quinta-feira, julho 01, 2010

Da coerência na agenda ambiental

António Elói, com razão, manifesta-se, na lista de discussão ambio, estarrecido com esta notícia.
Poder-se-ia acrescentar também esta.
O caso não é para menos.
Para se perceber bem a pobreza franciscana da agenda energética em que o movimento ambientalista está afogado pode ler-se este post e respectivos comentários, ou então, reparar como nove associações se põem de acordo para criticar um fundo de conservação de uma empresa de produção de electricidade e, ao mesmo tempo, estão virtualmente caladas perante este valente embuste do carro eléctrico como medida ambiental, que tem como consequência colocar pressão para o aumento da produção de electricidade por parte das empresas criticadas .
Como medida de desenvolvimento industrial e tecnológico não discuto muito (tenho opinião mas fugiria das preocupações centrais deste blog) mas não tenho a menor dúvida que não é uma medida ambiental de mobilidade urbana.
Medidas ambientais de mobilidade urbana são aumentar o custo de trazer automóveis (eléctricos ou não) para as cidades e baixar o custo, melhorando o serviço, dos transportes públicos (que aliás em Lisboa são bastante razoáveis, digo que os uso bastante, embora reconhecendo que a minha opinião está condicionada pelo facto de viver no meio de Lisboa, facto pelo qual pago bastante, quer no momento da compra ou aluguer da casa, quer nos impostos que pago por viver em casas mais valorizadas).
henrique pereira dos santos

8 comentários:

Pratos de Ouro disse...

Bom Dia. Gostei de visitar o seu blog. Muito interessante. Gostaria de lhe apresentar o meu, e já agora a todos os que lerem esta mensagem. Um novo blog de opinião. Abraço e sigam-no

http://quadratura-do-circulo.blogspot.com/

Nuno disse...

A ausência de críticas ao carro eléctrico (a Quercus já os mostrou no seu "Minuto Verde"...) ao menos poderia mitigar-se com o apoio a iniciativas relacionadas com a bicicleta, como esta:

http://www.petitiononline.com/IRSBICIC/petition.html

Infelizmente são poucas as ONGAs que levam a sério a bicicleta como meio de transporte do quotidiano e como ferramenta de trabalho, não lazer.

A única intervenção de uma ONGA neste aspecto foi quando se anunciaram "novos" incentivos fiscais para os VEs, para chamar a atenção de que eles já existiram. Tinham razão mas é um anúncio redundante.

Nuno Oliveira

Anónimo disse...

Caro Henryque, embustes há muitos. O dos carros eléctricos, o das Eolycas e muitos outros. Uns passam-nos ao lado, rápidos como uma Seeeta. Outros aPimentam-se mais, conforme as conveniências.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro anónimo,
Que as eólicas produzem electricidade a partir de fontes renováveis parece-me que não há dúvidas.
Onde há dúvidas é no seu efeito na gestão da rede por causa da sua intermitência e no preço pago ao produtor.
A primeira questão está a ser gerida sem grande problema até ao momento, dada a integração do mercado europeu e a existência de "potência instalada de reacção rápida" como se poderá chamar às barragens.
O segundo é uma decisão política cuja opacidade tenho criticado incessantemente (mas não cegamente como uma série de outras pessoas).
O carro eléctrico de ambiental tem duas coisas: faz pouco barulho e, no sítio onde anda, não tem emissões (transfere-as para o sistema de produção de electricidade).
De resto tem todos os problemas ambientais do transporte privado (com adaptações, permite um adoçar dos consumos eléctricos porque pode aproveitar horas de vazio, mas tem um problema de resíduos por resolver).
Eu expliquei-me e assino por baixo.
O caro anónimo quer explicar-se? Ou vem aqui simplesmente dar caneladas pelas quais não quer ser responsabilizado?
henrique pereira dos santos

José M. Sousa disse...

Um artigo interessante sobre esta temática do carro eléctrico:

Who killed the electric grid? Fast-charging electric cars

«1,000 power plants

The study from Oak Ridge National Laboratory also calculated what would happen if all plug-in vehicles would be charged at 5 pm instead of after 10 pm. In this worst-case scenario, the US would need to build 160 "large" power plants (and the related distribution infrastructure, of course). Note: this concerns plug-in hybrids, not fully electric cars, and this concerns a penetration of only 25 percent, not 100 percent.
A complete conversion to plug-in hybrids would thus require 640 extra large power plants. The researchers do not specify what they consider to be a "large" power plant, but this must be around 1,000 megawatts, which boils down to the need for another 640 GW of power plants. That is almost a 65 percent increase of the existing US electricity generation capacity.»

Os dados são para os EUA, mas poderiamos fazer uma estimativa para as necessidades equivalentes em Portugal. De onde viria tanta electricidade? E então as alterações climáticas; e o pico petrolífero?...

Anónimo disse...

O embuste do carro electrico é a dois níveis.
1- Não altera o paradigma dos transportes, só é utilizavel em meio urbano (dada a sua fraca autonomia, 120 Km) aumentando as conurbações e sendo aliatório o ganho na carga nocturna. Claro que isto é, devia ser matéria da maior ponderação, mas vivemos nas ilusioões socráticas ou a coberto de tretas anónimas.
2- Os carros electricos tem além disso um problema ambiental muito sério, que é o das baterias, o que fazer com as baterias já dá milhares de caracteres de estudos inconclusivos.
3- E só posso concordar com o Henrique o que seria fundamental seria intervir a nível global do sistema de transportes, novas placas de transferência, meios não poluentes de transporte (não só as bicicletas, mas claro estas são fundamentais, mas porque não rickshós como em Londres,,, ou patins ou ...), e uma política de tarfação diferente da actual que tivesse em conta as distâncias.
Mas alguém vendeu a ideia dos carrinhos electricos e alguém a comprou, ,,,
AEloy

Jaime Pinto disse...

Segundo o Henrique, relativamente às eólicas: "Onde há dúvidas é no seu efeito na gestão da rede por causa da sua intermitência e no preço pago ao produtor."

Penso que existem mais dúvidas.

Uma delas, talvez a mais evidente, é a dúvida sobre se descaracterizam e desfeiam, ou não, a paisagem.
Outra dúvida é se interferem, ou não, com a biodiversidade, essencialmente devido aos bons acessos abertos em zonas de montanha.
Outra dúvida é se prejudicam (matam com as pás), ou não, as populações locais de algumas espécies, nomeadamente espécies de aves, morcegos e borboletas.
Outra dúvida é se ter-se transformado os píncaros das serras (bucólicas) em suportes para arraiais de Natal descaracterizou, ou não, a paz e o "silêncio visual" que homens e bichos esperam de uma zona de montanha.
Outra dúvida é se o barulho das pás interfere, ou não, com as actividades dos bichos. Quanto aos humanos o barulho chateia, e muito, quem estava habituado ao silêncio.
Outra dúvida é se os estudos, inspecções, análises, vistorias, etc. envolvendo o aparecimento dos aerogeradores nos espaços naturais foram, ou não, envoltos em desonestidades e negligências várias, encobertas por agendas políticas dos doidos que nos governam.

Concordo com o anónimo (YY à parte) que lembrou ao Henrique para não se esquecer das eólicas quando se escreve numa lista de ambiente sobre embustes energéticos. Aproveito para o lembrar de todas as objecções aos aerogeradores, e não só de algumas. Acrescento que os carros eléctricos são por enquanto uma miragem, enquanto as eólicas são uma realidade horrenda, inimaginável há uns 10 anos atrás.

Não faça o Henrique como as ONGAs, que só batem no BES, esquecendo-se dos outros :-).

Henrique Pereira dos Santos disse...

Jaime,
As eólicas säo uma forma ambientalmente muito razoável de produzir electricidade, sendo que algumas das dúvidas que o Jaime tem säo coisas sem grande base objectiva.
O carro eléctrico é uma forma de consumir energia para transportar pessoas dentro de cidades. Ora para este objectivo, transportar pessoas dentro de cidades, há soluçöes ambientalmente muito mais interessantes e consensuais.
O embuste está aí, em querer fazer passar os apoios ao carro eléctrico como motivados por razöes ambientais.
Pôr isso no mesmo plano que a discussäo das eólicas näo faz o menor sentido.
Eu explico claramente por que razäo eu näo ponho as eólicas e o carro eléctrico no mesmo plano de discussäo. Os que apenas falam do BES (ou da EDP) nunca explicam por que razäo o fazem.
Por isso também näo faz o menor sentido por ao mesmo nível a minha selecçäo de temas e a selecçäo de temas de muitas ONGs.
henrique pereira dos santos