consumo.

Henk Feith

Unknown disse...

Eu diria que nas grandes questões da energia e clima a Quercus tem uma agenda de prioridades: 1º redução de consumo; 2º eficiência energética; 3º aposta em renováveis com os menores impactes. Passar desta agenda à prática não é fácil e dou-vos um exemplo simples sobre como comunicar algumas questões: a água quente solar é uma prioridade mas há sistemas com a mesma eficiência que não têm apoios do Estado - é justo? o programa de apoio do Governo inflacionou enormemente os preços e esteve (e ainda estamos a investigar) a pagar a bancos e a subsidiar indirectamente as empresas; com estas nuances e distorções não é fácil agir.

O sector da energia é realmente muito complexo e estamos devagarinho a percebê-la para aumentar a consistência das mensagens, para também ir um pouco mais longe que mencionar apenas as questões de preço.