Nos comentários a este post e em posts da mesma altura sobre o mesmo assunto (procurar por datas, Julho 2009) falou-se muito em responsabilidades na produção de informação na área da biodiversidade.
Vale a pena verificar que dois anos depois, e um ano e meio depois de se ter aberto um caminho alternativo, limitado, é certo, 70 000 mil observações que na altura não estavam disponíveis hoje já o estão. E crescem todos os dias.
Se o ritmo se mantivesse daqui a dois anos estaríamos perto das 150 mil observações disponiveis.
Aos que na altura defenderam sobretudo a responsabilização do Estado para obter resultados (com o Miguel Araújo tive a discussão mais directa, mas houve várias outras pessoas a concentrar a discussão nesse ponto, por contraponto à minha concentração na mobilização da sociedade) gostaria de lembrar essa discussão e propor uma avaliação dos resultados obtidos pelas duas vias (que não são alternativas, diga-se, são complementares) ao fim destes dois anos.
Na altura eu disse que estava a trabalhar em soluções alternativas à dependência do Estado mas o mérito do que existe hoje tem muito pouco que ver com essa minha intenção, já que desisti do que estava a fazer nessa área para apoiar quem já tinha feito mais e melhor, e continua.
Infelizmente a mesma atitude que na altura levou os académicos que participaram na discussão (neste ponto, não o Miguel Araújo, mas vários outros) a desvalorizar o conhecimento obtido fora da burocracia científica leva-os ainda hoje a desvalorizar esta iniciativa, ao ponto de não participarem com os dados dos seus projectos (a percentagem de observações de académicos encartados nas 70 000 disponibilizadas é ridícula, mas há excepções que gostaria de realçar).
É pena. Podem verificar que a coisa vai fazendo o seu caminho e que o volume de informação já existente vai eliminando muitas das objecções que se levantaram de início.
Desde que não se pretenda fazer desta iniciativa mais do que aquilo que é penso que é impossível não fazer um balanço positivo para a biodiversidade.
Pelo menos mais positivo que o famoso, perfeito, cientificamente inatacável SIPNAT, usado com frequência como pretexto para não participar nesta iniciativa divertida, lúdica e não burocrática, já que o SIPNAT só estará totalmente disponível e operacional nos próximos seis meses (aliás, com uma enorme coerência, rara no Estado português, há talvez dez anos que o SIPNAT vai estar em grande forma ... nos próximos seis meses).
henrique pereira dos santos
Vale a pena verificar que dois anos depois, e um ano e meio depois de se ter aberto um caminho alternativo, limitado, é certo, 70 000 mil observações que na altura não estavam disponíveis hoje já o estão. E crescem todos os dias.
Se o ritmo se mantivesse daqui a dois anos estaríamos perto das 150 mil observações disponiveis.
Aos que na altura defenderam sobretudo a responsabilização do Estado para obter resultados (com o Miguel Araújo tive a discussão mais directa, mas houve várias outras pessoas a concentrar a discussão nesse ponto, por contraponto à minha concentração na mobilização da sociedade) gostaria de lembrar essa discussão e propor uma avaliação dos resultados obtidos pelas duas vias (que não são alternativas, diga-se, são complementares) ao fim destes dois anos.
Na altura eu disse que estava a trabalhar em soluções alternativas à dependência do Estado mas o mérito do que existe hoje tem muito pouco que ver com essa minha intenção, já que desisti do que estava a fazer nessa área para apoiar quem já tinha feito mais e melhor, e continua.
Infelizmente a mesma atitude que na altura levou os académicos que participaram na discussão (neste ponto, não o Miguel Araújo, mas vários outros) a desvalorizar o conhecimento obtido fora da burocracia científica leva-os ainda hoje a desvalorizar esta iniciativa, ao ponto de não participarem com os dados dos seus projectos (a percentagem de observações de académicos encartados nas 70 000 disponibilizadas é ridícula, mas há excepções que gostaria de realçar).
É pena. Podem verificar que a coisa vai fazendo o seu caminho e que o volume de informação já existente vai eliminando muitas das objecções que se levantaram de início.
Desde que não se pretenda fazer desta iniciativa mais do que aquilo que é penso que é impossível não fazer um balanço positivo para a biodiversidade.
Pelo menos mais positivo que o famoso, perfeito, cientificamente inatacável SIPNAT, usado com frequência como pretexto para não participar nesta iniciativa divertida, lúdica e não burocrática, já que o SIPNAT só estará totalmente disponível e operacional nos próximos seis meses (aliás, com uma enorme coerência, rara no Estado português, há talvez dez anos que o SIPNAT vai estar em grande forma ... nos próximos seis meses).
henrique pereira dos santos
11 comentários:
Dois comentários breves:
1- Não consigo perceber o que é que o esquema pretende demonstrar.
2- A alternativa ao monopólio estatal da indústria do conhecimento não se faz necessariamente com voluntarismos lúdicos e divertidos. Reconheço que nem todo o conhecimento tem de ser ciência, mas importa perceber que ciência é um método de procura de conhecimento que pressupões um conjunto de métodos e procedimentos bem definidos bem com um sistema de validação e coerência interna.
Alexandre Vaz
1) Eu também não;
2) 70000 mil observações não existiriam (uma boa parte) outras existiriam mas não estariam acessiveis a qualquer um. Não sei o que a discussão sobre o que é ou deixa de ser ciência traz de relevante como comentário a esse facto.
henrique pereira dos santos
Lá vamos nós...
Prometo que vou tentar ser construtivo.
Henrique, diz-nos lá então por favor, para podermos trabalhar a partir daqui, qual a utilidade dessas 70000 estarem acessíveis a qualquer um?
Obrigado
Alexandre Vaz
A pergunta não devia ser feita ao contrário? "Qual seria a utilidade desse conhecimento estar disponível apenas a uns quantos?"
Boas,
Em relação aos outros utilizadores, não me pronuncio, mas em relação à minha utilização desta plataforma enquanto “caderno de campo” online, tenho a dizer o seguinte:
O facto de eu registar nesta base de dados tudo o que observo, motivou a atenção dos maiores especialistas ibéricos em ortópteros e fui convidado a colaborar no primeiro grande guia ibérico sobre esta ordem, nomeadamente com espécies de distribuição limitada a certas zonas de Portugal. Em pouco tempo, isto resultou em conhecimento de novas distribuições (até então desconhecidas) para algumas dessas espécies, bem como a descoberta de novas espécies para a ciência (claro que estas não serão publicadas na plataforma até à respectiva descrição, como é obvio, e levará algum tempo).
Isto é apenas um exemplo, pois situações algo idênticas aconteceram em outros grupos taxonómicos.
Mas isto não tem qualquer utilidade...
Tinha feito um comentário mas por qualquer razõ não está aqui.
Eu acho a pergunta muito interessante e é bem possível que venha a fazer um post com base nela.
Mas para já a resposta mais séria é dizer-te que a utilidade é cada um poder fazer o que lhe apetecer dos dados.
Como sabes o que dá utilidade concreta a qualquer informação é a pergunta a que responde, ou a que ajuda a responder. O que significa que só conhecendo as perguntas que cada um quiser fazer é que se poderá avaliar a utilidade dos dados.
O que se pode garantir é que a ausência de dados diminui imenso a capacidade das perguntas terem um módico de resposta.
henrique pereira dos santos
Obrigado a todos e em particular ao Francisco que apontou realmente um aspecto que eu não tinha antecipado e que é a possibilidade destas plataformas servirem para pôr em contacto diferentes pessoas com interesses idênticos.
Eu publico (em sentido lato) há mais de 20 anos informação relativa a observações mais ou menos relevantes de fauna selvagem e nem sempre me lembro que há por vezes poderosos acervos de informação que não atingem os canais de partilha que permitem a utilização dessa informação para fins mais amplos.
A minha questão deixava naturalmente implícitos os problemas que decorrem do tratamento indiferenciado de informação recolhida de forma não estandardizada. Claro que se pode sempre dizer que alguma informação (mesmo que inviesada) é melhor do que informação nenhuma, mas esse é um problema que deve ser encarado com cautela. Vejamos um exemplo: é natural que haja maior número de registos em locais mais visitados (com melhores acessibilidades). Se juntarmos a isso um tratamento pouco rigoroso a informação pode sugerir que zonas até com mais biodiversidade mas menos visitadas são comparativamente mais pobres. Também, como sabemos em ecologia as ausências dizem-nos por vezes mais do que as presenças, e em plataformas destas não se podem inferir os zeros...
Alexandre Vaz
Alexandre,
A primeira questão é muito bem explicado por ti: não conseguimos antecipar tudo o que outros farão da informação (da mesma forma que o senhor levi strauss nunca sonhou no que se tornariam as calças que ia fazendo apenas para resitirem ao trabalho duro). Por isso a importância de alargar a liberdade dos outros utilizarem os dados, o que implica produzir, registar e disponibilizar.
A segunda questão que levantas não tem nenhuma relação com o biodiversity4all. Se alguém fizer mau uso dos dados, por exemplo, não tendo em conta os aspectos que referes, que apesar de tudo não são o mais importante do enviesamento, o mais importante é mesmo o desequilíbrio entre observadores, quer geográfico, quer em conhecimento, esse mau uso é da responsabilidade de quem usa, não da disponibilização dos dados.
Uma base deste tipo não substitui os sistemas de sistematização, interpretação e recolha sistemática de dados, apenas contribui para que exista um volume maior de dados, de fontes muitas vezes inacessiveis fora deste tipo de plataformas democráticas, que ajudam os modelos tradicionais (e de certa maneira os influenciam e põem pressão para que sejam melhores).
henrique pereira dos santos
É preciso ver que os intelectuais, na sua maioria, vivem à custa (no sentido financeiro, salarial) do Estado. É o Estado quem lhes dá o seu ganha-pão e, também, quem lhes confere a importância social (em grande parte dependente da importância salarial) de que gozam. É pois normal que os intelectuais retribuam, querendo colocar o Estado em tudo e, portanto, abominando iniciativas da sociedade civil que não passem pelo Estado. Isto vale, em particular, para os intelectuais biólogos.
(É claro que há exceções, mas o que digo acima é a regra.)
Luís Lavoura
Boa noite,
Não resisto a deixar aqui a minha opinião pessoal (acho que é a primeira vez que faço um comment...), gostei muito de ler os comentários à volta deste post.
Sou Luís Tiago Ferreira, um dos fundadores do BioDiversity4All, e o único que não é biólogo.
É bonito para mim ver aqui escritos alguns dos benefícios para a sociedade que sonhámos conseguir com este projecto: a interacção entre pessoas permite potenciar o desenvolvimento do conhecimento sobre a nossa Biodiversidade e o testemunho do Francisco é um exemplo concreto disso.
Mas para mim existem benefícios ainda maiores mas mais intangíveis: aproximar a Ciência e a Biodiversidade das pessoas. Sendo engenheiro estou habituado a ver não-biólogos (a maioria da população) questionando-se sobre "que raio de importância têm esses bicharocos?? parece que está sempre tudo ameaçado, para esses maluquinhos dos biólogos" - enquanto a Biodiversidade for algo que está afastado das pessoas vamos continuar a ouvir a maioria da população "borrifar-se" para a sua conservação.
Mas quando algumas pessoas descobrem que têm perto de si uma espécie que está a ser estudada por cientistas, algumas dessas pessoas tomam interesse. E quando essas pessoas puderem contribuir e participar, vão estar mais sensibilizadas para a protecção da Biodiversidade, para a necessidade de uma sociedade sustentável, de longo prazo.
Claro que o BioDiversity4All contém informação desordenada e recolhida sem um método. Mas tem potencial para recolher muita informação. E se os nossos investigadores/cientistas/especialistas/naturalistas ajudarem, é possível também registar informação com método, educar pessoas para ajudar a recolher informação cientificamente valiosa, quando tratada como deve.
Mas sobretudo conquistar mais pessoas para a importância que tem a riqueza da nossa Biodiversidade.
Esta é uma opinião pessoal, minha, eu sou um dos membros do projecto que defende mais a necessidade de manter este projecto como uma plataforma aberta: uma plataforma aberta não discute, não emite opiniões... é aberta!
Muito obrigado pelo post e pelos comentários!
Tiago
Li este post de apoio ao B4A e não iria comentar se não tivesse visto os outros comentários.
Ao ler as vossas intervenções, queria dizer que estou de acordo com todos. Há no entanto, um factor que devemos adicionar aqui: o tempo.
Temos de dar tempo ao tempo.
Informação nunca é demais, todas as iniciativas que sejam feitas de forma séria e de forma construtiva são sempre, de alguma forma positivas.
O B4A tem certamente muitos defeitos. Mas tem outras tantas virtudes com a vantagem que, com tempo, poderá corrigir pelo menos alguns defeitos.
O mesmo acontece com outros, o que temos é de valorizar as partes boas e melhorar as menos boas.
O Naturdata optou por uma abordagem diferente do B4A. No nosso caso, o primeiro objectivo definido foi inventariar todas as espécies de Portugal. Começámos esse trabalho ainda em 2008 antes de existir o portal que está online e estamos muito longe de ter um resultado satisfatório. As dificuldades foram imensas e mesmo com uma equipa sempre crescente posso-vos dizer que é muito difícil e duvido que o ICNB alguma vez tivesse recursos para fazer este trabalho (se quiserem, poderei noutra altura explicar estas dificuldades).
Temos tendência a pensar que se conhece muito e as listas que existiam para Portugal quando iniciámos o trabalho, cobriam cerca de 0,02% das espécies que temos agora listadas.
Temos muitos erros? Seguramente. Mas muito menos que em 2008. À semelhança do B4A, temos muitos defeitos mas vamos corrigindo.
Podemos sempre encontrar argumentos contra estes projectos, mas temos de começar por algum lado. Podemos dizer que os dados de observações de muitos invertebrados do B4A não têm validade científica porque não é possível identificar as espécies por fotos e porque muitas das espécies afinal não são estas mas outras, etc. Mas por outro lado, podemos dizer (como foi bem dito pelo Tiago e pelo Francisco), que pelo menos levantam a questão. E que pelo menos nos mostra que estamos muito longe de saber algo sobre estes bichos. E cumprem o objectivo de sensibilizar as pessoas de diferentes formas, nem que seja pela beleza ou pela curiosidade.
E como contrapeso, outros grupos como as aves, ou os anfíbios, podem ser identificadas na sua maioria por avistamentos e esses dados já terão uma relevância totalmente diferente e já podem ser usados de forma diferente. Se virmos um destes projectos na sua totalidade, seguramente temos muito por onde pegar mas nesta fase, é mais importante, dar passos pequenos e analisar grupo a grupo.
Um dia, o Naturdata vai clarificar a situação em muitos grupos, irá também documentar muitas espécies (muitos artrópodes nunca tinham sido descritos em vida e hoje podem identificar-se a olho. amanhã serão mais e mais). Já descobrimos espécies novas e mais iremos descobrir. Irá ser possível validar ainda mais dados.
Um dia fará ainda mais sentido projectos e associações e entidades convergirem esforços e acho que será essa a evolução natural.
Nós, Naturdata, estamos empenhados em resolver o puzzle das espécies.
O B4A está empenhado em recolher imagens e registos.
E se dermos tempo ao tempo e continuarmos a apoiar com o que pudermos será que um dia os registos não encaixam melhor no puzzle?
E podemos mesmo encaixar em projectos internacionais, como desejava Miguel Araújo num post antigo.
Eu não tenho dúvidas que Portugal fica a ganhar com estes esforços e acho que, mesmo discordando aqui e ali uns com os outros, podemos continuar a remar no mesmo sentido e puxar outros para este esforço.
Parabéns ao Henrique e ao ambio por discutir e divulgar, ao Alexandre por tão bem documentar e belíssimos artigos que já vi, ao Tiago e ao B4A por mobilizar e sensibilizar as pessoas, ao Francisco por ser activo e contribuir para o conhecimento, e desculpem, esta última mas também ao Naturdata e à sua incansável equipa de voluntários que desde 2008 trabalham para sabermos de que espécies estamos afinal a falar.
Abordagens diferentes que só poderão gerar algo bonito no futuro.
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